Cabala

(Hb. “tradição, ensinamento recebido”) – Corrente intelectual mística proveniente do Oriente por volta do séc. XI e que floresceu nos sécs. XII e XIII, primeiro no sul da França (Narbonne, Lunel), em seguida na Catalunha (Gerona). O objetivo da Cabala era o acesso ao conhecimento do mundo divino, concebido como um conjunto de dez energias ou potências (sephirot) emanadas de Deus, que serviram de intermediárias na criação do mundo perceptível. A doutrina teórica era acompanhada de um método de meditação baseado na oração diária, visando à contemplação de Deus.

No curso de sua evolução, diversas tendências se manifestaram no seio da Cabala. A de Gerona (Ezrah, Salomão, Azriel, Moisés Maimônides) era influenciada pela filosofia neoplatônica. O Livro dos Esplendores, compêndio de doutrinas cabalísticas, mais conhecido sob o nome de Zohar, redigido por volta de 1280 por Moisés de Leão, marcou fortemente a evolução posterior da doutrina.

Nos sécs. XV e XVI, compêndios tentam apresentar uma abordagem racional dos ensinamentos cabalísticos. O mais conhecido deles é Pardes Rommonim, “O Jardim das Romãs”, redigido por Moisés Cordovero (1522-70).

Após a expulsão dos judeus da Espanha, em 1492, os refugiados transferiram sua atividade para a Terra Santa, e Safed tornou-se o centro preferido dos cabalistas, sob a autoridade de Isaac Luria (1534-72). Em resposta ao sofrimento dos exilados, a doutrina de Luria acusa uma forte tendência messiânica, concentrando as especulações na redenção prometida. O ensinamento de Luria foi transmitido por seus discípulos (Hayyim Vital) e perpetuado até nossos dias. Centros de estudo da Cabala existem ainda em Israel e nos Estados Unidos.

A Cabala Cristã – Hebraizantes cristãos do Renascimento, Pico della Mirandola (1463-94) na Itália, Reuchlin (1455-1522) na Alemanha e Guillaume Postel (1510-81) na França, iniciaram-se nos estudos dos textos da Cabala. Sua abordagem, porém, era pessoal: a preocupação principal era encontrar nos textos judeus os fundamentos das doutrinas cristãs, particularmente a Trindade. O Protestantismo, reconhecendo a Bíblia como única autoridade em matéria de doutrina, ignorou a Cabala.

A confusão entre a Cabala judia autêntica e as operações suspeitas, até práticas de magia negra designadas pelo termo pejorativo de “cabala”, é tardia e sem fundamento.

Cabala, no sentido figurado, significa manobras secretas contra alguém ou alguma coisa, conspiração.

Cabalístico – adjetivo derivado de cabala; no sentido figurado: misterioso, incompreensível. A Cabala judia freqüentemente exprimiu suas especulações sobre os atributos e nomes de Deus sob a forma de desenhos, incompreensíveis para os não iniciados.

  • Locuções & Provérbios: Cabalar: conspirar para o fracasso de alguém ou de algo.

  • Literatura: Isaac Bashevis Singer, “Um Dia de Prazer”, 1969. Num capítulo consagrado às lembranças da infância, o autor evoca o fascínio que exercia sobre ele a Cabala, e a prudência dos adultos que proibiam sua leitura antes dos 40 anos de idade.

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