Teologia da Libertação, revolução e aborto

“O sistema marxista, onde governou, não só deixou uma triste herança de destruições econômicas e ecológicas, mas também uma dolorosa destruição do espírito.”
(S.S Bento XVI)

Hoje se tornou comum encontrar católicos e religiosos que se opõem abertamente aos ensinamentos da Igreja. Diferentemente do que se pensa, ou pelo menos do que se pretende, a defesa de ideologias marxistas, assim como o empenho na legalização do aborto, não é uma mera desavença de pensamentos com o Magistério, mas uma rebeldia de matéria gravíssima, que se coloca contra o pastoreio da Esposa de Cristo.

Os partidos de esquerda não mais levantam a bandeira comunista abertamente. Atualmente lançam mão de meios escusos, mas já coroados no desenrolar da história marxista. Antonio Gramsci, teórico comunista italiano, concluiu que para haver o triunfo revolucionário no Ocidente seria necessária a implantação de novas estruturas que substituiriam as “velhas” e “antigas”: a filosofia grega, o direito romano, e por fim, a moral cristã. As armas, os golpes e as tomadas de poder, tornaram-se cenas do passado. A esquerda se converteu piedosamente a cartilha do “guru marxista”, a palavra de ordem passou a ser aborto, desarmamento civil, feminismo, gayzismo, criminalização da moral religiosa.

A Europa, que há décadas convive com a hegemonia política de partidos de esquerda, hoje se depara com uma população descrente, um continente onde a esmagadora maioria das nações descriminalizaram o aborto, boa parte a eutanásia, e ainda muitas cogitam a possibilidade da liberação das drogas, como na “progressista” Holanda. Igrejas vazias, transformadas em hotéis, cassinos, bares, virou uma cena relativamente comum no Velho Continente.

Na América Latina, que tem uma população significativamente mais piedosa, a situação é mais complexa, mas nem por isso mais amena. Hoje, na América do Sul, apenas a Colômbia e Peru não têm governos de esquerda, nas outras nações os partidos governistas se esforçam para a implementação da revolução, não mais com a necessidade de armas, mas pela imposição de uma amoral ateísta, mascarada de laicismo, a toda a sociedade crente. No católico México, país dos cristeros, o aborto foi liberado mesmo com a oposição dos homens e mulheres de bem. A Igreja mexicana teve um papel importante ao lembrar da excomunhão automática aos católicos que praticam e compactuam com o aborto, “Cânone 1398 Quem procurar o aborto seguindo-se o efeito, incorre em excomunhão latae sententiae”. No Brasil, o PT no seu III Congresso confirmou como proposta de partido a liberação do aborto e o “casamento” homossexual.

Existe um grande arcabouço lógico que confirma a impossibilidade de um verdadeiro católico se envolver com partidos de esquerda. O primeiro motivo é a defesa e utilização da metodologia marxista. S.S Pio XI, na Quadragesimo Anno, diz que; “Socialismo religioso, socialismo cristão, são termos contraditórios: ninguém pode ao mesmo tempo ser bom católico e socialista verdadeiro”. O repúdio do Magistério ao comunismo é ratificado por todos os Papas contemporâneos, de Beato Pio IX até Bento XVI, essa elucidação goza do peso dos ensinamentos magisteriais ordinários, os que são intrinsecamente necessários de serem seguidos pelos católicos. Reflexo da própria natureza revolucionária marxista, fundamentada na teoria gramsciana, o aborto tornou-se bandeira comum nos partidos esquerdistas, fornecendo um segundo motivo para que não haja apoio mútuo entre católicos e socialistas. Em ambos as situações, a defesa do marxismo e do aborto, a Igreja ensina que se enquadra a excomunhão; latae sententiae, automática, para o caso da interrupção da gravidez, explicado no Código de Direito Canônico sobredito, e speciali modo, reservada a Sé Apostólica, em relação ao comunismo, como foi mostrado no Decretum Contra Communismum de S.S Pio XII; “Se os fiéis de Cristo, que declaram abertamente a doutrina materialista e anticristã dos comunistas, e, principalmente, a defendam ou a propagam, “ipso facto” caem em excomunhão (“speciali modo”) reservada à Sé Apostólica? R: Afirmativo”.

