A mortificação é necessária?

[Leitor autorizou a publicação de seu nome no site] Nome do leitor: Tony
Cidade/UF: Poços de Caldas/MG
Religião: Católica

Mensagem
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Bom dia a todos.

Meu nome é Tony, minha dúvida é a seguinte:

Compreendi que para a pessoa cristã vencer o mundo, é necessário ter uma vida de oração e penitência. Falo isto, direcionando-me à fornicação e masturbação. Lendo uma passagem da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios, vi claramente que o próprio São Paulo castigava seu corpo, para viver conforme o espírito. Veja as palavras do Apóstolo: “Ao contrário, castigo o meu corpo e o mantenho em servidão, para que não venha eu a ser excluído pelos erros que preguei aos outros.” (1Cor 9,27).   Esta passagem me deixa muito atribulado, visto que o mundo de hoje, se esqueceu deste seguimento. Por favor me expliquem melhor o que São Paulo quiz dizer.   O que seria de fato este “castigar o próprio corpo”? Seria de fato mortificar-se corporalmente?   Para a minha vida por exemplo acho meio inviável e estranho fazer como no Opus Dei o uso de cilício ou qualquer coisa deste tipo. Entendo que até João Batista usava pele grossa de animal por cima da pele e comia gafanhotos. Mas não sei se não compreendo ou não quero compreender.   Sei que mortificação é isto mesmo. Mas expliquem-me melhor se puderem.

Muito obrigado

no aguardo.

Caro Tony,

A mortificação é uma prática cristã absolutamente necessária para que cheguemos à santidade. Nenhum católico está dispensado dela e, sem ela, dificilmente conseguiremos viver nossa fé. Afinal, é necessário que o homem velho morra, para que surja o homem novo, gerado à imagem de Cristo Jesus. Com a mortificação, levamos à morte este homem velho.

O Catecismo da Igreja Católica, em seu parágrafo 2.015, deixa claro a necessidade da mortificação. Veja o que nos diz a Santa Madre Igreja:

“§2015 O caminho da perfeição passa pela cruz. Não existe santidade sem renúncia e sem combate espiritual. O progresso espiritual envolve ascese e mortificação, que levam gradualmente a viver na paz e na alegria das bem-aventuranças:

Aquele que vai subindo jamais cessa de progredir de começo em começo, por começos que não têm fim. Aquele que jamais cessa de desejar aquilo que já conhece.”

A mortificação pode ser ativa (como, por exemplo, o jejum), ou, então, passiva (quando se aceitam, de bom grado, os sofrimentos que nos advêm). Pode ser do corpo, dos sentidos, da vontade ou da inteligência.

Quanto à mortificação do corpo (que parece ser o objeto de tua dúvida), podemos fazê-la de diversas formas. Como eu já disse, o jejum é uma delas. Podemos, ainda, mortificar o corpo aceitando uma dor involuntária, deixando (se tal não for um inconveniente para a saúde ou para o fiel cumprimento de seus deveres) de tomar algum remédio que vise minorá-la ou escondê-la. Podemos, ainda, adiar por alguns minutos o gesto de tomar um copo de água para matar a sede. Podemos rezar de joelhos um terço, ou acompanhar, de joelhos, toda a Oração Eucarística da Santa Missa (e não somente a Consagração).

No site da Administração Apostólica São João Maria Vianney, há uma lista de mortificações e pensei em transcrevê-la abaixo para que você veja como a mortificação do corpo é algo ao alcance de todos os católicos, que podem praticá-la diariamente com o auxílio da Graça de Deus. Veja a lista:

