Eu sou o Senhor Teu Deus

“Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da mansão do cativeiro”. (Ex 20,20)

Deus Criou todas as coisas e o fez de uma forma perfeita; em virtude de Sua onipotência, amor expontâneo e infinita sabedoria, criou do nada o próprio céu, a terra, e tudo que  nela contém. Sustenta e governa todas as coisas criadas; dentre elas, nos criou e nos fez à Sua imagem e semelhança; nos deu a vida e a conserva, portanto, tem todo direito também de ser nosso Legislador.; «Vós amais tudo quanto existe e não tendes aversão a coisa alguma que fizestes: se tivésseis detestado alguma criatura, não a teríeis formado. Como poderia manter-se qualquer coisa, se Vós não quisésseis? Como é que ela poderia durar, se não a tivésseis chamado à existência? Poupais tudo, porque tudo é vosso, ó Senhor, que amais a vida» (Sb 11, 24-26).

O primeiro mandamento nos leva a reconhecer esta primazia de Deus sobre todas as coisas e sobre nós, suas criaturas, e entender isso só nos chama a ama-Lo, a sermos dóceis, –  para respeitar suas leis que nos governam e nos levam à felicidade,  – a sermos fiéis e fortes, para rejeitar o pecado que pode nos condenar.

O Senhor quando no Exodo fala do cativeiro, – se aplicarmos ao sentido amplo de salvação, –  compreenderemos que fala também a nós, que fomos arrancados das trevas e trazidos para Sua luz admirável, para o Reino de Seu amado Filho. Por Sua mediação, o Pai por misericórdia, uniu todos os homens dispersos para que não fossem mais escravos do pecado, mas que O servissem em santidade e justiça todos os dias de suas vidas, portanto, de hora em diante, não pertencemos mais a nós mesmos, mas Àquele que por nós morreu e ressuscitou. É a Cristo que pertencemos, pois Ele nos resgatou a preço de Seu sangue, quando morreu na Cruz.

“Não terás deuses estranhos diante de Mim”

Quando analisamos o decálogo, vemos claramente que os deveres para com Deus tem a primazia, e depois vemos os deveres para com o próximo, exatamente porque só amamos ao próximo na medida que amamos a Deus. Quando o Senhor dá este preceito de não termos outros deuses diante dEle, nos chama também a só a Ele adorar, pois somente Ele é o Deus verdadeiro e supremo. Único, imortal e Santo. Portanto, só a Ele devemos prestar culto de adoração.

Se Deus é imutável, eterno, único, soberano e poderoso, se é também misericordioso  –  assim se revelou quando nos deu a grande prova de Seu amor incondicional, de sua liberalidade, de Seu poder e Sua clemência, quando enviou  Seu filho quando O haviamos desobedecido frontalmente, –  nos faz compreender que devemos acreditar também que é e sempre será fiel, sem a menor sombra de injustiça. Portanto, acreditar nEle, em Sua palavra e na Sua autoridade, é consequência lógica deste reconhecimento. Porque tem todo poder, nas Sagradas Escrituras, quando Deus intima Suas ordens e prescrições, costuma dizer, para que se tenha certeza de que foi Ele quem o disse: “Eu Sou o Senhor, teu Deus”

Este Preceito é o primeiro e o maior de todos, não só pela ordem cronológica, mas também por sua natureza, dignidade e excelência. De nossa parte merece Deus amor e vassalagem num grau infinitamente maior, do que mereceria qualquer senhor ou rei. Foi Ele quem nos criou, Ele é quem nos governa, quem nos nutre desde as entranhas de nossa mãe, e quem dali nos tirou à luz do mundo. Ele que nos dá tudo quanto precisamos para a nossa vida e subsistência.

Nós que por amor e fé em Cristo levamos o nome de cristãos, não podemos ignorar os imensos benefícios de que Ele nos cumulou devido à Sua máxima bondade com que, pela luz da fé, nos fez conhecer todos estes mistérios. Sim, o Senhor não nos deixou na ignorância, além de nos ter cumulado de muitos bens. De criaturas, passamos a filhos, em Cristo Jesus.  Convém, pois, e força é repeti-lo, que nós – com maior obrigação que os outros mortais – para sempre façamos entrega e consagração de nós mesmos a Nosso Senhor e Redentor, na qualidade de escravos totalmente Seus. À Santíssima Trindade, portanto, toda nossa entrega e adoração.

O que Deus nos proíbe?

