Dúvidas sobre História da Igreja

Olá irmãos do Veritatis Splendor, que a paz de Cristo esteja convosco.
Observando uma pequena biblioteca de um amigo, encontrei um livro chamado: “Os Grandes Mistérios do Passado”, Ed. Seleções Reader’s Digest, 1996; que citou alguns fatos sobre a Igreja Católica que me intrigaram, sendo elas:
1.A Conspirações dos Cardeais (pág. 223-225).
Aqui eles relatam que o papa Leão X se desfrutava de uma vida luxuosa, com banquetes iguarias e festivais com o dinheiro da venda de mais de 2.000 cargos eclesiásticos. Ocorreu que um grande defensor de Leão X, o cardeal de Siena, Alfonso Petrucci ficou desiludido quando viu o tesouro papal ser desviado para uma guerra contra o duque de Urbino (o objetivo de Leão X era fazer de seu sobrinho Lorenzo o governador de Urbino). Sendo assim, o cardeal se voltou contra o papa, principalmente após Leão ter substituído o irmão do cardeal por um de sua família no cargo máximo de Siena e assim ter confiscado toda a fortuna da família do cardeal. O cardeal havia então subornado um médico para envenenar o papa, mas o papa descobriu o complô e mandou torturar o médico até a morte. Depois o papa descobriu mais três inimigos, os cardeais: Riario, Soderini e Adriano que caíram de joelhos depois que o papa os reprimiu. Após isso, o papa leu a sentença dos cardeais, tendo Petrucci como mentor. Petrucci foi condenado a morte e executado com um lenço de seda carmesim em volta do pescoço na fortaleza do castelo de Santo Ângelo.
2.Salvação à Venda (pág. 225).
Para bancar as enormes despesas na reconstrução da basílica de São Pedro, o papa Leão X oferecia em troca das doações em dinheiro, cartas de indulgência que absolveriam os castigos temporais dos pecados cometidos tanto no passado quanto no futuro. Um dos grandes personagens na venda de indulgências foi um frade franciscano chamado: Johann Tetzel que se servia de um trocadilho para transmitir a sua mensagem:
“Assim que no cofre uma moeda soa, do purgatório ao céu uma alma voa” .
Foi a partir daqui que Martinho Lutero escreveu 95 teses pondo em questão o valor das indulgências e condenando a sua venda. Sendo assim, em 3 de janeiro de 1521 o papa o excomungou, dando início a reforma protestante.
3.Uma Mulher no trono Papal (pág. 293-295).
No início do século IX, por volta do ano 818, um casal de missionários ingleses teve uma filha chamada Joana. Apaixonando-se por um frade aos 12 anos, Joana se vestiu de homem e ofereceu-se como noviço para o mosteiro a fim de estar junto de seu amante. Sendo assim, ela passou a se chamar João Ânglico. O embuste foi descoberto e o casal teve de fugir, juntando-se a uma peregrinação à Terra Santa. Em Atenas, o companheiro de Joana desapareceu mas, ela seguiu para Roma. Lá ela trabalhou como tabelião e em breve se tornou celebre pela sabedoria e conhecimentos teológicos. Quando o papa Leão IV morreu, em 855, Joana foi eleita unanimemente sua sucessora, subindo no trono papal como João VIII. Ocorre que ela ficou grávida e durante uma procissão da basílica de São Pedro até a residência no palácio de Latrão, ela ( ou o papa ) tropeça e cai, revelando à todos que ele era uma mulher em trabalho de parto. Assim, a multidão enraivecida pega a mulher e a criança e os arrastam para além dos muros da cidade, apedrejando-os até a morte. Com isso, foi nomeado ás pressas um novo papa, Bento III. Os historiadores da Igreja posteriormente alteraram a data de sua subida ao trono para 855, a fim de eliminar quaisquer vestígios do pontificado de Joana. Os historiadores encontram a primeira referência a papisa Joana em “Os Sete Dons do Espírito Santo”, obra de Estevão de Bourbon, um dominicano francês do séc. XIII, e depois esta história foram incorporada em “A Crônica dos Papas e Imperadores”, de um dominicano polonês do mesmo século chamado Martin de Troppau. As provas da existência do pontificado de Joana foram: uma estátua com uma mulher e uma criança no local onde ocorreu o tal escândalo, uma inscrição em meio aos bustos papais na catedral de Siena com os dizeres: “papa João VIII, uma mulher inglesa” onde no séc. XVI o papa Clemente mandou renomear o busto como “Papa Zacarias” e uma cadeira de mármore com abertura no assento que se encontrava na basílica de São João Latrão, que foi usada entre os séc. XI e XVI para um exame médico para confirmação do sexo do candidato. Por fim, o fato virou obra de um autor calvinista chamado David Blondel com o título: “Esclarecimento familiar da questão: Saber se uma mulher se sentou no trono papal em Roma.”
4.Durante a Idade Média,
Principalmente séc. X – as famílias aristocráticas de Roma exerciam enorme poder sobre a corte papal. Muitos papas mantinham abertamente e relações com suas amantes e usavam do poder papal para beneficiar a família e a carreira dos filhos como o papa Sérgio III e o caso do papa Alexandre VI que fez de um dos quatro filhos um cardeal chamado César Bórgia. Esta foi a época (segundo o livro) que mais papas e suas maracutaias passaram pela Igreja, totalizando 23 papas somente neste século.
Caros irmãos, diante do que foi relatado, peço-vos que me esclareçam segundo a fé e a Igreja para melhor entendimento e resposta perante àqueles que possam me assaltar diante tais fatos. Peço perdão pela extensão das questões, pois, quis detalhar para melhor compreensão. Desde já agradeço e espero ansioso o esclarecimento. Que Deus os abençoe e que a mãe Maria interceda para que esta obra continue sendo luz neste mundo de trevas.Um abraço.
Paz e bem! (Alexandre)

