Como Henoc e Elias foram arrebatados ao céu se este esteve fechado até ser aberto por Cristo?

Caríssimos irmãos,
A Paz de Jesus e o amor de Maria.
Agradeço muito a atenção que me dedicarem respondendo meu último e-mail com tanta rapidez. Se for possível, gostaria que me esclarececem mais esta dúvida.
Henoc é uma figura pouco citada na Bíblia, porém, o que se fala a seu respeito é bem incomum:
– (Gênesis 5,24) “Henoc andou com Deus e desapareceu, porque Deus o levou.”
– (Eclesiástico 44,16) “Henoc agradou a Deus e foi transportado ao paraíso, para excitar as nações à penitência.”
– (Hebreus 11,5) “Pela fé Henoc foi arrebatado, sem ter conhecido a morte: e não foi achado, porquanto Deus o arrebatou; mas a Escritura diz que, antes de ser arrebatado, ele tinha agradado a Deus (Gn 5,24).”
PERGUNTA: Se o Céu estava “fechado” para os homens antes do sacrifício expiatório de Jesus na Cruz, devemos entender que nesta “assunção de Henoc”, Deus o levou mesmo para Céu (abrindo uma excessão especial)? O levou para outro lugar? O mesmo se pode dizer do arrebatamento de Elias?
Deus que é Pai, Filho e Espírito Santo os abençoe. (Orlando)

Prezado Orlando,

Pax et Bonum!

Não é possível responder com certeza absoluta a sua questão, já que a “geografia do Além” não nos foi revelada em detalhes… Sabemos da existência do Céu (Mateus 5,12; Lucas 10,20 etc.), do Inferno (Mateus 5,22; Lucas 16,23 etc.) e do Purgatório (Mateus 5,25-26; 1Coríntios 3,13-15 etc.); sabemos ainda que na casa do Pai há muitas moradas (cf. João 14,2); que o céu tem vários níveis (cf. 2Coríntios 12,2); que Cristo desceu à “mansão dos mortos” (1Pedro 3,19) etc., mas não sabemos como tudo isso encontra-se exatamente organizado e localizado…

Há, pois, muitas conjecturas, todas elas destituídas de “autoridade final”.

Uma dessas conjecturas, talvez a mais clássica e aceita, foi apontado por um dos maiores Doutores da Igreja: São Tomás de Aquino. Com efeito, acerca da localização dos corpos de Henoc e Elias, escreve (Suma Teológica Parte III, questão 49, artigo 5, objeção 2:

“[Objeção pela qual] parece que Cristo, com sua Paixão, não nos abriu as portas do céu: 2. Antes de ocorrer a Paixão de Cristo, Elias foi arrebatado ao céu, como está escrito em 2Reis 2,11. Pois bem: então o efeito não precede a causa. Logo, parece que a abertura das portas do reino celeste não é efeito da Paixão de Cristo. [À essa objeção,] respondo:

2. Elias foi arrebatado para o céu aéreo, não para o céu empíreo, que é a mansão dos bem-aventurados. Do mesmo modo, Henoc foi levado para o paraíso terrestre, onde se crê que, juntamente com Elias, viverá até que ocorra a vinda do Anticristo”.

Por “céu aéreo”, portanto, entende São Tomás o próprio paraíso de Adão e Eva, paraíso este removido pelo Senhor para alguma parte desconhecida do céu, logo após a expulsão dos nossos primeiros pais (v. Gênese 3,23-24).

São Tomás se fundamenta, assim, no entendimento dos mais antigos, como Santo Ireneu de Lião, que escreveu no século II:

“Henoc agradou a Deus mesmo sem circuncisão e, sendo homem, foi embaixador junto aos anjos: foi levado e permanece até hoje testemunha do justo juízo de Deus, pelo fato de que os anjos transgressores caíram no juízo e o homem que tinha agradado a Deus foi levado à salvação” (Contra as Heresias 4,16,2).

E, detalhando mais ainda:

“Henoc, que agradou a Deus, foi transferido naquele mesmo corpo com que agradou a Deus, prefigurando a transladação dos justos (=referência a 1Pedro 3,19); e Elias foi levado, assim como se encontrava, na substância de sua carne, prenunciando profeticamente a assunção dos homens espirituais; o seu corpo não impediu em nada a sua transladação e assunção por Aquelas Mãos que no princípio os plasmou foram assumptos e transferidos. As mãos de Deus estavam acostumadas com Adão a unir, sustentar e levar a obra plasmada por elas, a transportá-la e situá-la onde queriam. Onde foi posto o primeiro homem? No paraíso, sem dúvida, como diz a Escritura (…) E foi de lá que foi expulso para este mundo, por ter desobedecido. E os presbíteros, discípulos dos Apóstolos, dizem que foi para lá que foram levados os que foram transferidos” (Contra as Heresias 5,5,1).

Assim exposto, verifica-se que Henoc e Elias foram levados para o Paraíso (=céu aéreo), enquanto que o “céu empíreo”, reservado para os santos, foi-nos de fato aberto pela Paixão do Senhor.

[]s
Que Deus o abençoe!

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