Leitor pergunta sobre o conceito de “perfeição” (Parte 2/2)

[Leitor autorizou a publicação de seu nome no site] Nome do leitor: Ícaro Andrade
Cidade/UF: Carpina/ Pernambuco
Religião: Protestante Histórico

Mensagem
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Caro amigo Joathas Bello, eu reconheço que dentre todas as religiões cristãs o catolicismo é a única que se apresenta como a mais real, na minha humilde opinião, e estou agradecido pelas respostas dadas por você. Mas se René Descartes afirma que o ser perfeito reúne todas as perfeições e que a onipotência, a liderança, no meu ver, são umas das infinitas perfeições, então Ele é único! Como pode ser verdadeiro o seguinte texto: “E o Senhor Jesus, no Novo Testamento: ‘Portanto, sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito’ (Mt 5,48)”. Quer dizer que nós simples frutos do criador seremos perfeitos como Ele e que os santos já alcançaram essa perfeição que no consenso de muitos  filósofos, teólogos e do povo em geral pertence a um só ser: Deus? Amigo, desculpe minhas dúvidas, mas tenha certeza de que não é ceticismo por ceticismo, e sim uma tentativa de buscar contato com o Criador, portanto não se aborreça comigo, pois estou apenas tentando entender uma coisa que eu ainda não tenho muito conhecimento e que você está me ajudando a elucidá-las!

Amigo, há pouco tempo atrás eu nem me preocupava com questões que falassem de Deus, ou seja, isso para mim já é um começo importante. Eu sou da cidade de Carpina-PE, e um pouco de estudo nessa área seria muito importante para mim, para minha vida pessoal e para que possa executar meu futuro trabalho com mais justiça possível. Sou estudante de direito, e embora muitos não achem necessário estudar uma cadeira que seja de teologia, eu acho que seja de fundamental importância, por isso gostaria que você me indicasse como posso fazer. E sobre minha escolha religiosa, acho que vou seguir os ensinamentos da Santa Igreja Católica, pois já conversei com amigos e familiares e acho que é a religião verdadeira de fato!

Sobre Descartes, o que eu falei não ficou muito claro para você; é que eu expressei mal uma parte do capítulo 4 de sua obra principal (O discurso sobre o método), mas fundo tem o mesmo sentido dado por você. E encontrei sua explicação mais detalhada também no livro do Antonio Resende (Curso de filosofia). Foi um prazer para mim ter dúvidas tão importantes resolvidas por uma pessoa entendida no assunto!

Um abraço do seu amigo

Ícaro Andrade

Que Deus te Abençoe

Caro amigo Ícaro,

A paz de Cristo!

Fico muito feliz em ter podido ajudá-lo. Também me alegro por sua inquietude para buscar a Verdade, por se esforçar para conciliar aquilo que Deus nos ensina sobre Ele e sobre a realidade com sua vida profissional, e por se aproximar da Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica.

Quanto a sua nova pergunta, ela nos situa na clássica distinção entre o “Deus dos filósofos” e o “Deus da Fé”. A razão humana não pode chegar a descobrir a realidade de nossa vocação à participação na perfeição de Deus; e de fato, antes do Cristianismo, jamais concebeu que Deus nos amasse e se preocupasse conosco: o Deus aristotélico (o “Motor Imóvil”), por exemplo, apenas se conhece a si mesmo; amar, para o grego, é uma imperfeição, pois o amor é entendido como “desejo” (eros), sendo signo da falta de algo. A realidade de nossa participação na perfeição divina é um dado revelado, ao qual só podemos aceder através da Fé; a “perfeição que pertence só a Deus”, no consenso dos filósofos, como você corretamente afirma, Ele quis, livre e amorosamente, comunicar a nós, doando-nos a vida sobrenatural. Ou seja, essa perfeição não é atingida por nossas próprias capacidades naturais, mas pela graça que nos foi alcançada pelo sacrifício redentor de Nosso Senhor Jesus Cristo. Por essa graça, somos santificados, nos tornamos filhos de Deus, participantes da natureza divina: “O poder divino deu-nos tudo o que contribui para a vida e a piedade, fazendo-nos conhecer aquele que nos chamou por sua glória e sua virtude. Por elas, temos entrado na posse das maiores e mais preciosas promessas, a fim de tornar-vos por este meio participantes da natureza divina, subtraindo-vos à corrupção que a concupiscência gerou no mundo” (2Pe 1, 3-4); “Porquanto não recebestes um espírito de escravidão para viverdes ainda no temor, mas recebestes o espírito de adoção pelo qual clamamos: Aba! Pai! O Espírito mesmo dá testemunho ao nosso espírito de que somos filhos de Deus” (Rm 8, 15-16); “Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que do alto do céu nos abençoou com toda a bênção espiritual em Cristo, e nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis, diante de seus olhos. No seu amor nos predestinou para sermos adotados como filhos seus por Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua livre vontade” (Ef 1, 3-5).

Persistindo novas dúvidas, não hesite em escrever.

Um grande abraço, em Nosso Senhor Jesus Cristo,

Joathas Bello

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