A “ala amarela” do Protestantismo

Durante os anos que tenho mantido diálogo ecumênico com os irmãos protestantes, tive a oportunidade de experimentar uma das tendências que existe dentro destes, que dificulta notavelmente a busca da unidade. Refiro-me ao fundamentalismo anticatólico.

Esta tendência, que se caracteriza principalmente por seu “amarelismo”, não vacila em atacar tudo e todos os que se oponhem às suas posturas. O principal problema que existe nesta tendência é que semeia o rancor e o ódio continuamente nos demais protestantes e embora haja uma grande quantidade [de evangélicos] que os rejeita, em maior ou menor medida são continuamente influenciados por ela. Atualmente, o objetivo de seu ataque não é apenas a Igreja Católica, mas todos aqueles que buscam a mínima aproximação com esta, mesmo que professe ser seu “irmão da fé”.

Nestas linhas pretendo analisar, como exemplo, uns poucos artigos criados por esta tendência, devendo o leitor julgar a origem do espírito que os move.

TÉCNICAS UTILIZADAS

Abaixo, descreverei as técnicas mais comuns usadas pelo “fundamentalismo amarelo”, para que o leitor possa reconhecê-las quando estiver diante delas:

1. A Falácia do Espantalho

Esta falácia consiste em deformar as teses do oponente para debilitar a sua posição e poder atacá-la com vantagem. A falácia do espantalho ataca uma tese, porém, antes a altera. Para isso, disfarça as posições do oponente com a roupagem que melhor lhe convém, geralmente a que aponta os aspectos mais fracos ou menos populares. […]

2. Distorção e Invenção Histórica

Consiste em narrar os fatos fora do contexto, distorcendo-os ou até mesmo inventando-os, para criar uma imagem falsa da realidade.

3. Falácia “Ad Hominem”

Um argumento “ad hominem” é uma falácia lógica que implica responder a um argumento ou a uma afirmação referindo-se à pessoa que a formula ao invés do argumento em si mesmo. Tanto a falácia em si mesma como a acusação de ter se servido dela são usados como recursos em discursos reais. Como técnica retórica, é poderosa e às vezes é usada para convencer aquelas pessoas que se movem mais pelos sentimentos e costumes acomodados do que por razões lógicas.

ALGUNS EXPOENTES DA ALA AMARELA DO PROTESTANTISMO

Não é possível esgotar em tão poucas linhas uma descrição completa de todos os expoentes do “fundamentalismo amarelo” que existem. Por isso, apontarei apenas alguns, com os quais tive maior contato.

1. Loraine Boettner

Quis mencionar Boettner porque ele e seu livro “Catolicismo Romano” é realmente a origem da maioria dos argumentos que os fundamentalistas anticatólicos utilizam uma e outra vez. A esse respeito, comenta Karl Keating em sua obra “Catolicismo e Fundamentalismo”:

– “Pegue um argumento anticatólico. Depois, procure o mesmo tema em ‘Catolicismo Romano’. Muito provavelmente as palavras serão iguais, como que um simples plágio. No mundo do fanatismo religioso, parece que todos os caminhos levam ao livro ‘Catolicismo Romano'” (Karl Keating, “Catholicism and Fundamentalism”, pág. 29).

2. Daniel Sapia

Programador argentino que embora relativamente desconhecido, começou a aparecer quando publicou em seu site na Internet um escandaloso panfleto em que acusa o Papa João Paulo II de ser o operário do anticristo e de se sentar em um trono satânico. Sua falta de honestidade histórica foi exposta inúmeras vezes; um exemplo disto temos no artigo de Jorge Pedernera intitulado “O Papa e o seu Trono… Satânico!” [que refuta os falsos argumentos de Sapia].

3. Chick Publicações

É a ponta do iceberg. Esta editora anticatólica ganhou fama em razão da publicação de histórias em quadrinhos “amarelistas” (ver o artigo “Os ‘Tratados Chick’: Cristianismo ou Catolicofobia?”, de Jesús Hernandez). Caracterizam-se por promover a “conversão” de Alberto Rivera, que afirmou ter sido sacerdote jesuíta e conhecer os “planos secretos” do Vaticano para a dominação do mundo. Embora a fraude tenha sido desmascarada por protestantes (ver o artigo “O Verdadeiro Alberto Rivera”, em ), Chick mantém sua estória contra o vento e a maré. Atualmente tem vendido milhões de exemplares de seus panfletos e mantém um império multimilionário que continua sendo alimentado pelos bolsos dos incautos amantes de teorias conspiratórias.

