Jesus Cristo é o fundamento e o fim da educação católica

“Eu sou o Senhor teu Deus, que te fez sair do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de minha face” (Êxodo 20,2-3).

Como nossos leitores bem sabem, nosso Apostolado tem se empenhado em reavivar a “identidade católica” dos denominados “colégios confessionais”, publicando uma série de artigos que analisam em detalhes as contradições e os paradoxos que se encontram nessas “instituições ‘católicas’ de ensino”, boa parte oriundos da influência da não menos contraditória e paradoxal Teologia da Libertação que ocupa postos importantes de direção e condução do ensino religioso[1]. Não é pois à toa que escutamos dizer que “a escola católica tem vergonha de ser católica”[2], de modo que não ensina o que a fé e o Magistério da Igreja determinam.

Pois bem. Em um de nossos últimos artigos[3], apreciamos com total serenidade as diversas espécies de ensino religioso presentes nas escolas públicas e particulares do Brasil e, abordando mais de perto o caso das “escolas católicas”, concluímos que as duas únicas espécies de ensino religioso cabíveis – e em conformidade com os documentos oficiais da Igreja – seriam somente o “confessional” (o mais clássico e tradicional até meados da década de 1990) ou o “pluriconfessional” (o mais lógico e quiçá honesto para as escolas que possuem também alunos não-católicos ou que obrigam a freqüência às aulas de ensino religioso).

Em virtude de tudo isso, temos recebido diversos e-mails (ou lido comentários em outros sites e blogs que reproduziram os nossos artigos[4]) de pais e professores verdadeiramente católicos que nos dão conta das graves dificuldades que enfrentam, uma vez que o colégio (ou então a sua direção) querem (ou impõem) uma “direção ecumênica ou interreligiosa”, que muitas vezes implica na adoção de programas ou livros de ensino “religioso” que pouco ou nada têm à ver com a acima mencionada “identidade católica”, isto quando também não “revogam” o ensino oficial da Igreja.

É óbvio que, diante disso, temos novamente que relembrar o mais básico de tudo: “A instrução e educação na escola católica deve fundamentar-se nos princípios da doutrina católica”[5]. Ou, como expõe muito propriamente o recente Documento de Aparecida:

“A missão primária da Igreja é anunciar o Evangelho de maneira tal que garanta a relação entre a fé e a vida tanto na pessoa individual como no contexto sócio-cultural em que as pessoas vivem, atuam e se relacionam entre si. (…) Portanto, quando falamos de uma educação cristã, entendemos que o mestre educa para um projeto de ser humano no qual habite Jesus Cristo com o poder transformador de sua vida nova. (…) Se a ordenação tem a Cristo como fundamento e fim, então esta educação está recapitulando tudo em Cristo e é uma verdadeira educação cristã; se não, pode falar de Cristo, mas corre o perigo de não ser cristã. (…) Deste modo, estamos em condições de afirmar que no projeto educativo da escola católica, Cristo o Homem perfeito, é o fundamento em quem todos os valores humanos encontra sua plena realização e, a partir daí, sua unidade. (…) Portanto, a meta que a escola católica se propõe com relação às crianças e jovens, é a de conduzir ao encontro com Jesus Cristo vivo, Filho do Pai, irmão e amigo, Mestre e Pastor misericordioso, esperança, caminho, verdade e vida e, dessa forma, à vivência da aliança com Deus e com os homens. Faz isso colaborando na construção da personalidade dos alunos, tendo Cristo como referência no plano da mentalidade e da vida” (grifos nossos)[6].

