A Bíblia das Testemunhas de Jeová é confiável?

Frequentemente em suas visitas domiciliares, os Testemunhas de Jeová não acham inconveniente que se use uma Bíblia católica. Porém, insensivelmente, a vão deixando para recorrer a sua própria versão. É confiável esta versão? Poderíamos falar de duas versões: a inglesa “Tradução do Novo Mundo” e a espanhola “Tradução do Novo Mundo da Santas Escrituras”.

Em inglês, quanto ao que se refere ao Novo Testamento, possuem uma edição especial intitulada “Tradução Interlinear das Escrituras Gregas”. Nela apresentam:

  1. O texto grego do Novo Testamento (segundo a edição crítica de Wescott e Hort, que é altamente aceitável, ainda que hoje em dia se prefira a de Nestlé-Aland);
  2. A tradução inglesa interlinear (ajustada ao grego, palavra por palavra);
  3. A tradução inglesa em coluna à parte (esta versão já não é fiel como a interlinear, encontrando-se abundantemente falsificada).

A tradução espanhola, segundo se lê em sua introdução, depende da versão inglesa de 1961, ainda que se diga que foi consultado fielmente os antigos textos hebraicos e gregos. Lendo-a atentamente, logo se vê que depende mais do texto inglês que dos textos originais.

Vamos apresentar alguns textos, de questões fundamentais, especialmente as relacionadas com a divindade de Cristo. Veremos, então, como esta versão está deturpada.

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João 1,1:

Versão espanhola: “No princípio a Palavra era, e a Palavra estava com Deus, e a Palavra era um deus”.

Na versão interlinear inglesa lemos: “and god was the Word” o que, traduzido literalmente seria: “e deus era a Palavra”. Na coluna da direita, ao contrário, foi introduzido o artigo indeterminado, lendo-se: “and the Word was a god”, ou seja, “e a Palavra era um deus”. No prólogo da edição se diz que, quando se sugerem interpolações no texto original serão assinaladas entre colchetes. Aqui, ao contrário, não há nada que sugira essa interpolação que eles realmente fazem.

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Atos 20,28:

Versão espanhola: “Prestem atenção em vocês mesmos e em todo o rebanho, entre o qual o espírito santo vos nomeou superintendentes, para pastorear a congregação de Deus, que ele comprou com o sangue do seu próprio [Filho]”.

O texto grego admitido na edição diz literalmente: “que ele comprou com seu próprio sangue”. Assim é traduzido na versão interlinear: “through the blood of the own (one)”. Na coluna da direita já se fala de Filho: “With the blood of his own (son)”, ou seja, “com o sangue de seu próprio [Filho]”. De qualquer forma, o sangue derramado para comprar o povo só pode se referir ao sangue de Cristo; porém, fica muito mais fortemente expressa a sua divindade quando diz que “Deus o adquiriu com seu próprio sangue”. Aí não cabe qualquer discussão sobre se é o Deus verdadeiro ou apenas o “Filho de Deus”.

Outras advertências que fazemos a esta tradução é que a palavra “superintendentes” corresponde ao grego “episkopous” que, técnicamente, se traduce por “bispos”. Também a palavra “congregação” se refere ao grego “ekklesía”, que significa “igreja”. Paulo, pois, fala aos “bispos da Igreja”.

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Romanos 9,5:

Versão espanhola: “A quem pertencem os antepassados e de quem [procedeu] o Cristo segundo a carne: Deus que está sobre todos, [seja] bendito para sempre. Amém”.

No texto grego se diz: “…deles procede Cristo segundo a carne, o qual está acima de todas as coisas, Deus bendito por todos os séculos”. Assim o traduz corretamente a versão inglesa interlinear. Já na coluna da direita, se introduz a palavra “seja” entre colchetes, o que muda totalmente o sentido de “Deus bendito” que já não passa mais a se referir a Cristo, convertendo-se em um louvor a Deus: “Deus seja bendito. Deus que está acima de tudo, [seja] bendito para sempre”.