Entre as teorias promovidas por Chick sobressaem-se estas: a de que o Islão foi uma invenção papal (cf. panfleto “O Profeta”); a de que a guerra da Secessão nos Estados Unidos foi incentivada pelo Vaticano; a de que o Nazismo foi uma invenção da Igreja Católica; a de que o Comunismo foi também uma invenção do “papismo”; a de que o Pentecostalismo e grande parte do Protestantismo tradicional estão sob o controle da Igreja Católica por intermédio de líderes famosos e “comprados”, como Katherin Kuhlman, Billy Graham, Jim Jones etc. etc. etc.

SENTIMENTOS CONTRÁRIOS AOS ENSINAMENTOS DE CRISTO

O problema que gera este tipo de fanatismo entre os crentes é que embora eles afirmem “mover-se por amor”, na prática esta tendência cria um ódio solapado que consome a pessoa, inclusive até levá-la a fazer uso de fins não-éticos para obter seus meios. Em outros casos, chega a cometer atitudes completamente anticristãs.

Um exemplo disso pode ser tomado de um comentário existente na página do fundamentalista Gilberto Lillo, que afirma:

– “…a América Latina é católico-romana e está sob a maldição de Jeová até o fim do mundo. Oremos mais para que venha o Reino de Cristo e que este destrua o reino do papa tal como orava Martinho Lutero. Este conta: ‘Não posso mais orar sem maldizer. Se digo: ‘Santificado seja o teu nome’, tenho que dizer: ‘Maldito o nome dos papistas e de todos os blasfemadores!’. Se digo: ‘Venha o teu Reino’, devo dizer: ‘Maldito seja o papado!’. Se digo: ‘Seja feita a tua vontade’, digo também: ‘Malditos sejam os projetos dos papistas’. É assim que oro ardentemente todos os dias'” (Gilberto Lillo, “As Revelações de Alberto Rivera”).

Não é difícil de perceber as inconsistências entre a forma de orar que o sr. Gilberto admira (seguindo Lutero), com a forma que Cristo nos ensinou: “Bendizei aos que vos maldizem, rogai pelos que vos difamam” (Lucas 6,28).

Outro exemplo podemos retirar das publicações de Chick, onde ele, referindo-se a Walter Martín (um conhecido pastor protestante, fundador do Instituto de Investigações Cristãs em 1960), escreve:

– “Uma questão ficou gravada na minha mente. Por que Walter Martín não fez soar o alarme? Era um grande especialista em seitas, especialmente porque conhecia a história da Inquisição. No entanto, manteve-se calado. Por que Walter Martín defende esse sistema diabólico chamando-o de igreja cristã? Ele é um gênio. Conhece a história da Igreja Católica e, no entanto, defende a prostituta do Apocalipse. Eu orava por ele, porém agora já não o faço. Deus me disse para que não o fizesse” (Chick Publications, “Cortinas de Fumaça”, cap. 9).

Chama muito a atenção a afirmação de Chick dando conta de que Deus LHE DISSE para que NÃO ORASSE por Walter Martín. Como poderia Deus dizer para que não orasse por alguém quando a própria Palavra de Deus ensina o contrário?

– “Diante de tudo, recomento que se façam preces, orações, súplicas e ações de graças por todos os homens… Isto é bom e agradável a Deus, nosso Salvador” (1Timóteo 2,1.3).

De quem seria, portanto, a voz ouvida por Chick, dizendo-lhe: “Não ores por Walter Martín”???

REJEIÇÃO À UNIDADE DOS CRISTÃOS (O ECUMENISMO)

Outra das conseqüências que o fundamentalismo tem gerado em protestantes é uma profunda rejeição a qualquer tendência ecumênica, sobretudo se significa uma aproximação com a Igreja Católica.

Em um artigo publicado por Daniel Sapia, cujo autor é Daviel DePaz, intitulado “Católicos e Evangélicos Unidos – O que há por detrás da unidade?”, afirma-se que quem é a favor do movimento ecumênico é apóstata. A seguir, acusa-se pastores preeminentes como Paul Crouch (e a emissora de TV Enlace TBN), Billy Graham, Robert Shuller, Norman Geisler, Charles Colson, Jack Van Impe, Walter Martín, entre outros.

