Dúvida sobre interpretação da bíblia e batismo.

[Leitor NÃO autorizou a publicação de seu nome no site] Cidade/UF: Rio de Janeiro-RJ
Religião: Católica

Mensagem
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Prezados Irmãos em Cristo,

Sempre me utilizo deste site pois as pessoas que o conduzem são cheias de sabedoria. Peço a gentileza que tão logo seja possível me enviem a resposta para o que segue:

Em um debate com uma Protestante mostrei que nos Atos do Apóstolos, o eunuco da Rainha de Candace diz que não adiante ler a Bíblia, sem ter alguém que a explique (Atos 8,31).

A Resposta da Protestante foi uma balela que sei como responder, mas gostaria de contar como sempre com a ajuda do Veritatis.

A Protestante alega que o eunuco que por não conhecer a Cristo e por consequência não ter o Espírito Santo de Deus habitando nele, não podia mesmo compreender o que diziam as escrituras.

Quero respondê-la mostrando o quanto ela desconhece as Escrituras, pois existem várias passagens que mostram pessoas recebendo o Espírito Santo sem antes terem conhecido Jesus (Atos 10, Santa Isabel..) e o quanto a resposta dela é furada tentando justificar a passagem do eunuco.

Gostaria que indicassem um debate onde vocês mostram pessoas sendo batizadas mesmo antes de terem conhecido Jesus.

Desculpem-me se me alonguei demais.

Desde já agradeço o carinho e atenção.

Fraternalmente,

X.

Caro leitor,

Este episódio do Eunuco da Rainha Candace da Etiópia, mostra claramente que a Sagrada Escritura não é de livre interpretação, sobretudo em matéria de fé. Felipe explica-lhe a Escritura e apresenta-lhe o Cristo: “Começou então Filipe a falar, e, principiando por essa passagem da Escritura, anunciou-lhe Jesus.” (Atos 8,35).

O próprio Jesus Cristo já havia mostrado a necessidade de uma autoridade para explicar as escrituras, no episódio dos discípulos de Emaús:

“Porventura não era necessário que Cristo sofresse essas coisas e assim entrasse na sua glória? E começando por Moisés, percorrendo todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava dito em todas as Escrituras.” (Lc 24,26-27).

Também São Pedro exorta que nenhuma profecia da Escritura é de interpretação particular (pessoal), e alude à dificuldade de compreender certas passagens da Escritura, o que denota a necessidade de uma autoridade que expresse sem erro a verdade que a Escritura revela:

“Nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação.” (II Pd 1,21).

“Reconhecei que a longa paciência de nosso Senhor vos é salutar, como também vosso caríssimo irmão Paulo vos escreveu, segundo o dom de sabedoria que lhe foi dado. É o que ele faz em todas as suas cartas, nas quais fala nestes assuntos. Nelas há algumas passagens difíceis de entender, cujo sentido os espíritos ignorantes ou pouco fortalecidos deturpam, para a sua própria ruína, como o fazem também com as demais Escrituras. (II Pd 3,15-16).

Outro exemplo claríssimo da necessidade de uma autoridade apostólica para ensinar ou interpretar a Sagrada Escritura está na exortação de São Paulo à comunidade de Tessalônica. São Paulo pede-lhes que tomem cuidado com carta ou pretensa revelação imputada a ele, alertando-os para guardarem os ensinamentos autênticos que dele receberam por carta (Bíblia) ou oralmente (Tradição Apostólica).

“(…) não vos deixeis facilmente perturbar o espírito e alarmar-vos, nem por alguma pretensa revelação nem por palavra ou carta tidas como procedentes de nós” (II Tess 2,2).

“Assim, pois, irmãos, ficai firmes e conservai os ensinamentos que de nós aprendestes, seja por palavras, seja por carta nossa”. (II Tess 2,15).

