A Bíblia nos proíbe de comer certos alimentos? E o que diz sobre as outras proposições adventistas?

Uma irmã católica me encaminhou diversas indagações de cunho essencialmente adventistas (em azul). Seguem as minhas respostas (em preto):

Há algum tempo decidi que não quero ser mais aquela católica que só vai à missa e não pensa e não descobre o significado de toda a simbologia de nossa igreja e sua doutrina. Neste sentido essa página tem sido de grande utilidade. Desde já agradeço pelo esforço de nos instruir cada vez mais em nossa fé.

Agradeço suas cordiais palavras e tenho certeza que você prosperará na fé católica, pois já está manifestando o quesito principal: interesse e força de vontade. Parabéns!

Gostaria que me fosse tirada algumas dúvidas, se possível:

Antes de tirar suas dúvidas, pelo que estive vendo parece-me que você andou lendo algum livro escrito por Ellen Gould White ou algum outro autor adventista, já que todas as suas questões se referem a erros propagados pelos adventistas do sétimo dia… Mas vamos às respostas:

É verdade que é pecado comer sangue de animais, como galinha ao molho pardo, por exemplo?

É claro que não! Esse tipo de colocação é próprio de seitas que acentuam o legalismo do Antigo Testamento, como fazem os adventistas. Tal imposição é ridícula porque, se por um lado defendem que certos produtos não devem ser consumidos, por outro lado não preparam os alimentos que julgam consumíveis com o mesmo cuidado que o Antigo Testamento exige, demonstrando, assim, total contradição. E mais: até a época de Noé não se fazia distinção entre animais puros e impuros; veja-se Gn 9,2-3: “Sereis temidos e respeitados por todos os animais da terra, por todas as aves do céu, por tudo quanto rasteja sobre a terra e por todos os peixes do mar, entrego-os ao vosso poder. TUDO O QUE SE MOVE E TEM VIDA SERVI-VOS-Á DE ALIMENTO. DOU-VOS TUDO ISSO COMO JÁ VOS TINHA DADO AS PLANTAS VERDES”. A distinção passa a existir apenas na época de Moisés (Dt 4); mesmo assim, somente os judeus estavam obrigados a observar e não os gentios, como se depreende de Dt 14,21: “Não comerás nenhum animal que tenha morrido por si; ao peregrino que está dentro das tuas portas o darás a comer ou o venderás ao estrangeiro”. Com a vinda de Jesus fomos todos libertados de qualquer jugo remanescente da Lei Mosaica: “Ao chegar a plenitude dos tempos, Deus enviou o Seu Filho, nascido de mulher e sujeito à Lei, para resgatar os que se encontravam sob o jugo da Lei e para que recebêssemos a filiação adotiva” (Gl 4,4-5). Isso explica porque Jesus declarara à multidão: “NADA há fora do homem que, entrando nele, o torne impuro” (Mt 15,11); e, para dissipar as dúvidas levantadas pelos próprios apóstolos, Jesus foi mais claro ainda: “Não percebeis que tudo quanto de fora entra no homem não pode torná-lo impuro porque não penetra-lhe no coração mas no VENTRE e depois é expelido?” (Mt 15,17), demonstrando estar se referindo à inexistência de alimentos impuros (motivo pelo qual os fariseus ficaram escandalizados, cf. Mt 15,12). São Paulo, escrevendo aos colossenses, diz: “Que ninguém vos critique por questões de COMIDA OU BEBIDA, pelas festas, luas novas ou sábados. Tudo isso nada mais é que uma sombra do que haveria de vir, pois a realidade é Cristo” (Cl 2,16-17). O problema, como vemos, é que os adventistas pretendem ter autoridade não apenas sobre a Igreja de Cristo, como também sobre os apóstolos e o próprio Cristo, o que é um absurdo!

O que Jesus quer que façamos quando diz: “fazei penitência”?

A penitência consiste na dor dos pecados acompanhada pela conversão da vida. Ocorre que a conversão não se dá com um simples desejo de querer se converter, mas também com a reparação dos pecados efetuados, através de atos penosos. Só assim podemos falar de real reconciliação com Deus e os irmãos (cf. Mt 5,23-24).

É pelo sacramento da Penitência que obtemos o perdão dos pecados e nos reconciliamos com Deus e os irmãos. Mas, para que esse sacramento tenha efeito, são necessários os seguintes atos fundamentais:

  • Contrição: o sentimento de dor e repúdio pelo pecado praticado (é essencial!);
  • Confissão: humildade de contar o pecado cometido ao sacerdote;
  • Satisfação: reparação do pecado através do cumprimento da penitência imposta;
  • Absolvição: o recebimento do perdão em nome de Deus, trazendo a plena reconciliação.

Para compreender bem a penitência, recomendo a leitura dos seguintes trechos bíblicos: Mt 4,17; 18,18; Mc 1,15; Lc 5,17-26; 7,50; 15,11-24; 19,10; 23,43; Jo 8,10-11; 20,22-23.

Quando exatamente foi instituída a guarda do domingo? Ouvi dizer que teria sido o papa Constantino que não era convertido e adorava o deus sol. Você tem algum conhecimento sobre isso?