Caro Alexandre,

Que a graça e a paz de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja conosco!

Lhe agradecemos suas orações e a confiança para com nosso apostolado, que busquemos sempre fazer a vontade do Pai.

Suas dúvidas são suscitadas pelas sombras apresentadas na história da Igreja, instituição divina, porque estabelecida por Deus, mas também com sua parcela humana, composta por nós. Assim, a Santa Igreja Católica apresenta a sua essência teândrica (divina e humana).

“Mas enquanto Cristo, ‘santo, inocente, imaculado’, não conheceu o pecado, mas veio apenas para expiar os pecados do povo, a Igreja, reunindo em seu próprio seio os pecadores ao mesmo tempo santa e sempre necessitada de purificar-se, busca sem cessar a penitência e a renovação.” Todos os membros da Igreja, inclusive seus ministros, devem reconhecer-se pecadores. Em todos eles o joio do pecado continua ainda mesclado ao trigo do Evangelho até o fim dos tempos. A Igreja reúne, portanto, pecadores alcançados pela salvação de Cristo, mas ainda em via de santificação”. (Catecismo da Igreja Católica § 827)

“A Igreja é santa, mesmo tendo pecadores em seu seio, pois não possui outra vida senão a da graça: é vivendo de sua vida que seus membros se santificam; é subtraindo-se à vida dela que caem pecados e nas desordens que impedem a irradiação da santidade dela. É por isso que ela sofre e faz penitência por essas faltas das quais tem o poder de curar seus filhos, pelo sangue de Cristo e pelo dom do Espírito Santo.” (Sta. Teresinha do Menino Jesus, Ms. Autob. B.3v)

A primeira de suas dúvidas gira em torno de uma suposta “conspiração de cardeais” no Papado de Leão X. Primeiramente é preciso notar que este período da História da Igreja é marcado pelos ditos “Papas renascentistas” (1), que governaram a Igreja no período da Renascença, com forte influência do humanismo, que buscava restaurar a cultura pagã. A Igreja dolorosamente reconhece os pecados pessoais dos seus filhos, que prestaram — e prestam – grande contra testemunho. Comenta D. Estêvão Bettencout, OSB:

“Esta série [de Papas] foi gloriosa no seu aspecto mundano e renascentista; mas não se pode dizer o mesmo do ponto de vista moral – eclesiástico. Dedicaram-se ao brilho das artes, aumentando despesas com artistas e produções artísticas; isto, porém, contribuiu para assemelhar a corte papal à de soberanos meramente temporais, ficando de lado as necessidades urgentes da Igreja, que clamava por renovação de sua disciplina” (BETTENCOURT, Estêvão. Curso de História da Igreja. Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae, p.145).

