Comentários às leituras do domigo da epifania do senhor – ano c

DOMINGO DA EPIFANIA DO SENHOR
ANO C
Cor: Branca

“Levanta-te e acende as luzes, porque chegou a tua luz” (Isaías 60,1)

1ª LEITURA: ISAÍAS 60,1-6

1. Levanta-te, acende as luzes, Jerusalém, porque chegou a tua luz, apareceu sobre ti a glória do Senhor.
2. Eis que está a terra envolvida em trevas, e nuvens escuras cobrem os povos; mas sobre ti apareceu o Senhor, e sua glória já se manifesta sobre ti.
3. Os povos caminham à tua luz e os reis ao clarão de tua aurora.
4. Levanta os olhos ao redor e vê: todos se reuniram e vieram a ti; teus filhos vêm chegando de longe com tuas filhas, carregadas nos braços.
5. Ao vê-los, ficarás radiante, com o coração vibrando e batendo forte, pois com eles virão as riquezas de além-mar e mostrarão o poderio de suas nações;
6. será uma inundação de camelos e dromedários de Madiã e Efa a te cobrir; virão todos os de Sabá, trazendo ouro e incenso, e proclamando a glória do Senhor.
– Palavra do Senhor.

A profecia – canto poético e glorioso – é uma visão de universalismo e unidade de todos os povos no caminho para Jerusalém (cf. Jeremias 12,15-16; 16,19-21; Miqueias 4,1-3; Sofonias 3,9-10; Zacarias 8,20-23).

O Profeta enxerga uma caravana que avança em direção à Cidade Santa em dois grupos bem distintos: um composto pelos filhos e filhas de Israel que retornam do Exílio (versículo 4) e outro formado pelas nações estrangeiras atraídas pela luz e glória de Deus que iluminam a colina de Sião. Isaías, então, se dirige ao povo que o escuta, dizendo: “Levanta-te, acende as luzes… Levanta os olhos ao redor e vê” (versículos 1 e 4). Terminou o tempo de cansaço e lamentação e começou o tempo da alegria e esperança. É necessário que a humanidade abandone o seu individualismo e pessimismo, e ingresse na certeza de uma nova vida, alcançando-a ao deixar as trevas e caminhando na direção da cidade iluminada, cujo esplendor provém de Deus: “Sobre ti apareceu o Senhor, e sua glória já se manifesta sobre ti. Os povos caminham à tua luz” (versículos 2 e 3; cfr. Apocalipse 21,9-27).

O plano de Deus diz respeito a todos os povos, chamados a ser envolvidos pela luz da Jerusalém Celeste e pela transparência da presença de Deus que habita entre o Seu povo. O próprio Deus será o farol que orienta e atrai os povos, dos súditos aos reis. E em Jerusalém se dará a grande manifestação, sendo revelado aquilo que estava oculto. Os evangelistas verão no nascimento de Jesus a revelação de Deus e o cumprimento desta profecia.

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SALMO RESPONSORIAL 71 (72)

R.: As nações de toda a terra hão de adorar-vos, ó Senhor!

1. Dai ao rei vossos poderes, Senhor Deus,
vossa justiça ao descendente da realeza!
Com justiça ele governe o vosso povo,
com equidade ele julgue os vossos pobres. – R.

2. Nos seus dias a justiça florirá
e grande paz, até que a lua perca o brilho!
De mar a mar estenderá o seu domínio,
e desde o rio até os confins de toda a terra! – R.

3. Os reis de Társis e das ilhas hão de vir
e oferecer-lhe seus presentes e seus dons;
e também os reis de Seba e de Sabá
hão de trazer-lhe oferendas e tributos.
Os reis de toda a terra hão de adorá-lo,
e todas as nações hão de servi-lo. – R.

4. Libertará o indigente que suplica
e o pobre ao qual ninguém quer ajudar.
Terá pena do indigente e do infeliz,
e a vida dos humildes salvará. – R.

