Jesus já pagou pelo pecado na Cruz. Então, qual o sentido das penitências e jejuns?

[Leitor autorizou a publicação de seu nome no site] Nome do leitor: Peter
Cidade/UF: PR
Religião: Outra

Mensagem
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Conforme a doutrina da expiação , Cristo morreu na Cruz e pagou os pecados de todos os homens em todos os tempos.  Segundo esta doutrina através da Fé em sua morte vicária nós temos acesso a  justificação. Assim sendo, por que a Igreja ainda insiste em penitências, jejuns, confissões e missas propiciatórias para o perdão dos pecados se Cristo já pagou por todos eles?

A bíblia diz:”Onde há remissão de pecados, “já não há oferta pelo pecado” (Hebreus 10:18)

Caríssimo sr. Peter, muito estimado em Jesus Cristo,

Obrigado por sua confiança em nos escrever.

Antes de tudo, convém demonstrar que o senhor, como todo protestante, faz confusão entre o pecado e seus efeitos. Lutero ignorava a distinção entre essas duas realidades, e daqui parte toda a sua série de equívocos, da qual não escapam as denominações que se seguiram à Reforma, notadamente na área da soteriologia.

O pecado já foi pago por Cristo, claro. E a salvação por Ele obtida na Cruz nos é aplicada pela fé e pelos sacramentos. Mas, além do pecado em si mesmo considerado, restam as conseqüências dele.

Os jejuns e toda as demais penitências não são para pagar pecado algum. O pecado já foi pago por Cristo, Nosso Senhor, no madeiro do qual pendeu a salvação do mundo. Confundir pecado com sua conseqüência é um erro. O perdão dos pecados é concedido por Deus ao aplicar os méritos de Cristo, conquistados na Cruz, sobre o pecador arrependido, ordinariamente mediante a absolvição no sacramento da Reconciliação (e pelo Batismo, claro).

Já ilustrei, em outro artigo, com uma comparação. Faço-a novamente:

Ocorre que, a cada pecado, dois efeitos surgem: a culpa (ou pena eterna), e a pena strictu sensu (ou pena temporal). Mais ou menos como um criminoso que, por seu delito, atinge a vítima e também a sociedade. Pagando o preço de seu crime (violando a ordem social), deve ser apenado. Já em relação à vítima direta de sua ação violenta, deve, além da pena (prisão, por exemplo) a ser cumprida conforme o Direito, indenizar pelos danos que aquela sofreu.A pena criminal é uma analogia à culpa, à pena eterna; e a indenização um tipo da pena temporal. A confissão apaga a culpa, dispensando o cumprimento da pena eterna por ela. Na verdade, não há uma dispensa, e sim uma substituição, visto que o sacrifício de Cristo (dito vicário, i.e., substitutivo) foi feito em nosso benefício: na Cruz, Jesus paga o preço de nosso pecado, e na confissão ao sacerdote (ou no ato perfeito de contrição, quando não é possível, em situações excepcionais, a aproximação deste sacramento) este benefício (a graça, o mérito de Nosso Senhor) nos é aplicado.

(…)

Outro exemplo é o da tábua com pregos: nossa vida, comparada a uma tábua, tem nos pregos os pecados, que são retirados no sacramento da Penitência, restando, todavia, os furos, os buracos, que precisam ser “tapados” por boas obras (mortificação procurada, penitência imposta, e penas da vida).
Por isso, há um propósito na mortificação, nas espirituais (orações impostas pelo confessor, esmolas, atos de piedade etc) e nas diversas modalidades corporais (entre as quais, além do cilício e das disciplinas, estão o jejum, a abstinência de carne e outras). Quem os pratica (e todos os católicos são obrigados a determinadas penitências, mínimas, como a abstinência de carne e o jejum na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa) deseja alcançar certos fins: submeter o corpo à alma e a vontade à inteligência; abster-se de coisas lícitas (carne, por exemplo, ou, no caso do cilício, a ausência da dor) para melhor renunciar às ilícitas, i.e., pecaminosas; unir seus próprios sacrifícios pessoais ao Sacrifício de Cristo na Cruz; reparar as conseqüências dos pecados já perdoados (notem: não é para pagar o pecado, pois ele já foi limpo por Jesus na Cruz e tal perdão se torna presente quando o fiel recebe os sacramentos, sobretudo o Batismo e a Confissão); procurar a santificação não só da alma como do corpo, numa visão integral do ser humano; adquirir disciplina e constância, adestrando a vontade. A aceitação resignada das penas da vida, o cumprimento das penas dadas pelo confessor e a procura de penas livremente (jejuns, abstinências, cilícios, disciplinas) pelo fiel católico não é algo a ser feito para pagar pelo pecado, e sim para satisfazer pela conseqüência.

Em Cristo,

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