A “Sola Fides”, a Igreja primitiva e os Padres da Igreja

“Os Padres da Igreja acreditavam na doutrina da Sola Fides?” Durante a época em que eu flertava com o Protestantismo, nunca reparei nesta questão. Cheguei até a rejeitar esta doutrina por considerá-la sem qualquer sustentação escriturística; no entanto, hoje em dia, posso responder claramente a esta questão, pois ainda que para um fundamentalista possa parecer irrelevante, há razões escriturísticas para que eu pense em sentido contrário.

Isto porque, se esta doutrina foi uma novidade do século XVI, não deveria ter sido levada a sério. Eu, como católico, aceito o que se deva considerar “legítimos desenvolvimentos da doutrina cristã”; porém, quem teve tempo de estudar a história e os textos patrísticos chegará a uma simples conclusão: a doutrina da “salvação apenas pela fé” (=Sola Fides) não apenas não era professada antes de Lutero, como também era explicitamente anatematizada e rejeitada.

Como poderia ser então uma doutrina verdadeira? Significaria isto que a Igreja foi cega durante 15 séculos? Para um protestante, isto pode ser fácil de aceitar; eu, porém, simplesmente não posso crer. A maioria dos fundamentalistas sustenta que a Igreja se “paganizou” até a raiz quando o imperador Constantino Magno converteu-se ao Cristianismo e decretou a liberdade de culto através do Edito de Milão. Contudo, essa doutrina já fora rejeitada como herética séculos antes de Constantino.

A seguir, pretendo fazer uma recompilação de textos patrísticos dos Padres da Igreja e dos escritores eclesiásticos mais preeminentes, começando a partir dos discípulos diretos dos Apóstolos. A partir deles demonstraremos que o consenso dos Padres da Igreja professava que:

 

O homem, embora tenha livre-arbítrio, não pode se sarlvar sem a graça de Deus. Deus, por sua graça, tem a primeira iniciativa da sua salvação e, exercendo esta liberdade, o homem responde e coopera com a graça (compreendendo-se que a graça é favor gratuito e imerecido de Deus).

 

 

Deus chama todos os homens à salvação e sobre todos derrama sua graça através de Cristo, pois quer que todos os homens se salvem. Aqueles que se condenam o fazem por sua própria vontade.

 

 

A graça de Deus move o homem a crer em Cristo e obedecer. Sem a graça, não pode fazer nem uma coisa nem outra, nem sequer pode ter a iniciativa de o fazer.

 

 

Assim, a salvação é graça; porém, nós devemos cooperar fazendo uso da nossa liberdade ou livre-arbítrio. Por meio da fé o homem é justificado; ao ser justificado, não apenas é declarado justo, mas tornado justo (regenerado).

 

 

Logo, o homem justificado, movido pela graça, deve viver de acordo com a vontade de Deus, fazendo o bem e cumprindo os mandamentos; porém, é livre para não fazê-lo e cair do estado de graça de Deus.

 

 

Neste sentido, para salvar-se não basta apenas crer (Sola Fides), mas crer e agir; portanto, as obras e o cumprimento dos mandamentos são necessários para a salvação (mas não como moeda de troca por ela, já que é graça).

 

Este artigo pretende ser apenas um breve resumo da doutrina católica referente à justificação. A quem desejar estudar a fundo a doutrina católica acerca destes pontos, sugiro a leitura dos decretos de Trento e o livro “O Mérito”, do cardeal Charles Journet.

A DIDAQUÉ

Considerado um dos mais antigos escritos cristãos não-canônicos, incluído na categoria dos “Padres Apostólicos” e tido por bem anterior a muitos escritos do Novo Testamento. Apenas recentemente alguns estudiosos lhe assinalaram uma possível data de composição não superior ao ano 160 d.C. […]

Já neste primitivo testemunho da fé da Igreja, adverte-se que de nada serve ter fé durante toda a vida se, no último momento, não formos perfeitos:

“Vigiai sobre a vossa vida; não deixai que vossas lâmpadas se apaguem, nem afrouxai vossos cintos. Ao contrário, estai preparados porque não sabeis a hora em que virá o Senhor. Reuni-vos frequentemente, procurando o que convém a vossas almas; porque de nada vos servirá todo o tempo da vossa fé se não fores perfeitos no último momento” (Didaqué 16,1-2).[1]

SÃO CLEMENTE DE ROMA

São Clemente, discípulo dos Apóstolos São Pedro e São Paulo, é reconhecido como um dos Padres Apostólicos e 4º bispo de Roma (logo após São Pedro, São Lino e São Anacleto). Conserva-se uma carta em que disciplina a comunidade dos coríntios em razão de uma disputa surgida nessa igreja. […]

Clemente tem sido frequentemente citado por apologistas protestantes como partidário da doutrina da “Sola Fides”, em razão do seguinte texto:

“Em conclusão, todos foram glorificados e engrandecidos, não por méritos próprios, nem por suas obras ou justiças que praticaram, mas pela vontade de Deus. Logo, tampouco nós – que fomos chamados em Jesus Cristo por sua vontade – nos justificamos por nossos próprios méritos, nem por nossa sabedoria, inteligência, piedade ou pelas obras que fazemos em santidade de coração, mas pela fé, pela qual o Deus onipotente justificou a todos desde o princípio” (1ª Carta aos Coríntios 32,3-4).[2]

Porém, Clemente realmente diz o mesmo que estabele o Concílio de Trento quando declara que: “Nada do que precede a justificação – seja fé, seja obras – merece a graça da justificação, porque se é pela graça, não o é pelas obras. Senão, como diz o Apóstolo, a graça já não é mais graça” (Concílio de Trento, Sessão VI, Decreto sobre a Justificação 8). Trento ensina assim que não há nada anterior à justificação, incluindo as obras (de qualquer espécie) que mereça a justificação.

No entanto, em outros textos, Clemente fala como os profetas foram declarados justos não somente ao crer, mas também ao obedecer:

“Unamo-nos, pois, àqueles a quem foi dada a graça da parte de Deus; revistamo-nos da concórdia, mantendo-nos no espírito de humildade e continência, justificados por nossas obras e não por nossas palavras” (1ª Carta aos Coríntios 30,3).[3]

“Tomemos por exemplo a Henoc, o qual, encontrado justo na obediência, foi trasladado, sem que se encontrasse o rastro de sua morte” (1ª Carta aos Coríntios 9,3).[4]

“Abraão, que foi chamado ‘amigo de Deus’, foi achado fiel por ter sido obediente às palavras do Deus” (1ª Carta aos Coríntios 9,1).[5]

 

Clemente é um excelente expositor da doutrina católica da justificação. O homem se justifica pela fé, porém se salva sob a condição de que guarde os mandamentos e cumpra de modo efetivo a vontade de Deus (as obras não são apenas produto da fé, mas condição para se salvar):

“De nossa parte, lutemos para nos encontrar no número dos que O esperam, a fim de sermos também partícipes dos dons prometidos. Mas como conseguir isto, caríssimos? Conseguiremos desde que a nossa mente esteja fielmente afiançada em Deus; desde que busquemos aquilo que é agradável e aceito por Ele; desde que, finalmente, cumpramos efetivamente aquilo que condiz com seus desígnios irreprováveis e sigamos o caminho da verdade, atirando para longe de nós toda injustiça e maldade, avareza, contendas, malícia e fraude, fofocas e calúnias, ódio a Deus, soberba e jactância, vanglória e inospitalidade. Porque os que praticam tais coisas são odiosos a Deus; e não somente os que as praticam, como ainda os que as aprovam e consentem. Diz, com efeito, a Escritura: ‘Ao pecador, porém, disse Deus: Com que fim explicas os meus mandamentos e pronuncias por tua boca a minha aliança? Detestaste tu a disciplina e lançaste para trás as minhas palavras'” (1ª Carta aos Coríntios 35,4-8).[6]

Clemente também adverte sobre o perigo de se perder a salvação; por isso avisa que, para se salvar, devemos perseverar até o fim, vivendo uma conduta digna de Deus e obedecendo aos mandamentos:

“Vigiai, caríssimos, para que os vossos benefícios, que são muitos, não se convertam para nós motivo de condenação, caso não haja plena concórdia, vivendo conduta digna d’Ele, o que é bom e agradável em sua presença. Diz-se, com efeito, em alguma parte da Escritura: ‘O Espírito do Senhor é lâmpada que ilumina os esconderijos do ventre’. Consideremos quão próximo de nós Ele está e como d’Ele não se oculta nem um só de nossos pensamentos ou o propósito que concebemos. Justo é, portanto, que não desertemos do posto que Ele, por sua vontade, nos atribuiu” (1ª Carta aos Coríntios 21,1-4).[7]

Observe-se que, no texto acima, Clemente reconhece que alguém pode cair do estado de graça e se condenar, diferentemente da doutrina protestante “Uma vez salvo, sempre salvo”.