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2ª LEITURA: EFÉSIOS 3,2-3.5-6

2. Irmãos, se ao menos soubésseis da graça que Deus me concedeu para realizar o seu plano a vosso respeito
3. e como, por revelação, tive conhecimento do mistério.
5. Esse mistério Deus não o fez conhecer ao homens das gerações passadas, mas acaba de o revelar agora, pelo Espírito, aos seus santos apóstolos e profetas:
6. os pagãos são admitidos à mesma herança, são membros do mesmo corpo, são associados à mesma promessa em Jesus Cristo por meio do Evangelho.
– Palavra do Senhor.

Paulo reconhece que a missão que lhe foi confiada foi a de levar o Evangelho aos gentios e explica que o desígnio salvífico de Deus – relativo à humanidade inteira chamada a caminhar à luz do único Deus e Pai – já chegou à sua plenitude. E este segredo do mistério de Deus é a chamada à universalidade e à unidade dos povos: “os pagãos são admitidos à mesma herança, são membros do mesmo corpo” (versículo 6). O Apóstolo também se sente impulsionado, como colaborador desta missão de Jesus, a trabalhar pela difusão do Evangelho.

O verdadeiro sinal e instrumento desta visão universal da salvação desejada por Deus é a Igreja. Esta tem como tarefa a unidade dos povos, quer levando a todos à fé em Jesus através do anúncio do Evangelho, quer criando vínculos de comunhão e fraternidade, apesar das aparências e das múltiplas diversidades. Todavia, diante de um mundo dividido mas desejoso de comunhão, proclama com alegria e fé que Deus é comunhão – Pai, Filho e Espírito Santo – unidade na distinção, chamando a todos a participar da comunhão trinitária.

Com efeito, mediante a comunhão com Jesus, cabeça da Igreja, é possível a comunhão autêntica entre os homens. Esta unidade e paz universal, que os homens de todos os tempos sempre procuraram, está agora ao alcance de todos pelo nascimento do Filho de Deus. Foi Ele quem tornou realidade o mistério de Deus, isto é, a reunião de todos os povos. Para isto fomos chamados: viver em paz como verdadeiros irmãos e permanecer unidos como filhos do mesmo Pai.

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EVANGELHO: LUCAS 2,1-12

1. Tendo nascido Jesus na cidade de Belém da Judeia, no tempo do rei Herodes, eis que alguns magos do Oriente chegaram a Jerusalém,
2. perguntando: “Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo”.
3. Ao saber disso, o rei Herodes ficou perturbado, assim como toda a cidade de Jerusalém.
4. Reunindo todos os sumos sacerdotes e os mestres da lei, perguntava-lhes onde o Messias deveria nascer.
5. Eles responderam: “Em Belém, na Judeia, pois assim foi escrito pelo profeta:
6. ‘E tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és a menor entre as principais cidades de Judá, porque de ti sairá um chefe que vai ser o Pastor de Israel, o meu povo'”.
7. Então Herodes chamou em segredo os magos e procurou saber deles cuidadosamente quando a estrela tinha aparecido.
8. Depois os enviou a Belém, dizendo: “Ide e procurai obter informações exatas sobre o menino. E quando o encontrardes, avisai-me, para que também eu vá adorá-lo”.
9. Depois que ouviram o rei, eles partiram. E a estrela, que tinham visto no Oriente, ia adiante deles, até parar sobre o lugar onde estava o menino.
10. Ao verem de novo a estrela, os magos sentiram uma alegria muito grande.
11. Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Ajoelharam-se diante dele e o adoraram. Depois abriram seus cofres e lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra.
12. Avisados em sonho para não voltarem a Herodes, retornaram para a sua terra, seguindo outro caminho.
– Palavra da Salvação

A epifania é a manifestação pública da salvação trazida por Jesus, Rei Universal. Mateus ilumina o relato bíblico com alguns elementos históricos e referências do Antigo Testamento (cf. Isaías 60,1-6; Números 23-24; 1Reis 10,1-13; Miqueias 5,1), e nos fala de uma revelação extraordinária que faz os Magos ou Sábios descobrirem o Rei dos judeus como Rei do Universo.

