Dualismo gnóstico, e separação entre alma e corpo

Prezados Irmãos do Veritatis,


Pergunto o que é dualismo e se a alma e corpo do ser é uma coisa só.Pois se morrermos entraremos na eternidade como espírto ou estaremos com o mesmo corpo,porém glorificado.Por favor,preciso que tire me está dúvida para que eu não um conceito de corpo e alma um tanto gnóstico.


Obrigado, que Deus os abençoe.

 

 

Caríssimo sr. Fabrício, estimado em Cristo,

 

A alma e o corpo são elementos distintos, que, no homem, estão unidos substancialmente, formando uma unidade.

 

Alguns teólogos, pretendendo fugir da gnose, dizem que alma e corpo são uma coisa só, ou que não se podem separar. Entre tais, encontramos Leonardo Boff e Karl Rahner. Todavia, a doutrina católica, que crê na distinção entre ambos, nada tem de gnóstica. Seria uma tese da gnose se a Igreja ensinasse que, separados corpo e alma, não formassem uma unidade substancial e como que lutassem entre si.

 

O ensino da Igreja de Cristo é bem outro. Para entendê-lo, contudo, é mister explicar alguns conceitos básicos de antropologia teológica:

 

Alma é o princípio vital de todo ser vivo. Daí dizermos quem um desenho, por exemplo, é "animado" (do latim, "anima"), quando ele "se move". Todo ser vivo tem alma. Isto está bem desenvolvido em Santo Tomás, na Suma.


A célula só se reproduz por causa da alma lá presente. Daí dizermos que Deus infunde a alma no momento da concepção. Se não assim não fosse, não poderia haver multiplicação celular.


Temos de remover de nossa mente a idéia de uma alma como se fosse um "fantasminha", uma "alma penada" vagando por aí e igual ao corpo, totalmente estranha à mentalidade católica.


Já o termo "espírito" é mais uma qualidade, o oposto de "matéria". Assim, o corpo é material, e a alma, no homem, é espiritual.


A alma é a forma do corpo, e este a matéria informada por aquela. O corpo sem a alma é morto.

Chamamos "forma" o que dá coerência a determinada matéria. Assim, um cachorro e um ser humano tem a mesma matéria (corpo, carne, ossos etc). O que os torna diferentes é justamente a forma, que no caso é a alma. O cachorro só é cachorro porque uma dada matéria foi informada com alma de cachorro. Já a bananeira, além de ter uma matéria diferente da do cachorro e do ser humano, tem uma alma diferente, uma forma diferente.


O homem, ao contrário do cachorro e da bananeira, tem uma alma espiritual. Desse modo, alma e espírito, no cachorro e na bananeira, são termos distintos: eles têm alma, mas não espírito. No homem, todavia, alma e espírito são quase sinônimos, pois sua alma é espiritual.


Nisso, por ser espiritual, a alma humana é intelectual, transcendental e imortal. A alma do cachorro e da bananeira não. Por isso, quando a alma do cachorro e da bananeira se separam do corpo, ocorrendo a morte, há tb a morte da própria alma deles. A alma dos seres vivos infra-humanos acaba com a morte.

 

Ou seja: o anjo é espírito, mas não tem alma (noutros termos, é puro espírito); a planta e o animal têm alma, mas não espírito, pois sua alma não é espiritual, mas mortal; o homem tem uma alma que é espíritual, i.e., uma alma que é também espírito.

 

No homem são substancialmente unidas a alma e o corpo, de modo que na ressurreição a alma será reunida ao corpo, à semelhança de Nosso Senhor.

 

Ao morrer, o corpo e a alma se separam. E é exatamente isso a morte: separação entre esses dois elementos. O corpo vai para a terra, decompor-se, e a alma para o lugar destinado segundo o juízo divino. Quando Jesus voltar em glória, todos ressuscitaremos: uns para a perdição, outros para a confirmação na graça.

 

Os condenados voltarão a seus corpos, os quais serão passíveis (para que sintam a pena de sentido) e incorruptíveis, conforme ensina Santo Tomás:

 

"Deve-se saber que, apesar de os corpos dos condenados serem passíveis, contudo não se corromperão, bem que isso pareça ser contrário ao que agora experimentamos, pois a paixão, quanto mais veemente, tanto mais é prejudicada a substância.


Haverão, então, dois motivos para justificarem porque a paixão, apesar de perpetuamente continuada, não prejudicará os corpos.


(…)

Desse modo, aqueles corpos sofrerão para sempre, sem se corromperam, porém." (Comp. Th., CLXXVII)

 

De outra sorte, os salvos ressuscitarão para a glória, e não mais somente almas estarão na bem-aventurança eterna, senão também os corpos. Dado que a alma e o corpo formam uma unidade indissolúvel, é próprio do homem que sejam reunidos os dois elementos no mesmo ser. Assim, a separação entre alma e corpo é temporária.

 

Não há de gnóstico nisso, pois não opomos corpo e alma um ao outro. Apenas ensina a Igreja que são distintos. Se formos analisar corretamente, gnóstica é a doutrina justamente de Boff e Rahner: em nome do combate a um platonismo que moldou a gnose dos primeiros séculos cristãos, os dois teólogos dizem que o corpo e a alma estão tão unidos que não haverá uma separação entre eles na morte. Sustentam, pois, a tese de que, com a morte, o corpo se transforma em um corpo glorioso: a alma não se separaria do corpo. Aquele corpo que vai para a terra seria outro. Ora, assim eles instauram um dualismo, justamente quando querem contra ele pelejar. Se o corpo que vai ao céu é outro, não diferente, em natureza, da alma, e é na morte que ocorre a ressurreição, essa visão é de um desprezo pelo corpo material. E isso é exatamente a gnose. Tentando combater uma gnose (inexistente) na doutrina tradicional da Igreja, aí, sim, eles acabam sendo gnósticos.

 

Espero ter ajudado.

 

Em Cristo,

 

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