Leitor pentecostal questiona o uso de imagens na Igreja Católica

Olha, eu até concordo com suas explicações, em partes. Confeccionar imagem é normal, mas pra que usar dentro da igreja? Muitas pessoas vão se curvar diante delas, dai é que vem o pecado! Pois a Bíblia diz que é normal que aconteça o escândalo, mas ai de quem por ele vier. E se alguém se curva diante da imagem comete idolatria, mas quem permitiu é culpado, pois colocou pedra de tropeço! (Mauro Antonio)

Prezado Mauro Antonio,

A paz de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo!

A simples existência das leis não é suficiente para impedir que erros e delitos sejam cometidos. A existência da nossa Constituição Federal, por exemplo, não impede que desmandos e crimes sejam cometidos diariamente, inclusive por aqueles que deveriam zelar pelo fiel cumprimento da Carta Magna, como magistrados e parlamentares.

No caso das imagens de Nosso Senhor Jesus Cristo, da Virgem Maria, dos anjos e dos santos, a Igreja Católica é clara quanto ao seu correto uso, mas isso não impede que ocorram eventuais abusos por parte dos fiéis. Veja alguns exemplos do claro ensinamento da Igreja:

“E dizes que nós adoramos pedras, paredes e painéis de madeira. Não é assim como dizes, ó Imperador, mas para nossa memória e nosso estímulo, e para que nossa mente lerda e fraca seja dirigida para o alto por meio daqueles aos quais se referem esses nomes, invocações e imagens, e não como se fossem deuses, como tu dizes – longe de nós! De fato, não pomos nossa esperança nesses . E se é uma imagem do Senhor, dizemos: Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, socorre-nos e salva-nos. Se <é> da sua santa Mãe, dizemos: Santa mãe de Deus, mãe do Senhor, intercede junto ao teu Filho, nosso verdadeiro Deus, para a salvação das nossas almas! Se <é> do mártir, : Ó santo Estêvão, protomártir, tu que derramaste o sangue pelo Cristo, com tua liberdade de falar, intercede por nós! E para qualquer mártir que venceu o martírio, assim dizemos, elevamos semelhantes orações por meio deles. E não é que chamamos os mártires de deuses, como dizes, Ó Imperador.” (Papa Gregório II, Carta ao imperador Leão III, entre 726 e 730, Denzinger, n. 581.)

“De fato, quanto mais são contemplados no ícone que os reproduz, tanto mais os que os contemplam são levados à recordação e ao desejo dos modelos originais e a tributar-lhes, beijando-os, respeito e veneração; não, é claro, a verdadeira adoração própria da nossa fé, reservada só à natureza divina, mas como se faz para a representação da cruz preciosa e vivificante, para os santos evangelhos e os outros objetos sagrados, honrando-os com a oferta de incenso e de luzes segundo o piedoso uso dos antigos. Pois ‘a honra prestada ao ícone passa para o modelo original’, e quem venera o ícone venera a pessoa de quem nele é reproduzido.” (II Concílio de Nicéia [7º Ecumênico], 24 set. – 23 out. 787, Denzinger, n. 601.)

“Além disso, deve-se conceder a devida honra e veneração às imagens de Cristo, da Virgem Deípara e dos outros Santos, a serem tidas e conservadas principalmente nos templos, [e isso] não por crer que lhes seja inerente alguma divindade ou poder que justifique tal culto, ou porque se deva pedir alguma coisa a essas imagens ou depositar confiança nelas como antigamente faziam os pagãos, que punham sua esperança nos ídolos [cf. Sl 135,15-17], mas porque a honra prestada a elas se refere aos protótipos que representam, de modo que, por meio das imagens que beijamos e diante das quais descobrimos e prostramos, adoramos a Cristo e veneramos os Santos cuja semelhança apresentam. Tudo isso foi sancionado pelos decretos dos Concílios, especialmente o segundo Sínodo de Nicéia, contra os iconoclastas. (…) Se nestas práticas santas e salutares se tiverem difundido abusos, o santo Sínodo deseja ardentemente eliminá-los, de modo que não sejam erigidas imagens que favoreçam doutrinas errôneas e para as pessoas simples sejam ocasião de algum erro perigoso. (…) Na invocação dos Santos, na veneração das relíquias e no uso sagrado das imagens afaste-se qualquer superstição, elimine-se toda torpe ganância, evite-se, enfim, toda sensualidade…” (Concílio de Trento, Decreto sobre a invocação, a veneração e as relíquias dos santos e sobre as imagens sagradas, 3 dez. 1563, Denzinger, nn. 1823 e 1825.)

