Catequese sobre os livros de 1-2Reis

Caríssimos Irmãos,

Dando continuidade ao nosso estudo bíblico, prosseguimos na análise dos livros históricos, examinando os livros de Reis (1 e 2 Rs).

Estes livros, que a princípio constituem uma só obra, narram a história de Israel desde Salomão até o exílio babilônico (587-538 a.C). Contém os momentos mais significativos da história de Israel: o apogeu da monarquia sob Salomão, sua divisão em dois reinos rivais (o de Samaria e o de Judá), a queda de ambos, a destruição da cidade santa de Jerusalém e o exílio na Babilônia. Ademais, retrata a época dos grandes profetas (Elias, Eliseu, Amós, Oséias, Isaías, Jeremias, Ezequiel).

A história narrada nos livros de Reis divide-se em três partes: Reinado de Salomão, auge e decadência (1Rs, 1, 1-11,43); Separação e história dos dois reinos separados, o de Israel (Samaria ou Efraim) ao norte e o de Judá ao sul, até a queda de Samaria e a deportação dos habitantes desta (1Rs, 12 – 2Rs, 17,41); História do reino de Judá até a destruição de Jerusalém e o exílio babilônico (2Rs, 18, 1-25,30).

Importante lembrar que, tal como os livros de Josué, Juízes e Samuel, 1 e 2 Reis são fruto de uma visão histórico-teológica que entendia que os acontecimentos históricos são orientados por Deus, para cumprimento do seu plano de salvação. Os reveses sofridos pelo povo eleito são vistos como sinal da justiça divina: aconteceram porque a maior parte dos seus reis fez “o que era mau aos olhos do SENHOR”. O pecado aí mencionado refere-se principalmente à tolerância e aceitação dos cultos prestados a deuses estrangeiros (1 Rs 11,1-10.33; 14,22-24); mas também caracteriza os atos de culto a Javé, realizados em santuários fora de Jerusalém (1 Rs 12,26-33). Este é o pecado de Jeroboão, frequentemente referido (1 Rs 13,34; 14,16; 15,30; etc.).

Os reis são apresentados e julgados com base na sua atitude frente à Lei do Senhor. Os reis da Samaria (reino do norte) são condenados em bloco por terem seguido o modelo de Jeroboão, que proclamou a separação. Os reis de Judá são avaliados tendo como modelo Davi, o “rei segundo o coração de Deus”, e classificados como bons ou maus.

A tese teológica central do livro está em 2Rs 17, 7: “Isso aconteceu porque os israelitas pecaram contra Iahweh seu Deus, que os fizera subir da terra do Egito, liberando-os da opressão do Faraó, rei do Egito”.

Salomão era filho do rei Davi, e foi designado para sucedê-lo, tendo sido o último rei a governar Israel como uma só nação. A narrativa de Reis exalta a grandeza do seu reinado, a sua sabedoria e riquezas. No entanto, não deixa de apontar seus insucessos como castigo para os seus pecados, especialmente a admissão de cultos pagãos por condescendência com mulheres estrangeiras (1Rs 11, 1-43).

Na história religiosa do antigo Israel, os profetas tiveram grande relevância, com seus ensinamentos e sua pregação. Entre eles, surge a figura de Elias, cujo nome significa “o Senhor é meu Deus”. De fato, toda a sua vida foi consagrada inteiramente a provocar no povo o reconhecimento do Senhor como único Deus. De Elias o Eclesiástico diz: ‘O profeta Elias surgiu como o fogo, e sua palavra queimava como tocha’ (Eclo 48,1)”.Teve um encontro com Deus no Monte Horeb, tal como Moisés (1Rs 19, 9-18). Relacionados pela Teofania (manifestação de Deus) no Horeb, Moisés e Elias estarão presentes na Teofania do Novo Testamento, a Transfiguração (Mt 17, 1-9p). Em um episódio extraordinário, Elias desafiou os profetas de Baal para defender a causa do único Deus (1Rs 18) e levar o povo à conversão.

Eliseu, discípulo de Elias, foi profeta popular e autor de milagres (1Rs 19, 19-21; 2Rs 2, 1-25; 3,9-9,13).

O que os livros dos Reis têm a ensinar ao homem de hoje? Eles nos relembram “a prioridade do primeiro mandamento: adorar somente a Deus. Onde Deus desaparece, o homem cai na escravidão de idolatrias, como mostraram, em nossa época, os regimes totalitários[…]”.[1]

Hoje em dia a vida de muitos gira em torno da busca de bem-estar e prosperidade, o que leva o homem a distorcer a sua relação com Deus, imaginando-o unicamente como provedor de bens materiais e realizador de desejos. É a inversão do cristianismo, a atualização da mentalidade pagã que coloca a divindade a serviço dos seus próprios interesses.

Devemos ouvir e acolher os ensinamentos da Igreja de Cristo, a fim de que nosso coração se converta e se volte para Deus com o verdadeiro espírito adorador: “seja feita a Vossa vontade”!

No próximo Domingo prosseguiremos no estudo dos livros históricos pelo exame dos livros de 1 e 2 Crônicas, Esdras e Neemias.

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NOTAS: [1] Catequese do Papa: A Oração de Elias e o Fogo de Deus (SS Bento XVI); * Fontes: Bíblia Sagrada Ed. Vozes; Bíblia de Jerusalém; Curso Bíblico – Escola Mater Ecclesiae – Pe. Estêvão Bettencourt OSB; Curso Bíblico catequisar.com.br (Reis).

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