A idolatria:  Se Deus é único, porque teve Ele que nos ditar esta regra? Porque os homens, alguns deles, ao mesmo tempo que faziam procissões para O adora-lo, também veneravam uma multidão de deuses (que lógicamente foram inventados, já que não existe outros deuses, pois há um só, o nosso Senhor onipotente e santo). Muitos homens de Seu povo se contaminaram com os deuses dos pagãos, quando se deparavam em sua terras. Ao invés de lhes ensinar que havia um único e verdadeiro Deus, pela sua cegueira e desobediência, aderiam às suas práticas abomináveis, numa clara afronta a autoridade de Deus. Cegos e sem memória eram eles. Se esqueciam rapidamente da libertação que o Senhor havia operado em suas vidas – não muito diferente de hoje .

Todos aqueles que não têm fé, nem esperança, nem caridade, pecam contra este Preceito. A essa classe de homens pertencem os que caem em heresia, não crendo nas verdades que a Santa Mãe Igreja propõe a crer; os que acreditam em sonhos, agouros, e coisas sumamente supersticiosas; os que desesperam de sua própria salvação, e não confiam na bondade divina; os que se apóiam somente em riquezas, saúde, vigor corporal. (Catecismo Romano, II, b -7)

Este mandamento, apesar de falar do lugar merecido por Deus, nos permite o culto dos Anjos e Santos. Podemos e devemos venerá-los e até invoca-los que  em nada contraria ou diminui nossa adoração Àquele que é e sempre será.

“É fora de toda a dúvida que não há mais que um só Deus e um Mediador necessário, Jesus Cristo: «Unus enim Deus, unus, et Mediator cominum, homo Christus Iesus» Mas aprouve à Sabedoria e Bondade divina dar-nos protetores, intercessores e modelos, que estejam, ou ao menos pareçam estar mais perto de nós: são os Santos que, tendo reproduzido em si mesmos as perfeições divinas e as virtudes de Nosso Senhor, fazem parte do Seu corpo místico e se interessam por nós, que somos seus irmãos. Os Santos rezam, assiduamente, pela salvação dos homens (Ap 5,8), e que Deus nos outorga muitos benefícios, em consideração ao seu mérito e caridade. Se “no céu reina alegria, quando um só pecador faz penitência” , será possível que os moradores do céu não socorram os penitentes na terra? Se os invocarmos, não nos alcançarão o perdão dos pecados, e não nos garantirão a graça de Deus? Ao honrá-los, honramos o próprio Deus neles, que são reflexo das suas perfeições, invocá-los é, em última análise, dirigir a Deus as nossas invocações, pois que pedimos aos Santos sejam nossos intercessores perante o Altíssimo; imitar as suas virtudes, é imitar a Jesus Cristo, já que eles mesmos não foram santos senão na medida em que produziram as virtudes do divino Modelo. Esta devoção aos Santos, longe de prejudicar o culto de Deus e do Verbo Encarnado, não faz, pois, senão confirmá-lo e completá-lo.”(TANQUEREY, Adolph: A Vida Espiritual Explicada e Comentada. Anápolis: Aliança Missionária Eucarística Mariana, 2007.)

Daqui também se pode tirar outra conclusão. O culto e a invocação dos Santos que adormeceram na paz do Senhor, a veneração de suas relíquias e cinzas, longe de diminuírem a glória de Deus, dão-lhe o maior vulto possível, na proporção que animam e reforçam a esperança dos homens, e os induzem a imitarem os Santos. Que podemos venerá-los é doutrina definida, por muitos concílios, dentre eles: pelo Segundo Concílio de Nicéia,(ano 787), pelos Concílios de Gangres (ano 330) e de Trento, e pela autoridade dos Santos Padres.

E quem poderia exigir prova mais cabal e evidente, do que o testemunho das Sagradas Escrituras, quando celebram de maneira admirável os louvores dos Santos? Ora, se as Sagradas Escrituras apregoam os seus louvores, por que não deveriam os homens render-lhes, de sua parte, uma honra toda particular?