Com efeito, erram gravemente as escolas ditas “católicas” que reduzem o seu “programa de ensino religioso” a uma mera e artificial “cultura religiosa”, no qual todas as religiões e seus respectivos deuses e/ou mestres, por mais auto-excludentes que sejam, são colocados em “pé de igualdade” com Cristo Jesus, Senhor Nosso, o “Filho Unigênito de Deus”[7], “único Mediador entre Deus e os homens” (1Timóteo 2,5), “o Caminho, a Verdade e a Vida” para que se chegue ao Pai (cf. João 14,6). Nada, portanto, mais condenável pela Igreja[8] e pela própria Bíblia[9] que o relativismo e o indiferentismo religiosos, frutos de um ecumenismo ou de um diálogo interreligioso mal aplicados ou propositadamente deturpados, visando atender outros fundamentos e fins que não o próprio e único Senhor nosso, Cristo Jesus.

Por outro lado, considerando que não poucas dessas “escolas” são dirigidas por congregações ou institutos religiosos dominados ou, ao menos, influenciados pela Teologia da Libertação [Marxista], sabemos quão difícil será mudar prontamente os rumos do “ensino [des]religioso” que proporcionam (e até defendem com unhas e dentes!), pois geralmente estão fechados e insensíveis à verdadeira Palavra de Deus que liberta, preferindo enxergar em Jesus um “camarada” revolucionário, alguém mais para Che Guevara do que para Filho do Deus da Paz, verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, como sempre atestou e ensinou a Santa Igreja.

Conseqüentemente, nessas escolas, programas e livros que destoam da “cartilha vermelha” da Teologia da Libertação ou que podem “ocasionar constrangimentos” (segundo as palavras de alguns “diretores” ou “orientadores educacionais”), não têm a mínima chance de prosperar. É o que explica o fato de certas editoras “católicas” (também entre aspas neste caso) se curvarem a esse mercado[10], lançando obras que igualam todas as crença religiosas, evitando-se a todo custo falar do nome de Cristo, ou então “dando vida” ao tal “Jesus libertador”, de quem provavelmente Karl Marx e muitos comunistas devem ter lhe plagiado as idéias… Eis os paradoxos… No entanto, ou o professor de ensino religioso se enquadra “nessa linha” ou certamente será demitido ou substituído.

É possível, porém, que alguém diga: “Existem muitos professores de religião que têm interesse em oferecer um ensino não destituído da identidade católica, tendo autonomia para escolher os livros ou montar o programa, embora a direção, por absoluta falta de recursos, não tenha condições de implantar o ensino pluriconfessional[11], nem possa se dar ao luxo de dispensar alunos de outras confissões religiosas, sob pena de acabar fechando as portas”. O que fazer neste caso?

Novamente, devemos nos ater àquelas palavras com que de certa forma o Documento de Aparecida resume a educação católica: JESUS CRISTO É O FUNDAMENTO E O FIM DA EDUCAÇÃO CATÓLICA. Sendo Cristo o Fundamento, todo o edifício do ensino religioso deve ser contruído sobre Ele e a partir Dele; e sendo Cristo também o Fim, para Ele devem convergir todos os meios empregados nessa disciplina escolar. Caso contrário, como também destaca o Documento, “pode falar de Cristo, mas corre o perigo de não ser cristã”.

Com efeito, os professores de ensino religioso que tiverem autonomia para tanto, considerando que “devem distinguir-se pela retidão de doutrina e probidade de vida”[12], têm o grave dever moral de adotar ou desenvolver um programa que claramente coloque e demonstre Cristo como fundamento e fim, “em quem todos os valores humanos encontra sua plena realização e, a partir daí, sua unidade”[13], sem que, com isto, se desprezem aqueles valores religiosos e morais que também as outras religiões e confissões cristãs reconhecem como legítimos e autênticos, ou seja, aquelas “sementes de verdade e de bondade” presentes nelas, de que nos fala o Concílio Vaticano II, sem que isto implique necessariamente indiferentismo, relativismo, irenismo, laxismo ou outra coisa que o valha.