Em fim, ensina o Magistério da Igreja:

“O ofício de interpretar autenticamente a Palavra de Deus escrita ou transmitida foi confiado unicamente ao Magistério vivo da Igreja, cuja autoridade se exerce em nome de Jesus Cristo”, isto é, foi confiado aos bispos em comunhão com o sucessor de Pedro, o bispo de Roma. “Todavia, tal Magistério não está acima da Palavra de Deus, mas a serviço dela, não ensinando senão o que foi transmitido, no sentido de que, por mandato divino, com a assistência do Espírito Santo, piamente ausculta aquela palavra, santamente a guarda e fielmente a expõe, e deste único depósito de fé tira o que nos propõe para ser crido como divinamente revelado.” Os fiéis, lembrando-se da palavra de Cristo a seus apóstolos: “Quem vos ouve a mim ouve” (Lc 10,16), recebem com docilidade os ensinamentos e as diretrizes que seus Pastores lhes dão sob diferentes formas”. (Catecismo da Igreja Católica § 85-87).

Quanto à questão de pessoas terem recebido o Espírito Santo entes de serem batizadas, temos alguns casos principalmente ente os Judeus. Santa Isabel ficou cheia do Espírito Santo ao receber a visita de Santa Maria, grávida de Nosso Senhor Jesus Cristo:

“Ora, apenas Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança estremeceu no seu seio; e Isabel ficou cheia do Espírito Santo.” (Lc 1,41).

Zacarias por ocasião do nascimento de João Batista também ficou cheio do Espírito Santo:

“Zacarias, seu pai, ficou cheio do Espírito Santo e profetizou (…)” (Lc 1,67).

Também o velho Simeão, não fora batizado e havia recebido o Espírito Santo:

“Ora, havia em Jerusalém um homem chamado Simeão. Este homem, justo e piedoso, esperava a consolação de Israel, e o Espírito Santo estava nele.” (Lc 2,25).

Os Atos dos Apóstolos nos revelam que também pagãos receberam o Espírito Santo antes de serem batizados:

“Estando Pedro ainda a falar, o Espírito Santo desceu sobre todos os que ouviam a (santa) palavra. Os fiéis da circuncisão, que tinham vindo com Pedro, profundamente se admiraram, vendo que o dom do Espírito Santo era derramado também sobre os pagãos; pois eles os ouviam falar em outras línguas e glorificar a Deus. Então Pedro tomou a palavra: Porventura pode-se negar a água do batismo a estes que receberam o Espírito Santo como nós? E mandou que fossem batizados em nome de Jesus Cristo. Rogaram-lhe então que ficasse com eles por alguns dias (At 10,44-48).

Há também o episódio (relatado nos Atos dos Apóstolos) em que alguns fieis foram evangelizados batizados, e somente depois, com a imposição das mãos dos apóstolos receberam o Espírito Santo:

“Os apóstolos que se achavam em Jerusalém, tendo ouvido que a Samaria recebera a palavra de Deus, enviaram-lhe Pedro e João. Estes, assim que chegaram, fizeram oração pelos novos fiéis, a fim de receberem o Espírito Santo, visto que não havia descido ainda sobre nenhum deles, mas tinham sido somente batizados em nome do Senhor Jesus. Então os dois apóstolos lhes impuseram as mãos e receberam o Espírito Santo.” (At 8,14-17)

Imperativo é que se saiba que cumprindo a ordem do Senhor: “Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mt 28,19).

Desde Pentecostes, quando a Igreja se manifesta publicamente ao mundo, ela vem administrando o santo Batismo a todos os fiéis:

“A partir do dia de Pentecostes, a Igreja celebrou e administrou o santo Batismo. Com efeito, São Pedro declara à multidão impressionada com sua pregação: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para a remissão de vossos pecados. Então recebereis o dom do Espírito Santo” (At 2,38). Os Apóstolos e seus colaboradores oferecem o Batismo a todo aquele que crer em Jesus: judeus, tementes a Deus, pagãos. O Batismo aparece sempre ligado à fé: “Crê no Senhor e serás salvo, tu e a tua casa”, declara São Paulo a seu carcereiro de Filipos. O relato prossegue: “E imediatamente [o carcereiro recebeu o Batismo, ele e todos os seus” (At 16,31-33. (Catecismo da Igreja Católica § 1226)

“O Batismo é, pois, um banho de água no qual “a semente incorruptível” da Palavra de Deus produz seu efeito vivificante. Santo Agostinho dirá do Batismo: “Accedit verbum ad elementum, et fit Sacramentum – Une-se a palavra ao elemento, e acontece o sacramento”. (Catecismo da Igreja Católica § 1228).

Esperando ter ajudado,

In caritate Christi,

Leandro.

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