Conselho para o apologista católico

Em todo dogma ou doutrina que se atenha à verdade nesses assuntos nasce, como rebento, alguma mentira. E nasce não porque, de princípio, saia algo inerente por natureza ou como causa essencial de cada coisa, mas porque é procurado com afinco que honram o germe adúltero que corrompe a verdade.

Pode-se comprovar isso primeiramente que há muito tempo especularam sobre esses assuntos e na divergência com seus predecessores ou mesmo com seus contemporâneos, e igualmente através da própria confusão em que se encontram os assuntos discutidos.

Com efeito, é certo que essa laia de pessoas não deixou nenhuma verdade sem calúnia: nem a essência de Deus, nem seu conhecimento e sua operação, nem o r. seguimento encadeado dessas coisas que nos aponta a i doutrina da piedade. Assim, existem alguns que, completamente e de uma vez para sempre, renunciam a encontrar a verdade sobre esses assuntos; outros a distorcem em vista de suas próprias opiniões; outros, por fim, fazem profissão de dúvida até sobre o evidente.

Na minha (opinião, aqueles que se preocupam com isso necessitam de duplos raciocínios: uns para defender a verdade, outros a respeito da verdade. Os raciocínios para defender a verdade se dirigem aos que não crêem ou duvidam; os raciocínios a respeito da verdade para os que têm sentimentos nobres e recebem com benevolência a verdade.

Portanto, é preciso que aqueles que desejam examinar estas questões considerem o que lhes seja útil em cada caso e, de acordo com o caso, meçam seus raciocínios e ajustem convenientemente à sua ordem, e não descuidem do conveniente e do lugar que corresponde a cada coisa, acreditando que se deva conservar sempre o mesmo princípio. Com efeito, se se olha para a força demonstrativa e para a ordem natural, os raciocínios a respeito da verdade têm a primazia sobre os raciocínios em defesa da verdade; ao contrário, se olhamos, porém, a utilidade, os raciocínios em defesa da verdade são anteriores aos raciocínios a respeito da verdade.

Assim é que o lavrador não pode convenientemente lançar as sementes na terra, se antes não arrancar todo o mato e o que pode prejudicar a boa semente; o médico também não pode aplicar medicamentos de saúde ao enfermo, se não limpa antes o mal interno ou não detém o mal que procura infiltrar-se; assim quem procura ensinar a verdade não poderá, por mais que fale dela, persuadir a ninguém, enquanto uma falsa opinião esteja agarrada à mente dos ouvintes e se oponha aos raciocínios

Fonte: fragmentos de Atenágoras de Atenas (Séc II) – Sobre a Ressurreição dos Mortos, Cap 1

 

Autor: Alessandro Lima *.
* O autor é arquiteto de software, professor, escritor, articulista e fundador do Apostolado Veritatis Splendor.

Autor: Alessandro Lima *.

* O autor é arquiteto de software, professor, escritor, articulista e fundador do Apostolado Veritatis Splendor.

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