Escreve Daviel:

– “O que conduz certos líderes evangélicos a cometer erro tão trágico? Se Roma, todavia, prega e pratica um falso evangelho de obras, por que muitos líderes evangélicos famosos e organizações paraeclesiásticas reconhecidas passam por cima desse fato e estão trabalhando em conjunto com a Igreja de Roma? … Creio que uma das principais respostas pode ser encontrada em 1Timóteo 4:1, que diz: ‘Porém, o Espírito diz claramente que nos últimos tempos alguns apostatarão da fé, ouvindo a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios…’ Seria tão grande o engano que Jesus Cristo disse aos seus discípulos que nem mesmo os cristãos estariam imunes de tal engano: ‘Porque se levantarão falsos Cristos e falsos profetas, e farão grandes sinais e prodígios, de maneira que enganarão, se for possível, até mesmo os escolhidos’ (Mateus 24:24)”. (Daviel DePaz).

Se todos os que estão a favor do Ecumenismo apostataram da fé, escutando as doutrinas dos demônios, o que dizer de todas as igrejas-membros do Conselho Mundial de Igrejas? O que seriam então? Tal Conselho reúne mais de 340 igrejas, denominações e comunidades eclesiásticas de mais de 100 países e territórios de todo o mundo, representando cerca de 550 milhões de cristãos, a maioria evangélicos. Este organismo mantém uma relação de trabalho regular com a Igreja Católica. […]

Como, portanto, é possível afirmar que os protestantes estão unidos na doutrina fundamental se vemos aqui os fundamentalistas acusarem de apóstatas as demais denominações?

Não será melhor entender que é a doutrina protestante que produz o fruto da contínua divisão, não estando de acordo com o verdadeiro Evangelho? Ademais, é pelos frutos que se reconhece a árvore. O fruto de Satanás é a divisão (“Todo reino dividido contra si mesmo é destruído e toda cidade ou casa dividida contra si mesma não poderá subsistir” (Mateus 12,25)), enquanto que a vontade de Deus é que sejamos um (“Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que, por meio de sua palavra, crerão em Mim, para que todos sejam um, como Tu, Pai, em Mim e Eu em Ti; que eles sejam também um em nós, para que o mundo creia que Tu me enviaste” (João 17,20-21).

Qual será o movimento inspirado pelo Espírito Santo? O que busca a vontade de Cristo na unidade, reconhecendo os demais cristãos como irmãos ou o que resiste a fazê-lo, tachando a todo aquele que o favorece de “pró-católico” e “colaborador de Satanás”? Até quando o fanatismo paranóico protestante continuará envenenando os corações de nossos irmãos separados? Será que chegará o momento em que haverá um só rebanho e um só pastor?

Isto serve para refletir…

ANALISANDO UM “ARTIGO AMARELO” DE ORIGEM FUNDAMENTALISTA

Quero agora analisar o artigo “O Ídolo Caído”, da editora Chick, em que se levanta contra Billy Graham, o pregador protestante mais conhecido do século XX, por suas atitudes ecumênicas.

– “O Vaticano sempre olha para o futuro e faz planos com 25, 50 ou 100 anos de antecedência. Após a Segunda Guerra Mundial, o Vaticano precisava escolher e apoiar um personagem dos Estados Unidos que fosse seu amigo, um homem a quem ajudaria a elevar e ser amado por todos. De maneira alguma poderia ser um Martinho Lutero! Este personagem influente deveria atrair as pessoas, conquistar o coração do povo norte-americano e obter seu apoio. Seria um líder por meio do qual se levaria sutilmente os evangélicos aos braços do papa”.

Chick começa aqui a criar uma teoria conspiratória, onde o Vaticano “conspira para infiltrar” no povo protestante aquele que será o pastor evangélico mais conhecido do século XX, com o objetivo de ganhar simpatias e adeptos para a Igreja Católica.