Assim, os fatos apontados pelo livro em questão, apesar do caráter sensacionalista e unilateral, podem ter seus pontos de verossimilhança. Reconheço, entretanto, que não encontrei fontes históricas fidedignas que pudessem confirmar com precisão os detalhes acusados neste episódio.

Convém ressaltar, que de forma alguma, o fato de terem existido Papas com condutas morais indignas, tenha maculado a infalibilidade da Igreja ou do próprio Papa, visto que ao definir infalivelmente dogmas sobre Fé e Moral, o Santo Padre é assistido pelo Espírito Santo, a ele prometido na pessoa do Bem-aventurado Pedro. Note-se no relato do Evangelho que Pedro após ter recebido o pastoreio da Igreja das mãos de Jesus, cai em pecado O negando três vezes, mas, nem por isso Jesus o destitui, pelo contrário, o faz repetir por três vezes que O ama, e manda-lhe apascentar o Seu rebanho. (cf. Mt 16,18; Mt 26,69-75; Jo 21,15-17).

“A infalibilidade da qual quis o Divino Redentor estivesse sua Igreja dotada ao definir doutrina da fé e de Moral, tem a mesma extensão que o depósito da Revelação Divina, que deve ser santamente guardado e fielmente exposto.Tal é a infalibilidade de que goza o Romano Pontífice, o Chefe do colegiado e Mestre supremo de todos os fiéis que confirma seus irmãos na fé (cf. Lc 22, 32), quando proclama uma doutrina sobre a fé e os costumes. Esta é a razão por que se diz que suas definições são irreformáveis por si mesmas e não em virtude do consentimento da Igreja, pois foram proferidas com a assistência do Espírito Santo a ele prometido na pessoa do Bem-aventurado Pedro. E por isto não precisam da aprovação de ninguém nem admitem apelação a outro tribunal. Pois neste caso o Romano Pontífice não se pronuncia como pessoa particular, mas expõe ou defende a doutrina da fé católica como Mestre Supremo da Igreja inteira, no qual de modo especial reside o carisma da infalibilidade da própria Igreja.” (Constituição Lumen Gentium, nº 25)

Sua segunda dúvida aborda a temática “Salvação à venda”, referindo-se à questão da “venda de indulgências”, também no papado de Leão X. Primeiramente convém esclarecermos o que são realmente as indulgências.

Indulgência (2) é a remissão da pena temporal devida pelo pecado já perdoado quanto à culpa (pela Confissão). A Igreja absolve o pecador pelo Sacramento da Confissão, e lhe impõe uma satisfação adequada pelo “resquício do pecado” (violação da ordem estabelecida pelo Criador), com o passar dos séculos, a Igreja substituiu certas obras penitenciais (muito penosas) por outras mais brandas, associadas aos méritos de Cristo, num gesto de indulgência (obras indulgenciadas), tais como a oração do Terço, outras orações, esmolas, etc.

No caso relatado, há patente inverdade, com vistas a denegrir a Santa Igreja, pelo errôneo proceder de alguns de seus filhos. Veja que o livro em questão afirma que a Igreja vendia indulgências: “(…), o papa Leão X oferecia em troca das doações em dinheiro, cartas de indulgência que absolveriam os castigos temporais dos pecados cometidos…”. Ora, na realidade as indulgências promulgadas por Leão X em 1514 eram para “qualquer Cristão que recebesse os sacramentos e desse esmola” (cf. BETTENCOURT. Op. cit., p.151). Não havia um comércio de indulgências como aludido pelo fabuloso livro que pretende desvendar os “grandes mistérios do passado”!

Contudo, a Igreja reconhece os abusos praticados por oficiais eclesiásticos como o pregador de indulgências João Tetzel, que erroneamente afirmava que “para adquirir a indulgência para a alma dos defuntos, bastava a esmola sem o estado de graça do doador” (cf. Ibid.p.151).