“Agora, pois, como seja certo que tudo é por Ele visto e ouvido, temamos e abandonemos os execráveis desejos de más obras, a fim de sermos protegidos por sua misericórdia nos juízos vindouros. Porque ‘para onde algum de nós poderá fugir de sua poderosa mão?’ Que mundo acolherá os desertores de Deus?” (1ª Carta aos Coríntios 28,1-2).[8]

“Porque Deus vive e vivem o Senhor Jesus Cristo e o Espírito Santo; e [vivas] também são a fé e a esperança dos eleitos no sentido de que aqueles que praticam na humildade, com modéstia perseverante e sem hesitação, os preceitos e mandamentos de Deus, somente esses serão escolhidos e contados no número dos que se salvam mediante Jesus Cristo” (1ª Carta aos Coríntios 58,2).[9]

 

Também oferece uma exposição clara da doutrina católica do mérito:

“Portanto, é bom que estejamos prontos e preparados para as boas obras, já que é d’Ele que tudo deriva. Assim Ele nos previne: ‘Eis o Senhor! Tua recompensa está diante d’Ele, para que dê a cada um segundo o seu trabalho’. Contudo, o que nos pede? Que creiamos n’Ele com todo o nosso coração, para que não sejamos preguiçosos nem indolentes para com nenhuma boa obra” (1ª Carta aos Coríntios 34,2-4).[10]

Entretanto, como se isto já não fosse pouco, reconhece que por meio da caridade é possível obter o perdão dos pecados:

“Somos felizes, caríssimos, se tivermos cumprido os mandamentos de Deus na concórdia da caridade, a fim de que, pela caridade, sejam perdoados os nossos pecados” (1ª Carta aos Coríntios 50,5).[11]

SÃO POLICARPO DE ESMIRNA

Bispo de Esmirna, instituído pelo Apóstolo São João, de quem foi discípulo. Nasceu por volta do ano 75 e foi martirizado. É considerado também um dos Padres Apostólicos. Conserva-se uma carta dirigida à igreja de Filipos […], na qual, igualmente, estabelece como condição para se salvar não apenas a fé mas ainda o cabal cumprimento da vontade de Deus e a obediência aos mandamentos:

“Por isso, cingi vossos rins e servi a Deus no temor e na verdade, abandonando as palavras vãs e o erro das multidões, crendo n’Aquele que ressuscitou nosso Senhor Jesus Cristo dentre os mortos e lhe deu glória e assento à sua direita. A Ele foram submetidas todas as coisas, as do céu e as da terra. A Ele rendei adoração com todo alento. Ele há de vir como juiz dos vivos e dos mortos e Deus pedirá contas daqueles que não querem obedecê-lo. Pois bem: Ele que O ressuscitou dentre os mortos também nos ressuscitará, desde que cumpramos sua vontade, caminhemos em seus mandamentos e amemos o que Ele amou, distantes de toda iniquidade, defraudação, apego ao dinheiro, maledicência, falso testemunho; não retribuindo mal por mal, nem injúria por injúria, nem golpe por golpe, nem maldição por maldição. Prestemos atenção ao que disse o Senhor para o nosso aprendizado: ‘Não julgueis para que não sejais julgados; perdoai e vos será perdoado; compadecei para que sejais compadecidos. Com a medida que medirdes, sereis também vós medidos’. E: ‘Bem-aventurados os pobres e os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus'” (Carta aos Filipenses 2)[12]

O PASTOR DE HERMAS

Uma obra muito apreciada pela Igreja primitiva, ao ponto de alguns Padres chegarem a considerá-la canônica. Foi composta por Hermas, irmão do Papa Pio I, em Roma, entre os anos 141 e 155. […]

Hermas diz que teve uma visão onde via uma torre sendo construída sobre as águas e para onde se levavam pedras para edificá-la. Chama a atenção o fato de que nem todas as pedras são usadas: algumas eram lançadas para longe da torre; outras estavam rachadas; outras, eram deixadas próximas da torre (mas não eram usadas por estarem com defeito); outras, por suas formas não se ajustarem à construção, eram descartadas. Posteriormente, a Mulher explica que a Torre é a Igreja e que nós somos as pedras:

“- As [pedras] que entravam na construção sem necessidade de labrá-las são [aqueles] que o Senhor aprovou, porque caminharam na retidão do Senhor e cumpriram seus mandamentos” (3ª Visão 5,3).[13]

“- E as que eram rejeitadas e lançadas fora? Quem são?
– Estas são [aqueles] que pecaram, mas estão dispostos a fazer penitência. Em razão disto, não foram lançadas para muito longe da torre, pois quando fizerem penitência serão úteis para a contrução” (3ª Visão 5,4).[14]

“- Quereis conhecer as pedras que foram despedaçadas e lançadas para bem longe da torre? Estas são os filhos da iniquidade; tornam-se crentes hipocritamente e nenhuma maldade se afastou deles. Portanto, não têm salvação, pois por suas maldades não são úteis para a construção” (3ª Visão 6,1).[15]

“- A respeito das outras pedras, que viste em grande quantidade no solo e não eram usadas na construção, as pedras defeituosas, representam aqueles que conheceram a verdade, mas não perseveraram nela nem aderiram aos santos. Por isso, são inúteis.
– E as pedras rachadas? Quem representam?
– Estas [representam] aqueles que guardam ressentimentos em seus corações, uns para com os outros, e não mantêm a paz mútua… As pedras mutiladas representam aqueles que creram e mantêm a maior parte de seus atos conforme a justiça, porém possuem ainda algumas porções de iniquidade. Por isso estão mutiladas e não inteiras” (3ª Visão 6,2-4).[16]

“- Quanto às outras pedras, que viste atiradas longe [da torre], caindo no caminho e rolando para lugares intransitáveis, estas representam os que creram, mas que logo depois, arrastados por suas dúvidas, abandonaram o Seu caminho, que é o verdadeiro. Imaginando-se, pois, que são capazes de encontrar um caminho melhor, se extraviaram e, miseravelmente, passaram a transitar por caminhos intransitáveis” (3ª Visão 7,1).[17]

 

Aponta, assim, que não basta crer, mas também perseverar e cumprir os mandamentos, do contrário virá a representar uma dessas pedras defeituosas atiradas para longe da torre.

Mais adiante, quando o autor de “O Pastor” pergunta à Mulher se ele mesmo iria se salvar, esta lhe responde afirmativamente, mas desde que guarde os mandamentos e persevere neles:

“- Ele disse: ‘Estou encarregado da penitência e a todos os que se arrependem eu lhes concedo inteligência’. E disse-me: ‘Ou não te parece que o arrependimento é uma espécie de inteligência?’. Prosseguiu: ‘Sim, o arrependimento é uma grande inteligência, porque o pecador que faz penitência cai em conta que praticou o mal diante do Senhor e sobe ao seu coração o remorso pela obra que realizou, arrependendo-se e não mais voltando a fazer o mal, entregando-se, ao contrário, à prática do bem de múltiplas maneiras, e humilha e atormenta sua alma por ter pecado. Vês, assim, como a penitência é uma espécie de grande inteligência’.
– Disse-lhe: ‘Pois é justamente por isso que quero lhe perguntar tudo detalhadamente; primeiro, porque sou pecador e quero saber quais obras devo praticar para viver, pois meus pecados são muitos em quantidade e de muitas variadas formas’.
– Respondeu-me: ‘Viverás se guardares os meus mandamentos e caminhares neles. E quem quer que observe estes mandamentos, viverá para Deus'” (4ª Mandamento 2,2-4).[18]

SANTO INÁCIO DE ANTIOQUIA

Bispo de Antioquia, martirizado em Roma (devorado por leões) nos tempos do imperador Trajano (98-117). Dele são conservadas 7 cartas que escreveu a caminho do martírio, por volta do ano 107. […]

Para Santo Inácio, não basta proclamar a fé, mas perseverar nela até o fim. Por isso, a fé e a caridade devem estar em unidade. O prêmio do atleta de Deus é a vida eterna, onde receberá a recompensa por suas boas obras. Também estabelece que a salvação está à disposição do homem que, por seu livre-arbítrio, elege a vida ou a morte; porém, se não estiver disposto, inclusive, a morrer por Cristo, não terá a vida eterna:

“Nada de tudo isso seja ocultado de vós, por terdes em grau pleno para com Jesus Cristo aquela fé e caridade que são princípio e fim da vida. O princípio, quero dizer, a fé; o fim, a caridade. As duas, trabalhadas em unidade, são de Deus e tudo o mais que liga à perfeição e santidade deriva delas. Ninguém que proclama a fé peca; e ninguém que possui a caridade odeia. A árvore se manifesta por seus frutos. Da mesma forma, os que professam ser de Cristo, por suas obras se conhecerão, pois agora não é hora de proclamar a fé, mas de se manter em sua força até o fim” (Carta aos Efésios 14,1-2).[19]

“Sede sóbrio, como um atleta de Deus. O prêmio é a incorrupção e a vida eterna, da qual também tu estás convencido. Em tudo e por tudo, sou um resgate para ti, eu e minhas correntes, que tu amaste” (Carta a Policarpo 2,3).[20]

“Atendei ao bispo a fim de que Deus vos atenda. Eu me ofereço como resgate por aqueles que se sujeitam ao bispo, aos anciãos e aos diáconos. E oxalá que com eles me fosse concedido ter parte em Deus. Trabalhai juntos, uns com os outros; lutai unidos como administradores de Deus, como seus assistentes e servidores. Tratai de ser gratos ao Capitão sob cujas bandeiras militais e de quem haverás de receber o soldo. Que nenhum de vós seja declarado desertor. Vosso batismo deve permanecer como vossa armadura, a fé como um elmo, a caridade como uma lança, a paciência como um arsenal de todas as armas. Vosso tesouro será vossas boas obras, das quais recebereis magníficas somas” (Carta a Policarpo 6,1-2).[21]

“Pois bem: as coisas estão atingindo o seu fim e nos são propostas juntamente estas duas coisas: a morte e a vida; e cada um irá para o seu lugar específico. É como se se tratasse de duas moedas: uma de Deus e outra do mundo; e cada uma traz inscrita o seu próprio cunho: os incrédulos, o deste mundo; mas os fiéis, pela caridade, o cunho de Deus Pai inscrito por Jesus Cristo. Se não estamos dispostos a morrer por Ele, para imitar sua Paixão, não teremos sua vida em nós” (Carta aos Magnésios 5,1-2).[22]

 

SÃO JUSTINO MÁRTIR

Mártir da fé cristã por volta do ano 165 (por decapitação). É considerado o maior apologista do século II.