Não é raro ouvirmos que Deus não precisa de mediadores e que Cristo é o único mediador entre Deus e os homens. De fato Ele é O mediador de religião, quando efetuou a redenção dos homens decaídos pelo pecado. Só Ele nos reconciliou com o Pai celestial, por meio do Seu Sangue. Ele entrou uma só vez no Santo dos santos, consumou uma Redenção eterna, e não cessa de interceder por nós. É fato que ninguém vai ao Pai, senão por Cristo. Mas para não haver confusão, é preciso entendermos esta mediação dos santos, para acatarmos o que nos ensina nossa mãe Igreja, para recebermos benefícios maravilhosos, que poderiam serem inutilizados pela ignorância em relação ao assunto e também pelo fruto das distorções que se ouvem por aí.

Como disse, temos pelas Sagradas Escrituras, muitos testemunhos de louvores aos santos  –  Sagrada Escritura esta, que muitas vezes nos é pedida como única fonte da verdade, como se ela por si, fosse a fonte de todas as respostas, quando na realidade, a sagrada Tradição a completa e nos ensina de fato toda a plenitude da Revelação de Deus aos homens, Revelação esta que deve ser interpretada por quem recebeu de Cristo a autoridade para faze-lo, pois é guiada pelo próprio Espirito Santo, que a torna infalível,  – a Igreja Católica, fundada por Cristo, nosso Senhor –  e estes testemunhos não podemos desprezar.

Santo Agostinho  nos diz que Jeus não concede muitas coisas, se não houver a intervenção de um mediador e advogado (Aug. Quaest. 140 super ex). Isto se prova pelos claros exemplos de Abimelec e dos amigos de Jó. Deus perdoou-lhes, só depois que Abraão e Jó intercederam por eles. (Gen 20,17; Jó 42,8)

Lembremo-nos do exemplo do Centurião, Cristo nosso Senhor enalteceu a sua fé com os maiores elogios, apesar de ter o homem enviado ao Salvador os anciãos dos Judeus, para que lhe impetrassem a cura do servo doente. E Jesus “curou”o seu servo, a pedido seu. (Mt 8,10). Outro caso foi o do oficial real que pede pelo filho doente, e que Jesus, para fortalecer sua fé instável e imperfeita, o cura à distância, mas por sua intercessão (Jo 4,43-54)

São Paulo desejou com muita  instância, que seus irmãos vivos o secundassem com orações diante de Deus. (Rom 15,30 – 2Cor.1,11) Pois, nesse caso, as orações dos vivos não fariam menos quebra à honra e glória de Cristo que a intercessão dos Santos no céu.  – A Igreja condenou a proposição: “Nenhuma criatura, nem a Virgem bem-aventurada, nem os santos devem ocupar lugar em nosso coração; pois Deus quer ocupa-lo sózinho” – (Papa Inocêncio XI em 1687; cfr DU 12,56). Amar é tudo que nos pede  o Pai e quanto mais amamos, mais cabe amor em nossos corações. Portanto, quando amamos aqueles que foram por Deus criados, amamos a Deus acima de tudo.

Engana-se quem acha que pede aos mortos, quando se pede aos santos. Não, eles estão vivos diante de Deus, pois mereceram pelas suas vidas santas, estar diante do Pai, na bem aventurança anunciada e merecida por eles. Deus é Deus dos vivos e eles por fazerem parte da Igreja triunfante, rezam sem cessar por nós que ainda buscamos o céu, numa luta árdua,  nós que fazemos ainda parte da Igreja militante.

Quanto ao culto das relíquias, é totalmente lícita e aprovada pela Igreja, devido aos milagres que acontecem junto às sepulturas dos santos. Homens que estavam privados da vista, das mãos, de todos os seus membros, recuperam sua integridade primitiva; os mortos são restituídos à vida; os demônios são expulsos dos corpos humanos.

E são fatos que Santo Ambrósio e Santo Agostinho abonam, em suas obras, como testemunhas de absoluta confiança; não por terem ouvido, à maneira de muitos; nem por terem lido, como fazem pessoas de reconhecida autoridade; mas, por terem presenciado pessoalmente (Ambros. epist.85; Aug de civit Dei XXII 8; epist. 137 et 147).

Mas voltemos às Sagradas Escrituras. O que dizer das roupas, os lenços a sombra dos santos apóstolos, que já antes de suas morte, curavam e fortaleciam tantas pessoas?  Ora, se Deus realizava milagres através deles quando ainda estavam na terra e passíveis de pecar, quanto mais agora, bem aventurados, já estão na face do Pai?  E se seus objetos serviam aqui, porque não suas sagradas cinzas, os ossos e  outras relíquias?