Contudo, outra pessoa poderia replicar: “Ainda que esses professores de ensino religioso tenham autonomia quanto ao programa a ser adotado, costumam eles também dar aula de outras disciplinas, quer na mesma escola, quer em outras escolas, de modo que não encontram tempo suficiente para criar um programa cuidadoso assim. Por outro lado, sabe-se que as editoras de livros didáticos ou não atendem essa brecha do mercado editorial ou, quando atendem, geralmente suas obras estão impregnadas de orientações diametralmente contrárias ao ensinamento da Igreja, como a própria Teologia da Libertação, ou então tendem para um indiferentismo e relativismo de fato constrangedores”.

Temos que reconhecer que tal reclamação tem fundamento… E de fato, já tivemos a infeliz surpresa de constatar em certo livro, adotado por diversas escolas católicas do Brasil, o absurdo de se propor a realização, pelos alunos, de uma “feira esotérica” dentro de suas escolas!!!! Imagine agora o caro leitor – que quis dar uma educação cristã para seus filhos – adentrando, com sua esposa, parentes e amigos, no pátio de uma dessas escolas “católicas” e, ao som dos mantras e músicas “new-age”, se depararem com inúmeras barraquinhas de cristais, estátuas de deuses orientais, leitores de bola de cristal e baralhos, astrólogos, necrólogos e toda espécie de artes formalmente proibidas pela Bíblia e pela própria Igreja… e tudo maravilhosamente planejado e organizado pelos seus próprios filhos, professores e diretores católicos!!!

Ocorre que a dificuldade para se encontrar bons livros de ensino religioso no mercado editorial é decorrência direta de a grande maioria estar projetada para servir o ensino religioso ministrado nas escolas públicas (pois são as que proporcionam mais retorno, evidentemente), onde realmente não é possível oferecer algo muito além do que uma pequenina “cultura religiosa” e um abreviado “denominador comum” quanto aos valores…

Mesmo assim, é possível encontrar livros para suprir essa lacuna nas escolas católicas que querem, de fato, manter a identidade católica sem, no entanto, se fechar para alunos de outras religiões ou confissões cristãs. Um bom exemplo para o Ensino Fundamental II (6º a 9º anos) que podemos citar é a Coleção “De Mãos Dadas”, de autoria de Avelino A. Correia e Amélia Schneiders, publicada pela Editora Scipione[14]. Tal obra, sem entrar nos detalhes da doutrina católica, oferece uma visão global, mas ao mesmo tempo não superficial, sobre Jesus Cristo e os valores genuinamente cristãos, não deixando de notar quando tais valores são vividos também por outras religiões. No final de cada volume existe ainda uma seção denominada “Cultura Bíblica” que proporciona aos alunos uma maior compreensão e intimidade com a Bíblia Sagrada e, no Suplemento do Professor, a assessoria pedagógica oferece importantes subsídios e orientações, de modo que o professor terá condições de manter a identidade católica (p.ex.: apontando as diferenças entre a Bíblia católica e a Bíblia protestante), além de demonstrar para os seus alunos que o fundamento e o fim são, de fato, Jesus Cristo, respeitando e fazendo notar as “sementes de verdade e bondade” que existem fora do Cristianismo.

Devemos, por fim, recordar mais uma vez que é dever da Igreja, através de suas instituições de ensino, oferecer e ajudar na educação verdadeiramente cristã de nossos filhos, até porque, de outro lado, também é dever de qualquer cristão educar seus filhos na fé da Igreja e prestar total apoio às suas instituições, em especial as escolas católicas. A partir do momento em que tais escolas perdem sua identidade católica, além de se tornarem um grande obstáculo para a educação cristã dos filhos de pais católicos (e não poucas vezes de um “catolicismo não-católico”!), passam a ser ainda “escolas comuns”, como qualquer outra, sem o “diferencial sagrado” que as distingue… Tornam-se tão somente mais uma gota no vasto oceano do mesmismo… Um mero paradoxo profano-religioso…