São Justino faz referência à salvação do homem não apenas com base na fé, mas pelo seu caminhar na virtude e no mérito de suas ações:

“Nós somos os vossos melhores auxiliares e aliados para a manutenção da paz, pois professamos doutrinas como a de que não é possível que se oculte de Deus um malfeitor, um ávaro, um conspirador, como tampouco um homem virtuoso, e que cada um caminha, segundo o mérito de suas ações, para o castigo ou para a salvação eterna. Porque se todos os homens conhecessem isto, ninguém escolheria a maldade por um só momento, sabendo que caminhava para a sua condenação eterna no fogo, mas por todos os meios se conteria e se adornaria na virtude, a fim de alcançar os bens de Deus e ver-se livre dos castigos” (1ª Apologia 12,1-2).[23]

“Pois bem: foi ensinado a nós que somente alcançarão a imortalidade aqueles que vivem em santa e virtuosa proximidade de Deus. Da mesma forma, cremos que serão castigados com o fogo eterno aqueles que vivem injustamente e não se converterem” (1ª Apologia 21,6).[24]

“Mas aqueles em que se vê que não vivem como Ele ensinou, sejam declarados como não-cristãos, por mais que repitam com a língua os ensinamentos de Cristo, pois Ele disse que devem se salvar não aqueles que apenas falam, mas também que praticam as [boas] obras. E efetivamente assim disse: ‘Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’ entrará no reino dos céus, mas o que faz a vontade de meu Pai que está nos céus'” (1ª Apologia 16,8).[25]

 

Possui também uma clara perspectiva do livre-arbítrio e com quase 1400 anos de antecedência, rejeita a posição calvinista de que o homem é um fantoche virtual que não pode resistir à graça (de onde se conclui que a condenação de alguém ocorre porque Deus nunca derramou a graça sobre ele, tendo sido abandonado à sua maldade):

“Do que dissemos anteriormente, ninguém deve concluir que a consequência do que afirmamos que se sucede ocorre por necessidade do destino, pelo fato de que dizemos ser de antemão conhecidos os acontecimentos. Para isso, vamos esclarecer também esta dificuldade. Nós aprendemos com os profetas e afirmamos que isto é a verdade: que os castigos e tormentos, igualmente as boas recompensas, dão-se a cada um conforme as suas obras, pois se não fosse assim e se ocorresse pelo destino, não existiria em absoluto o livre-arbítrio. Com efeito, se está determinado que este seja bom e aquele mau, nem aquele merece louvor, nem este vitupério. E se o gênero humano não tem poder para fugir por livre determinação daquilo que é vergonhoso e optar pelo belo, é irresponsável por qualquer ação que faça. Porém, que o homem é virtuoso e peca por livre escolha, o demonstramos pelo seguinte argumento: vemos que o próprio sujeito passa de um extremo a outro. Pois bem: se fosse determinado ser mau ou bom, não seria capaz de fazer coisas contrárias nem mudaria [seu comportamento] com tanta frequência. Na verdade, não se poderia dizer que alguns são bons e outros maus a partir do momento em que afirmamos que o destino é a causa de bons e maus, e que faz coisas contrárias a si mesmo; ou deve se ter por verdade aquilo que já anteriormente insinuamos, a saber: que virtude e maldade são meras palavras e que apenas por opinião [pessoal] se classifica algo como bom ou mau – o que, como demonstra a verdadeira razão, é o cúmulo da impiedade e da iniquidade. O que afirmamos ser destino ineludível é que a quem escolher o bem, espera-lhes digna recompensa; e a quem escolher o contrário, espera-lhes igualmente digno castigo. Porque Deus não fez o homem da mesma forma que as outras criaturas, por exemplo, árvores e quadrúpedes, que nada podem fazer por livre determinação, pois nesse caso não seria digno de recompensa ou louvor, nem mesmo por ter escolhido o bem, mas já teria nascido bom; nem, por ter sido mau, seria castigado justamente, pois não agiu livremente, mas por não poder ter sido outra coisa do que foi” (1ª Apologia 43,1-8).[26]

SÃO TEÓFILO DE ANTIOQUIA

Sexto bispo de Antioquia, segundo Eusébio de Cesaréia e São Jerônimo. Conservaram-se apenas 3 livros escritos aproximadamente pelo ano de 180 d.A. (A Autólico). Em seu primeiro livro, fala de como seremos julgados em conformidade com as nossas obras e de como os que perseveram nas boas obras obtêm a vida eterna:

“E se queres, lê também com interesse as Escrituras dos profetas e elas te guiarão com mais clareza para escapar dos castigos eternos e alcançar os bens eternos de Deus. Porque Ele, que nos deu a boca para falar, nos formou o ouvido para ouvir e nos deu os olhos para ver, examinará tudo e julgará conforme a justiça, dando a cada um conforme os seus méritos. Aos que, conforme a paciência, buscam a incorrupção pelas boas obras, lhes dará a graça da vida eterna, de alegria, paz, descanso e multidão de bens…” (1º Livro a Autólico 14).[27]

SANTO IRENEU DE LIÃO

Santo Ireneu, bispo e mártir. Foi discípulo de São Policarpo que, por sua vez, foi discípulo do Apóstolo São João. Célebre por seu tratado “Contra as Heresias”, onde combate as heresias de seu tempo, em especial as dos gnósticos. Nasceu por volta do ano 130 d.C. e morreu no ano 202 d.C.

Para Ireneu, a graça também é resistível porque Deus fez o homem livre e como Deus derrama sua graça sobre todos os homens, quem se condena o faz por própria escolha; igualmente, o que se salva é porque persevera nas boas obras:

“Esta frase: ‘Quantas vezes quis acolher os teus filhos, porém tu não quiseste!’ (Mateus 23,37), bem descobriu a antiga lei da liberdade humana, pois Deus fez o homem livre, o qual, assim como desde o princípio teve alma, também gozou de liberdade, a fim de que livremente pudesse acolher a Palavra de Deus, sem que Este o forçasse. Deus, com efeito, jamais se impõe à força, pois n’Ele sempre está presente o bom conselho. Por isso, concede o bom conselho a todos. Tanto aos seres humanos como aos anjos outorgou o poder de escolher – pois também os anjos usam sua razão -, a fim de que àqueles que lhe obedecem possam conservar para sempre este bem como um dom de Deus que eles guardam. Ao contrário, não se encontrará este bem naqueles que O desobedecem e por isso receberão o justo castigo, porque Deus certamente lhes ofereceu benignamente este bem, mas eles não se preocuparam em conservá-lo, nem o acharam valioso, mas desprezaram a bondade suprema. Assim, portanto, ao abandonar este bem e até certo ponto rejeitá-lo, como razão serão réus do justo juízo de Deus, do qual o Apóstolo Paulo dá testemunho em sua Carta aos Romanos: ‘Por acaso desprezas as riquezas de sua bondade, paciência e generosidade, ignorando que a bondade de Deus te impulsiona a arrepender-te? Pela dureza e impenitência do teu coração, tu mesmo acumulas a ira para o Dia da Cólera, quando se revelará o justo juízo de Deus’ (Romanos 2,4-5). Ao contrário, diz: ‘Glória e honra para quem opera o bem’ (Romanos 2,10). Deus, portanto, nos deu o bem, do qual dá testemunho o Apóstolo na mencionada Carta, e aqueles que agem segundo este dom receberão honra e glória, porque fizeram o bem quando estava em seu arbítrio o não fazê-lo; ao contrário, aqueles que não agirem bem serão réus do justo juízo de Deus, porque não agiram bem estando em seu poder fazê-lo. Com efeito, se alguns seres humanos fossem maus por natureza e outros bons por natureza, nem estes seriam dignos de louvor por serem bons, nem aqueles condenáveis, porque assim teriam sido criados. Porém, como todos são da mesma natureza, capazes de conservar e fazer o bem, e também capazes de perdê-lo e não fazê-lo, com justiça os seres sensatos – quanto mais Deus! – louvam os segundos e dão testemunho de que decidiram de maneira justa e perseveraram no bem; ao contrário, reprovam os primeiros e os condenam retamente por terem rejeitado o bem e a justiça. Por esse motivo, os profetas exortavam a todos a agir com justiça e a fazer o bem, como muitas vezes explicamos, porque este modo de nos comportar está em nossas mãos; porém, tendo tantas vezes caído no esquecimento por nossa grande negligência, nos fazia falta um bom conselho. Por isso o bom Deus nos aconselhava o bem por meio dos profetas” (Contra as Heresias 4,37,1-2).[28]

Enfatiza ainda que a salvação se obtém mediante muito esforço e “lutando”:

“Por isso o Senhor diz que o reino dos céus é dos violentos: ‘Os violentos o arrebatam’, isto é, aqueles que se esforçam, lutam e estão continuamente em alerta: estes o arrebatam. Por isso o Apóstolo Paulo escreveu aos Coríntios: ‘Não sabeis que no estádio são muitos os que correm, porém apenas um recebe o prêmio? Correi de modo que o alcanceis. Todo aquele que compete se priva de tudo e isso para receber uma coroa corruptível; nós, ao contrário, por uma incorruptível. Eu corro desta maneira e não por acaso; eu não luto como quem desfere [socos] no ar, mas mortifico o meu corpo e o submeto ao serviço, para que não ocorra que, pregando aos outros, eu mesmo me condene’. Sendo um bom atleta, nos exorta a competir pela coroa da incorrupção e a que valorizemos essa coroa que adquirimos pela luta, sem que a percamos. Quanto mais lutamos por algo, mais nos parece valioso; e quanto mais valioso, mais o amamos. Pois não amamos da mesma maneira o que nos chega de modo automático, diferentemente daquilo que construímos com grande esforço. E como o mais valioso que pode nos suceder é amar a Deus, por isso o Senhor ensinou e o Apóstolo transmitiu que devemos obtê-lo lutando por isso. De outra forma, nosso bem seria irracional, pois não o teríamos ganho com exercício. A visão não seria para nós um bem tão desejável se conhecêssemos o mal da cegueira; a saúde nos é mais valiosa quando experimentamos a doença; assim também a luz, comparando-a com as trevas e a vida com a morte. De igual modo, o Reino dos Céus é mais valioso para aqueles que conhecem [o reino] da terra; e quanto mais valioso, tanto mais o amamos; e quanto mais o amamos, tanto mais glória teremos diante de Deus” (Contra as Heresias 4,37,7).[29]

Ireneu é outro Padre que rejeita o que se conheceria mais de um milênio depois como a doutrina de “uma vez salvo, sempre salvo”:

“Por isso, dizia aquele presbítero: não devemos nos sentir orgulhosos nem reprovar os antigos; ao contrário, devemos temer; não ocorra que, depois de conhecermos a Cristo, façamos aquilo que não agrada a Deus e, consequentemente, já não nos sejam perdoados os nossos pecados, nos excluindo de seu Reino. Paulo disse a este propósito: ‘Se não perdoou os ramos naturais, tampouco te perdoará, pois sois oliveira silvestre enxertada nos ramos da oliveira [boa] e recebes [vida] da sua seiva'” (Contra as Heresias 4,27,2).[30]

CLEMENTE DE ALEXANDRIA

Nasceu em torno do ano 150, provavelmente em Atenas, de pais pagãos. Após tornar-se cristão, viajou pelo sul da Itália e pela Síria e Palestina em busca de mestres cristãos, até que chegou em Alexandria. Os ensinamentos de Panteno (chefe da escola catequética de Alexandria, no Egito) fizeram com que se estabelecesse ali até o ano 202, quando a perseguição de Sétimo Severo o obrigou a deixar o Egito e se refugiar na Capadócia, onde faleceu pouco antes do ano 215.