Bem o demonstrou aquele cadáver, lançado por acaso na sepultura de Eliseu. Apenas lhe tocou no corpo, reanimou-se no mesmo instante.(2 Reis 13,31)

O mesmo Espírito Santo que disse: “Só a Deus honra e glória”(I Tim 1,17), também ordenou honrássemos os pais e as pessoas mais velhas. Além disso, como narram as Escrituras, santos varões que adoravam um só Deus, “adoravam os reis”, quer dizer, prostravam-se suplicantes diante de sua presença (I Sam 24,9). Se os reis podem ser reverenciados, quanto mais os anjos, que o Senhor os fez servidores e bem acima dos homens, porque são puro espírito e se decidiram por Deus na Batalha onde ocorreu a divisão. Ora, estes espíritos angélicos superam e muito qualquer dignidade real. E Deus serve-Se de Seu ministério, para o governo, não só de Sua Igreja, mas também de todas as outras coisas criadas. Pela assistência dos anjos, embora invisível aos nossos olhos, somos cotidianamente preservados dos maiores perigos, tanto da alma como do corpo. Eles oferecem a Deus, nossas orações e até nossas lágrimas. Por tal motivo, Nosso Senhor ensinou, no Evangelho, que se não se devia dar escândalo aos pequeninos, “porque os seus Anjos no céu estão contemplando, continuamente, a face do Pai que está no céu”. Eles devem, portanto, ser invocados, já porque contemplam a Deus sem cessar.

“Não farás para ti imagem esculpida, nem figura alguma daquilo que há em cima do céu, nem do que existe embaixo na terra, nem das coisas que existem nas águas, abaixo do nível da terra. Não as adorarás, nem lhes terás veneração”.

O que temos de entender neste preceito, que não há uma proibição à arte de pintar, esculpir, pois se assim fosse, contrariaria as Sagradas Escrituras onde o próprio Deus ordena que se faça imagens de querubins e a serpente de Bronze, esta que prefigurava Cristo. Podemos então compreender que esta proibição se dá quando as adoravam quase como deuses, e prejudicava o verdadeiro culto  que se deve somente à Ele.

Quando se acredita que existe nas imagens uma divindade ou uma força extraordinária, é porque não compreendeu realmente quem é Deus e por ignorância as tornem dignas de adoração e até de súplicas a elas, isto faziam os pagãos que punham nos ídolos sua esperança.  Estas sim são práticas censuradas. O que não quer dizer não se pode ter imagens, mas que se dê os ensinamentos corretos a respeito delas. Quem coloca nelas suas esperanças, deve urgentemente conhecer a Deus, único e soberano.

Assim declarou São Paulo: “Eles [os pagãos] trocaram a glória de Deus imperecível por imagens … de voláteis, de quadrúpedes, e de animais répteis”. Pois, fazendo deles figuras, veneravam todos esses animais, como se fossem o próprio Deus. Por isso, são chamados idólatras os israelitas que gritavam diante da imagem do bezerro: “Eis aí, Israel, os teus deuses que te salvaram da terra do Egito”. Pois “trocaram a sua glória pela imagem de um bezerro que come feno”.

Porque os Israelitas se contaminaram a ponto de confundir a divindade, a proibição foi feita. Era preciso alerta-los para que não fabricassem imagens da divindade e rendessem a uma criatura a honra que só a Deus é devida. Vejam que o preceito é para os que erram. Logicamente quando uma pessoa representa uma das Pessoas da santíssima Trindade, por meio de certos emblemas, que ocorrem tanto no NT quanto o Antigo, ninguém será tão obtuso a ponto de imaginar que tal imagem exprima de fato a natureza da divindade. O que elas simbolizam são propriedades e operações que a Deus são atribuidas. Portanto, quando se representa Deus, são estas operações que se quer representar.

Quando por exemplo, Daniel descreve o “ancião cheio, de dias” (Dan 4,9-10) sentado no trono, em cuja presença foram abertos os Livros , quer ele assinalar, com tal expressão, a eternidade de Deus e Sua infinita sabedoria, pelas quais perscruta todas as idéias e ações dos homens, para sobre elas lavrar sentença. Os anjos também são representados com feições humanas e com asas, para que os fiéis compreendam quanto eles são obsequiosos para com o ser humano, e como estão sempre alerta para cumprir as ordens de Nosso Senhor. Todos eles são espíritos servidores, em benefício daqueles que devem herdar a salvação. A forma de pomba e as línguas semelhantes a fogo, de que falam os Evangelhos e os Atos dos Apóstolos, são por demais conhecidas, que não se faz mister usar muitas palavras, para dizermos quais atributos assinalam a essência ao Espírito Santo.”. (Catecismo Romano)

Porque Cristo Nosso Senhor, Sua santíssima e puríssima Mãe, e todos os outros Santos, tinham uma fisionomia humana, revestidos que eram da natureza humana, sua representação e a veneração de suas imagens, além de não serem proibidas por este Preceito, foram sempre tidas como um indício sagrado e seguro de um coração reconhecido.