“Ensine, portanto, aos fiéis, que o verdadeiro culto dos Santos não consiste tanto na multiplicação dos atos externos quanto na intensidade do nosso amor efetivo, pelo qual, para maior bem nosso e da Igreja, procuramos nos Santos ‘o exemplo de sua vida, a participação de sua comunhão e a ajuda de sua intercessão’. Por outro lado, mostrem aos fiéis que as nossas relações com os bem-aventurados, quando concebidas à luz da fé, de modo algum diminuem o culto de adoração, por Cristo e no Espírito, prestado a Deus Pai, mas pelo contrário o enriquecem ainda mais.” (Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática sobre a Igreja “Lumen Gentium”, 21 nov. 1964, Denzinger, n. 4171.)

“2131. Com base no mistério do Verbo encarnado, o sétimo Concílio ecuménico, de Niceia (ano de 787) justificou, contra os iconoclastas, o culto dos ícones: dos de Cristo, e também dos da Mãe de Deus, dos anjos e de todos os santos. Encarnando, o Filho de Deus inaugurou uma nova «economia» das imagens.

2132. O culto cristão das imagens não é contrário ao primeiro mandamento, que proíbe os ídolos. Com efeito, «a honra prestada a uma imagem remonta (63) ao modelo original» e «quem venera uma imagem venera nela a pessoa representada» (64). A honra prestada às santas imagens é uma «veneração respeitosa», e não uma adoração, que só a Deus se deve:

«O culto da religião não se dirige às imagens em si mesmas como realidades, mas olha-as sob o seu aspecto próprio de imagens que nos conduzem ao Deus encarnado. Ora, o movimento que se dirige à imagem enquanto tal não se detém nela, mas orienta-se para a realidade de que ela é imagem» (65).” (Catecismo da Igreja Católica, nn. 2131 e 2132.)

“Cân. 1188 – Mantenha-se a praxe de propor imagens sagradas nas igrejas, para a veneração dos fiéis; entretanto, sejam expostas em número moderado e na devida ordem, a fim de que não se desperte a admiração no povo cristão, nem se dê motivo a uma devoção menos correta.” (Código de Direito Canônico, Cânon 1188.)

O uso de imagens de Nosso Senhor Jesus Cristo, da Virgem Maria, dos anjos e dos santos remonta aos primórdios da fé cristã, e foi aprovado pela Igreja com a sabedoria e a autoridade a ela concedidas por Deus, para a edificação dos fiéis e para a maior glória de Deus. Com efeito, proibi-lo por causa de eventuais abusos seria o mesmo que, por exemplo, proibir absoluta e irrestritamente a leitura da Bíblia por causa do uso indevido que dela fazem alguns pastores mal-intencionados.

Não obstante, é importante ressaltar que mesmo os católicos mais simples e incultos, quando prestam reverência e veneram as imagens sagradas, não vêem nelas mais do que elas efetivamente são, isto é, retratos em três dimensões de Jesus Cristo, de Maria, dos anjos e dos santos. E mesmo esses católicos não “adoram” as imagens nem aqueles que as imagens representam, muito menos vêem Maria e os santos como se fossem “deuses”, sabem que todo o poder vem de Deus e que os muitos milagres que acontecem pela intercessão da Virgem Maria e dos santos não são realizados por eles, mas sim por Deus mediante a intercessão deles.