  1. Com relação aos alimentos, limitai-vos, quanto vos for possível, ao estritamente necessário. Meditai estas palavras que Santo Agostinho dirigia a Deus; “Vós me ensinastes, ó meu Deus, a tomar os alimentos como remédios. Ai, Senhor, e quem de nós neste aspecto não vai além do estipulado? Se se encontra um, declaro que é um grande homem e que deve dar muita glória ao Vosso Nome.” (cf. Livro X, cap. 31)
  2. Rogai a Deus amiúde: rogar a Deus todos os dias para que vos preserve, por sua graça, de ultrapassardes os limites da necessidade e para que não permita que caiais na rede do prazer.
  3. Não tomeis nada entre as refeições, a não ser se a necessidade ou conveniência o indicam.
  4. Praticai a abstinência e o jejum, mas somente sob obediência e com discrição.
  5. Não está proibido que proveis ou degusteis alguma coisa refinada, mas fazei-o com intenção pura e bendizendo a Deus.
  6. Regulai o tempo de descanso, evitando todo tipo de preguiça, de moleza, especialmente pela manhã. Se puderdes, estabelecei uma hora para deitar e para levantar e atende-vos a ela com toda energia.
  7. Em geral, não vos entregueis ao descanso além do necessário; prestai-vos com diligência ao trabalho, não economizando energias. Não vos esgoteis, mas tampouco entregueis o corpo à moleza; enquanto sentirdes nele algum movimento de sublevação, tratai-o como a um escravo.
  8. Se sentis uma leve indisposição, tende cuidado de não molestar aos demais com o vosso mau humor; deixai que vossos irmãos se condoam de vós por própria iniciativa; vós sede pacientes e mudos como o Cordeiro de Deus que carregou sobre si todas as nossas fraquezas.
  9. Evitai serdes dispensados ou substituídos de vossas obrigações com a desculpa de qualquer mínima doença. “É preciso odiar como se se tratasse de peste toda dispensa referente às Regras”, escrevia S. João Berchmans.
  10. Recebei com docilidade, suportai humildemente, pacientemente, com perseverança, a penosa mortificação que se chama enfermidade. (fonte: http://www.adapostolica.org/modules/wfsection/article.php?articleid=405).

Veja, meu caro Tony, que a mortificação é um sacrifício que fazemos, entre outras coisas, no sentido de domar a inclinação que temos para o pecado, a fim de ganharmos um bem maior, que é a santidade e a Vida Eterna.

E, se você reparar bem, todos estamos acostumados a grandes sacrifícios em nossas vidas, sacrifícios estes que, no mais das vezes, visam bens muito menores e, freqüentemente, nos conduzem ao inferno.

Quantas pessoas (principalmente mulheres) não fazem dietas rigorosas ao extremo apenas para satisfazer sua vaidade? Quantas pessoas (principalmente homens) não impõem aos seus corpos esforços descomunais em academias de ginástica com o mesmo fim? Quantos de nós não perdem noites de sono apenas para ganhar um dinheiro a mais?

Encontrei, na Internet, uma opinião muito interessante sobre este assunto:

“Cilícios e disciplinas são proscritos (pelo mundo moderno). Se observarmos, no entanto, certas imposições da moda… As calças jeans que as mulheres usam, tamanho duas vezes menor do que o seu manequim, marcam, em vergões, o cinto encravado no meio dos quadris, sem falar da pressão no ânus e órgãos genitais. E tudo equilibrado em tamancos que contrariam as leis do equilíbrio, os dedos espremidos, os calcanhares a quinze centímetros do chão. E tudo para fazer pose. Isso sem falar dos piercings, cravados na língua, sobrancelhas, nariz, umbigo, órgãos genitais. Não há dúvida de que isso exige a sua parcela de sofrimento, ok? Mas sofrer por penitência? Nem pensar! Os homens e as mulheres de hoje, com freqüência, não sabem o que é arrepender-se. E nas entrevistas, quando têm alguma projeção social, declaram: “Não me arrependo de nada! Faria novamente tudo o que fiz.” Difícil acreditar que uma pessoa não tenha de que se arrepender pois se alguém diz não ter pecado, nesse não está a verdade. (I João 1, 8). É pena. Quando não nos arrependemos, perdemos uma grande chance de encontrar a paz.” (fonte: http://www.portaldafamilia.org/artigos/artigo404.shtml).

A autora acima está coberta de razão. Pode parecer irônico, mas todos aqueles que, pela mortificação, não quiserem se tornar libertos do pecado, acabarão por, escravos, se mortificar para pagar, ao pecado, o tributo devido.

Quem não se mortifica contra o pecado, mortificar-se-á para o pecado…

Com relação ao uso do cilício, tal não é necessário e, se for fazê-lo, melhor é que o faça sob as estritas orientações de um bom confessor (se você tiver a sorte de encontrar um nos dias de hoje). Conforme acima dito, há inúmeras formas de se mortificar, cotidianamente, sem que seja necessário recorrer-se ao cilício (eu mesmo nunca vi um).

Contudo, mortificar-se é necessário para um católico viver sua fé.

Espero tê-lo ajudado,

Alexandre.

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