O que dizer das viagens para fora da Terra? Há limites morais para isso?

– “O que dizer da pretensa viagem à Lua? Não deve o homem observar um limite em suas investigações?” (D.M. – Altinópolis-SP).

Não se poderia condenar, em nome da Moral cristã, o plano de se realizar uma viagem à Lua. Foi o Criador mesmo quem confiou à criatura racional a missão de dominar a natureza (cf. Gênesis 1,28). Ora, enquanto o homem não tenha evidência de que Deus lhe veda alguma tentativa neste sentido, é-lhe lícito experimentá-la.

O que nas experiências modernas há para lamentar, é apenas uma contingente consequência das mesmas: em alguns círculos, tende a se implantar mais ou menos sorrateiramente a opinião de que o homem caminha na senda de um progresso sem termo; caso a Terra se torne inóspita, pensa-se em perpetuar a espécie humana pela transferência da nossa civilização para outro planeta; as previsões concernentes ao futuro vão sendo arquitetadas sem que se ouça uma só referencia ao Supremo Autor e Legislador do Universo. Com isto vai sendo implicitamente veiculada a ilusão de que Deus é desnecessário à grandeza do homem.

Muito a propósito vêm as palavras do Santo Padre Pio XII dirigidas aos membros do VII Congresso da Federação Internacional de Astronáutica, em 20 de setembro de 1956:

– “Não vos escapa, senhores, que um projeto de semelhante envergadura (viagem interplanetária) comporta aspectos intelectuais e morais, que é impossível ignorar; postula uma certa concepção do mundo, do seu sentido, da sua finalidade. O Senhor Deus, que depositou no coração do homem o desejo insaciável de saber, não teve a intenção de por limite aos seus esforços de conquista, quando disse: ‘Sujeitai a terra’ (Gênesis 1,28). Foi a Criação inteira que Ele lhe confiou e que Ele oferece ao espírito humano, para que a penetre e possa assim compreender sempre mais a fundo a grandeza infinita do seu Criador. Se até agora o homem se sentia, por assim dizer, encerrado na terra e devia contentar-se com as informações fragmentárias que lhe chegavam do universo, agora parece que se lhe oferece a possibilidade de quebrar essa barreira e de ter acesso a novas verdades e a novos conhecimentos, que Deus colocou em profusão no mundo. O mero motivo de curiosidade ou de aventura jamais conseguiria orientar corretamente esforços de tal amplitude. Ante as situações novas acarretadas pelo desenvolvimento intelectual da humanidade, a consciência deve tomar posição; o homem deveria aprofundar o seu conhecimento de si mesmo e de Deus para se situar com mais exatidão no conjunto do mundo, para medir melhor o alcance de seus gestos. Esse esforço comum de toda a humanidade em prol de uma conquista pacífica do universo deve contribuir para imprimir na consciência dos homens o sentido da comunidade e da solidariedade, para que todos tenham mais a impressão de constituir a grande família de Deus, de serem filhos de um mesmo Pai. Mas, para penetrar essa verdade, faz-se mister (…) não menor submissão à realidade, não menor coragem, do que para a investigação científica. As mais audaciosas explorações do espaço só servirão para introduzir entre os homens novo fermento de desuniões, se não andarem de par com uma reflexão moral mais profunda e uma atitude mais consciente de dedicação aos interesses superiores da humanidade” (Discorsi e Radiomessagi, vol. 18, pp.461-462).

  • Fonte: Revista Pergunte e Responderemos nº 1 – jan/1958
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