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Romanos 14,6-9:

Versão espanhola: “Que observa o dia, observa-o para Jeová. Também o que come, come-o para Jeová, pois dá graças a Deus; e o que não o come, não come-o para Jeová, porém dá graças a Deus. Nenhum de nós, de fato, vive somente para si mesmo, e ninguém morre somente para si mesmo, pois se vivemos, vivemos para Jeová, assim como se morremos, morremos para Jeová. Conseqüentemente, quer vivamos quer morramos, pertencemos a Jeová. Pois com este fim morreu Cristo e voltou a viver para ser senhor tanto sobre os mortos como sobre os vivos”.

Neste texto, a chave se encontra no versículo 9, onde se diz que a morte e ressurreição contituiu Cristo como “senhor dos vivos e dos mortos”. A última palavra (o verbo “kyrieuse”) deriva do substantivo “Kyrios”, que significa “Senhor”. São Paulo emprega constantemente esta palavra para se referir a Cristo: “Cristo é o Senhor”. Neste versículo, que é o mais importante, estão de acordo o texto grego, a versão interlinear, a versão da direita e a versão espanhola. Porém, devemos prestar atenção aos versículos anteriores…

Aparece seis vezes a palavra “Kyrios”, que na versão interlinear se traduz corretamente por “lord”, isto é, “senhor”. À direita, porém, encontramos tal palavra traduzida por “Jeová”.

No texto original encontramos uma sucessão lógica de idéias: “Comemos para o Senhor, vivemos para o Senhor, morremos para o Senhor, pertencemos totalmente ao Senhor porque Cristo morreu e ressuscitou para ser Senhor”. Essa lógica é interrompida se traduzimos que “Comemos para Jeová, vivemos para Jeová, morremos para Jeová, pertencemos totalmente a Jeová porque Cristo morreu e ressuscitou para ser Senhor”.

A mesma deturpação encontramos em Lucas 1,43-46, quando lemos na Tradução do Novo Mundo: “‘Pois a quem se deve que eu tenha este [privilégio] de que me venha a Mãe de meu Senhor?… haverá uma completa realização das coisas que lhe foram faladas da parte de Jeová’… Maria disse: ‘Minha alma engrandece Jeová'”. As três palavras palavras grifadas correspondem, em grego, à palavra “Kyrios”, ou seja, “Señor”.

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Colossenses 1,15-17:

Versão espanhola: “Ele é a imagem de Deus invisível, o primogênito de toda a criação; pois por meio dele todas as [outras] coisas foram criadas nos céus e sobre a terra, as coisas visíveis e as coisas invisíveis, não importando que sejam tronos ou senhorios, ou governos, ou autoridades. Todas as [outras] coisas foram criadas mediante ele e para ele. Também ele é antes de todas as [outras] coisas e por meio dele se fez com que todas as [outras] coisas existissem”.

Na versão espanhola encontramos quatro vezes a palavra outras agregada ao texto original. Por quatro vezes também encontramos a palavra inglesa “other” (=outras), entre colchetes, na coluna da direita. Porém tal palavra não aparece nem no grego, nem na versão interlinear. Observe-se a diferença nestas expressões:

  • Por meio dele todas as coisas foram criadas
    Por meio dele todas as outras coisas foram criadas.
  • Todas as coisas foram criadas mediante ele
    Todas as outras coisas foram criadas mediante ele.
  • Ele é antes de todas as coisas
    Ele é antes de todas as outras coisas.
  • Por meio dele se fez com que todas as coisas existissem
    Por meio dele se fez com que todas as outras coisas existissem.

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Tito 2,13:

Versão espanhola: “Ao passo que aguardamos a feliz esperança e a gloriosa manifestação do grande Deus e do salvador nosso, Cristo Jesus”.

