A constituição hierárquica da igreja

As seguintes palavras do Papa Paulo VI podem servir como uma pequena síntese da vontade de Cristo para a constituição e organização de sua Igreja:

 

‘Cristo prometeu e enviou dois elementos para constituir sua obra, para prolongar no tempo e em todo o mundo o reino fundado por ele e fazer da humanidade redimida a sua Igreja, seu corpo místico, na expectativa de seu segundo e triunfal retorno no fim do mundo. Estes elementos são o Colégio Apostólico e o Espírito Santo. O Colégio Apostólico trabalha externamente e objetivamente. Forma, pode-se dizer, o corpo material da Igreja e lhe dá uma estrutura social e visível. O Espírito trabalha internamente, dentro de cada pessoa e dentro da comunidade como um pleno vivificador e santificar. Estes dois agentes, a saber, o Colégio Apostólico, cujo sucessor é a hierarquia sagrada, e o Espírito de Cristo, que faz da Igreja de Cristo um instrumento ordinário no ministério da palavra e dos sacramentos, trabalham juntos. Na manhã de Pentecostes eles são vistos numa harmonia maravilhosa no começo da grande obra de Cristo’ [1]

 

Neste artigo nos preocuparemos com o primeiro destes dois elementos.

 

A Igreja Católica ensina como doutrina de fé que Cristo deu à Igreja, em seus apóstolos, uma estrutura hierárquica de natureza episcopal e que dentro da hierarquia da Igreja Ele estabeleceu um primado de autoridade no sucessor de São Pedro.

 

A Constituição Hierárquica da Igreja

 

‘Todo fiel, do Papa à criança que acaba de ser batizada, participa de graças idênticas’ [2] Não obstante, quando é afirmado que a Igreja é uma sociedade hierárquica nós estamos em substância querendo dizer que apesar da ‘radical ou fundamental igualdade’ que deve ser encontrada entre povo de Deus, a Igreja tem estruturas, características e diferenciações pela virtude de ser uma sociedade em que há uma ‘desigualdade funcional’ [3]. Que quer dizer: nem todo o fiel tem a mesma função ou missão. Por esta razão o Papa Paulo X disse ‘a Igreja é essencialmente uma sociedade de desigualdades, isto é, uma sociedade composta de dois tipos de pessoas: pastores e ovelhas’ [4]

 

Esta estrutura hierárquica não é o resultado de influências sócio-políticas, mas originou-se da vontade de Cristo. Isto foi declarado solenemente por ambos os Concílios de Trento e Vaticano I [5], mas foi o Vaticano II quem deu um resumo detalhado: ‘O Senhor Jesus, tendo orado demoradamente ao Pai, chamou para si os que ele desejou e apontou doze para estar com ele, que ele enviaria para pregar o reino de Deus (cf. Mc 3,13-19; Mt 10,1-42). Estes apóstolos (cf. Lc 6,13) Ele constituiu na forma de um colégio ou assembléia permanente, colocando Pedro em seu comando, escolhido dentre eles (cf. Jo 21,15-17). Enviou-os primeiramente aos filhos de Israel e então a todas as pessoas (cf. Rm 1,16), de modo que, compartilhando de seu poder, eles pudessem fazer de todas as pessoas seus discípulos, santificando-os e governando-os (cf. Mt 28,16-20; Mc 16,15; Lc 24,45-48; Jo 20,21-23) e assim se espalhou a Igreja e, administrada sob a direção do Senhor, estará com ela todos dias até o fim do mundo (cf. Mt 28,20).[6]

 

Aqui temos o princípio da hierarquia da Igreja estabelecida na pessoa dos apóstolos. O Concílio continua a dizer que esta estrutura, que é de origem divina, é uma parte constitutiva da Igreja por todo os tempos, não somente para os primórdios da Igreja, mas para hoje também. Isto por virtude do princípio da Sucessão Apostólica: ‘Esta missão divina, que foi confiada por Cristo aos apóstolos, é destinada a durar até o fim do mundo (cf. Mt 28,20), pois o Evangelho, que eles estão encarregados de transmitir, é, para a Igreja, o princípio de toda sua vida, para todos os tempos. Por esta mesma razão os apóstolos tiveram o cuidado de designar sucessores nesta sociedade hierarquicamente constituída’ [7]. O Concílio então explica com detalhes e atenta à realidade histórica, a história factual, nas palavras do Papa Leão XIII, como esta transmissão de autoridade e ministério foi feita ‘aos bispos e seus ajudantes, aos sacerdotes e diáconos’. Todo este procedimento, nos foi dito, deve ser relacionado à vontade de Cristo: ‘Ele quis que os sucessores (dos apóstolos), a saber os bispos, devessem ser os pastores da sua Igreja até o fim do mundo’ [8] E finalmente, o Concílio solenemente declara: ‘O Sagrado Sínodo, portanto, ensina que os bispos têm, por instituição divina, tomado o lugar dos apóstolos como pastores da Igreja, de tal modo que quem os despreza, despreza Cristo e quem o enviou (Lc 10,16)?.[9]

 

‘Esta hierarquia divinamente instituída, que é composta pelos bispos, sacerdotes e ministros’ [10], receberam a missão que Cristo havia confiado aos seus apóstolos. ‘Com sacerdotes e diáconos como ajudantes, os bispos receberam o encargo da comunidade, presidem em lugar de Cristo sobre o rebanho do qual eles são os pastores, dos quais são mestres da doutrina, ministros da adoração sagrada e possuidores do ofício de governo’ [11]

 

O sacramento da ordem é o meio estabelecido por Cristo para perpetuar na sua Igreja esta hierarquia essencial [12] a quem ele deu o poder da missão de seu ofício triplo de ensinar, santificar e governar os fiéis. ‘Os possuidores deste ofício, que são investidos com o poder sagrado, são, aliás, dedicados a promover os interesses dos seus irmãos de modo que todo o que pertence ao povo de Deus, e, conseqüentemente, são dotados de uma verdadeira dignidade Cristã, podem, por seus livres e bem orientados esforços em direção de uma meta comum, atingir salvação ‘[13]

 

Referências:

 

[1] Paulo VI, “Ao Concílio Vaticano II,” 14 de setembro, 1964 A.A.S. 56 (1964), p.807 (1964), p. 807.

[2] A. del Portillo, Faithful and Laity in the Church, Shannon, 1976, p.19.

[3] Ibid, p. 22.

[4] São Pio X, Encyclical Vehementer, 11 Fev, 1906, A.A.S. 39 (1906), p.8

[5] DS 1776, 3051 (DB 966,1821).

[6] Decreto sobre a Igreja, no.19

[7] Ibid., no. 20

[8] Ibid., no. 18

[9] Ibid., no. 20

[10] Concílio de Trento, Sessão 23, c. 6, DB 1776 (DS 966)

[11] Decreto sobre a Igreja, no. 20

[12] Ibid., no. 21 e 28

[13] Ibid., no. 18

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