Leitor comenta sobre a chaga da pedofilia eclesiástica

[Leitor autorizou a publicação de seu nome no site] Nome do leitor: Alex A. Borges
Cidade/UF: Patos de Minas – MG
Religião: Católica

Mensagem

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A PAZ DE CRISTO aos irmãos do Apostolado Veritatis Splendor!

Nestes dias em que o Papa Bento XVI está visitando os EUA, ele tem instistentemente, com grande amor e zelo de Pastor universal da Igreja de Cristo, falado da chaga da pedofilia eclesiástica que atingiu terrivelmente os EUA em 2002!

NA época, o filósofo Olavo de Carvalho denunciou o que estava por trás desse grande mal em um artigo seu, na revista Época, de 29-04-2002:

“Num livro recém-publicado, Goodbye! Good Men: how Catolic Seminaries Turned away Two Generations of Vocations from the Prieshood, o reporter Americano Michael S. Rose mostra que pelo menos desde 1970 vários movimentos esquerdistas e gays dos Estados Unidos têm colocado gente sua nos departamentos de psicologia dos seminários, no intuito de perverter os critérios seletivos para a ordenação sacerdotal, bloqueando a entrada de postulantes vocacionalmente dotados e forçando o ingresso maciço de homossexuais no clero.”

E lança o seguinte desafio:

“Terá alguém coragem de empreender um investigação semelhante a de Rose no Brasil? Ou continuarão achando que justiça e bom jornalismo consistem em dar o caso por julgado, com base na premissa a priori de que é preciso suspeitar da Igreja e nunca, nunca do imaculado movimento gay?”

Gostaria, portanto, de fazer um apelo a este apostolado para que trate da questão, visto que ela não se restringe aos EUA; e como, temos sofrido na pele também aqui no Brasil precisamos imensamente de vocações verdadeiras, que darão bons frutos.

Cordialemnte, Alex.

Caro Alex,

Primeiramente agradeço sua participação e confiança neste Apostolado leigo, e peço suas orações para que Deus continue utilizando este instrumento para a propagação de seu Reino e para a Glória de Deus.

Quanto à sua mensagem, não tive oportunidade de ter contato com o livro de Michael S. Rose, porém não considero impossível o que diz. De fato, pode ter ocorrido que algumas pessoas tenham, de um modo ou de outro, através do acompanhamento psicológico de seminaristas, feito com que muitas vocações sinceras não tivessem chegado a termo, enquanto passavam adiante muitas pessoas que depois teriam mais possibilidade de se tornar uma vergonha para toda a Igreja.

Quanto a uma pesquisa-investigação deste porte no Brasil, não nego que seria interessante, mas não considero que este Apostolado tenha meios concretos para fazê-la, e não imagino quem, no Brasil, possa conduzi-la. Porém, gostaria de chamar sua atenção para os fatos abaixo, dando apenas uma visão geral do que quero transmitir, sem pretender esgotar o assunto:

1- Podemos chamar de “Psicologia clássica” uma visão de homem, de base Aristotélica, utilizada na formação dos seminários e ensinada em todas as Universidades Católicas até o início do século XX. Neste modelo de pensamento, o ser humano é visto como uma unidade composta por um corpo físico, comportando suas características “vegetativas” (nutrição, reprodução) e mesmo “animais” (sensação e memória); e por uma alma, que conteria as características imateriais (intelecto e vontade). As virtudes da alma controlam e administram os impulsos do corpo. Assim, a virtude da temperança opõe-se ao impulso sexual, e impede que se opte pela promiscuidade. Em resumo, a virtude da temperança é o que permite a vida civil e familiar, bem como a castidade por motivos religiosos.

2- A Psicologia clássica foi substituída, nos seminários e Universidades Católicas, por volta dos anos 50 e 60, pela Psicologia freudiana. No trabalho de Freud, assim como no trabalho de muitos de seus seguidores, a visão é materialista. Não há espaço para considerações sobre virtudes. Além do mais, Freud considerava a religião como uma simples projeção das neuroses humanas, e considerava que a tentativa de reprimir os impulsos sexuais era anormal, e fonte de sofrimentos e patologias. Com relação à homossexualidade, há muitos estudos de seguidores de Freud que postulam ser ela apenas mais uma possibilidade (perfeitamente natural e normal) de formação do ego do indivíduo, dependendo de suas relações, principalmente com os pais na infância. O homossexualismo constava nos Manuais de Diagnóstico de Doenças Mentais, como o DSM (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders), até um certo tempo, porém hoje não consta mais como patologia.

3- Em muitos de nossos seminários atualmente, os candidatos ao sacerdócio são avaliados e até mesmo acompanhados durante um tempo por psicólogos formados na visão contemporânea da Psicologia, que, entre outras vertentes (também “perigosas” para a fé, por sinal), inclui a freudiana. Daí se pode concluir que não é nem mesmo necessário que o psicólogo seja um esquerdista ou gayzista imbuído de más intenções ao ajudar a selecionar e acompanhar as vocações. Sua própria formação e sua própria base científica e epistemológica, por si só, já é um empecilho para a frutificação de virtudes e para a escolha e o incentivo de candidatos que tenham nas virtudes sua força, enquanto fica mais fácil considerar como “normais” aqueles que têm, de uma forma ou de outra, mais “espaço” em sua psique para a liberação dos impulsos sexuais. Alguns autores afirmam que o resultado dessa substituição da Psicologia clássica pela freudiana, ocorrida por volta dos anos 50 e 60, veio mostrar seus resultados somente após algum tempo. Uma das conseqüências teria sido a recente crise de abusos sexuais por parte de padres, nos Estados Unidos, assunto que voltou à tona nestes dias de abril de 2008, com a viagem do Papa àquele país. A respeito, se tiver oportunidade, leia um artigo de Patrick Guinan: “Modern Psychology and Priest Sex Abuse”.

Considero essa questão muito importante, de fato um grande problema, que mereceria maior atenção por parte dos formadores e responsáveis eclesiais. Penso que a solução seria voltar a dar predominância à visão clássica de base Aristotélica, que durante tanto tempo serviu como fundamento para toda uma civilização ocidental e para a consideração da virtude da castidade como importante e valorizada, e não como fonte de sofrimentos. O que podemos fazer, a princípio, é rezar para que Deus providencie tudo de acordo com Sua Santa Vontade, e que guie os seminaristas e formadores na direção correta. Adicionalmente, podemos divulgar mais o assunto, a fim de que seminaristas, formadores e fiéis em geral possam tomar conhecimento dessa realidade, e ter subsídios para poder fazer algo a respeito.

Agradeço novamente sua participação, e despeço-me esperando ter contribuído.

A Paz de Cristo,

Daniel Pinheiro

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