Catequese sobre os livros de Juízes e Rute

Caríssimos Irmãos,

Dando continuidade ao nosso estudo bíblico, prosseguimos na análise dos livros históricos, examinando o livro de Juízes (Jz) e Rute (Rt).

Para compreender o livro dos Juízes (Jz), precisamos entender o contexto histórico, político e social de Israel na época a que se refere.

Josué havia morrido sem deixar sucessor. Após a conquista de Canaã, os israelitas trocaram a vida nômade pela vida agrícola e sedentária. As tribos de Israel tinham se estabelecido em seus territórios, mas não havia governo central, ou seja, o único vínculo que as unia era a religião. Cada tribo em seu território tinha seus próprios interesses e problemas – o que dava lugar ao individualismo e criava um clima favorável às invasões dos povos estrangeiros.

A convivência com os pagãos levou a um sincretismo religioso; os israelitas passaram a prestar culto e homenagem aos deuses cananeus – Baal, Aserá e Astarte – que, assim acreditavam, garantiam a fertilidade das colheitas e a fecundidade dos rebanhos. Mesmo quando cultuavam ao Senhor, os israelitas passaram a fazê-lo nos bosques, nas colinas, junto às fontes (Jz 6,25.31; 8,33; 9,4), assim como faziam os cananeus com suas divindades.

Deus então suscitou juízes em Israel, chefes de tribo, dotados por Deus com especial força e carisma, para libertarem suas tribos de ataques estrangeiros e julgar as causas e litígios da população. São apresentados no livro doze juízes, um para cada tribo; destes, seis são tidos como “maiores”, pois suas histórias são contadas com mais detalhes, e seis são chamados “menores”, pois pouco se sabe a respeito deles.

As histórias dos juízes maiores são narradas segundo uma fórmula proposta em Jz 2, 11-19, que consiste em: os israelitas são infiéis ao Senhor, que os entrega na mão de invasores; os israelitas se arrependem e invocam o Senhor, que então suscita um juiz ou Salvador, que liberta o povo do domínio estrangeiro, garantindo um período de paz. O autor sagrado assim ensina que a opressão é castigo da impiedade e que a vitória é consequência do retorno a Deus, princípio que deriva da ausência de uma noção de vida após a morte. A Carta aos Hebreus apresenta os êxitos dos Juízes como a recompensa de sua fé, propondo-os como exemplos para o cristão, que deve rejeitar o pecado e suportar com valentia a provação a que é submetido (Hb 11,32-34; 12,1).

Os principais Juízes são Gedeão (Jz 6-8), Jefté (Jz 11-12) e Sansão (Jz 13-16).O livro cobre um período de quase duzentos anos, que vai aproximadamente de 1200 a 1050 aC, ou seja, da morte de Josué até o primeiro rei de Israel, Saul.

Sansão (Jz 13-16) tinha feito votos de consagração total a Javé (nazireato, Jz 13, 3-5), o que incluía a obediência a uma série de preceitos, incluindo a proibição de cortar os cabelos (Nm 6, 1-21). Enquanto ele permaneceu fiel a esta consagração, mantendo a longa cabeleira, o Senhor lhe dava força para vencer qualquer inimigo; quando entregou o segredo a Dalila, mulher estrangeira, traiu seus votos e ela cortou-lhe os cabelos, sinal de infidelidade interior de Sansão. Em consequência, o Senhor já não deu o herói a força necessária para o combate, vindo ele a perecer nas mãos dos filisteus.

O livro de Rute (Rt) traz a história, que se passa no tempo dos Juízes, da moabita que havia sido desposada por Maalon, filho de Elimelec, nascido em Belém (de Judá) e emigrado para Moab, em razão de uma fome que assolava sua cidade natal. Falecendo o marido e o sogro, acompanhou Noemi, sua sogra, de volta a Belém, onde, para sobrevivência, pôs-se a catar espigas no campo de Booz, vindo a descobrir que este era parente de Elimelec. Rute abraçou a fé isrealita e terminou por desposar Booz, que estava obrigado a tomar, por mulher, a viúva de seu parente mais próximo sem filhos (levirato). De Booz e Rute nasceu Obed, pai de Jessé, pai do Rei Davi.

Rute é citada como modelo de conduta filial e de fidelidade, em especial a sua fala a Noemi, sua sogra: “Aonde fores, eu irei; aonde habitares, eu habitarei. O teu povo é o meu povo, e o teu Deus, meu Deus.” (Rt 1,16).

O objetivo principal do livro é mostrar como a confiança posta em Deus é recompensada, e como a sua misericórdia se estendeu até mesmo sobre uma estrangeira. O ensinamento perene da narrativa é a fé na providência e a universalidade da salvação – o que é reforçado pela inclusão de Rute na genealogia de Cristo (Mt 1,5).

No próximo Domingo prosseguiremos no estudo dos livros históricos pelo exame dos livros de Samuel.

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NOTAS: Fontes: Bíblia Sagrada Ed. Vozes; Bíblia de Jerusalém; Curso Bíblico – Escola Mater Ecclesiae – Pe. Estêvão Bettencourt OSB.

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