Leitor indaga a respeito das benzedeiras

Boa Tarde!!!

Bom, primeiramente, gostaria de parabenizá-los por este instrumento de transmissão de fé e das doutrinas da nossa Santa Igreja.

Sempre tive uma grande dúvida com relação às benzedeiras. Até hoje acredito que a “cura” que elas proporcionam vem através das orações, acompanhadas de muita fé.

Sempre ouvi dizer, também, que não é qualquer um que pode sair por aí se dizendo um “benzedor” ou “benzedeira”. Tem q ser passado do pai ou da mãe.

Sou de família com fortes raízes católicas e todos sempre creram muito nisso, inclusive, tenho familiares que são benzadeiras.

Portanto, gostaria de saber, como é a visão da Igreja perante o assunto. Se é favorável, uma vez que é apenas através da oração que buscam a cura, sem a invocação de espíritos (como ocorre no espiritismo) ou se é contrária, informando, por gentileza, qual o motivo.

Desde já, me faço muito grato pela atenção que me for dispensada.


Caríssimo sr. Antonio Carlos Colletti Júnior, muito estimado em Jesus Cristo,

Agradeço, primeiramente sua participação, sua vontade de aprender – com uma louvável cobrança dos fundamentos de nossa exposição -, e sua confiança em nosso site. Por outro lado, agradeço também seus elogios, frutos mais de sua caridade do que de nossos méritos pessoais.

A questão das benzedeiras é um pouco complexa, mas tentarei resumir alguns pontos para o senhor, de modo que, com certa didática, fiquem esclarecidas algumas dúvidas sem questionar a boa-fé deste ou daquele exercente de tão antiga prática.

1) Deus pode curar. Nem sempre o faz, mas sempre pode. Sua cura está em relação de Seu desejo por nossa salvação. Na medida em que a cura de uma doença física pode auxiliar, no caso concreto, para que alguém se santifique, Ele cura. Esse o critério de Deus: a santificação. Do contrário, se a doença for causa de santificação, nos convida o Senhor a suportá-la com paciência, a qual vai sempre acompanhada de não poucas graças. Recomendo-lhe a leitura da Carta Apostólica Salvifici Doloris, de João Paulo II, no seguinte link: https://www.veritatis.com.br/article/37

2) A cura divina pode dar-se através do milagre (ou seja, uma manifestação além da natureza, como que “suspendendo” a natureza temporariamente, como a cura de AIDS, o crescimento de uma perna, a cura de cegueira etc), da prodígio (nem todo o prodígio é milagre, mas todo o milagre é um prodígio: este é uma intervenção não contrária à natureza, mas muito improvável de ocorrer por meios naturais, p. ex., a cura de um câncer) ou uma mera intervenção (não é um prodígio, mas Deus resolveu curar mesmo assim, v.g., uma gripe, uma pneumonia). Esses os modos. Quanto aos meios, podem ser a intervenção direta de Deus, os recursos da medicina e da farmácia, ou a oração dos homens (litúrgica ou não-litúrgica, feita por vivos ou por mortos).

3) Os santos podem obter, pois, de Deus a cura. Os homens vivos aqui na terra também. Alguns simplesmente rezam para que seus entes queridos sejam curados, e estes o são. Outros são agraciados com um autêntico carisma de cura, um dom celestial para exercer o poder divino de curar.

4) De qualquer modo, essa tentativa de obter de Deus a cura por meio dos homens não deve se substituir à oração pública da Igreja com o mesmo fim, i.e., mediante os sacramentos, as bênçãos etc. Mais do que por “carismáticos”, a cura divina através dos homens exerce-se por Sua Igreja!

5) Não é impossível, contudo, que práticas extra-litúrgicas, privadas alcancem a cura divina. Pode dar-se o caso de tal oração por cura ser feita em um grupo de pessoas, um grupo de oração, ou mesmo submetendo-se a uma pessoa notadamente católica e de vida santa e piedosa.

6) Há que se distinguir: existem benzedeiras e benzedeiras. Algumas podem, sim, ser portadoras de um autêntico carisma de cura. Outras, mesmo sem o dom, podem, por sua vida santa, por sua obediência a Deus e à Igreja por Ele instituída, alcançar ordinariamente dos céus a cura (não necessariamente um milagre, mas um prodígio, ou uma mera intervenção). Sem embargo, muitos casos de benzedeiras são simplesmente uma manifestação da mais pura superstição.

7) Não se pode dar valor mais ao pseudo-rito da benzedeira do que à oração em si ou à fé. Nem exercer o ofício como se fosse uma operação mágica. Também não é correto desprezar a doutrina da Igreja, seus sacramentos (notadamente o da Unção dos Enfermos), suas bênçãos, sua disciplina. Há que se acatar a vigilância dos legítimos responsáveis eclesiásticos. Uma coisa é alguém muito santo (e santidade se vê pelos frutos, pela adesão à doutrina da Igreja, ao Papa, pelas virtudes praticadas, pela conformidade com a vontade de Deus) obter, por suas preces, a cura; outra, bem distinta, é alguém recorrer à mera repetição de fórmulas (muitas vezes estranhíssimas e sem significado algum!), com notável cheiro de superstição e magia.

8) Há ainda um outro aspecto a considerar: o da bênção dada pela benzedeira. Não se pode equipará-la à dada por um ministro ordenado. Os leigos (religiosos, pais de família, padrinhos, benzedeiros) dão uma bênção invocativa, i.e., pedem a bênção, pedem que Deus abençoe. Os ordenados, diáconos e sacerdotes, não pedem a Deus que abençoe, e sim dão, conferem a bênção: sua bênção é constitutiva, tornando a coisa benta, em decorrência do poder da Ordem.

Recomendo que, de posse dessas “dicas”, o senhor leia um documento da Santa Sé sobre um tema correlato: a Instrução sobre as orações para alcançar de Deus a cura, da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, à época presidida pelo hoje Papa Bento XVI. Está em http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_20001123_istruzione_po.html

Espero que tenha ajudado.

Em Cristo,

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