Sobre esta querela das indulgências explica D. Estêvão Bettencourt,OSB:

“(…) a Igreja nunca vendeu o perdão dos pecados, nem vendeu indulgências. O perdão dos pecados sempre foi pré – requisito para as indulgências. Quando a Igreja indulgenciava a prática de esmolas, não tencionava dizer que o dinheiro produz efeitos magníficos, mas, queria apenas estimular a caridade ou as disposições íntimas do cristão para que conseguisse libertar-se das escórias remanescentes do pecado. Não há duvida, porém, de que pregadores populares e muitos fiéis cristãos dos séculos XV e XVI usaram de linguagem inadequada ou errônea ao falar de indulgências. Foi o que deu ocasião aos protestos de Lutero e dos reformadores”. (Ibid, p.151). [grifo nosso]

É importante ressaltar, que os protestos de Lutero não se resumiam à questão das indulgências, pois, além disso, rejeitava o ministério da Igreja em prol da salvação dos homens e assim negava os Sacramentos, a Tradição Apostólica e o Sagrado Magistério, instaurando o subjetivismo da “sola scriptura e sola fide.

Sua terceira dúvida,recai sobre uma suposta “mulher no trono Papal”. Esta lenda falaciosa é conhecida na história da Igreja como “A dita papisa Joana” (3). É uma falsa estória, surgida por volta dos anos de 886 a 1279. Diziam que uma “papisa” chamada Joana teria sido eleita à Cátedra de Pedro, a estória é deduzida de duas famílias de documentos, a Chronica universalis Mettensis, do dominicano João de Mailly e o Chronicon pontificum et imperatorum, do dominicano Martinho de Tropau, o “Polono”. A partir do século XVI se reconheceu o caráter lendário das estórias e a falsidade dos documentos.

“Apesar de leves dúvidas sobre a veracidade dessas estórias, dúvidas proferidas desde o século XIII, somente a partir de meados do século XVI se reconheceu o caráter lendário das mesmas. O século XVI, com a Renascença, foi justamente o século da crítica aos falsos documentos da história anterior”. (cf. BETTENCOURT. Op. cit. p.78).

Denunciaram a falsidade da estória: João Thurmaier († 1534), escritor católico, mas, ocultamente luterano; Onófrio Panvínio († 1568); Florimundo de Remond com o livro Erreur populaire de la papesse Jeanne, editado em Paris (1558), Bordéus (1592, 1595) e Lião (1595).

Sobre a lenda da “cadeira de mármore com abertura no assento”, deve-se a uma repugnante falácia, onde, em documentos forjados, supostos Cardeais para evitar que outra mulher fosse eleita “papa”, mandaram fazer uma cadeira de assento perfurado a fim de verificar o sexo do candidato eleito.

Desvendando a “lenda da estátua da papisa e a inscrição medieval”, explica D. Estêvão Bettencourt, OSB se tratar de uma estátua pagã que se achava junto a igreja de S. Clemente em Roma e a inscrição igualmente pagã, resquícios de titulo característico dos sacerdotes de Mitra, cujo templo antigo se achava justamente debaixo de onde fora construída a Igreja de S. Clemente em Roma:

“a lenda foi reforçada pela existência de uma estátua de mulher com criança nas mãos, que na Idade Média se achava junto à igreja de São Clemente em Roma. Essa estátua seria, conforme os cronistas medievais, a da Papisa Joana; estaria acompanhada de uma inscrição, da qual quatro variantes nos são referidas pelos historiadores da Idade Média:

“Parce pater patrum papissae prodito partum”.

“Parce pater patrum papissae prodere partum”.

“Papa pater patrum papissae pandito partum”.

“Papa pater patrum peperit papissa papellum”.

Ora os arqueólogos admitem, seja a estátua mencionada a que se encontra hoje no Museu Chiaramonti de Roma; seria uma estátua de origem pagã a representar talvez Juno que amamenta Hércules. As diversas formas da inscrição acima parecem não ser mais do que tentativas medievais para reconstituir uma frase fragmentária assim encontrada ao pé dessa estátua de origem pagã: P… PATER PATRUM P P P