O domingo sempre foi destinado ao culto divino pelos apóstolos e fiéis cristãos, pois foi o dia em que Jesus ressuscitou (cf. Jo 20,1) e a Bíblia nos prova isso em diversas passagens: Jo 20,19-21; Jo 20,26-28; At 2,1-3; 2,14-16; 2,41; 20,6-7; 1Cor 16,2.

Deve-se saber separar a guarda do domingo pelos cristãos (dia em que se reuniam para o culto), do sábado que usavam para evangelizar os judeus em suas sinagogas (dia de guarda dos judeus). Seria o mesmo que uma igreja adventista me permitisse entrar para pregar para seus fiéis: eu iria num sábado e os evangelizaria, porém, no dia seguinte, domingo, iria à missa para adorar o meu Senhor (como fazem a esmagadora maioria dos cristãos, sejam eles católicos, ortodoxos ou protestantes).

Quanto à Constantino, ele foi imperador de Roma e não papa. Também não foi ele que instituiu a guarda do domingo, pois os cristãos já o guardavam como demonstra a Bíblia e os antigos testemunhos cristãos (como, por ex., o de São Justino mártir, Santo Inácio de Antioquia, Didaqué, epístola de Barnabé etc.); o máximo que Constantino fez foi transformar o domingo em feriado imperial uma vez que tinha decretado o fim das perseguições contra os cristãos em 313.Agiu assim para dar aos cristãos igualdade de condições com as demais religiões professadas em seu Império. Essas afirmativas somente demonstram a má-fé ou a falta de conhecimento histórico do autor do livro que você está lendo…

Portanto, Cabe aqui, mais uma vez, a advertência de São Paulo em Cl 2,16-17: “Que ninguém vos critique por questões de comida ou bebida, pelas festas, luas novas ou SÁBADOS. Tudo isso nada mais é que uma sombra do que haveria de vir, pois a realidade é Cristo”.

Gostaria de pedir informações sobre a história da igreja, especialmente sobre os bastidores da reforma e contra-reforma.

Não há dúvidas de que os anos anteriores à ocorrência da Reforma Protestante foram infelizes para a Igreja Católica pois vários papas sem o mínimo de vocação religiosa, mas ávidos pelo poder (bem como vários integrantes do clero), não raras vezes escandalizavam e causavam grande indignação entre os fiéis.

Mesmo assim – e aí está o sinal de que a Igreja Católica é realmente a Igreja de Cristo – nenhum mal causaram ao corpo doutrinário da Igreja (instituindo uma heresia como se fosse verdade revelada) e a Igreja conseguiu se firmar novamente após a Contra-Reforma. De fato, o próprio Jesus já havia predito que a Igreja seria assolada pelo mal, mas este não conseguiria dominá-la: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as potências do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16,18). Por isso, se enganaram (e se enganam ainda hoje) aqueles que abandonaram a Igreja Católica e buscaram outra fé; como diz o apóstolo São João: “Saíram dentre nós, mas não eram dos nossos; porque, se fossem dos nossos, teriam permanecido conosco; mas todos eles saíram para que se manifestasse que não são dos nossos.” (1Jo 2,19).

Lutero, Calvino e outros – até os mais recentes – não precisariam abandonar a única Igreja do Senhor; se achavam que tinha algo errado, deveriam lutar dentro da Igreja, como fez o grande São Francisco de Assis, que lutou e obteve êxito; porém, não quiseram se submeter e deu no que deu: a doutrina luterana da “Sola Scriptura”, por exemplo, que é seguida por TODAS as denominações protestantes, com sua livre interpretação da Bíblia, esfacelou o “cristianismo protestante” em mais de 20 mil ramos! Tal doutrina, jamais foi professada pela Igreja de Cristo: a própria Bíblia não atesta essa doutrina (o que a transforma em verdade antibíblica), nem os cristãos primitivos. Porém, a Bíblia deixa bem claro o destino daqueles que promovem a divisão da Igreja: a perdição eterna (cf. Gl 5,19-21). Gostaria de saber se desde a Igreja primitiva, os livros que os nossos irmãos protestantes chamam de apócrifos fazem parte do Cânon Bíblico.

Gostaria de saber se desde a Igreja primitiva, os livros que os nossos irmãos protestantes chamam de apócrifos fazem parte do Cânon Bíblico. Estou lendo um livro intitulado “A Reforma Protestante” que diz que “alguns desses escritos apócrifos, inclusive um aditamento ao livro de Daniel” foram considerados inspirados somente no Concílio de Trento (1545 – 1563). Gostaria que me confirmasse essa informação.