– “Por 30 anos, Billy Graham falou às multidões e chegou a ser muito amado, respeitado e imitado. Quando ele pregava, as pessoas o honravam e louvavam. Quando Cristo pregou, o mataram. Então li o que diz a Bíblia: ‘Qualquer um, pois, que quiser ser amigo do mundo, se constitui em inimigo de Deus’ (Tiago 4:4). Os periódicos nunca difamaram Billy Graham. As revistas disseram que ele era um dos homens mais apreciados do mundo. Porém, por alguma razão, minha mente continuava percebendo um sinal de advertência. Apreciei Billy Graham, orei por ele e o apoiei. No entanto, sentia que alguma coisa não ia bem”.

Aqui, Chick emprega uma falácia “ad hominem”, tentando desqualificar Billy Graham ao alegar que “se ninguém o difamou, logo não era de Deus”. Dá a entender que fazia falta a calúnia e a difamação.

Neste ponto, não pude deixar de me perguntar: por que ele não aplica o mesmo critério ao Papa? Afinal, não há pessoa mais difamada no mundo do que o Sumo-Pontífice. Todos os fundamentalistas anticatólicos do mundo – testemunhas de jeová, adventistas, pentecostais, batistas, mórmons etc., inclusive o próprio Chick – embora possam ter mil pontos de divergência, inclusive nas doutrinas fundamentais, afirmam em uníssono que o Papa é o anticristo e o operário de Satanás.

Porém, não precisamos ir tão longe. Se o que preocupava é que ninguém havia difamado Graham, o próprio Chick já o está fazendo aqui! Por isso seu artigo se chama “o ídolo caído” e o acusa de caminhar lado a lado com a prostituta da Babilônia (ou seja, é colaborador de Satanás) diante de milhões de leitores (Chick afirma que milhões de seus tratados circulam em todo o mundo, em 65 idiomas diferentes).

Não é minha intenção defender a Graham e não creio que ele tenha necessidade disso, porém, não deixa de me chamar a atenção como todo aquele que busca uma aproximação com a Igreja Católica é difamado por esses fundamentalistas.

Billy Graham era fundamentalista quando iniciou o seu ministério, contudo, à medida que o tempo passou, mudou sua posição. Por exemplo, o jornal Catholic Herald, de 03.06.1956, mencionou que Billy Graham é amigo dos jesuítas nos Estados Unidos. Além disso, em 1967, a Universidade Católica de Belmont Abbey lhe concedeu o título honorífico de Doutor em Humanidades. Billy Graham, comentando o significado desse acontecimento, disse que estava vivendo em “um tempo em que católicos e protestantes podiam se reunir e saudar-se como irmãos, algo impossível de acontecer dez anos antes”.

Não pode, assim, deixar de surpreender qual é o “pecado” de Graham aos olhos de Chick: estabelecer laços de amizade com os católicos!

– “Em abril de 1972, Billy Graham recebeu em Minneapolis o Prêmio Franciscano Internacional, outorgado pelos freis franciscanos aos que demonstravam autêntico ecumenismo. Antes de citar o que Billy Graham disse sobre Francisco de Assis, deixem-me dizer o seguinte acerca de São Francisco. Ele acreditava que seria salvo pelas obras, porque ajudava aos pobres. Desta maneira, acreditava que estava salvando a sua alma. São Francisco foi canonizado, isto é, foi declarado santo pela instituição católico-romana, por ter sustentado firmemente a doutrina da salvação pelas obras. Sabemos que este ensinamento não é bíblico. Você sabia que São Francisco de Assis abençoava e batizava os animais e lhes conferia nomes cristãos? Vejamos agora o que Billy Graham disse acerca deste estranho personagem: ‘Embora eu não seja digno de tocar nos cardaços dos sapatos de São Francisco, o mesmo Cristo que chamou Francisco no século XIII também me chamou para que eu seja um de seus servos no século XX'”.

Neste ponto, Chick continua desenvolvendo a sua falácia “ad hominem”, desqualificando a Graham, porém agora mistura o seu argumento com falácias do espantalho.

A falácia funciona assim:

– Graham louva São Francisco.
– São Francisco ensinava doutrinas heréticas.
– Logo: Graham louva a quem ensina doutrinas heréticas.

O certo é que Chick faz aqui diversas afirmações falsas.