Seu conhecimento dos escritos pagãos e da literatura cristã é notável. Segundo Quasten, encontram-se em suas obras cerca de 360 citações dos clássicos, 1500 do Antigo Testamento e 2000 do Novo; portanto, é considerado cronologicamente como o primeiro sábio cristão conhecedor não apenas da Sagrada Escritura como ainda das obras cristãs anteriores a ele e, inclusive, de obras de literatura pagã. Clemente considerava o Cristianismo como a realização mais bela e o coroamento de todos os elementos de verdade dispersos na filosofia.

Sua rejeição à doutrina da “Sola Fides” é tão clara que torna desnecessário comentar qualquer coisa:

“Disse o Senhor: ‘Há ainda outras ovelhas que não são deste redil’ – são consideradas dignas de outro redil e morada, em proporção à sua fé. ‘Porém, as minhas ovelhas ouvem a minha voz’ – compreendendo intuitivamente os mandamentos. E estes devem ser levados em magnâmica e digna aceitação assim como também a recompensa fruto do trabalho. Portanto, quando ouvimos: ‘Tua fé te salvou’, não pensamos absolutamente que Ele disse que os que creram serão salvos, a não ser que também trabalhem para isso. Contudo, foi apenas para os judeus que ele dirigiu estas palavras, para aqueles que guardavam a lei e viviam de maneira blasfema, para aqueles que queriam apenas ter fé no Senhor. Logo, ninguém pode ser crente e ao mesmo tempo licencioso; ao contrário, ainda que renuncie a carne, o crente deve vencer as paixões, para assim ser capaz de alcançar sua própria morada. Agora sabemos que é mais do que crer: ao ser imediatamente coroado com a mais alta honra, ser salvo é algo maior que o salvado. Consequentemente, o crente, mediante uma grande disciplina, afastando-se das paixões, passa à morada melhor que a anterior, sabendo que o maior tormento é levar com ele o arrependimento pelos pecados cometidos após o batismo” (Stromata 6,14).[31]

SANTO HIPÓLITO DE ROMA

O lugar e a data do seu nascimento são desconhecidos, embora saiba-se que foi discípulo de Santo Ireneu de Lião. Seu grande conhecimento da filosofia e dos mistérios gregos, e sua própria psicologia, indicam que procedia do Oriente. Até o ano 212 era presbítero em Roma, onde Orígenes – durante sua viagem à capital do Império – o ouviu pronunciar um sermão.

Por ocasião do problema da readmissão na Igreja dos que haviam apostatado durante alguma perseguição, estourou um grave conflito que o colocou em oposição ao Papa Calisto, já que Hipólito mostrava-se rigorista neste assunto, ainda que não negasse que a Igreja tinha o poder de perdoar os pecados. Tão forte foi a oposição, que acabou por se separar da Igreja e, eleito bispo de Roma por um reduzido círculo de amigos, tornou-se o primeiro antipapa da História. O cisma se prolongou até a morte de Calisto, durante o pontificado de seus sucessores Urbano e Ponciano. Encerrou-se no ano 235, pela perseguição de Maximino, quando Hipólito e o papa legítimo (Ponciano) foram desterrados para as minas da Sardenha, onde se reconciliaram. Ali os dois renunciaram ao pontificado, para facilitar a pacificação da comunidade romana que, deste modo, pôde eleger um novo Papa e dar por encerrado o cisma. Tanto Ponciano quanto Hipólito morreram [ali] no ano 235.

Santo Hipólito, da mesma maneira que os demais Padres, reconhece que o homem, por meio da fé, se prepara para a vida eterna através das suas boas obras, pelas quais alcançará o reino dos céus:

“Da mesma forma, os gentios, pela fé em Cristo, preparam para eles a vida eterna através das boas obras” (Comentário sobre os Provérbios).[32]

“Ele, ao administrar o justo juízo do Pai a todos, dará a cada um o que é justo conforme as suas obras […] A justificação será vista ao dar a cada um o que é justo: aqueles que fizeram o bem, terão um justo gozo eterno; e os amantes da iniquidade obterão um castigo eterno […] Porém, os justos recordarão apenas as boas obras pelas quais alcançaram o reino dos céus, no qual não existe miragem, nem dor, nem corrupção” (Contra Platão, sobre o Universo).[33]

 

ORÍGENES DE ALEXANDRIA

Orígenes foi escritor eclesiástico, teólogo e comentarista bíblico. Viveu em Alexandria até o ano 231, passando os últimos 20 anos de sua vida em Cesaréia Marítima (Palestina) e viajando pelo Império Romano. Foi o maior mestre de doutrina cristã de seu tempo e exerceu extraordinária influência como intérprete da Bíblia.

Orígenes é cuidadoso ao alertar que os cristãos devem ser instruídos para compreender que não basta apenas crer, mas também praticar [boas] obras:

“Consideremos agora o justo juízo de Deus, quanto ao que se recompensa a cada um segundo as suas obras. Em primeiro lugar devemos rejeitar os hereges que dizem que as almas são boas ou más por natureza e saber, ao invés, que Deus recompensará cada um segundo as suas obras e não segundo sua natureza. Em segundo lugar, os crentes serão instruídos a não pensar que é suficiente apenas crer; eles devem perceber que o justo juízo de Deus recompensará a cada um segundo as suas obras” (Comentário sobre Romanos 2,5).[34]

“Que ninguém pense que alguém possui fé suficiente para estar justificado e ter glória diante de Deus e, ao mesmo tempo, possuir maldade dentro de si. Porque a fé não pode coexistir com a incredulidade, nem a justiça com a maldade, assim como a luz e as trevas não podem viver juntas” (Comentário sobre Romanos 4,2).[35]

 

Também reconhece que os crentes justificados podem cair do estado de graça quando, por sua própria vontade, cometem pecados graves e não cumprem os mandamentos (se o homem pode fazer ou deixar de fazer algo que, após justificado, o faça perder a salvação, então novamente a fé apenas não é suficiente para a salvação):

“Inclusive na Igreja, se alguém é ‘circunciso’ pela graça do batismo e logo depois se converte em transgressor da lei de Cristo, a circuncisão do batismo é para ele como incircuncisão, porque ‘a fé sem obras é morta'” (Comentário sobre Romanos 2,25).[36]

“O Salvador, também dizendo: ‘Eu vos digo: não resistam ao mal’; e: ‘O que se levanta contra seu irmão será culpável de juízo’; e: ‘Quem olha uma mulher para desejá-la já cometeu adultério com ela em seu coração’; e assim como em outros mandamentos, não transmite outra realidade senão que é faculdade nossa observar o que nos foi mandado. Portanto, somos com razão responsáveis pela condenação se transgredimos os mandamentos que somos capazes de cumprir. E, assim, também Ele mesmo declara: ‘Quem ouve as minhas palavras e as pratica é como um homem sábio que edificou sua casa sobre uma rocha’. E ainda declara: ‘Quem ouve estas coisas e não as pratica é como um homem néscio que edificou sua casa sobre a areia’. Inclusive as palavras que dirigiu àqueles que estão à sua direita: ‘Vinde a mim, benditos de meu Pai, porque tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber’, mostram claramente que dependia deles mesmos serem merecedores de louvor, por fazerem o que foi ordenado, e recebendo o que foi prometido; ou merecedores de censura quem ouviu ou recebeu o contrário, sendo-lhes dito: ‘Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno’. Observemos também o que o Apóstolo Paulo nos ensinou sobre termos o poder sobre a nossa própria vontade, possuidores de quaisquer das causas de nossa salvação ou ruína: ‘Desprezas as riquezas da Sua bondade, paciência e generosidade, ignorando que a Sua bondade te guia ao arrependimento? Porém, por tua dureza e por teu coração não arrependido, cumulas ira para ti mesmo no Dia da Ira e da revelação do justo juízo de Deus, o qual pagará a cada um segundo as suas obras: vida eterna aos que, perseverando em fazer o bem, buscam a glória, a honra e a imortalidade; porém, ira e cólera aos que são contenciosos e não obedecem a verdade, mas obedecem a injustiça. Tribulação e angústia sobre todo ser humano que pratica o mal: sobre o judeu em primeiro lugar e também sobre o grego; ao contrário, glória, honra e paz a todo aquele que pratica o bem: ao judeu em primeiro lugar e também ao grego’. Encontrará ainda inumeráveis passagens da Sagrada Escritura que claramente demonstram que temos livre-arbítrio. Do inverso, seria uma contradição os mandamentos dados a nós, por observarmos aquilo que não nos poderia salvar ou por transgredir aquilo que nos condenaria, se o poder de observá-los não fosse dado a nós” (De Principiis 3,1).[37]

 

Em sua obra mais importante, conhecida como “De Principiis” (ou Peri Arcon – ???? ?????), escreve:

“O ensinamento apostólico é que a alma, possuindo substância e vida própria, será, após a sua partida do mundo, recompensada conforme os seus merecimentos, sendo destinada a obter a herança da vida eterna e bem-aventurada se as suas ações a procuraram; ou será entregue ao fogo e penas eternas se a culpa de seus crimes a levaram a isso” (De Principiis, Prefácio,5).[38]

SÃO CIPRIANO DE CARTAGO

São Cipriano nasceu em torno do ano 200, provavelmente em Cartago, de família rica e culta. Dedicou-se em sua juventude à retórica. O desgosto que sentia diante da imoralidade dos ambientes pagãos contrastado com a pureza de costumes dos cristãos, o induziu a abraçar o Cristianismo por volta do ano 246. Pouco depois, em 248, foi eleito bispo de Cartago. Ao iniciar a perseguição de Décio, em 250, julgou melhor retirar-se para um lugar à parte, para poder continuar a se ocupar com seu rebanho.

