Entrevista com d. diógenes acerca de santa gianna e de marcela de jesus

Recentemente, a Diocese de Franca/SP, foi escolhida por Deus para assistir a dois acontecimentos de profundo impacto para toda a Igreja, acontecimentos estes que nos levam a uma profunda reflexão acerca da vida humana e de sua defesa.

O primeiro foi um milagre ocorrido no ano 2.000. Um casal, Carlos César e Elisabeth (chamada nesta entrevista de “Betinha”), viveu momentos de profunda angústia quando descobriram que, humanamente falando, a gravidez desta última estava fadada ao fracasso, colocando em risco a vida da própria gestante. O casal, orientados pelo então bispo diocesano, D. Diógenes da Silva Mattes, resolveu por bem não realizar o aborto, mesmo com riscos bastantes sérios para a vida de Elisabeth. Oraram para a Beata Gianna Beretta Molla, uma mãe que morreu para evitar o aborto de sua filha, o obtiveram a graça de um milagre que levou à canonização da Santa.

O segundo dos acontecimentos foi o nascimento de uma bebê anencéfala (Marcela de Jesus) que, quando do início desta Quaresma, já completara mais de um ano de vida, contrariando todas as previsões médicas e fazendo calar a todos os que insistem em defender o aborto dos anencéfalos. Este fato é tanto mais significativo porque o nascimento de Marcela ocorreu poucas semanas após um aborto de um anencéfalo autorizado judicialmente na cidade de Franca/SP.

D. Diógenes da Silva Mattes acompanhou de perto ambos os acontecimentos e concedeu-nos uma entrevista para falar de ambos.

VS: Como aconteceu o milagre que levou à canonização de Santa Gianna?

D. Diógenes: Este milagre aconteceu no dia 17/02/2000 em Franca. Eu estava no hospital atendendo um amigo meu e, quando estava voltando para casa, uma senhora gritou dizendo: “senhor bispo, a Betinha está internada e quer falar com um sacerdote. O senhor pode atendê-la?”. Eu respondi: “posso, leve-me até ela

VS: O senhor já a conhecia?

D. Diógenes: Sim. No quarto, ela e seu esposo estavam chorando, porque a médica já tinha marcado hora para realizar o aborto. A Betinha estava com 16 semanas de gestação e tinha perdido todo o líquido amniótico. A médica dera 15 minutos para que eles autorizassem o aborto por escrito. É por isto que eles queriam falar com um sacerdote. E eu lhes disse: “Vocês dois não! Eu os conheço desde solteiros, presidi o seu casamento, quando vocês, fizeram uma consagração missionária à Igreja de Franca. Vocês comungam quase todos os dias. Vocês morram, mas não matem o nenê

VS: E em seguida?

D. Diógenes: Eu a perguntei se não estaria disposta a fazer o que “nossa Beata” (referindo-se à Beata Gianna) fizera. E ela me respondeu: “Estou disposta. Mas quem vai educar meus três filhos que já estão vivos?” E eu respondi: “Está na hora da beata fazer o milagre dela”. Pedi para que rezassem para a Beata Gianna e isto foi feito. Depois, a médica chegou a marcar duas ou três vezes a hora do aborto, mas nunca deu certo, pois sempre era chamada para algo mais importante. A certa altura, a médica disse à Betinha: “Sua fé me incomoda. Vai para casa, acompanhe a vida do bebê por este estetoscópio e, se ele morrer, corra para o hospital, pois, do contrário, você pode contrair uma infecção.” Carlos tinha duas tias enfermeiras aposentadas que ajudaram a monitorar o bebê com o estetoscópio. O bebê foi acompanhado até Maio, quando, no dia 31, ele nasceu e ganhou o nome de Gianna Maria. Os médicos ficaram espantados, pois o bebê cresceu normalmente e nasceu de uma barriga sem líquido amniótico. Ficaram tão entusiasmados com o nenê que deixaram a Betinha meio abandonada e, quando lembraram dela, ela já tinha perdido 80% do sangue. Teve que fazer transfusão, mas se salvou. Em Roma, o milagre foi chamado de “miraculone”, salvando-se a vida da mãe e da criança.

VS: Foi o senhor que levou os documentos a Roma?

D. Diógenes: Sim, o Santo Padre esperava, em Outubro de 2.000, todos os Bispos em Roma e, nesta viagem, levei os documentos originais e os entreguei ao Bispo D. Serafim Spriaficco, que acompanhara o processo de beatificação de Santa Gianna.