Em primeiro lugar, é falso que São Francisco e a Igreja Católica ensinem a doutrina da “salvação pelas obras” . Tal doutrina foi condenada pela Igreja Católica e é conhecida por “Pelagianismo”. Diz o Catecismo oficial da Igreja Católica:

– “Nossa justificação é obra da graça de Deus. A graça é o favor, o auxílio gratuito que Deus nos dá para responder à sua chamada, sermos filhos de Deus (cf. João 1,12-18), filhos adotivos (cf. Romanos 8,14-17), partícipes da natureza divina (cf. 2Pedro 1,3-4), da vida eterna (cf. João 17,3)” (CIC 1996).

– “Esta vocação à vida eterna é sobrenatural. Depende inteiramente da iniciativa gratuita de Deus porque somente Ele pode revelar-se e dar-se a Si mesmo. Ultrapassa as capacidades da inteligência e as forças da vontade humana, como de toda criatura (1Coríntios 2,7-9)” (CIC 1998).

– “A graça de Cristo é o dom gratuito que Deus nos faz de sua vida infundida pelo Espírito Santo em nossa alma para curá-la do pecado e santificá-la: é a graça santificante ou deificante, recebida no Batismo. É em nós a fonte da obra de santificação (cf. João 4,14; 7,38-39). Portanto, o que está em Cristo é uma nova criação; passou o velho, tudo é novo. E tudo provém de Deus, que nos reconciliou consigo por Cristo (2Coríntios 5,17-18)” (CIC 1999).

A Igreja também rejeitou o extremo oposto ao Pelagianismo, ou seja, a doutrina da “sola fides” (=salvação unicamente pela fé) e a doutrina “uma vez salvo, sempre salvo” (conseqüência da anterior).

Ensina a Igreja que a fé é necessária, porém também é necessário AGIR conforme a vontade de Deus (Mateus 7,21; 25-31-46; Tiago 2,14-26; Hebreus 5,9; Mateus 24,13 etc.).

Apesar disto, Chick distorce o argumento católico para atacá-lo com vantagem, com a finalidade de desacreditar a São Francisco e, posteriormente, a Graham.

– “No princípio, Billy Graham foi grandemente usado por Deus. Porém, creio que Billy cedeu a fortes pressões e transigiu. Agora caminha lado a lado com a prostituta do Apocalipse”.

Aqui se consuma a falácia, para acusá-lo de colaborador com a prostituta da Babilônia (não faz falta dizer quem afirma que é “a prostituta”).

– “Há alguns anos, cinco pastores do México me visitaram para pedir a minha ajuda. Disseram-me que eu devia falar com Billy Graham. Disse-lhes que isso era impossível, pois eu era tão somente um editor de tratados. Então me disseram que Billy Graham tinha destruído as suas igrejas. Disseram-me que ele havia celebrado uma cruzada e que disse a todos os que receberam a Cristo, que regressassem às suas igrejas originais e ganhassem essas pessoas para Cristo. Os pastores me disseram que os fiéis de suas igrejas seguiram as instruções de Billy Graham e regressaram todos eles ao sistema católico-romano. Doze anos de trabalho foram destruídos em uma só noite”.

Uma característica que não falta em um fudamentalista anticatólico é o seu proselitismo. Não basta pregar a Cristo, deve pregar também o “junte-se a nós”. Não é de se estranhar que, como Graham não fez uso desse recurso, os pastores pensaram que ele havia destruído as suas igrejas. Curiosamente, eles confessam ter enchido suas igrejas com pessoas que anteriormente eram católicas [=sobressai aqui o proselitismo].

– “O dr. Rivera, ex-sacerdote jesuíta, disse-me que ele soube que o Vaticano estava usando Billy Graham em 1950, quando todos os jesuítas da América Central e do Sul receberam a ordem de encher os estádios com católicos-romanos onde quer que Billy Graham pregasse. Gastaram-se milhões de dólares para promover Billy Graham como o maior evangelista do mundo”.

Finalmente, eis aqui o recurso empregado por Chick quando não tem provas do que diz: “Alberto Rivera disse-me”. Sempre todas as provas de suas teorias conspiratórias se reduzem ao testemunho de Alberto. Será possível levar a sério esta evidência quando encontra-se comprovado que o sr. Alberto Rivera foi um fraudador que nunca foi sacerdote, tendo sido desmascarado inclusive por protestantes?

Na última parte deste artigo, apresentarei comentários de cristãos evangélicos (não precisamente “pró-católicos”) retirado de um dos fóruns fundamentalistas mais anticatólicos da Internet (refiro-me ao fórum “EkklesiaViva”). É muito interessante como inclusive entre seus membros as afirmações de Alberto têm pouca credibilidade).