Sabe-se que Pater Patrum era o título característico dos sacerdotes de Mitra (justamente debaixo da igreja de São Clemente em Roma foi encontrado grandioso santuário de Mitra). Mais ainda: sabe-se que a abreviação P P P é freqüente na epigrafia latina, significando muitas vezes própria pecunia posuit, ou seja, construiu à custa própria. Donde se conclui com verossimilhança que a “estátua da Papisa Joana” não é senão uma efígie em uso no culto de Mitra, custeada e colocada no santuário respectivo pelo sacerdote pagão P… (talvez Papinus) em inícios da era cristã. A inscrição abreviada e mutilada pela injúria dos tempos, prestando-se a interpretações diversas, teria dado lugar às conjeturas dos poetas medievais que corroboravam a lenda da Papisa Joana”. (cf. BETTENCOURT. Op. cit., p.80)

Em suma, não são verdadeiras as narrativas. Os textos possuem versões incertas e vacilantes, principalmente quanto à data do episódio; Os cronistas medievais ignoram a estória dessa “papisa”. Enfim, a Sucessão Apostólica dos Papas, não admite “vaga” para o pretenso “pontificado” da dita, “papisa Joana”.

Sua quarta dúvida é sobre o proceder de alguns Papas e a influência secular sobre os mesmos, sobretudo no século X. Pois, bem, é preciso compreender que a decadência do Império Carolíngio acaba por afetar gravemente a vida da Igreja. A divisão do império pelo filho de Carlos Magno (Tratado de Verdun 843), foi o início dessa decadência, visto que o império repartido acabou por gerar inúmeros feudos. Foi neste sistema feudal, que a investidura leiga (título de bispo e sacerdote para nobres) ganha espaço, uma vez que muitos nobres doavam suas terras à Igreja, e os reis exigindo certa submissão àqueles que tinham terras no seu reino (inclusive a Igreja) acabavam por interferir ilegitimamente na Igreja, nomeando párocos e bispos para as paróquias e mosteiros existentes em seus reinos. Fato este progressivamente combatido pela Igreja, que era duramente atacada pela ingerência desses monarcas medievais.

“A Sé de Pedro tornou-se objeto de ambição por parte da nobreza romana. Reis e nobres tratavam de dioceses e mosteiros como se fossem suas propriedades, confiando-os a representantes seus. O mal da investidura leiga tomou formas assustadoras. Seculares se apoderaram de paróquias e atribuíam a si o direito de nomear o pároco. A Igreja era rica, proprietária de imensas áreas rurais. Por isso se tornou a cobiça de todos aqueles que, como aves de rapina, se lançavam sobre a herança de Carlos Magno.” (MATOS, H. Cristiano J. Introdução à História da Igreja. 5ª ed. Belo Horizonte: O Lutador,1997.p,205).

Assim, o mal das investiduras leigas acabam por afetar grandemente o clero: “O episcopado tornou-se um clã de príncipe mundanos e, freqüentemente, de cavaleiros que se entregavam ao saque. Davam péssimo exemplo: ambição desmesurada de poder, caça de riquezas, desregramento moral – enfim, uma vida de contínua blasfêmia, por parte de pessoas consagradas” (MATOS, H. Cristiano J. Op. cit. p,205).

Não obstante a estes graves problemas que passava a Igreja nesta época, em seu seio jamais se extinguiu o amor sincero à Deus, que fez com que Santos, Papas e monges se empenhassem em reformar a disciplina da Igreja, acabando com os males que a afligiam, tenha se em conta a grande luta dos monges de Cluny, em Borgonha na França, que juntamente com outros mosteiros começou uma grande onda de reforma interna na disciplina eclesiástica. Posteriormente, Papas como S. Leão IX (1049-54), Estevão IX (1057-58), Nicolau II (1058-1061) e Gregório VII (1073-85) também lutaram bravamente contra os males que afligiam a Igreja como a investidura leiga.

“Leão IX e Estevão IX prepararam o caminho para Nicolau II (1058-1061). Combatendo o nicolaismo e a simonia, dignificaram o Papado, livrando-o de sua profunda humilhação e decadência, dando-lhe igualmente novo prestígio e liberdade. A Nicolau II coube a tarefa de romper oficialmente os cordões que o prendiam. Aproveitando-se da minoridade do novo Imperador Henrique IV (156-1106), subtraiu, em 1059, a eleição do Papa a toda influencia direta de leigos. O decreto determinou que, a partir de então o Papa seria eleito pelas Cardeais. Inicialmente não veio nenhum protesto da Alemanha. Mais tarde, contudo, a situação mudaria, ao tomar posse o jovem imperador. Felizmente, então, a direção da Igreja estaria nas mãos do Papa mais influente da reforma: S. Gregório VII (1073-1085)”. (MATOS, H. Cristiano J. Op. cit.p,225-226).

