Agente da campanha “brasil para todos” defende “terra de ninguém”

Gostaria de informar que a campanha Brasil para Todos de modo algum é uma campanha satanista. É uma campanha que abarca pesoas de todos os credos que buscam a pacífica convivência entre os diferentes – o respeito mútuo, o respeito às leis, o respeito à liberdade de crenças.

A campanha tampouco é anti-religiosa, tanto é que entre nossos colaboradores e apoiadores há pessoas religiosas, dos mais diferentes credos, incluindo católicos.

O Brasil para Todos pede apenas a retirada dos símbolos não-oficiais das repartições públicas. No caso, calha de ser em especial o crucifixo – símbolo católico – que é o que está presente em maior número. Mas se houver outros símbolos: crescentes, estrelas de Davi, estátuas de Buda, bandeiras de agremiações esportivas – estarão igualmente em local inadequado.

Certamente V. Sra. entenderiam a inadequação da exibição de símbolos de outras religiões ou correntes, por exemplo, símbolos que representem exclusivamente os neopentecostais (evangélicos) em tribunais ao lado de símbolos oficiais como a Bandeira Nacional e o Brasão da República. Aplica-se apenas o mesmo raciocínio da inadequação para, no caso, os crucifixos nos tribunais. (Enfatizo o termo “no caso”, pois não se trata de uma restrição específica contra símbolos católicos ou mesmo símbolos religiosos em geral, mas sim de símbolos que representem apenas uma parte do povo brasileiro e não a sua totalidade – outros exemplo, além dos já mencionados símbolos esportivos, poderiam ser símbolos de categorias específicas de profissionais, de um gênero sexual específico, de um partido político específico e assim por diante.)

Não há com isso nada de anti-religiosidade ou anti-catolicismo. Até mesmo gostaríamos do apoio de V. Sras. e de outros membros da comunidade católica.

Espero ter desfeito os mal-entendidos.

Roberto Takata


Prezado Roberto,

Creio que sua carta foi motivada pela nossa denúncia à participação de D. Pedro Casaldáliga na sua campanha.

Talvez por boa fé, você quer que nós católicos apoiemos a Campanha “Brasil para Todos”. Talvez também, por boa fé, muitos católicos acabam aderindo a engodos como este. Com efeito, a boa fé aliada a uma grande ignorância tornam-se ingredientes “explosivos” capazes de detonar as inteligências menos vigilantes.

O primeiro de nossos livros sagrados nos ensina que Satã, o Pai da Mentira, enganou o primeiro casal (Adão e Eva) exatamente prometendo-lhes liberdade (Gn 3,5). Você diz que a campanha não é satânica, pois eu mostrarei exatamente o contrário.

Não pense por isto que sou um fundamentalista fanático e louco. Com efeito, tenho muitas misérias bem conhecidas por Deus. Entretanto, a loucura não é minha, mas daqueles que ainda não compreendem a linguagem da Cruz de Cristo: “A linguagem da cruz é loucura para os que se perdem, mas, para os que foram salvos, para nós, é uma força divina” (1 Cor 1,18).

A questão que a sua campanha promove, a retirada de todo e qualquer símbolo religioso dos edifícios do Estado, é somente a ponta de um gigantesco Iceberg programado para colidir contra toda vivência religiosa da nossa nação. Iceberg este que se desprendeu do estéreo continente gelado da Revolução Francesa Iluminista e que chegou em nossas águas com o advento da República, quando o Estado tornou-se laico.

Para mostrar os erros que constam na campanha “Brasil para Todos”, vamos ver um trecho capital da motivação de tal programa:

“[…] O Estado pertence a todos os cidadãos, sem distinção de raça, cor, idade, sexo, ideologia ou credo. Nenhum grupo social pode ser discriminado ou privilegiado. Esse é um princípio fundamental da democracia. Por isso ele foi sacramentado em nossa Constituição Federal em seus chamados artigos pétreos, isto é, que não estão sujeitos a emendas. Privilegiar o símbolo de um grupo é um desrespeito a todos os demais” (1, Qual o problema com os crucifixos e outros símbolos religiosos?).

Curiosamente, vocês querem arrancar os símbolos religiosos católicos, num país cuja maioria da população é católica. E vocês chamam a isto de democracia. Pelo que consta, num regime democrático o interesse da maioria é observado em detrimento do interesse da minoria e não o contrário. Está aí o sofisma presente no trecho acima.

Que “Brasil para Todos” é esse que invoca a democracia não respeitando-lhe o princípio fundamental do desejo da maioria? Ora, me parece que para vocês democracia é terra de ninguém onde o lema provavelmente seja: “A vontade de todos é a vontade de ninguém”.

Lamento, mas, não há verdade alguma neste programa, a começar pelo seu nome que por questão de coerência com seus próprios princípios e hermenêutica deveria se chamar “Terra de Ninguém”, portanto doravante será assim por mim referido.

Devo informar-lhe que é legítima a expressão religiosa do Estado Brasileiro. Mesmo este sendo laico (sem religião oficial) admite a Fé em Deus, inclusive invocando-lhe a proteção conforme consta no PREÂMBULO de nossa atual Constituição Federal:

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL” (5) (grifos meus).

A motivação do “Terra de Ninguém” além de se fundamentar em um sofisma de proporções astronômicas, alimenta-se da falsa concepção de que o Estado Religioso usurpa a liberdade religiosa do cidadão. 

Tanto a Igreja quanto o Estado, sociedades soberanas que são em seu âmbito, devem colaborar plena e mutuamente para o bem comum de toda sociedade. A concepção de que o Estado Religioso usurpa o direito do cidadão que não professa a religião oficial é tão falsa quanto a existência de calotas polares no Sol.

