Leitor pergunta sobre o Pacto de Metz

[Leitor autorizou a publicação de seu nome no site] Nome do leitor: Sérgio Luís Araújo de Souza
Cidade/UF: Cantagalo-RJ
Religião: Católica

Mensagem
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O que foi o Pacto ou Acordo de Metz? Ele realmente existiu? Os tradicionalistas dizem que foi um acordo entre e a Santa Sé e os Comunistas para que, no Concilio Vaticano II, não se condenasse o comunismo, nem se fizesse qualquer citação da situação na URSS, a troco da participação dos Bispos Ortodoxos… Sei que devemos confiar inteiramente no Concílio (que, sem dúvida. foi um Pentecostes para a Igreja e para a humanidade) , nos Bispos e no Papa, mas gostaria de um esclarecimento, pois, quem freqüenta somente o ambiente da internet, acaba por acreditar que a versão dos tradicionalistas é verdadeira, pois ela é corrente neste ambiente…

Prezado Sérgio,

PAX DOMINI

O Pacto de Metz teria sido um acordo, assinado em Metz, na França, entre a Igreja, representada pelo Cardeal Tisserant (que tinha junto consigo o então Cardeal Montini, futuro Paulo VI) e a URSS, através do Patriarca de Moscou, Nikodim, testa de ferro do regime comunista. Com a formalização desse pacto, ficaria acordado que a igreja cismática enviaria observadores ao Concílio e, em contrapartida, haveria total silêncio acerca do comunismo.  Da mesma forma, com o mesmo espírito conspiratório, rumores afirmam que na verdade o Pacto de Metz não passou de uma invenção da KGB para denegrir a Igreja.

A excomunhão ao comunismo é reflexo do ateísmo e materialismo que fazem parte da essência dessa doutrina. Destarte, aqueles que se encaixam no decreto de S.S Pio XII são os que aderem ao marxismo enquanto concepção filosófica anti-cristã, revolucionária, anti-natural, totalitária etc, ou seja,  apóstata. Como bem sabemos, a excomunhão latae sententiae se faz em casos de apostasia, heresia, cisma etc. Mesmo com a existência de tal pacto, nenhum dos  envolvidos, João XXIII, Cardeal Tisserant, Cardeal Montini, tinham a intenção de criar um cisma, muito menos apostatar da fé. Era um acordo, assinado entre dois Sucessores dos Apóstolos, afinal Nikodim foi ordenado validamente, que tinha como objetivo o silêncio, não a defesa inconteste do comunismo ateu. Ainda vale lembrar que o Papa, enquanto supremo legislador eclesiástico, pode suprimir a lei temporariamente, quando achar oportuno.  Ademais, a excomunhão é automática para os que aderem ao comunismo enquanto doutrina filosófica materialista e atéia, o que gera apostasia, daí a excomunhão latae sententiae. Quem se diz socialista, crendo que socialismo é justiça social, não cai em excomunhão automática. O que deve ser levado em questão não é a filiação nominal, mas a profundidade ideológica. Desse modo, o Concílio foi legítimo, tanto com o Beato João XXIII, de onde teria partido a ordem, e com Paulo VI, que teria participado do acordo ainda como Cardeal. Entretanto, é pertinente relembrar que há uma grande diferença entre assinar um documento defendendo o comunismo, com consciência da incongruência entre o materialismo dialético e o cristianismo, com total condescendência ao erro marxista, e um acordo que tinha como objetivo não relembrar as condenações ao comunismo no Concílio. Até porque, como o tal pacto envolveria diretamente um Papa, João XXIII, o mesmo que proibiu católicos de se aliarem a partidos e políticos comunistas, e dois Cardeais, é legítimo concluir que eles sabiam que mesmo com a omissão do comunismo no Vaticano II, isso em nada modificaria os anátemas já feitos, logo, mesmo com a existência do Pacto, não teriam a inocência de acreditar que esse silêncio revogaria anos de ensinamentos.

Dois pontos de grande relevância; o Concílio optou por utilizar um método positivo, sem anatemizar e recondenar o que já havia sido condenado. Ora, com pacto ou sem pacto, o Vaticano II não faria uma taxativa condenação ao comunismo, vale lembrar que milhares de instituições religiosas foram questionados sobre os assuntos que queriam que fossem abordados no Concílio; o comunismo nem apareceu na lista. Outra questão que não podemos nos esquecer, o Magistério da Igreja é contínuo, infalível nos seus ensinamentos, não se anula nem entra em contradição. O comunismo já via sido condenado desde o Beato Pio IX, logo, mesmo com o Concílio não relembrando a anatemização do materialismo dialético, este continuaria execrável. Mesmo existindo esse Pacto de Metz, esqueceram de avisar ao então Arcebispo de Cracóvia, Karol Józef Wojtyla, afinal, S.S João Paulo II, o Papa que colocou na prática o Concílio, era abertamente anticomunista e fez da derrubada dos regimes genocidas totalitários socialistas sua bandeira pessoal.

Não obstante, é pertinente recordar que o comunismo foi lembrado no Concílio e condenado, não da forma “syllabica” que alguns queriam, mas dentro da metodologia conciliar;

“O ateísmo moderno apresenta muitas vezes uma forma sistemática, a qual, prescindindo de outros motivos, leva o desejo de autonomia do homem a um tal grau que constitui um obstáculo a qualquer dependência com relação a Deus. Os que professam tal ateísmo, pretendem que a liberdade consiste em ser o homem o seu próprio fim, autor único e demiurgo da sua história; e pensam que isso é incompatível com o reconhecimento de um Senhor, autor e fim de todas as coisas; ou que, pelo menos, torna tal afirmação plenamente supérflua. O sentimento de poder que os progressos técnicos hodiernos deram ao homem pode favorecer esta doutrina.

Não se deve passar em silêncio, entre as formas actuais de ateísmo, aquela que espera a libertação do homem sobretudo da sua libertação económica. A esta, dizem, opõe-se por sua natureza a religião, na medida em que, dando ao homem a esperança duma enganosa vida futura, o afasta da construção da cidade terrena. Por isso, os que professam esta doutrina, quando alcançam o poder, atacam violentamente a religião, difundindo o ateísmo também por aqueles meios de pressão de que dispõe o poder público, sobretudo na educação da juventude.” (GS, 20)

“Fiel quer a Deus e quer aos homens, a Igreja não pode deixar de reprovar com firmeza, como reprovou até agora, aquelas doutrinas e atividades perniciosas que contradizem à razão e à experiência humana universal e privam o homem de sua grandeza inata.” (GS, 21)

Com pacto ou sem pacto, nós nunca iremos saber se o Concílio condenaria nominalmente o comunismo. O tal acordo em Metz seria muito inócuo, afinal o Vaticano II escolhera uma metodologia positiva, ou seja, uma taxativa anatemização entraria em contradição com a própria organização conciliar. Sem o pacto, na concepção dos seus defensores, o Concílio faria uma concessão metodológica ao condenar o materialismo dialético. Não obstante, vale frisar, que mesmo com essa taxativa excomunhão, o desenrolar da história nos leva a crer que nada se modificaria na corrupção de partes do clero pela doutrina comunista, assim como a infiltração de agentes socializantes na Igreja. O ataque a institucionalização, a hierarquia, a estrutura clerical, se tornou a bandeira dos socialistas ditos cristãos. Ora, com a recordação dos anátemas, apenas se consolidaria o discurso dos defensores do materialismo, criando uma realidade bipolar, se melhor ou pior do que o a que se formou, não saberemos.

Em Jesus Maria e José,

Pedro Ravazzano

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