São Cipriano também estabelece como condição para se salvar o cumprimento dos mandamentos e as boas obras:

“Profetizar, expulsar demônios e fazer grandes atos na terra são, sem dúvida, coisas sublimes e admiráveis; porém ninguém alcança o reino dos céus ainda que faça todas essas coisas, a não ser que caminhe na observância do direito e da justiça. O Senhor denuncia e diz: ‘Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor: não profetizamos em teu nome? E em teu nome não expulsamos demônios? E em teu nome não fizemos muitos milagres?’ E Eu lhes direi: ‘Nunca vos conheci! Apartai-vos de mim, praticantes da maldade”. Existe a necessidade de justiça que alguém bem pode merecer de Deus, o Juiz. Devemos obedecer seus preceitos e advertências, para que nossos méritos possam receber sua recompensa” (Da Unidade da Igreja 16).[39]

“Cremos, com efeito, que os méritos dos mártires e as obras dos justos são de grande valor para o Juiz. Porém, assim será quando o Dia do Juízo chegar; quando, depois do fim desta vida e mundo, seu povo estiver de pé diante do tribunal de Cristo” (Dos Lapsos, Tratado 3,17).[40]

 

Em “Das Boas Obras e Esmolas (De opere et eleemosynis), escreve:

“O Espírito Santo fala, nas Sagradas Escrituras, e diz: ‘Pela esmola e pela fé se purificam os pecados’. Seguramente, não os pecados que haviam sido previamente contraídos, mas aqueles que são limpos pelo sangue e santificação de Cristo. Ademais, Ele diz novamente: ‘Assim como a lavagem pela água salvífica extingue o fogo do inferno, assim também é subjugado o fogo pela esmola e pelas boas obras’. Porque no batismo se concede a remissão dos pecados de uma vez para sempre: o exercício constante e incessante das boas obras, à semelhança do batismo, outorga novamente a misericórdia de Deus […] Aqueles que caíram após a graça do batismo podem ser limpos novamente” (Das Boas Obras e Esmolas, Tratado 8,2).[41]

Aqui São Cipriano explicitamente fala de como, por intermédio das boas obras, se obtém também o perdão dos pecados cometidos após o batismo (um conceito totalmente alheio à doutrina protestante). É notório ainda que cite como Escritura não apenas o livro dos Provérbios (16,6), como também o livro do Eclesiástico (3,30) – e no capítulo 5 cita Tobias, ou seja, dois livros que os protestantes retiraram de suas Bíblias acusando-os de “apócrifos” (como se vê, não eram apócrifos para São Cipriano).

Sobre esse mesmo texto, comenta Quasten:

“Cipriano ensina aqui a eficácia das boas obras para a salvação. Visto que ninguém está isento ‘de alguma ferida de consciência’, todo mundo é obrigado a praticar a caridade. Não pode haver desculpa para ninguém. Os que temem que suas riquezas diminuam pelo exercício da generosidade e se vêem expostos, no futuro, à pobreza e à necessidade, deveriam saber que Deus cuida daqueles que socorrem os demais. ‘Que ninguém, caríssimos irmãos, impeça ou desmotive os cristãos do exercício das retas e boas obras, sob a consideração de que alguém pode excusar-se delas em benefício de seus filhos, visto que nos desembolsos espirituais devemos pensar apenas em Cristo, que declarou que é Ele quem as recebe, preferindo não aos nossos semelhantes, mas ao Senhor, e não aos nossos filhos’. ‘Se realmente queres bem aos teus filhos, se queres demonstrar-lhes plenamente a suavidade do teu amor paternal, deverias ser cada vez mais caridoso, a fim de que por tuas boas obras possas recomendar teus filhos a Deus’. Este tratado de Cipriano foi uma das leituras favoritas da Antiguidade Cristã. As atas do Concílio Geral de Éfeso (431) citam várias passagens, embora desconheçamos qualquer tradução grega desta obra”.[42]

“Os remédios para tornar Deus propício são dados nas palavras do próprio Deus; as instruções divinas têm ensinado o que os pecadores devem fazer: pelas obras da justiça de Deus, Este fica satisfeito” (Das Boas Obras e Esmolas, Tratado 8,2).[43]

 

LACTÂNCIO

Nasceu no norte da África, por volta do ano 250, de família pagã. Abraçou o Cristianismo provavelmente na Nicomédia. Durante a última grande perseguição, em torno do ano 303, viu-se obrigado a abandonar sua cátedra e a exilar-se na Bitínia. Após o Edito de Milão, Constantino o chamou a Tréveris para confiar-lhe a educação de Crispo, seu filho maior. Estima-se que morreu por volta do ano 317.

Em “Instituições Divinas”, fazendo referência ao livre-arbítrio, adverte que podemos ganhar a vida eterna por nossa virtude ou perdê-la por nossos vícios (novamente, nada de “Sola Fides”):

“Por esta razão, Ele nos deu a vida, a qual podemos: ou perder aquela verdade e vida eterna por nossos vícios; ou ganhá-la por nossa virtude” (Instituições Divinas 7,5).

SANTO HILÁRIO DE POITIERS

Bispo, escritor, santo, Padre e Doutor da Igreja, nascido no início do século IV, por volta de 315, em Poitiers (França) e falecido nesta mesma cidade no ano 367.

Santo Hilário fala de como o perseverar na fé é também um dom de Deus; porém, isso não exclui o livre-arbítrio:

“Perseverar na fé é um dom de Deus; porém, o primeiro movimento da fé começa em nós. Nossa vontade deve ser tal que propriamente e por si mesma o faça. Deus dará o acréscimo após termos dado início. Nossa debilidade é tal que não podemos levá-la a termo por nós mesmos; porém, Ele recompensa o início considerando que foi feito livremente” (Do Salmo 118[119],Nun,20).[45]

“A debilidade humana é impotente se espera conseguir algo por si mesma. O dever de tal natureza é apenas este: dar a partida pela vontade, com o fim de aderir ao serviço do bem. A misericórdia divina é tal que ajudará aos que estão dispostos, fortalecendo aqueles que deram a partida e assistindo aqueles que estão caminhando. A partida, no entanto, é parte nossa, tal que Ele possa trazer-nos à perfeição” (Do Salmo 118[119],Ain,10).[46]

Rejeita antecipadamente a doutrina calvinista da predestinação, que atribui a eleição a um juízo divino inescrutável. Para Santo Hilário, esta distinção se baseia no mérito (novamente, nada de “Sola Fides”).

“Porque, conforme o Evangelho, muitos são os chamados e poucos os escolhidos […] A eleição, portanto, não é questão de juízo acidental. É uma distinção feita por intermédio de uma seleção baseada no mérito. Feliz, então, aquele que elege a Deus: bendito em razão dele ser digno da eleição” (Do Salmo 64[65],5).[47]

 

SANTO ATANÁSIO

Nascido no final do século III ou início do IV. Por volta do ano 320, quando foi ordenado diácono, assistiu ao Concílio de Nicéia. Em 328 foi ordenado bispo antes de atingir os 30 anos. É reconhecido como doutor da Igreja e campeão da ortodoxia por sua defesa à fé nicena.

Afirma que no Juízo saberemos se perseveramos na fé e cumprimos os mandamentos:

“Isto não é produto da virtude, nem nenhuma mostra de bondade. Nenhum de nós julga pelo que não sabe e ninguém é chamado santo por seu aprendizado e conhecimento; porém, cada um será chamado a Juízo nestes pontos: se manteve a fé e realmente observou os mandamentos” (Vida de Santo Antão 33).[48]

“Ele virá, não a sofrer, mas a nos tornar frutos de sua própria cruz – a ressurreição e a incorrupção; e já não para ser julgado, mas para julgar a todos, pelo o que cada um fez durante a vida mortal – o bem ou o mal […] Assim, o próprio Senhor diz: ‘Verão o Filho do Homem sentado à direita do Poder e vindo nas nuvens do céu, na glória do Pai’ […] Conforme o bem-aventurado Paulo: ‘Todos teremos que estar diante do tribunal de Cristo, para que cada um receba pelo que fez em sua vida mortal, seja o bem, seja o mal'” (Da Encarnação do Verbo 56).[49]

 

Na sua obra “Contra os Arianos”, no capítulo 25 do 3º discurso, declara que é possível cair do estado de graça e perder a salvação ao se cometer pecados graves e não fazer penitência:

“Como eu disse, visto que a Palavra tem por natureza o Pai, Ele deseja que ela nos seja dada irrevogavelmente pelo Espírito, conforme diz o Apóstolo: ‘Quem nos separará do amor de Cristo?’, pois ‘os dons de Deus’ e ‘a graça de Seu chamado são irrevogáveis’. Este é o Espírito daquele que está em Deus e não o [espírito] que vemos em nós mesmos; e como somos filhos e ‘deuses’ porque a Palavra é em nós, assim deveríamos estar no Filho e no Pai, e sermos considerados um com o Filho e o Pai, porque o Espírito está em nós, o qual está na Palavra e no Pai. Quando, então, um homem cai do Espírito por qualquer maldade, se se arrepende de ter caído, a graça cai irrevogavelmente sobre este que está disposto; do contrário, se o que caiu não está mais em Deus – porque o Espírito Santo e Paráclito que está em Deus o abandonou – o pecador está naquele [espírito malígno] que o submeteu, como ocorreu no caso de Saul: o Espírito de Deus se afastou dele e um espírito malígno o afligia” (Contra os Arianos 3,25).[50]

“Portanto, caríssimo, a meditação da lei é necessária e o contínuo conversar com a virtude, ‘para que o santo se encontre perfeito e preparado para toda boa obra’. Por estas coisas, és a promessa da vida eterna, como Paulo escreveu a Timóteo, chamando-o ao constante exercício e meditação, e dizendo: ‘Exercita-te para a piedade, porque o exercício corporal é proveitoso para uns poucos, mas a piedade a todos aproveita, porque têm a promessa desta vida presente e da vindoura'” (Carta Festal 11,7).[51]

 

SÃO CIRILO DE JERUSALÉM

Nasceu em Jerusalém ou em suas proximidades, por volta do ano 313 ou 315; em 348 já era bispo. Morreu aproximadamente no ano 386.