Para nós, católicos, a Santíssima Virgem Maria é nossa Mãe caríssima, e os santos são como que nossos irmãos mais velhos, que nos servem como exemplo e inspiração, e que intercedem por nós junto à Santíssima Trindade. É como uma verdadeira família, sendo as imagens como que retratos dos nossos entes queridos que já gozam da bem-aventurança eterna. Tais “retratos” nos edificam, encorajam e inspiram, além de nos lembrarem que nosso destino é a eternidade, junto daqueles que, tendo vivido de acordo com os ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo, já desfrutam da felicidade eterna.

Também o ato de se prostrar diante de uma imagem é uma forma de venerar (homenagear) aquele ou aquela que a imagem representa. Por exemplo, prostrar-se diante uma imagem de Nossa Senhora é na verdade prostrar-se diante da Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo. Com efeito, quem não prestaria semelhante reverência diante da Mãe de Deus, aquela que carregou no ventre o Verbo Divino, o Deus Filho, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo? A mesma reverência nós prestamos diante de imagens dos anjos e dos santos, que são dignos da nossa mais sincera veneração. O próprio Abraão, nosso pai na fé (cf. Rm 4,16), Abraão prostrou-se diante dos três anjos que lhe apareceram em forma humana para lhe anunciar que Sara, sua esposa, engravidaria (cf. Gn 18,2). Em suma, o ato de se prostrar diante de uma imagem não significa adoração, mas sim uma manifestação de reverência, de homenagem, de humildade, de veneração etc.

Mas todas essas coisas só são percebidas e compreendidas por quem vive na Igreja Católica e está em plena comunhão com ela. Para quem está “de fora” é difícil (se não impossível) compreendê-las, e por isso permanece a velha acusação de “idolatria”…

Que o Senhor lhe conceda a oportunidade de conhecer cada vez mais e melhor a Igreja Católica Apostólica Romana, e não um simulacro ou uma caricatura. Tenho certeza de que, à medida que isso for acontecendo, você irá se desfazer de idéias equivocadas e de preconceitos com relação à Igreja Católica, e poderá vislumbrar o esplendor e a plenitude da verdade que só pode ser encontrada na única Igreja fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo.

Em Cristo,

Leia também [no site do Apostolado Veritatis Splendor]:

– A BÍBLIA CONDENA O USO DE IMAGENS? DEUS PERMITE A FABRICAÇÃO DE IMAGENS? (https://www.veritatis.com.br/article/4478)

– ADORAR IMAGENS? (https://www.veritatis.com.br/article/4087)

– AS IMAGENS PERMITIDAS (https://www.veritatis.com.br/article/1912)

– COMO EXPLICAR A EXISTÊNCIA DE TANTOS VERSÍCULOS CONDENANDO AS IMAGENS? (https://www.veritatis.com.br/article/4479)

– DEUS PROÍBE A CONFECÇÃO DE IMAGENS? (https://www.veritatis.com.br/article/325)

– II CONCÍLIO DE NICÉIA – A CONTROVÉRSIA SOBRE AS IMAGENS (https://www.veritatis.com.br/article/2140)

– IMAGENS CATÓLICAS OU ÍDOLOS PAGÃOS? (https://www.veritatis.com.br/article/675)

– LEITOR USA LIVRO DA SABEDORIA PARA PROVAR IDOLATRIA CATÓLICA (https://www.veritatis.com.br/article/2817)

– LEITOR VOLTA A QUESTIONAR O PAPADO E O CULTO AOS SANTOS (https://www.veritatis.com.br/article/2864)

– O CULTO AOS ÍCONES SAGRADOS (https://www.veritatis.com.br/article/673)

– RESPONDENDO AOS PROTESTANTES SOBRE A IDOLATRIA (https://www.veritatis.com.br/article/2813)

– VERSÍCULOS CONTRA IMAGENS? (https://www.veritatis.com.br/article/4471)

– MAIS DO MESMO: LEITOR CATÓLICO QUESTIONA SOBRE IMAGENS (https://www.veritatis.com.br/article/3573)

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