No tocante aos Magos, foi apenas no século V que se fixou o seu número (com base nos presentes oferecidos) e só no século VIII que se lhe foram atribuídos os nomes de Gaspar, Baltazar e Belquior. Porém, para Mateus, os Magos são personagens ilustres, primícias dos pagãos, que exaltam a dignidade de Jesus, protagonista do Evangelho: eles o procuram (“Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer?”, cf. versículo 2), reconhecem o Messias (“Ajoelharam-se diante dele e o adoraram”, cf. versículo 11a) e apreciam Sua simplicidade e pobreza (“Depois abriram seus cofres e lhe ofereceram presentes: ouro [ao rei], incenso [a Deus] e mirra [ao homem]”, cf. versículo 11b).

Ao contrário, Herodes e Jerusalém ficam perturbados diante da notícia do nascimento do Messias (versículo 3) e o procuram para matá-lo.

O menino nascido em Belém é o portador da Boa Nova, mas assume, no entanto, o rosto de um fugitivo porque se vê obrigado a fugir para o Egito. O Messias é procurado e rejeitado pois a sua bandeira será a Cruz. Jesus é sinal de contradição: marginalizado pelo seu povo e procurado com esperança pelos que vêm de longe; então Belém será a nova Sião, a cidade universal das nações (versículos 5, 6 e 8), e Jerusalém descartada. O novo Povo de Deus, herdeiro das antigas promessas, é a continuidade do antigo povo, mas será formado por todos aqueles que procuram e reconhecem “a estrela da manhã” (cf. 2Pedro 1,19) com disposição interior.

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HOMILIA PATRÍSTICA: “RECEBAMOS TAMBÉM NÓS ESSA IMENSA ALEGRIA EM NOSSOS CORAÇÕES”

A estrela parou sobre o lugar onde se encontrava o Menino. Por isso, os Magos, ao verem a estrela, se encheram de imensa alegria. Recebamos também nós essa imensa alegria em nossos corações! É a alegria que os anjos anunciam aos pastores. Adoremos com os Magos; demos glória com os pastores; dancemos como os anjos, porque “hoje nasceu-nos um Salvador, o Messias, o Senhor”! O Senhor é Deus: Ele nos ilumina, não na condição divina, para atemorizar a nossa fraqueza, mas na condição de escravo, para gratificar com a liberdade aqueles que gemiam sob a escravidão! Quem é tão insensível, quem é tão ingrato, quem não se alegra, quem não exulta, quem não fica feliz com tais notícias? Esta é uma festa comum a toda Criação: são outorgados ao mundo dons celestiais; o arcanjo é enviado a Zacarias e a Maria; um coro de anjos se forma para cantar: “Glória a Deus no céu e na terra paz aos homens que são amados por Deus”!

As estrelas se despregam do céu; algum Magos abandonam o paganismo; a terra O recebe em uma gruta. Que todos tragam algo; que nenhum homem seja mal-agradecido. Festejemos a salvação do mundo! Celebremos o dia natalício da natureza humana! Hoje foi cancelada a dívida de Adão! A partir de agora não mais se dirá: “És pó e ao pó voltarás”, mas: “Unido Àquele que vem do céu, serás admitido no céu”. Já não mais se dirá: “Terás filhos em meio a dor”, pois é bem-aventurada aquela que deu a luz ao Emanuel e os peitos que O alimentaram. Precisamente por isto “um filho nos nasceu, um filho nos foi dado: Ele carrega nos ombros o principado”.

Une-te também aos que, a partir do céu, receberam com felicidade o Senhor. Pensa nos pastores demonstrando sabedoria, nos pontífices que receberam o dom da profecia, nas mulheres transbordando de alegria: Maria que é convidada por Gabriel a se alegrar; Isabel que sente João [Batista] saltar de alegria em seu ventre! Ana, que falava da Boa Nova, e Simeão, que O tomou em seus braços, ambos adoraram o grande Deus no Menino; e, longe de desprezar o que viam, ressaltam a majestade de sua divindade, pois a força divina se fazia visível através do corpo humano, tal como a luz que atravessa o cristal, brilhando diante daqueles que tinham purificado os olhos do coração. Oxalá nos encontremos também com eles, para contemplar a face descoberta da glória do Senhor como em um espelho, para que também nós possamos nos transformar em Sua imagem com crescente resplendor, pela graça e benignidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, a quem seja dada a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Amém.