Novamente, concebe a salvação a partir de um perspectiva oposta a dos Reformadores. Para se salvar, não deve-se apenas crer, mas perseverar unido a Cristo como o cacho à videira; do contrário, a possibilidade de Jesus nos maldizer por não produzir frutos é latente. É por isso que o cristão deve produzir frutos para não ser cortado fora:

“Sois feitos partícipes de uma videira santa: se permaneces na videira, crescerás como um cacho frutífero; porém, se não permaneces, serás consumido pelo fogo. Assim, pois, produzamos fruto dignamente. Que não nos suceda o mesmo que aquela videira infrutífera; não ocorra que, ao vir Jesus, a maldiga por sua esterilidade. Que todos possam, ao contrário, pronunciar estas palavras: ‘Eu, porém, como oliveira verde na casa de Deus, confio no amor de Deus para todo o sempre’. Não se trata de uma oliveira sensível, mas inteligível, portadora da luz. O que é próprio d’Ele é plantar e regar; a ti, porém, cabe frutificar. Por isso, não desprezes a graça de Deus: guardai-a piedosamente quando a receberdes” (Catequese 1,4).[52]

SÃO BASÍLIO MAGNO

Nasceu por volta do ano 329 em Cesaréia da Capadócia. Chegou a ser um dos Padres da Igreja grega que mais brilharam no século IV. Morreu em torno do ano 379.

Para São Basílio não basta, para se salvar, nem sequer apenas renunciar ao pecado; é necessário ainda os frutos (boas obras):

“A mera renúncia ao pecado não é suficiente para a salvação dos penitentes; também se requer deles os frutos dignos da penitência” (Morais 1,3).[53]

“Quem obedece ao Evangelho deve ser purificado de todas as desonras da carne e do espírito para que possa ser aceitável a Deus, através das boas obras de santidade” (Morais 2,1).[54]

“É em conformidade com os teus méritos o ‘estar sempre com o Senhor’, se esperar ser arrebatado ‘nas nuvens, ao encontro do Senhor no céu, para estar sempre com o Senhor'” (Do Espírito Santo 18).[55]

 

Também reconhece que aqueles que se salvaram foram fiéis. Fala ainda de como aqueles que recebem o Espírito Santo podem ser apartados d’Ele se passarem a viver uma vida pecaminosa:

“Eles, então, que foram selados pelo Espírito até o dia da redenção e preservaram puros e intactos os primeiros frutos que receberam do Espírito, ouvirão as palavras: ‘Muito bem, servos bons! Como fostes fiéis no mínimo, tomai o governo de muitas coisas’. Da mesma forma, os que ofenderam o Espírito Santo pela maldade de seus caminhos, ou não forjaram para si o que Ele lhes deu, serão privados do que receberam e sua graça será dada a outros; ou, conforme um dos evangelistas, serão totalmente cortados em pedaços, cujo significado é ser separado do Espírito” (Do Espírito Santo 16,40).[56]

“Deus é o Criador do universo e o Justo Juiz que recomeça todas as ações da vida de acordo com os seus méritos” (Homilia 1,4).[57]

“Espera o descanso eterno os que lutaram através da vida, atentos às disposições da lei; não como pagamente devido às suas obras, mas outorgado aos que esperaram n’Ele, como um dom de Deus na magnificência” (Do Salmo 114,5).[58]

 

SÃO GREGÓRIO DE NISSA

Nascido entre 331 e 335 d.C. Foi consagrado bispo em 371 e faleceu em 394.

Para ilustrar a necessidade não apenas da fé como ainda das obras para a salvação, Gregório usava a figura da armadura do Hoplita, soldado de elite do exército grego que possuía uma couraça especial que constava de duas placas que protegiam os dois lados do torso. Gregório compara o Hoplita bem armado de ambos os lados com o cristão que possui fé e obras:

“Paulo, unindo a virtude à fé e tecendo-as juntas, constrói a partir delas a couraça do Hoplita, armando o soldado própria e seguramente de ambos os lados. Um soldado não pode ser satisfatoriamente considerado armado quando uma parte da armadura não está unida à outra. A fé sem as obras de justiça não é suficiente para a salvação, nem tampouco é justo viver seguro da salvação em si mesmo, separado da fé” (Homilia sobre Eclesiastes 8).[59]

SANTO AMBRÓSIO DE MILÃO

Padre e doutor da Igreja, nascido no ano 340 e consagrado bispo em 374. Foi também um ardente defensor da ortodoxia contra o Arianismo. Morreu no ano 397.

Para Santo Ambrósio, as obras serão postas ao juízo de uma balança, decidindo assim se nos salvaremos ou nos condenaremos. Portanto, a vida eterna não se baseia apenas no conhecimento das coisas divinas, mas também no fruto das boas obras:

“Os méritos de cada um de nós serão colocados em uma balança, na qual um pouco de peso, seja de boas obras ou de má conduta ditará seu destino: se o mal prevalece, ai de mim! Se o bem [prevalece], recebe-se o indulto. Nenhum homem está livre do pecado, porém, onde o bem prevalece, o mal se afasta, se obscurece e some. Portanto, no Dia do Juízo nossas obras nos socorrerão ou nos lançarão nas profundezas com o peso de uma pedra de moinho” (Carta 2, ao bispo Constâncio).[60]

“Porém, as Sagradas Escrituras dizem que a vida eterna se baseia no conhecimento das coisas divinas e no fruto das boas obras. O Evangelho é testemunha destas duas sentenças, pois o Senhor Jesus falou assim quanto ao conhecimento: ‘Esta é a vida eterna: que Te conheçam como único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste’. Sobre as obras, deu esta resposta: ‘Todo aquele que abandonar casa, irmãos, irmãs, pai, mãe, esposa, filhos ou terras em razão do meu nome, receberá cento por um e herdará a vida eterna'” (Dos Deveres do Clero 2,2,5).[61]

 

SÃO JOÃO CRISÓSTOMO

Considerado um dos quatro grandes Padres da Igreja oriental, nasceu na Síria por volta do ano 347. Foi Patriarca de Constantinopla e morreu em 404 d.C.

É taxativo em recordar que para se ter a vida eterna não basta crer, porque se isto não leva à uma vida reta, a fé nada vale para a salvação:

“Disse alguém: ‘Então é suficiente crer no Filho para se ganhar a vida eterna?’ De maneira nenhuma. Escuta esta declaração do próprio Cristo, dizendo: ‘Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’ entrará no reino dos céus’; e a blasfêmia contra o Espírito é suficiente para lançar um homem no inferno. Porém, por que menciono esta parte da doutrina? Ainda que o homem creia devidamente no Pai, no Filho e no Espírito Santo, se não leva uma vida reta, sua fé não lhe valerá nada para sua salvação. Portanto, quando Ele disse: ‘Esta é a vida eterna: que Te conheçam como único Deus verdadeiro’, não devemos supor que o [conhecimento] de que fala é suficiente para a nossa salvação […] Ainda que aqui Ele diga: ‘Aquele que crê no Filho tem vida eterna’ […] todavia nem sequer disto afirmamos que somente a fé é suficiente para a salvação. E as diretrizes [para a conduta] da vida dadas em muitos lugares do Evangelho demonstram isso” (Homilia sobre o Evangelho de João 31,1).[62]

“Diz Ele: ‘Não penses que porque creste isto é suficiente para a tua salvação […] a menos que exibas uma conduta inatacável'” (Homilia sobre a Epístola aos Coríntios 23,2).[63]

 

SÃO JERÔNIMO

Reconhecido como um dos quatros doutores originais da Igreja latina. Padre das ciências bíblicas e tradutor da Bíblia para o latim. Presbítero, homem de vida ascética, eminente literato. Nasceu no ano 347 e morreu no ano 420.

São Jerônimo, da mesma forma que os outros Padres, declara que os batizados podem cair do estado de graça e perder sua salvação em razão de suas escolhas pelo livre-arbítrio. Aqueles que por meio da graça suportarem as provas, receberão a coroa da vida:

“Não é de acordo com a justiça divina esquecer das boas obras e as ações que ministraste e ministras aos santos por seu nome e para recordar apenas os pecados. O Apóstolo Tiago também, considerando que os batizados podem ser tentados e cair de sua própria livre escolha, diz: ‘Bem-aventurado o homem que suporta a tentação, porque quando for aprovado receberá a coroa da vida que o Senhor prometeu àqueles que O amam’. E não podemos pensar que somos tentados por Deus, como lemos no Gênesis sobre Abraão: ‘Que ninguém diga, quando for tentado, que é tentado por Deus, porque Deus não pode ser tentado pelo mal nem tenta a ninguém. Cada um, porém, é tentado por sua própria concupiscência, que o arrasta e seduz. E após conceber a concupiscência, dá à luz ao pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte’. Deus nos criou com livre-arbítrio e não somos forçados pela necessidade nem à virtude nem ao vício. Do contrário, se não estamos obrigados pela necessidade, não há coroa. Como nas boas obras, é Deus quem os traz à perfeição, já que não é de quem quer, nem do que corre, mas de Deus que piedosamente nos ajuda a ser capazes de atingir a meta” (Contra Joviniano 2,3).[64]

SANTO AGOSTINHO

Bispo de Hipona e doutor da Igreja, é reconhecido como um dos quatro doutores mais distintos da Igreja latina. Nasceu em 354 e chegou a ser bispo de Hipona durante 34 anos. Combateu duramente todas as heresias de sua época e morreu no ano 430.