Outra grande mentira! Em sua pregação missionária, os apóstolos usaram a tradução grega da Bíblia chamada “Septuaginta”. Prova: das 350 referências literais ao Antigo Testamento, mais de 300 seguem a versão grega e inúmeras são as referências do NT a esses livros. Essa versão da Bíblia possui 7 livros a mais que a versão hebraica definida no séc. I dC, pelos judeus de Jâmnia; mesmo assim tais livros eram usados pelos judeus e os judeus que hoje residem na Etiópia ainda os têm como inspirados. A lista oficial dos livros cânonicos foi definida pela Igreja no séc. IV, pois até aquela época cada Igreja regional tinha seu próprio elenco de livros sagrados. Quando a Igreja definiu o cânon bíblico, usou como parâmetro para o Antigo Testamento a versão grega usada pelos apóstolos (a Septuaginta). Todos os cristãos seguiram esse cânon até o séc. XVI quando Lutero resolveu questionar a validade desses livros, classificando-os como “apócrifos”. Notemos, porém, o seguinte:

  • Os apóstolos usaram essa versão e ninguém questionou;
  • A Igreja deu o seu “aceite” oficial no séc. IV e ninguém questionou até o séc. XVI;
  • O MESMO concílio do séc. IV que definiu o cânon do Antigo Testamento definiu também o cânon do Novo Testamento;
  • Os protestantes que não aceitam o cânon do AT definido no séc. IV aceitam, por outro lado, todos os livros definidos para o NT, o que é uma grande contradição.

Por sua vez, o Concílio de Trento, apresentando a lista integral dos livros da Bíblia, nada mais fez que repetir as decisões de concílios anteriores, como o de Florença (1441), Trulos (692), Cartago IV (418), Cartago III (397) e Hipona (393) – este último foi, o primeiro a definir oficialmente o cânon da Bíblia. Obs.: também os Concílios do Vaticano I (1870) e II (1965) enumeram os livros bíblicos da mesma forma que os anteriores. Com efeito, podemos afirmar – sem medo algum de errar – que não foi a Igreja Católica que acrescentou livros à Bíblia, mas sim certas denominações protestantes que ousaram a retirar alguns livros de suas Bíblias!

É verdade que dogmas da Igreja Católica como a infabilidade do Papa, a imaculada conceição de Maria e sua ascenção foram incorporados à doutrina católica após a reforma protestante?

Todos esses dogmas são professados desde o início do Cristianismo.Na verdade, o autor do livro que você está lendo está querendo confundir os desinformados. O fato do Concílio do Vaticano I (1870), por exemplo, ter definido a infalibilidade papal, não significa que, antes dele, tal dogma não fosse professado pela Igreja; muito pelo contrário: a definição do dogma simplesmente confirma oficialmente aquilo que toda a Igreja já praticava e que já constava na Bíblia e na Tradição. Logo:

Infalibilidade do Papa: se deduz de uma série de passagens bíblicas (Is 22,22; Mt 16,14-19; 18,21; 23,2; Lc 10,1-2; 23,31-32; Jo 21,17; Ap 1,18; etc.). Cristo estabeleceu Pedro como fundamento da Sua Igreja e lhe conferiu as chaves do Reino dos Céus; cabe a ele apascentar o rebanho de Cristo e confirmar os irmãos na fé. O papa não é infalível em todos os assuntos (como falsamente querem fazer supor – para confundir – os inimigos da Igreja) mas apenas nas questões de fé e moral. Logo, o papa não inventa uma nova doutrina, mas confirma certa doutrina como já revelada na Bíblia e na Sagrada Tradição. Além da Bíblia e da Tradição, também a História registra que nenhum papa errou doutrinariamente, o que acaba sendo a prova mais contundente a favor da infalibilidade papal.

Imaculada Conceição: (Gn 3,15; Lc 1,28) Trata-se de um privilégio que foi concedido exclusivamente a Maria em virtude de sua futura maternidade divina (ou seja, por se tornar mãe de Jesus, verdadeiro Deus e homem), antecipando os efeitos da redenção trazida por Cristo, pois de outra forma também Jesus herdaria o pecado original (cf. Sl 50,7; Rm 6,23) e não poderia nos salvar. É por isso que o anjo a chama de “cheia de graça”, uma saudação que ninguém mais recebe em toda a Bíblia.

Assunção de Maria: (Gn 5,24; 2Rs 2,1-13; Ap 12,1-5.13-14): Já no AT, o profeta Elias havia sido arrebatado (assunção) ao céu, por ser amigo de Deus; com Maria, mãe do Salvador, não poderia ser diferente! Ap 12,14 diz: “[À mulher] Foram-lhe dadas duas asas de grande águia para que voasse para o deserto para que ficasse fora do alcance da cabeça da serpente”, numa clara alusão ao arrebatamento de Maria, pois que outro lugar seria mais seguro que o próprio Paraíso?

Obs: você emprega o termo “ascenção” ao invés de “assunção”; não sei se você copiou o termo errado do livro ou se é este que lá se encontra… Seja como for, está errado: o único que ascendeu aos céus foi Jesus (pois tinha força própria, como Deus que é); Elias e Maria foram assumptos (arrebatados), pois a força de arrebatamento proveio de Deus, ou seja, não se elevaram aos céus por força própria.

Finalizando, aqui vai um conselho meu para você que quer viver melhor a sua fé católica: antes de começar a ler livros contrários à doutrina da Igreja você precisa, pelo menos, conhecer melhor a sua fé católica. Depois que você conhecer bem a fé católica aí sim, poderá ler inclusive os livros que a atacam e verá como nada pode desvirtuá-la do caminho da Verdade…

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