É em meio a esta situação histórica que se compreende que tenha passado pela Sé de Pedro, Papas como Alexandre VI (1492-1503).

“Em suma, não se pode justificar o procedimento desse Papa [Alexandre VI]. Ao examiná-lo o estudioso toma consciência, mais uma vez, de que não são os homens que, em última análise, governam a Igreja, mas é o próprio Deus. Alexandre VI não publicou uma só lei que deturpasse a disciplina da Igreja, nenhuma definição que servisse para fundamentar as suas desordens morais. O ouro de Deus na Igreja passa incontaminado aos homens, mesmo quando entregue por mãos sujas e indignas” (BETTENCOURT, Estêvão. Op. cit. p,148). [grifo nosso]

Após respondidas estas tuas dúvidas sobre a história da Igreja, tomamos consciência de sua singularidade em meio ao mundo, visto ser instituição divina, a nos conduzir ao Pai.

“A história da Igreja não pode ser equiparada à de outra sociedade. Com efeito sabemos que a Igreja não é apenas a soma de seus membros, mas é o Corpo de Cristo prolongado através dos séculos (I cor 12,12-21; Cl 1,24); é a continuação do mistério da Encarnação, pelo qual Deus quis revelar-se e também ocultar-se mediante nossa fragilidade, a fim de comunicar sua santidade aos homens. Conseqüentemente na história da Igreja vamos encontrar façanhas de enorme brilho (como a evangelização dos bárbaros, a preservação e a transmissão da cultura antiga, os gestos dos mártires, dos missionários, dos heróis da fé) como também nos defrontamos com momentos difíceis, como foram os séculos X e XVI(…) Nos períodos mais dolorosos de sua história, a Igreja encontrou o vigor da renovação em seu próprio bojo (…) foram os santos que, suscitados oportunamente por Deus, restauraram o fulgor da Santa Mãe Igreja”. (BETTENCOURT,Estevão.Op. cit. p,i). [grifo nosso]

Cabe ressaltar que o saudoso Papa João Paulo II no domingo dia 12 de março do ano 2000, pediu perdão pelos erros dos filhos da Igreja, reconhecendo que muitas vezes a fraqueza humana dos homens acaba por não fazer a vontade do Pai, mas, que pela graça de Deus, sua Santa Igreja Católica jamais sucumbirá em meio ao mal (cf. Mt 16,18)

“O Papa pediu perdão diretamente a Deus, reconhecendo todas as falhas cometidas na história da Igreja por cristãos que se afastaram do Evangelho (muitas vezes de boa fé, julgando até estar servindo a Deus num zelo fervoroso).” (BETTENCOURT,Estevão. Revista Pergunte e Responderemos nº 459, pp. 338-343).

Esperando tê-lo ajudado me despeço,

in caritate Christi,
Leandro.

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NOTAS:

(1) – Nicolau V (1447-55), Calisto III (1544-58), Pio II (1458-64), Paulo II (1464-71), Sixto IV (1471-84), Inocêncio VIII (1484-92), Alexandre VI (1492-1503), Pio III (1503), Júlio II (1503-13) e Leão X (1513-21).
(2) – “A indulgência é a remissão, diante de Deus, da pena temporal devida pelos pecados já perdoados quanto à culpa, (remissão) que o fiel bem-disposto obtém, em condições determinadas, pela intervenção da Igreja que, como dispensadora da redenção, distribui e aplica por sua autoridade o tesouro das satisfações (isto é, dos méritos) de Cristo e dos santos.” “A indulgência é parcial ou plenária, conforme liberar parcial totalmente da pena devida pelos pecados.” Todos os fiéis podem adquirir indulgências (…) para si mesmos ou aplicá-las aos defuntos. (cf. Catecismo da Igreja Católica § 1471).
(3) – A estória completa e sua explicação conforme consta no Curso de História da Igreja. Mater Ecclesiae de D. Estêvão Bettencourt, pode ser lida em http://www.cleofas.com.br/virtual/texto.php?doc=IGREJA&id=deb0628

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