Santo agostinho é muito citado por protestantes (tanto luteranos quanto calvinistas) como um expoente da doutrina da “Sola Fides” e por seus textos relacionados com a predestinação. Particularmente não posso explicar o porquê disso, já que existem também textos bem claros do mesmo Agostinho sobre o purgatório e a oração pelos mortos, doutrinas estas opostas à “Sola Fides”.

A maioria dos textos citados por protestantes são textos onde Santo Agostinho combate o Pelagianismo (uma heresia que pregava que o homem se salvava pelas obras e não pela graça). Pelágio seria como o extremo oposto de Lutero (Pelágio pregava “Sola Opus”; Lutero, “Sola Fides” – e Santo Agostinho, a doutrina ortodoxa: a Católica).

Um exemplo temos no que se refere ao livre-arbítrio, que Lutero declarou ser “pura mentira” (em “De Servo Arbitrio”). Quando Agostinho é acusado pelos pelagianos de negar o livre-arbítrio, defende-se vigorosamente:

“Afirmas que em outro de meus livros eu disse: ‘Nega-se o livre-arbítrio se se defende a graça e nega-se a graça se se defende o livre-arbítrio’. Pura calúnia! Eu não disse isso. O que eu disse foi que essa questão apresenta enormes dificuldades que poderia parecer que se nega uma quando se admite a outra. E como minhas palavras são poucas, irei repetí-las para que meus leitores vejam como distorces os meus escritos e com que má-fé abusas da ignorância dos retardados e privados de inteligência, para fazer-lhes crer que me respondeste porque não sabes calar-te. Eu disse no final do primeiro livro, dedicado ao virtuoso Piniano, cujo título é ‘De gratia contra Pelagium’: ‘Nesta questão que trata do livre-arbítrio, parece se negar a graça de Deus; e quando se defende a graça de Deus, parece se destruir o livre-arbítrio’. Porém, tu, homem honesto, verás que suprimes as palavras que eu disse e colocas outras de tua invenção. Disse sim que esta questão era difícil de se resolver, não que era impossível. E muito menos afirmei, como falsamente me acusas, que ‘se se defende a graça, nega-se o livre-arbítrio; se se defende o livre-arbítrio, nega-se a graça de Deus’. Citai minhas palavras textuais e evaporam-se as tuas calúnias” (Resposta a Juliano 4,47).[65]

“Não é certo, como dizes, ‘que chamamos pelagianos ou celestianos a todo aquele que reconhece no homem o livre-arbítrio e afirma que Deus é o Criador das crianças’, mas que damos este nome aos que não atribuem à liberdade, à qual fomos chamados, a graça divina; e aos que recusam reconhecer Cristo como Salvador das crianças; aos que não admitem nos justos a necessidade de dirigir a Deus petição alguma da oração do Senhor. A estes sim, os chamamos de pelagianos e celestianos, porque participam de seus erros criminosos” (Resposta a Juliano 3,2).[66]

“Dizes que ‘louvo a continência dos tempos cristãos não para suscitar nos homens o amor à virgindade, mas para condenar o matrimônio instituído por Deus’. Mas para que ninguém acredite, te atormenta a suspeita de uma má interpretação dos meus sentimentos – me dizes – como querendo aprovar: ‘Se com sinceridade exortas aos homens à virgindade, deves confessar que a virtude da castidade pode ser observada por aqueles que quiserem, de sorte que qualquer um pode ser santo em corpo e espírito’. Respondo que admito isso, mas não no teu sentido. Tu atribuis este poder apenas às forças do livre-arbítrio; eu o atribuo à vontade auxiliada pela graça de Deus. No entanto, pergunto: sobre o quê exerce o espírito seu poder para não pecar senão sobre um mal que, se vence, nos faz cair em pecado? E para não ter que dizer, com os maniqueus, que este mal provém de uma natureza má, estranha a nós e com a qual se mistura, resta-nos confessar que existe em nossa natureza uma ferida que é necessário curar e cuja mancha nos torna culpáveis se não for lavada pelo sacramento da regeneração (=batismo)” (Resposta a Juliano 5,65).[67]

 

Santo Agostinho também rejeita a posição calvinista e declara que é o homem, por sua própria eleição, quem perde a graça e se torna mau (Calvino afirmava que quem não for predestinado nunca receberá a graça porque, se tiver recebido, não terá como resistir a ela e se salvará).

“Porém, se alguém já regenerado e justificado, por vontade própria, recair em sua má vida, certamente esse homem não poderá dizer: ‘Eu não a recebi’, porque ele perdeu a graça que recebeu de Deus e por sua própria e livre escolha tornou-se malvado” (Exortação e Graça 6,9).[68]

“Ele outorgou o perdão e dará a coroa. Do perdão é doador e da coroa devedor; mas por que devedor? Ele recebeu algo? […] O Senhor faz a Si mesmo devedor não por receber algo, mas por prometer algo. Ninguém lhe diz: ‘Paga por aquilo que recebeste’, mas: ‘Paga por aquilo que prometeste'” (Comentário ao Salmo 83,16).[69]

 

Também rejeita explicitamente a doutrina da “Sola Fides”:

“Pois bem: se o mau fosse salvo pelo fogo em razão apenas de sua fé e se esta fosse a forma como a passagem do bem-aventurado Paulo deveria ser entendida – ‘Porém, o mesmo será salvo, mas como pelo fogo’ – então a fé sem obras seria suficiente para se salvar. No entanto, aquilo que o Apóstolo Tiago disse seria falso. E também falso seria outra frase do mesmo Paulo. Diz ele: ‘Não se equivoquem: nem os fornicadores, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os homossexuais, nem os ladrões, nem os que cobiçam, nem os ébrios, nem os vilipendiadores, nem os extorsionários herdarão o reino de Deus'” (Da Fé, Esperança e Caridade 18,3).[70]

Talvez a declaração mais clara de Santo Agostinho sobre esta matéria encontremos em seu tratado sobre a graça e o livre-arbítrio:

[A fé sem as boas obras não é suficiente para a salvação]

Pessoas pouco inteligentes, no entanto, a respeito das palavras do Apóstolo: ‘Entendemos que o homem é justificado pela fé, sem as obras da lei’, pensam que isto quer dizer que a fé é suficiente para um homem, inclusive quando ele leva uma vida má, sem boas obras. Impossível [seria pensar] que tal pessoa devesse se julgar receptora da eleição pelo Apóstolo, o qual, após declarar que em Cristo Jesus nem a circuncisão nem a incircuncisão vale qualquer coisa, mas sim a fé que opera pela caridade. É essa a fé infiel a Deus dos demônios impuros – que inclusive ‘crêem e tremem’, como diz o Apóstolo Tiago. Portanto, eles não possuem a fé pela qual o homem vive – a fé que age pela caridade em tal sabedoria, que Deus a recompensa com a vida eterna conforme as suas obras. Porém, à medida que temos nossas boas obras [provindas] de Deus, de quem também provém nossa fé e nosso amor, o mesmo grande mestre dos gentios atribuiu a vida eterna como um presente de Sua graça.

Daqui nasce um outro problema de não pouca importância que, com a graça de Deus, iremos resolver. Se a vida eterna se dá com as boas obras, como diz a Escritura com toda a clareza: ‘Porque o Filho do Homem […] pagará a cada um conforme suas obras’, como pode ser graça a vida eterna, se a graça não se dá por obras, mas gratuitamente, conforme o Apóstolo: ‘Porém, ao que trabalha, não se lhe conta o salário como graça, mas como dívida’? E em outro lugar: ‘Assim também, ainda neste tempo, restou um remanescente eleito pela graça’; e em continuidade: ‘E se é por graça, já não é por obras; de outra forma, a graça já não seria graça’. Portanto, como a vida eterna será graça se responde às obras? Ou talvez o Apóstolo não chame ‘graça’ à vida eterna? É mais do que isso: tão claramente o afirma que é totalmente inegável. Não que esta questão exija um ingênio aguçado; basta um ouvinte atento, porque quando diz: ‘O salário do pecado é a morte’, em seguida acrescenta: ‘Mas a dádiva de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, Senhor nosso’.

