A cronologia dos escritos paulinos em relação aos Evangelhos

– Gostaria de ter uma explicação sobre as cartas de Paulo terem sido escritas antes que os Evangelhos. E nesse espaço de tempo, que vejo como vazio na história cristã, como ficou a mensagem de Cristo?


Prezado leitor, a paz de Cristo!

Sua pergunta é importante para entendermos o contexto e a história do surgimento dos escritos do Novo Testamento. A história da Igreja nos mostra que a priori, a pregação cristã era predominantemente oral, não havia uma preocupação dos discípulos em escrever livros e difundir a doutrina com base em documentos escritos, o que era até difícil para a época, dadas as condições intelectuais e materiais.

Neste contexto, São Paulo, que fora judeu fervoroso, discípulo de Gamaliel (Atos 22,3; 26,4; 5,34) e, portanto, bem letrado para seu tempo, após sua conversão a Cristo, no exercício de sua missão evangelizadora voltada aos gentios (todos os povos não judeus), acaba por escrever cartas para as comunidades cristãs aos seus cuidados, dando início aos escritos do Novo Testamento.

Assim, a primeira carta de São Paulo aos Tessalonicenses é considerado o primeiro livro escrito do Novo Testamento:

– “Esta carta foi escrita em grupo, exatamente como nossos grupos de estudo fazem hoje. Assim Paulo junto com Silvano e Timóteo (cf. 1Tessalonicenses 1,1) são os autores deste texto” (cf. José Bortolini, “Como ler a primeira carta aos Tessalonicenses: fé, amor, esperança”. São Paulo: Paulinas, 1991, pág.7).

A primeira carta aos Tessalonicenses deve ter sido escrita da cidade de Corinto, “durante o verão de 50” (cf. “Introdução às Epistolas de São Paulo”, in Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2006, pág. 1957).

Quanto aos Evangelhos, só começam a serem escritos após o ano 50, aproximadamente vinte anos após a morte e ressurreição de Cristo. E neste intervalo “sem escritos do Novo Testamento”, a Boa Nova, o Evangelho, era difundido oralmente, constituindo o que denominamos “Sagrada Tradição Apostólica”:

-“Como teve início esta história das letras cristãs, destinada a uma glória tão grande? Humildemente. Jesus não escreveu, mas falou. E com que arte, com que poder! (…) Este estado de coisas durará entre vinte e trinta anos e, durante todo esse tempo, os cristãos darão a conhecer a sua Tradição sem pensar em escrevê-la. A Igreja, comunidade fundada por Jesus, transmitia-lhes a palavra divina e garantia-lhes a sua autenticidade” (ROPS-Daniel. “A Igreja dos Apóstolos e dos Mártires”. São Paulo: Quadrante, 1988, págs. 243.245).

Espero ter respondido satisfatoriamente a sua dúvida. Recomendando a leitura do Catecismo da Igreja Católica, para um aprofundamento:

– “§77 – Para que o Evangelho sempre se conservasse inalterado e vivo na Igreja, os Apóstolos deixaram como sucessores os Bispos, a eles ‘transmitindo seu próprio encargo de Magistério’. Com efeito, a pregação apostólica, que é expressa de modo especial nos Livros inspirados, devia conservar-se por uma sucessão contínua até a consumação dos tempos”.

– “§78 – Esta transmissão viva, realizada no Espírito Santo, é chamada de Tradição enquanto distinta da Sagrada Escritura, embora intimamente ligada a ela. Por meio da Tradição, ‘a Igreja, em sua doutrina, vida e culto, perpetua e transmite a todas as gerações tudo o que ela é, tudo o que crê’. O ensinamento dos Santos Padres testemunha a presença vivificante desta Tradição, cujas riquezas se transfundem na praxe e na vida da Igreja crente e orante”.

– “§97 – A Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura constituem um só sagrado depósito da Palavra de Deus, no qual, como em um espelho, a Igreja peregrinante contempla a Deus, fonte de todas as suas riquezas”.

In caritate Christi,

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