EXTRATOS DO FÓRUM PROTESTANTE “EKKLESIAVIVA” SOBRE ALBERTO RIVERA E CHICK PUBLICAÇÕES

Estes comentários foram obtidos no tópico “Gostaria de saber sobre a vida do ex-jesuíta Alberto Rivera”:

1. Enviado por Daviel DePaz, em 09.05.2005 – 06:18 h.

– “Bênçãos a todos os irmãos do fórum. Alberto Rivera continua dando o que falar depois de sua morte em junho de 1997. Creio que NUNCA conheceremos a verdadeira história de sua vida . Pessoalmente, conheci a sua esposa, a irmã Nury Rivera, por cerca de dois meses depois da morte de seu esposo aqui em Tulsa, ok? A apoiei em seu ministério aqui nesta cidade depois da morte de seu esposo; porém, até onde eu pude observar e dar-me conta, o testemunho do irmão Alberto Rivera (ainda que bem impressionante), não deixava de causar preocupação quando se lhe perguntava acerca de ter familiares próximos vivos que o conheceram e que poderiam confirmar as suas afirmações. Queridos irmãos, é tempo de abrirmos os olhos e que não nos deixemos enganar por personagens que inventam teorias conspiratórias para obter puras satisfações pessoais. Rebecca Brown é um claro exemplo deste tipo de charlatães que apenas buscam satisfações econômicas às custas dos evangélicos ignorantes. Não podemos fazer uso da mentira e do engano para tentar converter os perdidos ao evangelho. Não duvido das boas intenções de Alberto Rivera; no entanto, suas estórias são tão descabeladas que nenhum apologista sério utilizaria suas estórias para defender o evangelho bíblico em um debate aberto contra apologistas católicos, pois não se engolem as estórias das conspirações. De nenhuma maneira quero desacreditar a integridade do irmão Alberto Rivera, porém pessoalmente investiguei um pouco mais de perto e me dei conta de que ele nunca pôde demonstrar de maneira convincente que na verdade fôra um ex-sacerdote jesuíta. Em um email que enviei a Mike Gendron, um ex-católico que possui um ministério apologético para evangelizar católicos, perguntei-lhe se ouvira falar de Alberto Rivera, ao que me respondeu que, até onde sabia, Alberto Rivera NUNCA tinha sido sacerdote católico, muito menos jesuíta. Isto veio a confirmar as suspeitas que eu já tinha a respeito da veracidade das afirmações que se faziam acerca de seu tão polêmico testemunho. (…) Quando atacarmos Roma, irmãos, teremos de fazer com fundamentos, provas e evidências e não com teorias conspiratórias que apenas vêm a favorecer a vítima, porém nunca nos dão bases sólidas para defender o que cremos e o porquê cremos. Infelizmente, esse tipo de literatura é o que as pessoas descuidadas gostam de ler. Esse tipo de literatura beira a paranóia. Não é uma literatura séria e oxalá não me acusem de pró-católico por escrever isto. Porém, creio que ao inventar-se contos e fábulas em nada se ajuda a causa de Jesus Cristo. Espero que isto lhes motive a investigar e examinar tudo e não se deixarem levar por tudo o que “Chick” diz. E que se diga de passagem, [Chick] obteve uma excelente satisfação econômica com as estórias de Alberto e, até onde entendi, ele ficou com os direitos autorais de Alberto Rivera. Algo que vem a confirmar ainda mais os motivos que existem por detrás dessas estórias [de Alberto]. (…) Deus vos abençõe. Daviel DePaz”.

2. Enviado por Goku [pastor evangélico participante do Fórum], em 13.05.2005 – 05:30 h.

– “Te enganas, Edgar Triviño Rdz. (…) De Rivera, como já disse antes, a evidência fala por si mesma. Os que o defendem chegam a isso – a defendê-lo – porém não podem defender os erros históricos que existem. Por fim, como nos informa o irmão Daviel, ele foi testemunha ocular que o homem não podia dar outros testemunhos. Isso no tribunal, pois teria peso. Goku.”