Este problema, ao que me parece, apenas pode ser resolvido entendendo que nossas boas obras, às quais se dá a vida eterna, pertencem também à graça de Deus. Toda vez que nosso Senhor Jesus Cristo diz: ‘Sem mim nada podeis fazer’, e o próprio Apóstolo, ao dizer: ‘Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, pois é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie’, percebeu que os homens poderiam entender como não necessárias as obras, bastando apenas a fé; assim como os homens também poderia se gloriar por suas boas obras, como se bastassem a si mesmos para realizá-las. Por isso acrescentou: ‘Porque somos criaturas suas, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais preparou de antemão para que andássemos nelas’. E o que significa isto, que recomendando o Apóstolo a graça e assegurando que não provém das obras, para que ninguém se glorie, logo dá a razão e diz: ‘somos criaturas suas, criados em Cristo Jesus para as boas obras’? Entretanto, repara e entende: não por obras próprias e de tua procedência, mas como obras nas quais o Senhor te plasmou, isto é, te formou e criou, porque é isto o que diz: ‘somos criaturas suas, criados em Cristo Jesus para as boas obras’, não com a criação que deu vida aos homens, mas com aquela outra que já supõe ao homem e a que se refere o Salmo: ‘Cria em mim, ó Deus, um coração limpo’, e da qual diz o Apóstolo: ‘De modo que se alguém está em Cristo é nova criatura; as coisas velhas passaram; eis que aqui todas são feitas novas’. E tudo isso provém de Deus. Somos plasmados, isto é, somos formados e criados para as boas obras; não somos nós que as preparamos, mas Deus, para que nelas vivamos. Assim, portanto, caríssimos, se nossa vida humana nada mais é que graça de Deus, sem dúvida que a vida eterna, que se dá à vida boa, é dom de Deus; ambas, por certo gratuitas. Porém, apenas aquela que se dá é graça; mas a que se dá neste caso, já que é prêmio da vida boa, é graça que recompensa outra graça, como retribuição por justiça, para que se cumpra, já que é verdade que Deus dará a cada um segundo as suas obras” (Da Graça e do Livre-Arbítrio 18-20).[71]

 

CONCLUSÃO

Não é difícil de entender, após tudo o que apresentamos anteriormente, o porquê de Lutero não poder recorrer ao testemunho dos Padres da Igreja, testemunho este que não apenas lhe era hostil, como também o declarava herege. Por isso, precisou refugiar-se na “Sola Scriptura” (doutrina que, como vimos anteriormente, também era rejeitada unanimemente pela Igreja Primitiva e pelos Padres da Igreja). Porém, nem sequer aí [na Bíblia] encontram apoio as doutrinas do monge agostiniano. Não é de se estranhar que chamasse a Carta de Tiago de “epístola de palha” e tentasse [em vão] excluí-la do Novo Testamento, juntamente com a Carta aos Hebreus, a Carta de Judas e o Apocalipse. Mas para justificar a doutrina da “Sola Fides” teria que mutilar metade da Bíblia…

 

Observação: Gostaria de agradecer aos meus irmãos Jorge Baca e Berene, membros do fórum de apologética do site Catholic.Net que me ajudaram a traduzir diversos textos aqui apresentados.

 

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Notas:
(1) Retirado de “Padres Apostólicos”, 5ª edição. Daniel Ruiz Bueno, BAC 65, pág. 92-93
(2) Ibid. pág. 207
(3) Ibid. pág. 205
(4) Ibid. pág. 185
(5) Ibid. pág. 186
(6) Ibid. pág. 210
(7) Ibid. pág. 198
(8) Ibid. pág. 204
(9) Ibid. pág. 231
(10) Ibid. pág. 209
(11) Ibid. pág. 224
(12) Ibid. pág. 662-663
(13) Ibid. pág. 954
(14) Ibid. pág. 955
(15) Ibid. pág. 955
(16) Ibid. pág. 955-956
(17) Ibid. pág. 957
(18) Ibid. pág. 977
(19) Ibid. pág. 455
(20) Ibid. pág. 498
(21) Ibid. pág. 500-501
(22) Ibid. pág. 462
(23) Retirado de “Padres Apologistas Gregos”, 2ª edição, Daniel Ruiz Bueno, BAC 116, pág. 191-192
(24) Ibid pág. 205-206
(25) Ibid pág. 199
(26) Ibid pág. 228-229
(27) Ibid pág. 781
(28) Retirado de http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/es/0d.htm
(29) Ibid.
(30) Retirado de http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/es/0a.htm
(31) Traduzido de “Stromata / Miscellanies”, Chapter XIV; ANF, Vol. II
http://www.ccel.org/print/schaff/anf02/vi.iv.vi.xiv
(32) Traduzido de “Commentary on Proverbs”; ANF, Vol. V, 174
http://www.ccel.org/print/schaff/anf05/iii.iv.i.vi.i
(33) Traduzido de “Against Plato”, 3; ANF, Vol. V, 222-223
http://www.ccel.org/print/schaff/anf05/iii.iv.ii.iii
(34) Traduzida de “Commentary on Romans” [2:5]; Bray, 57-58 The Church Fathers Were Catholic, Dave Armstrong, pág. 136
(35) Traduzida de “Commentary on Romans” [4:2]; Bray, 109-110 The Church Fathers Were Catholic, Dave Armstrong, pág. 137
(36) Traduzida de “Commentary on Romans” 2:25; Bray, 76 desde The Church Fathers Were Catholic, Dave Armstrong, pág. 136
(37) Traduzido de “De Principiis”, Book III, 1,6 – http://www.newadvent.org/fathers/04123.htm – http://www.ccel.org/print/schaff/anf04/vi.v.iv.ii
(38) Traduzido de “De Principiis” , preface, 5; ANF, Vol. IV, 240) – http://www.ccel.org/print/schaff/anf04/vi.v.i – http://www.newadvent.org/fathers/04120.htm
(39) Traduzido de “On the Unity of the Church”, 16; ANF, Vol. V, 423 – http://www.newadvent.org/fathers/050701.htm – http://www.ccel.org/print/schaff/anf05/iv.v.i
(40) Traduzido de “On the Lapsed [Treatise III]”, 17; ANF, Vol. V – http://www.newadvent.org/fathers/050703.htm – http://www.ccel.org/print/schaff/anf05/iv.v.iii
(41) Retirado de “Patrología I”, Johhanes Quasten, BAC 206, pág 324 – http://www.newadvent.org/fathers/050708.htm
(42) Retirado de “Patrología I”, Johhanes Quasten, BAC 206, pág 324
(43) Traduzido de “On Works and Alms [Treatise VIII]”, 5; ANF, Vol. V – http://www.ccel.org/print/schaff/anf05/iv.v.viii – http://www.newadvent.org/fathers/050708.htm
(44) Traduzido de “Divine Institutes”, 7:5; ANF, Vol. VII, 200 – http://www.newadvent.org/fathers/07017.htm – http://www.ccel.org/print/schaff/anf07/iii.ii.vii.v
(45) Traduzido de “The Faith of the Early Fathers”, Vol I, pág. 386
(46) Ibid. pág. 386-387
(47) Ibid. pág. 386
(48) Traduzido de “Life of Antony”; NPNF 2, Vol. IV, 205 – http://www.newadvent.org/fathers/2811.htm – http://www.ccel.org/ccel/schaff/npnf204.xvi.ii.xi.html
(49) Traduzido de “Incarnation of the Word”, 56, 4; NPNF 2, Vol. IV, 66 – http://www.ccel.org/print/schaff/npnf204/vii.ii.lvi
(50) Traduzido de “Athanasius, Discourse Against the Arians”,3:25 in NPNF2, Vol IV:407 – http://www.ccel.org/print/schaff/npnf204/xxi.ii.iv.iii
(51) Traduzido de “Athanasius, Festal Letters”. Letter XI,7. NPNF2, Vol IV – http://www.ccel.org/print/schaff/npnf204/xxv.iii.iii.ix
(52) Retirado de http://www.mercaba.org/tesoro/CIRILO_J/Cirilo_03.htm – A versão em inglês está em “Cyril of Jerusalem, Catechetical Lectures”,I:4,NPNF 2,Vol. VII, 7 – http://www.ccel.org/print/schaff/npnf207/ii.v
(53) Traduzida de “The Church Fathers Were Catholic”, Dave Armstrong, pág. 142
(54) Ibid.
(55) Traduzido de “De Spiritu Sancto”, Chapter XXVIII; NPNF 2, Vol. VIII) – http://www.ccel.org/print/schaff/npnf208/vii.xxix – http://www.newadvent.org/fathers/3203.htm
(56) Traduzido de “De Spiritu Sancto”, Chap. XVI, 40 NPNP 2 Vol VIII, p. 25. – http://www.ccel.org/print/schaff/npnf208/vii.xvii – http://www.newadvent.org/fathers/3203.htm
(57) Traduzido de Homilia I; NPNF 2, Vol. VIII – http://www.ccel.org/print/schaff/npnf208/viii.ii – http://www.newadvent.org/fathers/32011.htm
(58) Traduzido de “St. Basil the Great, On Ps. 114”, no. 5 en The Faith of the Early Fathers, Vol II, pág. 22
(59) Traduzido de “The Faith of the Early Fathers”, Vol II, William A. Jurgens, pág. 45-46
(60) Traduzida de “The Church Fathers Were Catholic”, Dave Armstrong, pág. 144
(61) Traduzido de “On the Duties of the Clergy”, Book II, 2, 5; NPNF 2, Vol. X – http://www.ccel.org/print/schaff/npnf210/iv.i.iii.ii – http://www.newadvent.org/fathers/34012.htm – http://www.vatican.va/spirit/documents/spirit_20010605_ambrogio_en.html
(62) Traduzido de Homilia XXXI, 1, Por Juan 3:35-36; NPNF 1, Vol. XIV – http://www.ccel.org/print/schaff/npnf114/iv.xxxiii – http://www.newadvent.org/fathers/240131.htm
(63) Traduzido de Homilia XXIII, on Corinthians NPNF1: Vol. XII, p. 133 – http://www.ccel.org/print/schaff/npnf112/iv.xxiv
(64) Traduzido de “Against Jovinian”, Book II, 3; NPNF 2, Vol. VI – http://www.newadvent.org/fathers/30092.htm – http://www.ccel.org/print/schaff/npnf206/vi.vi.II
(65) Retirado de “Obras Completas de San Agustín” XXXV. BAC 457, pag 703
(66) Ibid. pag 574
(67) Ibid. pag 825
(68) Traduzido de “The Faith of the Early Fathers”, Vol III, William A. Jurgens, pág. 157
(69) Ibid. pág. 19
(70) Traduzido de “Enchiridion of Faith, Hope, and Love”, Chapter XVIII, paragraph 3; NPNF 1, Vol. III – http://www.ccel.org/print/augustine/enchiridion/chapter18
(71) Traduzido de “On Grace and Free Will” XVIII-XX NPNF1 Vol V – http://www.ccel.org/print/schaff/npnf105/xix.iv.xviii – http://www.ccel.org/print/schaff/npnf105/xix.iv.xix – http://www.ccel.org/print/schaff/npnf105/xix.iv.xx – http://www.newadvent.org/fathers/1510.htm

Fonte: http://www.apologeticacatolica.org; tradução: Carlos Martins Nabeto

 

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