A igreja e os índios

Foi já definido o tema da Campanha da Fraternidade de 2002: “Fraternidade e Povos Indígenas”; e o lema: “Por uma terra sem males”.

Há, em nossos dias, mais de 330 mil índios, pertencentes a 215 nações, que falam mais de 180 línguas diferentes. Quando aqui chegaram os europeus em 1500, esta população ultrapassava 5 milhões e havia 970 povos. O que a CNBB deseja é que se relembre a histórica luta de resistência dos povos indígenas ao longo destes cinco séculos”.

Por outro lado, se pode perceber que a Igreja nunca descurou a causa indígena e, também hoje, mais uma vez, revela sua preocupação e interesse pelos índios. D. Silvério, Arcebispo de Mariana, por exemplo, no início do século XX, encarregou o Pe. André Colli, missionário salesiano para estar ao lado dos índios Krenacks na região que hoje pertence à Diocese de Governador Valadares. Sacerdote zeloso e de entranhada caridade, o Pe. Colli, com tino e zelo apostólico admiráveis, orientou carinhosamente as comunidades indígenas da região, sempre respeitando a alteridade do irmão a quem levava as luzes do Evangelho.

É sabido que autênticos missionários em todo decurso da história do Brasil lutaram a favor dos índios, opondo-se corajosamente a ambiciosos invasores. O preconceito ou o desconhecimento dos fatos ocorridos é que levam certos historiadores menos avisados a apontar a Igreja aliada aos opressores.

Bispos, sacerdotes seculares, membros das Ordens Religiosas nunca deixaram de levantar sua voz a favor dos nativos. Os documentos dos papas foram o eco das denúncias que chegavam a Roma, clamando contra as injustiças para com os filhos da terra que estavam sendo espoliados pelos ambiciosos.

A ganância dos latifundiários encontrou sempre resistência por parte das autoridades eclesiásticas a protestarem contra os espoliadores. Suas queixas fizeram com que a Corte Portuguesa e os Papas tomassem providências enérgicas, válidas para toda a Colônia. Ninguém é tão ingênuo para, numa generalização também condenável, afirmar que não houve abusos e doestos com relação aos índios até por parte de certos elementos do clero, traidores de sua sublime missão.

O que não se pode é negar o zelo e interesse na defesa, na promoção e no respeito para com as nações indígenas, vindos de excelentes membros da Igreja. Houve toda uma legião de eclesiásticos e leigos que se sacrificam perseverantemente para que os índios tivessem sempre os seus direitos respeitados.

A questão da doutrinação cristã é outro ponto que merece ser destacada. Cristo falou claramente aos Apóstolos: “Quem vos ouve a mim ouve, quem vos rejeita a mim rejeita, e quem me rejeita, rejeita Aquele que me enviou” (Lc 10,16).

É preciso, pois, fazer discípulos de todas nações (Mt 28,19), inclusive das indígenas. Ora, para se tornar discípulo de Cristo é mister uma renovação total. É um ser novo (Tito 3,5) que deve surgir, cujo comportamento é radicalmente modificado. A fé exige opção decisiva e radical (Jo 3,19-21). São Paulo (Rm 1,18-32) denuncia o pecado universal dos homens: em vez de admitir o Criador através de sua criação trocaram a glória de Deus incorruptível por uma representação de suas criaturas. É o que acontece nas crenças primitivas. Cristo, realmente doutrinou. Foi uma novidade o que Ele pregou e Ele causou impacto (Mc 1,27; 11,18). Ele refugou a tradição errônea (Mt 15-19).

Foi o que os missionários fizeram e devem fazer: Anunciar a Boa Nova, respeitando a cultura indígena, como os jesuítas e tantos outros catequistas. A ordem do Mestre foi clara: “Ide e ensinai” (Mt 2 8,19 e ss). São Paulo por onde andou fazia valer sua autoridade doutrinal, (Gl 1,8 e ss). A seu exemplo os missionários sempre propuseram a doutrina salvífica. Não a impuseram. As Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia mostram que nunca o batismo devia ser ministrado a força.

A ação benemérita dos missionários, que construíram uma pátria cristã e tanto fizeram pelo bem de nossos índios merece ser lembrada com gratidão

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