3. Enviado por Kamaleon, em 14.05.2005 – 08:14 h.

– “E TEM RAZÃO EM OUTRA COISA (=referindo-se à mensagem de Goku): deve-se evitar as teorias paranóicas de muitos escritores. Já bastam livros como “[Operação] Cavalo de Tróia”, “O Código da Vinci” etc. para se acreditar em tudo o que se diz sobre o Vaticano. EVANGELIZAR UM CATÓLICO COM ESTE TIPO DE “PROFECIAS” O MÁXIMO QUE SE CONSEGUE É DEIXAR NO RIDÍCULO OS CRISTÃOS [evangélicos] (…)

4. Enviado por Ecumênico, em 15.05.2005 – 02:32 h.

– “Ainda mais com o fraudador Rivera? (…) Se Rivera foi jesuíta, então eu fui Papa. Saudações. Ecumênico.”

5. Enviado por Goku, em 15.05.2005 – 14:05 h.

– “(…) Não sei, por isso é que os panfletos de Rivera ou Chick tiveram tanto impacto no Vulgo, que usualmente se tragam qualquer novidade, porém não dentro da Academia, onde existe o bom costume de investigar as coisas mais a fundo. DTB. Goku.

6. Enviado por Daviel DePaz, em 16.05.2005 – 03:03 h.

– “(…) Já é tempo de os cristãos evangélicos abrirem bem os olhos e não se deixarem levar por pessoas que, querendo tirar proveito da ingenuidade de muitos, nos presenteiam com contos e fábulas descabeladas (…) Por hora, apenas quero dizer-te para que tente refutar o que o [ministério] Iconbusters fala acerca de Rivera; e se o inglês é um obstáculo, posso te traduzir o artigo para o espanhol, para sua comodidade. Ao Edgar lhe encanta acusar de pró-católicos a todos aqueles que não se deixam “convencer” e que realizam um exame minucioso da evidência apresentada. Porém, dificilmente o Edgar poderá acusar os irmãos do ministério Iconbusters de pró-católicos, já que ele mesmo poderá observar o seu antagonismo evidente ao catolicismo romano por todo o site. No entanto, deram-se conta de que algo não está certo nas afirmações de Alberto Rivera. Será bom – se o Edgar deseja defendê-lo – que tenha um árduo trabalho daqui por diante para poder demonstrar com provas convincentes que Alberto Rivera foi quem disse ser, provas estas que nem o próprio Alberto pôde dar e que, quando se encontrava encurralado, simplesmente argumentava que Roma tinha destruído todas as evidências e que tinham tentado matá-lo em diversas ocasiões, sendo por isso que fugia de um lugar para outro. Porém, a verdade é que não fugia de um lugar para outro porque Roma tentava matá-lo, mas porque não pagava as suas dívida e por isso precisava mudar-se para outro estado e outra cidade. E se o Edgar ainda duvida disto, posso conseguir para ele o link da Internet da igreja a que Alberto pertenceu na Califórnia, que o expulsou precisamente porque devia dinheiro e não queria pagar. Não é minha intenção manchar a imagem de Rivera, porém falei pessoalmente com um pastor aqui de Tulsa, que trabalhou junto com Alberto em diversas campanhas evangelísticas em vários países e ele me declarou que Rivera pedia dinheiro emprestado e não pagava; ao contrário, mandava um recibo agradecendo AS DOAÇÕES!!!!! Se o Edgar quiser conhecer o nome deste irmão, posso informar o seu nome e o seu telefone, para que fale pessoalmente com ele.”

CONCLUSÃO

Apesar destes fundamentalistas não terem lá muita credibilidade entre o setor culto e maduro do Protestantismo, seus argumentos são projetados não para estes, mas para as massas, quer católicas, quer protestantes. Para quem se utiliza deste tipo de tática, pouco lhe importa argumentar observando a verdade. O objetivo de lançar uma mentira perante milhões de pessoas, por mais ridícula que seja, é que muitos acreditarão e estes muitos seguirão divulgando-a infinitamente, repetindo-se este círculo vicioso.

Devemos estar preparados e nos aprofundar cada dia mais nas bases da nossa fé. Somente assim poderemos permanecer firmes e “levar todos à unidade da fé e do conhecimento pleno do Filho de Deus, ao estado de homem perfeito, à maturidade da plenitude de Cristo, para que não sejamos mais meninos, levados à deriva e balançados por qualquer vento de doutrina, a mercê da malícia humana e da astúcia que conduz enganosamente ao erro” (Efésios 13,14).

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