O Estado Católico, ao contrário, sempre defendeu os direitos fundamentais do cidadão, inclusive o seu direito a não ser coagido pelo Estado a confessar o Catolicismo. Darei-lhe uma mostra citando o artigo 6º do Fuero de los Españoles, do antigo Estado Católico Espanhol:

“A profissão e prática da Religião católica, que é a do Estado espanhol, goza da proteção oficial. Ninguém será molestado por suas crenças religiosas nem no exercício privado de seu culto” (2).

E sempre foi isto que a Igreja ensinou:

“Se desejamos que suba a Deus a súplica comum de todo o Corpo Místico a fim de que todas as ovelhas errantes se encontrem quanto antes no único aprisco de Jesus Cristo, declaramos que é absolutamente necessário que isto se faça livremente e com plena espontaneidade, pois ninguém tem fé sem o querer.

Eis porque, se há alguns que, sem ter fé, são constrangidos a entrar no edifício da Igreja, a aproximar-se do altar e receber os sacramentos, esses, sem dúvida, não se tornam verdadeiros cristãos; a fé deve ser livre homenagem da inteligência e da vontade

[…] Proteger os direitos invioláveis dos homens e vigiar para que cada um posa cumprir facilmente suas obrigações, é o dever fundamental de todo poder público” (3) (grifos meus).

Recentemente, a Santa Igreja confirmou este perene ensino na realização do Concílio do Vaticano II:

“[…] Em primeiro lugar, pois, afirma o sagrado Concílio que o próprio Deus deu a conhecer ao gênero humano o caminho pelo qual, servindo-O, os homens se podem salvar e alcançar a felicidade em Cristo. Acreditamos que esta única religião verdadeira se encontra na Igreja católica e apostólica, à qual o Senhor Jesus confiou o encargo de a levar a todos os homens, dizendo aos Apóstolos: «Ide, pois, fazer discípulos de todas as nações, baptizando os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos prescrevi» (Mt. 28, 19-20). Por sua parte, todos os homens têm o dever de buscar a verdade, sobretudo no que diz respeito a Deus e à sua Igreja e, uma vez conhecida, de a abraçar e guardar. O sagrado Concílio declara igualmente que tais deveres atingem e obrigam a consciência humana e que a verdade não se impõe de outro modo senão pela sua própria forca, que penetra nos espíritos de modo ao mesmo tempo suave e forte. Ora, visto que a liberdade religiosa, que os homens exigem no exercício do seu dever de prestar culto a Deus, diz respeito à imunidade de coacção na sociedade civil, em nada afecta a doutrina católica tradicional acerca do dever moral que os homens e as sociedades têm para com a verdadeira religião e a única Igreja de Cristo. Além disso, ao tratar desta liberdade religiosa, o sagrado Concílio tem a intenção de desenvolver a doutrina dos últimos Sumos Pontífices acerca dos direitos invioláveis da pessoa humana e da ordem jurídica da sociedade” (4) (grifos meus).

É impossível que um católico consciente e fiel ao seu dever corrobore com o “Terra de Ninguém”, ainda mais quando ele não está menos obrigado à autoridade de Cristo em sua vida coletiva do que na privada.

Mais lamentável ainda é vermos Bispos Católicos, como D. Pedro Casaldáliga, apoiarem iniciativas funestas como esta, já que na condição de Ministro da Palavra deveria guardar e defender com fervor o Depósito da Fé que os apóstolos confiaram à Igreja (cf. 2 Tm 1,12-14) e não atentar contra ele. Confesso que o apoio daquele Bispo à campanha não me surpreende, visto que postula por uma das maiores heresias da atualidade, tantas vezes condenas pela Santa Sé: a Teologia da Libertação.

Estão expostas aqui Roberto as razões pelas quais nenhum católico pode apoiar o “Terra de Ninguém”, visto que tal iniciativa falta com toda a Verdade e apóia-se em argumentos falaciosos.

Muito mais eu gostaria de escrever sobre esse assunto, mas não desejo cansar você e nem os leitores de nosso sítio.

Cristo nos ensinou que: “Quem não está comigo está contra mim; e quem não ajunta comigo, espalha” (Mt 12,30). Ora, quem não ajunta com Cristo, espalha com seu Inimigo, que é Satanás. Logo, o “Terra de Ninguém” que não ajunta com Cristo é satânico.

Desta forma, eu desejo morrer fazendo a vontade de Meu Senhor e Salvador. Por isso, nosso apostolado combaterá fortemente o “Brasil para Todos [Terra de ninguém]” e continuará denunciando qualquer apoio (direto ou indireto) que autoridades católicas venham dar a ele.

Em Cristo Nosso Senhor,

Prof. Alessandro Lima.

Notas

(1) Perguntas e Respostas. Brasil para Todos. Disponível em http://www.brasilparatodos.org/?page_id=5. Último acesso em 15/05/2007.

(2) Citado pelo Cardeal Alfredo Ottaviani em seu artigo Deveres do Estado católico para com a Religião, in Catolicismo nº 33, set. de 1953.

(3) Papa Pio XII. Apostolado Veritatis Splendor: MYSTICI CORPORIS. Disponível em https://www.veritatis.com.br/article/3705. Desde 5/9/1999.

(4) Concílio do Vaticano II. Apostolado Veritatis Splendor: DECLARAÇÃO – DIGNITATIS HUMANAE. Disponível em https://www.veritatis.com.br/article/827. Desde 17/2/2003.

(5) Constituição da República Federativa do Brasil. PREÂMBULO. Disponível em http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm. Último acesso 16/05/2007.

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