Qual é a posição moral da Igreja perante os concursos de beleza?

– “Qual é a posição da Igreja perante os concursos de beleza, tão comuns em nossos tempos?” (Gaúcho – Cachambi-RJ).

Os concursos de beleza internacionais, tais como se têm realizado em nosso século, só podem merecer formal desaprovação por parte da consciência cristã. Levando em conta apenas a beleza física, só fazem excitar vaidade e concupiscência desregrada; haja vista a série de critérios estabelecidos (até mesmo exames médicos são prescritos) para se atribuir a vitória a tal ou tal candidata. A mentalidade que inspira esses torneios parece ser profundamente pagã ou paganizante.

Pode contudo haver quem hesite em aceitar este juízo, visto que o Santo Padre Pio XII recebeu a senhorita Carletti, jovem italiana vencedora em [um] concurso de beleza. É de notar, porém, que por tal gesto Sua Santidade se dignou reconhecer o significado de um certame diferente dos habituais, ou seja, de um concurso em que não se considerou apenas o físico humano, mas também se deu alto apreço às qualidades de espírito das concorrentes. Com efeito, a agência telegráfica United Press transmitiu ao mundo a seguinte notícia:

– “A audiência de hoje, à qual a jovem Carletti foi acompanhada por seus pais e duas irmãs, é considerada como expressão de estimulo do Papa aos concursos em que também se levam em consideração outros dotes pessoais, além da beleza física. A esbelta senhorita Carletti, que costurou ela própria o vestido com que compareceu à audiência no Vaticano, não possui apenas a beleza, mas também os seguintes predicados, que contribuíram para que lhe fosse concedido o titulo: sabe lavar e passar a ferro, encerar a casa e limpá-la com aspirador de pó; faz excelentes pastéis, guisados e spaghetti; sabe costurar, bordar, etc.; é decoradora, nadadora e ciclista; não fuma; dança com moderação; não tem interesse especial pelos automóveis; não lê histórias em quadrinhos; está sempre de bom humor e goza de perfeita saúde”.

Como se vê, a exigência e a apreciação de tais qualidades em uma jovem denotam um conceito de natureza humana que já não é o do pagão antigo ou moderno. Diante de concursos que contribuam para que as jovens se apliquem ao trabalho, ao calejamento das mãos (se necessário), levando-as a preencher a sua função na sociedade e a alcançarem o seu Fim Supremo, a Moral cristã não se mostra infensa; tais certames, longe de degradar, só fazem aprimorar a consciência; em vez de prostrar as pessoas interessadas na moleza frívola, mórbida, estimulam o cultivo da virtude. Nada impede que, juntamente com esta, se leve em apreço, dentro de certos limites, o aspecto físico das concorrentes, já que a natureza humana consta não somente de alma, mas também de corpo (corpo, porém, que em tudo há de ser subordinado ao espírito). Sabemos, aliás, que a graça sobrenatural existente em uma alma pode chegar a “transparecer” no rosto do justo, comunicando-lhe um encanto, uma graça natural, que deleita os homens (antecipa-se assim em termos pálidos o que se dará na final ressurreição da carne); a Sagrada Escritura mesma menciona a este propósito os exemplos de Judite e Ester; a hagiografia registra, entre outros, o famoso caso do Cura d’Ars.

Vê-se, pois, que a audiência concedida pelo Santo Padre Pio XII tem o significado de estimular o desenvolvimento das qualidades de ânimo da mulher no mundo moderno, não implicando, em absoluto, ratificação dos lascivos certames de beleza meramente corpórea que empolgam a sociedade contemporânea.

  • Fonte: Revista Pergunte e Responderemos nº 5:1957 – set/1957
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