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NOTAS:
[1] RAVAZZANO, Pedro. Apostolado Veritatis Splendor: ESCOLAS CATÓLICAS OU “ESCOLAS DA LIBERTAÇÃO”?. Disponível em https://www.veritatis.com.br/article/4619 . Desde 15/10/2007; RAVAZZANO, Pedro. Apostolado Veritatis Splendor: O MARXISMO E A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO. Disponível em https://www.veritatis.com.br/article/5257 . Desde 1/8/2008; etc. * [2] DELMANTO, Renato. Apostolado Veritatis Splendor: A ESCOLA CATÓLICA E A VERGONHA DE SER CATÓLICA. Disponível em https://www.veritatis.com.br/article/4763 . Desde 9/4/2008. * [3] NABETO, Carlos Martins. Apostolado Veritatis Splendor: AS DIVERSAS ESPÉCIES DE ENSINO RELIGIOSO. Disponível em https://www.veritatis.com.br/article/5119 . Desde 23/4/2008. * [4] Por exemplo: Blog Vida Nova, disponível em http://blog.cancaonova.com/vidanova/2008/04/18/escolas-catolicas-ensino-verdadeiramente-catolico/ . Desde 18/4/2008. * [5] Código de Direito Canônico, cânon 803, §2, 1ª parte. * [6] V CELAM. Documento [Final] Aparecida: A EDUCAÇÃO CATÓLICA, nºs 331, 332, 335 e 336. * [7] Cf. Símbolo Niceno-Constantinopolitano. * [8] Veja-se, p.ex.: KASPER, Walter. Vaticano: Intervenção durante a Conferência pelo 40º Aniversário do Decreto Conciliar “Unitatis Redintegratio”.Disponível em: http://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_councils/chrstuni/card-kasper-docs/rc_pc_chrstuni_doc_20041111_kasper-ecumenism_po.html . Acessado em 8/11/2008. * [9] “Não terás outros deuses diante da minha face” (Êxodo 20,3); “Não seguireis outros deuses entre os das nações que vos cercam” (Deuteronômio 6,14); “Não há Deus fora de mim” (Isaías 45,21); “Eu sou o Senhor teu Deus, desde a saída do Egito. Não conheces outro Deus fora de mim, não há outro Salvador senão eu” (Oséias 13,4); “No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus. (…) E o Verbo se fez carne e habitou entre nós; e nós vimos a sua glória: a glória que o Filho único recebe do seu Pai, cheio de graça e de verdade.” (João 1,1.14); “Eu e o Pai somos um” (João 10,30); “Dei-lhes a glória que me deste, para que sejam um, como nós somos um” (João 17,22); “Portanto, se com tua boca confessares que Jesus é o Senhor, e se em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” (Romanos 10,9); etc. * [10] Sim! A marxista Teologia da Libertação criou um paradoxal mercado capitalista, bastante movimentado e rentoso, e cada vez mais diversificado, que proporciona o sustento e a divulgação de suas ideologias pseudo-libertárias que de católicas não têm nada. * [11] Para maiores detalhes sobre o ensino pluriconfessional, veja-se: NABETO, Carlos Martins. Apostolado Veritatis Splendor: AS DIVERSAS ESPÉCIES DE ENSINO RELIGIOSO. Disponível em https://www.veritatis.com.br/article/5119 . Desde 23/4/2008. * [12] Código de Direito Canônico, cânon 803, §2, 2ª parte. * [13] V CELAM. Documento [Final] Aparecida: A EDUCAÇÃO CATÓLICA, nº 335. * [14] Editora Scipione, Coleção “De Mãos Dadas”: http://www.scipione.com.br/lista_didatico.asp?pagina=2&inicial=2&nivel=&bt=1&titulo_didatico=de%20m%E3os%20dadas . Acessado em 8/11/2008. Para uma resenha sobre esta obra, leia o artigo “Coleção ‘De Mãos Dadas’: Ensino Religioso” (https://www.veritatis.com.br/article/5530 ).

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