A sucessão batista e o “rastro de sangue”

Algumas igrejas batistas dizem que elas são descendentes diretas de certos grupos heréticos do passado. Por isso seriam as “verdadeiras igrejas de Cristo“. Pretendem, inclusive, traçar sua origem até João, o batista. Seu principal fundamento é um livreto de 56 páginas chamado “O Rastro de Sangue“, de autoria de J.M. Carrol, de 1931. O autor tenta provar que grupos heréticos do passado, como os Montanistas, Novacionistas, Donatistas, Paulicianos, Albigenses, Cátaros, Valdenses e Anabatistas eram os batistas do passado, e que foram perseguidos pelos católicos e desapareceram. Pelo fato de não existirem qualquer evidências destas alegações, alegam que a Igreja Católica tratou de apagar do mapa as evidências. O curioso é que os teólogos batistas rejeitam esta idéia como absurda e infundada. Apesar disso alguns batistas continuam a difundir tal idéia (são chamados de “batistas lendários“), para o embaraço da maioria dos protestantes batistas.

 

Mas vamos rapidamente examinar cada um destes grupos:

 

Montanistas: rejeitavam os segundos casamentos, mesmo após a morte do primeiro cônjuge. Negavam o perdão dos pecados, tornando-se um movimento sem esperança.

 

Novacianistas: diziam que nenhum pecado deveria ser perdoado após o batismo. Também proibiam os segundos casamentos. Novaciano proclamou a si mesmo bispo e foi excomungado.

 

Donatistas: a verdadeira igreja deveria ser composta apenas por eleitos e que os batismos somente eram válidos se feitos por um donatista.

 

Paulicianos: criam na pluralidade de deuses, dizendo que toda matéria era má, rejeitavam o Antigo Testamento e a encarnação, e ainda diziam que Jesus era um anjo. Não honravam a cruz por acharem que Jesus não foi crucificado.

 

Albigenses: criam em dois deuses, um bom e um mal. Rejeitavam todos os sacramentos, declaravam ser pecado casar. Eram sexualmente permissivos. A gravidez deveria ser evitada e o aborto era encorajado.

 

Cátaros: seguiam todas as heresias dos albigenses.

 

Valdenses: diziam que a Igreja não deveria possuir bem algum e proibiam o dízimo. Curiosamente, acreditavam na Sagrada Eucaristia e no Corpo de Cristo.

 

Anabatistas: praticavam a poligamia e o comunismo. Condenavam as promessas como pecaminosas. Foram fundados por Thomas Munser em 1521. Somente este fato desbanca a alegação batista de antiguidade.

 

Observando as “peculiaridades” destes grupos, porque será que alguém ainda vai querer reclamar ser um ancestral de qualquer um deles?

 

Jesus prometeu que sua Igreja iria permanecer para sempre (Mt 16,18). O que você acha, então, que Ele esteve fazendo com Sua Igreja ao longo de todos esses séculos? Por acaso Ele estaria brincando com Sua criação, levando-a de heresia em heresia, ora para os montanistas, ora para os valdenses, e assim por diante? Tal pensamento é ridículo, não é mesmo? Pois bem, Ele fez exatamente o que prometeu. Edificou sua Igreja e a sustentará até o final dos tempos, e esta é a Santa Igreja Católica.

 

Onde estão as evidências dos protestantes? Se existissem desde o tempo de João Batista, os livros de história especializados estariam cheios de referências, ou pelo menos algo afim. Os escritores da época dos pais da Igreja, os historiadores de sua época, não fazem referência alguma, mínima, sobre esse assunto. O mais interessante, e repudiante para os protestantes, é que estes mesmos escritos falam o nome da Igreja Católica amplamente, dezenas, centenas de vezes. Nos escritos de Santo Agostinho, por exemplo, em quem muitos protestantes acham que extraem suas doutrinas, a Igreja Católica é citada pelo nome cerca de 300 vezes.

 

Talvez a mais famosa referência seja a da carta de Santo Inácio de Antioquia ao povo de Esmirna, no longínquo ano de 106 d.C. Vale lembrar que Inácio era um padre apostólico, o que significa dizer que em sua vida ele conheceu alguns apóstolos de Cristo.

 

Deves seguir a palavra do bispo, assim como Jesus Cristo seguiu a palavra do Pai; siga o presbítero como a um apóstolo, respeite os diáconos como aos mandamentos de Deus. Que nada façam à Igreja sem o conhecimento do bispo. Que a celebração da Eucaristia seja válida quando celebrada pelo bispo ou por quem este designar. Onde estiver o bispo, esteja o povo, assim como onde está Jesus Cristo, está a Igreja Católica. Não é permitido casar-se ou batizar sem a autorização do bispo; mas tudo o que ele aprovar agrada a Deus. Com isso tudo que fizeres será valioso e uma prova contra o mal.

 

Inácio de Antioquia, Carta aos Esmirnenses, 8, 106 d.C.

 

Para finalizar, somente a título de curiosidade, citaremos alguns escritos clássicos onde a Igreja Católica é citada nominalmente, notando que todas as datas são anteriores ao século 7.

 

Inácio, Carta aos Esmirnenses 8:1-2. J65 106 DC 
O Martírio de São Policarpo 16:2. J77, 79, 80a, 81a, 155 DC 
Clemente de Alexandria, Stromateis 7:17:107:3. J435 202 DC 
Cipriano, A Unidade da Igreja Católica 4-6. J555-557 251 DC 
Cipriano, Carta a Florêncio 66:69:8. J587 254 DC 
Lactâncio, Instituições Divinas 4:30:1. *J637 304 DC 
Alexandre de Alexandria, Cartas 12. J680 324 DC 
Atanásio, Carta sobre o Concílio de Nicéia 27. J757 350 DC 
Atanásio, Carta a Serapião 1:28. J782 359 DC 
Atanásio, Carta ao Concílio de Rimini 5. J785 361 DC 
Cirilo de Jerusalém, Leituras Catequéticas 18:1. J836-*839 
Dâmaso, Decreto de Dâmaso 3. J910u 382 DC 
Agostinho, Carta a Vincente o Rogatista 93:7:23. J1422
Agostinho, Carta a Vitalis 217:5:16. J1456 427AD 
Agostinho, Com. Salmos 88:2:14, 90:2:1. J1478-1479 418 DC 
Agostinho, Sermões 2, 267:4. *J1492, *J1523 430 DC 
Agostinho, Sermão aos Catecúmenos sobre o Credo 6:14. J1535 
Agostinho, A Verdadeira Religião 7:12+. *J1548, *J1562, J1564 
Agostinho, Contra a carta de Mani 4:5. *J1580-1581 
Agostinho, Instrução Cristã 2:8:12+. *J1584, J1617 
Agostinho, Batismo 4:21:28+. J1629, J1714, J1860a, J1882 
Agostinho, Contra os Pelagianos 2:3:5+. *J1892, *J1898

Como bem ensinou John Henry Newman, “aprofundar-se na história é renunciar ao protestantismo“.

Traduzido para o Veritatis Splendor por Rondinelly Ribeiro Rosa.

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