Dom Fernando Arêas Rifan
Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
Campos, RJ, Brasil
INTRODUÇÃO E BÊNÇÃO EPISCOPAL
O jovem estudioso Taiguara Fernandes de Sousa pediu-me que abençoasse seu estudo O 21º CONCÍLIO REFLEXÕES SOBRE O CONCÍLIO VATICANO II, o que faço de bom coração.
Trata-se de um assunto polêmico e difícil, com muitas implicações, que levará ainda muito tempo para ser digerido e que serviu de ocasião para bons e maus momentos na Igreja.
Em minha Orientação Pastoral sobre o Magistério Vivo da Igreja, aliás citado e recomendado pelo autor, o que muito agradeço, escrevi:
O Concílio Vaticano II aconteceu num período conturbado de grande crise na Igreja e sua realização serviu de ocasião e pretexto para grandes erros, propagados em seu nome[1], gerando a confusão entre o que era realmente do Concílio e o que era difundido em seu nome, o que levou muitas pessoas a uma análise negativa a seu respeito.
Assim lamentava o Papa Paulo VI: Acreditávamos que o Concílio traria dias ensolarados para a História da Igreja. Ao contrário, são dias repletos de nuvens, de tempestades, de nevoeiros, de procura, de incerteza (Alocução de 29 de junho de 1972).
O então Cardeal Ratzinger, hoje nosso Papa, em entrevista ao Osservatore Romano, disse: Os resultados do Vaticano II parecem cruelmente opostos às expectativas de todos, começando com as do Papa João XXIII e depois do Papa Paulo VI… É fora de discussão que este período foi definitivamente desfavorável para a Igreja[2].
E o atual Papa também comentou: O Cardeal Julius Döpfner dizia que a Igreja pós-conciliar é uma grande obra de construção. Mas um espírito crítico acrescentou que é uma obra de construção onde se perdeu o projeto e cada um continua a fabricar de acordo com o seu próprio gosto. O resultado é evidente.[3]
Mas ele acrescenta, com a mesma clareza: nas suas expressões oficiais, nos seus documentos autênticos, o Vaticano II não pode ser considerado responsável por essa evolução, que, pelo contrário, contradiz radicalmente tanto a letra como o espírito dos Padres conciliares. [4]
Este aspecto negativo foi causado sobretudo pelo famigerado e pernicioso espírito do Concílio, que o então Cardeal Ratzinger chamava de antiespírito[5].
E esse espírito do Concílio impressionou tanto que até hoje, quando se quer explicar algo sobre o Concílio, alguns pensam que se está falando dele assim interpretado na linha modernista, e como se se estivesse aprovando todos os erros dali conseqüentes.
Mas não se pode esquecer que o Concílio Vaticano II foi um verdadeiro Concílio da Igreja Católica, legitimamente convocado e presidido pelo Papa Beato João XXIII[6] e continuado pelo Papa Paulo VI, com a participação de bispos de todo o mundo.
O fato de o Concílio Vaticano II ter sido pastoral não tira a sua autoridade de magistério, como bem explicou o Papa Paulo VI: Dado o caráter pastoral do Concílio, ele evitou pronunciar de uma maneira extraordinária dogmas que comportassem a nota da infalibilidade, mas ele dotou seus ensinamentos da autoridade do magistério ordinário supremo; esse magistério ordinário e manifestamente autêntico deve ser acolhido dócil e sinceramente por todos os fiéis, segundo o espírito do concílio concernente à natureza e os fins de cada documento[7].
Por isso, o autor, nessa mesma linha de pensamento, distingue a falsa interpretação modernista do Concílio infelizmente seguida por aqueles que ele intitula Tradicionalistas anti-Vaticano II da verdadeira e correta interpretação católica, dada pelo Magistério da Igreja.
É claro que existem autênticos católicos fiéis à Tradição, que guardam a Liturgia dita tradicional e aderem inteiramente ao Magistério vivo da Igreja e estão em plena comunhão com ela. Esses não são tradicionalistas anti-Vaticano II, pois o Concílio pertence ao Magistério ordinário vivo, autêntico e supremo da Igreja.
Essa adesão e religiosa submissão de espírito ao Concílio Vaticano II refere-se à sua doutrina enquanto se entende à luz da Santa Tradição e enquanto se refere ao perene magistério da própria Igreja (cf. João Paulo II, Alocução ao Sacro Colégio, 5 nov. 1979, AAS LXXI (1979/15) p. 1452). Esta religiosa submissão leva em conta a qualificação teológica de cada documento, como foi estatuída pelo próprio Concílio (Notificação dada na 123a Congr. Geral, 16 nov. 1964).
Ensina-nos o Papa Pio XII: A norma próxima e universal da verdade é o Magistério da Igreja, visto que a ele confiou Nosso Senhor Jesus Cristo a guarda, a defesa e a interpretação do depósito da Fé, ou seja, das Sagradas Escrituras e da Tradição divina[8]. Porque para explicar as coisas que estão contidas no Depósito da Fé, não foi aos julgamentos privados que o Nosso Salvador as confiou, mas sim ao Magistério Eclesiástico [9].
O presente estudo de Taiguara Fernandes de Sousa, baseado no Magistério da Igreja e enriquecido de abundantes citações e considerações, procura corajosamente entrar nesse difícil campo, com o objetivo de esclarecer e ajudar a muitos que se perdem em interpretações errôneas e cismáticas. A verdade vos tornará livres (Jo 8,32). E a verdade deve ser dita e aceita, mesmo que custe. E deve ser abraçada, mesmo que exija renúncia de antigas idéias.
Por isso, esse estudo é leitura recomendada a quantos se interessam pelo tema e amam a verdade católica.
E abençôo de coração o seu autor por seu esforço em prol da verdade, augurando que essa obra possa suscitar reflexões e conversões.
Que Maria Santíssima, Mãe da Igreja, nos guarde a todos no seu Coração Imaculado.
Campos, RJ, 11 de maio de 2008, Festa de Pentecostes.
+ Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo Titular de Cedamusa Administrador Apostólico
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[1] O Papa Paulo VI falava na “fumaça de Satanás” penetrando no Templo de Deus (Alocução de 29/6/1972) e S. S. o Papa João Paulo II lamentava: “foram espalhadas a mãos cheias idéias contrárias à verdade revelada e sempre ensinada: propagaram-se verdadeiras heresias nos campos dogmático e moral… também a Liturgia foi violada” (Discurso no Congresso das Missões, 6/2/1981).
[2] Osservatore Romano, edição inglesa, 24/12/1984. (Cf. tb.Card. Ratzinger, A Fé em crise? Rapporto sulla fede, pag. 16).
[3] Card. Ratzinger, A Fé em crise? Rapporto sulla fede, pag. 17
[4] idem, ibidem.
[5] … É o antiespírito, segundo o qual se deveria começar a história da Igreja a partir do Vaticano II, visto como uma espécie de ponto zero… Quantas antigas heresias reapareceram nestes anos apresentadas como novidade! (Card. Ratzinger, A Fé em crise? Rapporto sulla fede, pag. 21).
[6] Bula Humanae Salutis, de convocação do Concílio Vaticano II: … Depois de ouvir o parecer de nossos irmãos os Cardeais da Santa Igreja Romana, com a autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo e com a Nossa, anunciamos, indicamos e convocamos para o próximo ano de 1962, o Concílio geral e ecumênico, que se celebrará na Basílica Vaticana…
[7] Paulo VI, audiência geral de 12 de janeiro de 1966.
[8] Encíclica Humani Generis, n. 18.
[9] Carta do Santo Ofício ao Arcebispo de Boston, D. 3866.