(São Basílio Magno; Homilia sobre a Geração de Cristo [PG 31,1471-1475])
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MEDITAÇÃO

“Epifania” quer dizer “manifestação” e a Palavra de Deus nesta solenidade centraliza-se totalmente sobre Jesus Messias, Rei e Salvador Universal das nações. Ele não veio apenas para Israel, mas também para os pagãos, isto é, para toda a família humana. A vinda dos Magos é o início da unidade das nações, que se realizará plenamente na fé em Jesus, quando todos os homens se sentirem filhos do mesmo Pai e irmãos entre si. Os Magos, como “primeiros ouvintes” e testemunhas de Cristo, são o tipo e prelúdio de uma multidão maior de “verdadeiros adoradores”, que constituirá a messe espiritual dos tempos messiânicos: Jesus é o semeador que traz a boa semente da Palavra para todos; o Espírito faz amadurecer a semente e a Igreja é convidada a recolher em abundância o fruto semeado pela revelação de Jesus e fecundado pela sua morte.

Como da vida de comunhão e do amor entre o Pai e o Filho derivou a missão de Jesus, assim também da intimidade entre Jesus e a Igreja surge a missão dos discípulos: criar a unidade entre as raças, povos e línguas. É a Palavra que cria a unidade no amor entre os fiéis de todos os tempos. É através dela que nasce a fé e se estabelece no coração do homem aberto à verdade uma existência vital em Deus, que faz o homem contemporâneo pertencer a Cristo. Àqueles que O buscam com um coração sincero, Jesus lhes oferece unidade na fé e no amor. Neste ambiente vital todos se tornam “um” à medida que acolhem Jesus e crêem na sua Palavra: “Seremos uma só coisa não por poder crer, mas por termos crido” (Santo Agostinho).

Em Jesus todos podem ser uma só coisa e descobrir que a plenitude da vida consiste em entregar-se a Cristo e aos irmãos: isto é amar na unidade.

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ORAÇÃO

Pai Santo, que nos enviaste teu Filho como Salvador Universal dos povos, te louvamos pela manifestação de Jesus, nosso Rei. Ele é Rei sem coroa, ou melhor, é Rei com uma coroa de espinhos, pois é na sua Paixão que se pode compreender o autêntico significado de Sua soberania: uma realeza bastante diversa da que buscam os homens.

Te bendizemos, Pai, por Jesus Salvador Universal. Ele veio para salvar a todos e para reunir os filhos de Deus que andavam dispersos. Não haverá mais uma comunidade dividida e contraditória, mas uma só família reunida, que caminha na luz e no esplendor da tua glória. Todos – judeus e pagãos – somos “chamados em Cristo a participar da mesma herança, a formar um só corpo” (Efésios 3,6). E a vinda dos Magos constitui o início desta paz universal das nações. Senhor, queremos compreender cada vez melhor que a solução do conflito entre universalidade e eleição, que tantas vezes nos colocou uns contra os outros, se resolve ao entendermos que a eleição é um serviço a todo homem.

Faz, Senhor, que a igreja inteira saiba, como os Magos, caminhar sempre em direção a Belém para adorar o Rei Universal dos povos; mas, ao mesmo tempo, saiba dirigir-se ao mundo, a partir de Belém, para desempenhar a missão que Jesus lhe confiou, isto é, a de sair ao encontro de todos. Que a comunidade cristã, enquanto busca os desviados e os excluídos, saiba chamá-los à esperança e à vida, sem esquecer que a violência que pode sofrer da parte dos homens faz parte desta mesma missão.

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