Portanto é lícito ter imagens dentro da igreja, e prestar-lhe culto e veneração, pois as honras a elas feitas se reportam aos seus protótipos. Mais ainda, até agora, sempre redundou nas maiores bênçãos para os fiéis cristãos.

Aos ignorantes, que ainda não conhecem a finalidade das imagens, mostra-se que são feitas para ilustrar a história de ambos os Testamentos, para renovar continuamente a sua lembrança, a fim de que a consideração dos mistérios divinos nos incuta maior fervor em adorar e amar o próprio Deus. Nos incitam a veneração dos santos que a exemplo de suas vidas, nos estimulam a imita-las.

Vale sabermos o que o II Concílio de Nicéia (Sétimo ecumenico – 24 set. – 23 de out. De 787)  – definiu sobre as imagens sagradas:

“Como que andando pela via régia e seguindo a doutrina teológica de nossos amados Padres e a Tradição católica – pois reconhecemos que ela é do Espírito Santo que a habita -, definimos com todo o rigor e cuidado que, à semelhança da figura da cruz preciosa e vivificante, assim os venerandos e santos ícones, quer pintados, quer em mosaico ou em qualquer outro material adequado, devem ser expostos nas santas igrejas de Deus, sobre os sagrados utensílios e paramentos, sobre as paredes e painéis, nas casas e nas ruas; tanto o ícone do Senhor Deus e salvador Nosso Senhor Jesus Cristo como da Senhora Imaculada nossa, a santa Deípara, dos venerandos anjos e de todos os varões santos e justos.

De fato, quanto mais os santos são contemplados no ícone que o reproduz, tanto mais os que contemplam são levados à recordacão e ao desejo dos modelos originais e a tributar-lhes, beijando-os, respeito e veneração; não, é claro, a verdadeira adoração própria de nossa fé, reservada só a natureza divina, mas como se faz para a representação da cruz preciosa e vivificante, para os santos  evangelhos e os outros objetos sagrados, honrando-os com a oferta de incenso  e de luzes segundo o piedoso uso dos antigos. Pois “a honra prestada ao ícone passa para o modelo original” (São Basílio Magno, De Spiritu Sancto 18,n.45), e quem venera o ícone venera a pessoa de quem ele é reproduzido.

Assim se reforça o ensinamento dos nossos  santos padres, ou seja, a Tradição da Igreja universal, que de um extremo ao outro da Terra acolheu o Evangelho. Assim nos tornamos seguidores do Paulo que falou em Cristo (cf. 2Cor 2,17), do divino colégio apostólico e dos santos Padres, mantendo a tradição que recebemos (cf. 2Ts 2,15). Assim podemos cantar para a Igreja os hinos triunfais à maneira do profeta: “Alegra-te, filha de Sião, exulta filha de Jerusalém; goza e regozija-te com todo o coração; o Senhor tirou de teu meio as iniquidades dos teus adversários, foste libertada das mãos dos teus inimigos. Deus é rei no teu meio, não mais verás o mal” (Sf. 3,14s septg.) e paz contigo para sempre!

Aqueles, pois, que ousam pensar ou ensinar diversamente, ou, seguindo os ímpios hereges, violar as tradições da Igreja, ou inventar novidades, ou repelir alguma coisa que foi confiado à Igreja, como o livro do Evangelho, a imagem da cruz, um ícone pintado ou uma santa relíquia de um mártir; ou que ousam transtornar com astúcia e engodo algo das legítimas tradições da Igreja universal ou usar para fins profanos os vasos sagrados ou os mosteiros santificados, nós decretamos que, os bispos ou clérigos, sejam depostos, se monges ou leigos, sejam excluídos da comunhão” (Denzinger – Hunermann – Compêndio dos símbolos, definições e declarações  de fé e moral – pag. 218 – 219).

Fonte: Catecismo Romano – pags 388 – 398, Tanquerey, Denzinger

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