Jesus Cristo e a sua Igreja

“Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16, 16).

“Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” (Mt 16,18).

Quando Jesus perguntara quem fosse no modo de pensar das pessoas o Filho do Homem, os Apóstolos apresentaram várias opiniões que circulavam entre os Judeus. Mas quando perguntou-lhe diretamente: “Vós o que dizeis que eu seja?” (Mt 16, 15), Pedro respondeu em nome dos Doze: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16, 16).

Diante da profissão de Fé de Pedro, eis o que Jesus responde:

“Feliz és tu, Simão filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue quem te revelou isso, mas o Pai que está nos céus. E eu te digo: Tu és Pedro e sobre esta pedra construirei a minha Igreja e as portas do inferno nunca levarão vantagem sobre ela. Eu te darei as chaves do reino dos céus, e tudo que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo que desligares na terra será desligado nos céus”. (Mt 16, 17-19).

É interessante fazermos uma pequena pausa com o fim de melhor observar o conteúdo deste texto.

“Feliz és tu…”

Esta Expressão é muito freqüente nas Escrituras quando se quer destacar alguém. Ver Mt 5, 3-11 ; Lc 6, 20-22 ; Lc 10, 23 ; 11, 27s ; 14, 15… além de várias passagens nos salmos.

“…Simão filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue quem te revelou isso, mas o Pai que está nos céus.”

Ou seja: a resposta de Pedro foi inspirada e não uma mera opinião do Apóstolo.

” E eu te digo: Tu és Pedro e sobre esta pedra… “(Kefa/Kefa).

Vale ainda notar que Jesus mudou o nome de Simão para Pedro. Ora, mudanças de nome eram usadas para marcar um fato muito importante. Um exemplo é quando Deus muda o nome de Abrão para Abraão (Gn 17), a fim de constituí-lo líder de uma futura nação: Israel.

No caso de São Pedro, a missão era outra: chefiar a Igreja deixada por Cristo, como veremos mais a seguir.

Convém também ressaltar que, como falava em aramaico, Jesus usou a mesma palavra (Kefa = Cefas = Pedro) onde atualmente lemos “Pedro e pedra”.

“…construirei a minha Igreja…”

Jesus poderia ter falado “as minhas” Igrejas, mas não o fez. Por quê? Por que o desejo de Cristo era a unidade, como Ele próprio tão bem expressa, ao falar em “um só rebanho e um só pastor”.

“…e as portas do inferno nunca levarão vantagem sobre ela.”

Na Antigüidade, as portas eram consideradas a defesa de uma cidade, ou o ponto de partida para um ataque. Portanto, eram bem preparadas. Aqui, destaca-se que nem mesmo as “portas do inferno”, por mais fortes e preparadas que estejam, não prevalecerão sobre a Igreja.

“Eu te darei as chaves do reino dos céus…”

As chaves indicam poder, acesso às portas. Aqui, trata-se das chaves da Cidade de Deus, tantas outras vezes aludidas na Bíblia, como a chave da Casa de Davi, dos profetas…

“… e tudo que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo que desligares na terra será desligado nos céus”.

Os termos ligar/desligar (asar e shera ou hithir) são muito fortes no judaísmo, e fazem referência à autoridade para julgar, tomar decisões. A excomunhão aplicada por um rabino, por exemplo, é geralmente acompanhada do termo “desligar”, no caso, desligando o dito herege da comunidade. No presente texto, os termos são usados por Cristo para delegar poderes a Pedro, necessários à condução da Igreja.

Esta Igreja continua até hoje, una e única (Mc 3, 25 ; Jo 10, 16 ; 17, 20-23 ; At 4, 32 ; I Cor 12, 12ss ; 14, 33 ; Ef 4, 3-6 ) e devidamente assistida pelo próprio Deus (Jo 14, 16-17 ; Mt 28,20).

A lista de sucessão papal (Pedro, Lino, Cleto… J. Paulo II) também mostra esta realidade.

Passemos agora a outro diálogo entre Jesus e Pedro:

Quando acabaram de comer, Jesus disse a Simão Pedro: “Simão filho de João, tu me amas mais do que estes? “Ele respondeu: “Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo”. Jesus disse: “Apascenta os meus cordeiros”. 16 Jesus perguntou pela segunda vez: “Simão filho de João, tu me amas?” Pedro respondeu: “Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo”. Jesus lhe disse: “Apascenta as minhas ovelhas”.. 17 Pela terceira vez Jesus perguntou: “Simão filho de João, tu me amas?” Pedro ficou triste por lhe ter perguntado três vezes ?tu me amas?? e respondeu: “Senhor, tu sabes tudo, sabes que eu te amo”. Disse-lhe Jesus: “Apascenta as minhas ovelhas. (Jo 21,15-17)

De pescador, Pedro passa a pastor, mas este rebanho não pertence a Pedro. Jesus lhe diz: “Apascenta os meus cordeiros”. Não é pelo fato de pastorear o rebanho que este pertence ao pastor. Pedro apenas recebe a autoridade de Jesus , e como tal, é um servidor do rebanho, da Igreja.

Um rebanho é composto por diversas ovelhas, mas constitui um só rebanho (variedade na unidade). A frente desse rebanho, Jesus estabeleceu São Pedro. Ser pastor só é concedido por Jesus ressuscitado. Ninguém pode apropriar-se da autoridade de apascentar o rebanho se Jesus Glorificado se Ele não lho conceder. Não depende da vontade humana, mas sim da escolha divina.

Um grande amor é a condição indispensável para apascentar o rebanho de Jesus. Se João é o “discípulo mais amado de Jesus”, Pedro é o “discípulo que ama Jesus”, como percebemos no diálogo. Pedro, o primeiro Papa, apesar de ter negado a Jesus três vezes, foi sempre um entusiasta por Cristo e por Sua missão. Foi assim que aprendeu a servir e não a ser servido.

A Autoridade de Pedro logo se faz notar.

Depois de Pentecostes, foi São Pedro o primeiro a falar ao povo. Também foi ao Templo para rezar, e aí fez o milagre pela fé em Jesus ressuscitado às autoridades do Templo. Julgou a Ananias e Safira. Visitou as diversas comunidades e decidiu que a Igreja devia ocupar-se também dos gentios, recebendo os não-judeus.

É também a São Pedro que Jesus disse:

“Satanás vos procurou para vos peneirar como trigo. Mas eu orei por ti, para que tua fé não falhe; e tu, uma vez convertido, confirma os irmãos”. (Lc 22, 31-32)

Eis, portanto, a missão do Papa e de toda a Igreja: confirmar os irmãos na fé. E quem é o nosso irmão? Quem é o nosso próximo? Todos. Pois, “nas fileiras do exército de Cristo, não há licenciados.” (J. M. Pudajas)

É preciso guardar o “bom depósito da fé” ( ITim 6,20 ; IITim 1, 14), permanecendo fiel a Igreja deixada por Cristo. Afinal, a fé em Cristo é uma só (Ef 4,3-6) e não há dois evangelhos (Gl 1, 6-9).

Por fim, deixemos algumas palavras do próprio São Pedro:

“Assim como houve entre o povo (de Israel) falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos doutores que introduzirão seitas perniciosas. Renegando deste modo o Senhor, que os resgatou, atrairão sobre si uma ruína repentina. Muitos os seguirão em suas licenciosidades. Por sua causa o caminho da verdade será blasfemado.” (II Pe 2, 1ss).

Facebook Comments

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.