O pensamento marxista encontrou uma grande aliada na disseminação da semente revolucionária na sociedade, a teologia herética formada na Europa na década de 60. Essa linha, exportada para a América Latina, se encontrou com uma realidade social amarga, que por sua vez era acompanhada do discurso socialista. A junção do que até então parecia (e é) oposto, deu luz a teologia da libertação, que nas palavras do próprio Genésio Boff no Jornal do Brasil “não é Teologia dentro do marxismo, mas marxismo (materialismo histórico) dentro da Teologia”.

Fruto do próprio pensamento marxista, os grandes nomes dessa “teologia” iniciaram um audacioso projeto no continente, a deformação de todos os ensinamentos da Igreja. Com a corrupção de muitos seminários e noviciados, gerações e mais gerações de religiosos passaram a ser educados na linha heterodoxa dos “libertadores”. Naturalmente, como a “filha pródiga” do esquerdismo latino-americano, não demorou em corromper o que até então era (e ainda é, e continuará sendo) intrínseco ao catolicismo. Usando o discurso relativista, passou a atacar a sacralidade litúrgica, a fidelidade ao Magistério, e iniciou o projeto de defesa do aborto, casamento homossexual, etc.

A teologia da libertação absolutizou a necessidade do seguimento das “doutrinas” petistas em substituição aos ensinamentos emanados da Sé Apostólica. O “teelismo” criou católicos que não mais lutavam e se engajavam na conversão dos inimigos, mas que se convertiam às propostas destes, mesmo que para isso tivessem que repudiar aos próprios preceitos da fé. Há pouco tempo foi nacionalmente visível a presença da semente marxista plantada em setores da Igreja. O “grito dos excluídos”, que tem apoio de certos grupos da CNBB, surgiu em favor dos desfavorecidos e mais necessitados, desde os seus primórdios foi corrompido pela ideologia marxista, e no movimento desse ano, atingiu possivelmente o auge do seu descaso com a fé cristã católica. Contou com a “participação” cooperativa de ONGs que defendem a legalização do aborto, como a “Católicas pelo direito de decidir”. Essa organização, que tem como presidente Kissling, se lançou abertamente numa guerra contra a moral católica:

“O argumento dos bispos diz que o aborto é um assassinato, que abortar é matar e que a vida começa na concepção. Mas esta perspectiva católica é o lugar certo onde começar o trabalho, porque a posição católica é a mais desenvolvida. Assim, se você puder refutar a posição católica, você refutou todas as demais. Nenhum dos outros grupos religiosos realmente têm declarações tão bem definidas sobre a personalidade, quando a vida começa, fetos e etc. Assim, se você derrubar a posição católica, você ganha”.

É perceptível que esse hediondo projeto gerou um sucesso até mais eficaz do que o pretendido pela presidente da ONG. Em terras brasileiras, a moral católica não foi derrubada, mas certos grupos se converteram a amoralidade marxista (ou no mínimo andam com aqueles que defendem…”Quem anda com porcos farelo come”)! O resultado é mais benéfico, reflete na criação de uma “nova mentalidade”, relativizando a própria perenidade da Igreja.

No Brasil, cada vez mais vemos comportamentos e atitudes do arcabouço comunista passando a fazer parte do comportamento “politicamente correto” do cidadão comum. Não é perceptível a “olho nu” o alto grau de infiltração marxista na sociedade que toma todos os setores do Estado e da vida dos homens e mulheres do país. A própria teologia da libertação, condenada pela Igreja no documento da Congregação para a Doutrina da Fé Libertatis Nuntius como “uma interpretação inovadora do conteúdo da fé e da existência cristã, interpretação que se afasta gravemente da fé da Igreja, mais ainda, constitui uma negação prática dessa fé.”, fincou na nação as bases de uma estrutura bem sólida e concisa. Atualmente, graças à conscientização dos católicos acerca dos erros defendidos pelo “teelismo”, e a ação de clérigos ortodoxos e piedosos, a renovação da teologia da libertação não é tão ampla. Os seus grandes nomes estão entrando na história ou nas sombras, o que facilita a ascensão de nomes fiéis à sã doutrina.

O que se faz necessário é o despertar dos católicos. A necessidade de perceber a perversa realidade plantada pelo esquerdismo, assim como os caminhos tortuosos mostrados pela teologia da libertação, a “filha pródiga” do marxismo latino-americano.

Não dormimos com o inimigo, mas rezamos por ele!

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