VS: Ela foi a primeira não religiosa canonizada em mais de cem anos?

D. Diógenes: Foi Primeira mãe de família canonizada. O bispo de Milão, Cardeal Tettamanzi, disse que, desde São Carlos Barromeu, há mais de 400 anos, a Diocese de Milão não produzia um santo, até que surgisse esta mãe, médica, com vida comum de uma senhora dona de casa.

VS: O senhor conhece os familiares de Santa Gianna?

D. Diógenes: Em 1.995, conheci o seu esposo, Pietro. A seguir, conheci seus irmãos: Virgínia, uma religiosa médica, que foi missionária na Índia; seu irmão sacerdote (Msr. José); Zita, uma farmacêutica; Alberto Beretta, um irmão médico que se fez padre capuchinho e veio até o Brasil, tendo fundado um hospital em Grajaú, no qual se deu o milagre de beatificação de Santa Gianna. Na canonização, conheci todos os filhos e a neta de Santa Gianna, chamada Hortência.

VS: Toda a família da Santa, então, é profundamente católica?

D. Diógenes: Completamente dedicada a Deus, desde os pais, Alberto e Maria, que entraram para a Ordem Terceira dos Franciscanos dirigida por padres capuchinhos.

VS: Como vive a família de Carlos César e de Elizabeth?

D. Diógenes: Hoje, exercem normalmente sua profissão e são muito solicitados para palestras em todo o Brasil.

VS: Passemos ao caso da menina Marcela. Houve pressão para que sua mãe, Cassilda, realizasse um aborto?

D. Diógenes: Não sei se houve pressão. Mas, segundo ela me contou, o médico, no pré-natal, disse que ela poderia abortar. Ela, então perguntou: “então a bebê não vai ser minha?”. O médico respondeu: “Não vai ser tua, porque ou vai nascer morta ou vai morrer pouco depois.”. E ela lhe respondeu: “Se não vai ser minha, será de Jesus”. Daí o nome “Marcela de Jesus”, que nasceu desta conversa.

VS: O senhor já a conhecia?

D. Diógenes: Não, nem ela nem o seu esposo. Conheci assim que Marcela nasceu. Eu estava muito angustiado com um outro aborto que havia sido autorizado judicialmente aqui em Franca e a pediatra, quando Marcela nasceu, me ligou e disse: “Senhor bispo, venha ver uma criança que nasceu, uma anencéfala cuja mãe não abortou”.

Dona Cassilda é uma senhora que vive na zona rural, mas que tem uma acuidade mental admirável. Eu mesmo fico impressionado com suas reflexões. Já estive três vezes com ela.

VS: Marcela foi batizada rapidamente?

D. Diógenes: Na mesma hora. A médica, doutora Regina, que freqüenta a Renovação Carismática, avisou um diácono para que estivesse na sala de parto e fizesse o batizado assim que ela nascesse. Ela nasceu e foi batizada, e, em seguida, o pai a registrou.

VS: A mãe de Marcela decidiu levar a gravidez adiante apenas motivada por sua fé católica?

D. Diógenes: Sim. Decidiu por causa de sua religião. Como ela mesmo dissera: “não vai ser minha, então será de Jesus.” Ela é muito apegada à filha e, se esta realmente morrer, o que é possível, precisará de muito apoio. Quando isto vai ocorrer, não sabemos. Atualmente, ela já está com mais de 01 ano e três meses.

VS: Na sua opinião, qual a importância destes dois acontecimentos para a Igreja do Brasil e do mundo?

D. Diógenes: A importância do milagre de Santa Gianna é que, devido a este “miraculone”, ocorreu a sua santificação. Já para a Igreja de Franca, estes dois acontecimentos são fundamentais para a Pastoral Familiar, pois a família, desde que me ordenei, ocupou o primeiro lugar em meu coração. Já trabalhei com o movimento “Familiar Cristão” em Ribeirão Preto e, depois, como bispo de Franca, acolhi o Encontro de Casais com Cristo aqui na diocese. Nossa Diocese sempre teve esta preocupação com a família.

Toda esta história de defesa da família preparou estes dois acontecimentos, junto com um fato muito triste de um aborto que foi judicialmente autorizado em nossa cidade pela anencefalia do bebê. Logo em seguida, nasceu esta criança anencéfala, que está viva entre nós há mais de um ano.

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