Esta versão espanhola da Tradução do Novo Mundo coincide com a tradução inglesa que encontramos na coluna da direita. Nestas versões, parece que esperamos a duas pessoas: o grande Deus E o nosso Salvador, Cristo Jesus. No texto grego, ao contrário, se fala de um único ser: “o grande Deus e Salvador, Cristo Jesus” (um só artigo unindo Deus e Salvador). Assim o encontramos também na versão interlinear. O segundo artigo “o” se introduz na versão inglesa da direita para estabelecer uma separação entre “grande Deus” e “Salvador Jesus Cristo”. Sempre que o Novo Testamento fala da manifestação ou da vinda (“Parusía”) refere-se sempre a Jesus Cristo; nunca fala assim de Deus Pai.

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João 10,38:

Versão espanhola: “Afim de que cheguem a saber e continuem sabendo que o Pai está em união comigo e eu estou em união com o Pai”.

A frase “em união com” não consta no texto grego nem na versão interlinear. Ali consta: “Em mim está o Pai e eu estou no Pai”. Assim se expressa uma profunda intimidade que é muito superior a “estar em união com”. Esta deturpação foi, entretanto, introduzida na coluna inglesa da esquerda: “in union with”.

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João 14,9-11:

Versão espanhola: “Lhes disse Jesus: ‘Tenho estado convosco tanto tempo e, ainda assim, Felipe, não chegaste a me conhecer? Quem me viu, viu ao Pai [também]. Como podes dizer: ‘Mostra-nos ao Pai’? Não crês que eu estou em união com o Pai e o Pai está em união comigo? As coisas que lhes digo não as falo por mim, mas o Pai que permanece em união comigo é que faz suas obras. Creiam que eu estou em união com o Pai e o Pai está em união comigo; de outra forma, creiam em razão das obras mesmo'”.

Também aqui, como no texto anterior, há a adição da frase “em união com”, repetidas cinco vezes. Em nenhum dos cinco casos a encontramos no texto grego, nem na tradução interlinear.

Outra adição encontramos no versículo 9, com a palavra “[também]”. O texto grego e da tradução interlinear dizem: “Quem me viu, viu ao Pai”.

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Várias outras deturpações no estilo poderíamos apontar. Para isto, pode-se ver o livro “Análise da Bíblia dos Testemunhas de Jeová”, de Eugenio Danyans, da ed. Clie Literatura Evangélica. Tarrasa, 1971.

Quando encontramos versões da Bíblia tão díspares, a ponto de afetar questões tão importantes quanto a divindade de Cristo, com qual versão devemos ficar?

A maioria dos leitores da Bíblia não conhecem as línguas hebraica e grega, para poder ler os textos originais;nem têm a facilidade de possuir em suas mãos uma edição da Bíblia nestes idiomas. É, pois, necessário utilizar-se de pessoas que nos garantam que as versões que temos são corretas; apesar das diferenças lógicas existentes entre umas versões e outras, não se pode contradizer as verdades da fé. Devemos confiar em quem?

Confiamos nos exegetas, nos teólogos, nos comentaristas da Bíblia cujos nomems conhecemos e cuja ciência e competência são reconhecidas.

Confiamos no Magistério da Igreja, que recebeu de Cristo a tarefa de conservar e interpretar as Sagradas Escrituras.

No caso específico dos Testemunhas de Jeová:

Certamente Charles Taze Russell, seu fundador, não conhecia grego, como ele mesmo admitiu perante um tribunal.

Se negam terminantemente a indicar os nomes dos tradutores de sua Bíblia; não podemos, pois, conhecer sua capacitação.

Não dispõem de um “Magistério eclesiástico” com dependência apostólica. Sua autoridade suprema é a Sociedade do Brooklyn, que tem todos os poderes que se auto-atribuem.

Charles Taze Russell nasceu em 1852. Suas atividades religiosas começaram em 1870. O nome “Testemunhas de Jeová” surgiu em 1931, bem após a morte de Russell em 1916. Diante destas datas tardias, queremos dizer a qualquer interrogante que uma das garantias de autenticidade que uma confissão cristã deve oferecer é o seu entroncamento com Cristo, por intermédio dos apóstolos e seus sucessores: é o caráter “apostólico” da Igreja. Podem os Testemunhas de Jeová oferecer testemunhos sólidos de que nos séculos anteriores haviam “fiéis” que acreditavam nas mesmas coisas que eles?

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