Leitor pergunta sobre pão, hóstia e subida do corpo e alma ao céu

– Questionado por um protestante não tive resposta para a seguinte questão: Quando e porque começou a ser distribuída a Hóstia no lugar do pão? Pois os protestantes distribuem o pão. Jesus foi o único que subiu ao céu de corpo e alma? Agradeço a atenção. (Ely)

Caro Ely,

Agradecemos seu contato e a confiança em nosso apostolado. Ore por nós.

Há aqui um erro. Não é que a hóstia seja distribuída no lugar do pão. A hóstia é um pão. É feita de farinha com água, como um pão qualquer. É apenas mais fina em seu formato. Tanto que se diz que a matéria válida para a Eucaristia é justamente o pão feito de trigo. Nunca a Igreja deixou de usar pão. Aliás, o formato fino da hóstia não é essencial e, de fato, em muitos ritos, o pão eucarístico é usado com o formato de um pão comum, inclusive com fermento.

A palavra hóstia deriva-se do latim hostia quer dizer vítima. A Igreja, com propriedade aplica este termo a Nosso Senhor Jesus Cristo, o Cordeiro imolado em nosso lugar.

“O cristianismo, ao entrar em contato com a cultura latina, agregou no seu linguajar teológico e litúrgico a palavra “hóstia”, exatamente para referir-se à maior “vítima” fatal da agressão humana: Cristo morto e ressuscitado. Os cristãos adotaram a palavra “hóstia” para referir-se ao Cordeiro imolado (vitimado) e, ao mesmo tempo ressuscitado, presente no memorial eucarístico. A palavra “hóstia” passa, pois, a significar a realidade que Cristo mesmo mostrou naquela ceia derradeira: “Isto é o meu corpo entregue… o meu sangue derramado”. O pão consagrado, portanto, é uma “hóstia”, aliás, a “hóstia” verdadeira, isto é, o próprio Corpo do ressuscitado, uma vez mortalmente agredido pela maldade humana, e agora vivo entre nós feito pão e vinho, entregue para ser comida e bebida: Tomai e comei…, tomai e bebei…” (cf. SILVA. Frei José Ariovaldo da, OFM. Hóstia: o que esta palavra lhe sugere? )

A palavra hóstia, também se refere ao “pão ázimo, sem fermento” que os Judeus usavam na Ceia da Páscoa, como Cristo é a nossa Páscoa, na última Ceia, ele pega o pão e diz: “Isto é o meu corpo, que é dado por vós” (Lc 7,19), portanto, o pão da Eucaristia e a hóstia são a mesma coisa (Hóstia = vítima).

Para a celebração da Eucaristia no início da Igreja os fiéis traziam as oferendas, entre elas o pão e o vinho que seriam separados e utilizados na Eucaristia (1). Com o passar to tempo, a Igreja passou utilizar o pão previamente separado, em forma de hóstia, que é levado ao altar – como hoje – no momento das oferendas. A hóstia é pão ázimo, e desde cedo a Igreja o utiliza. O Papa Zeferino (199-217), no século III já se referia ao formato do pão Eucarístico como “coroa”.

Santo Agostinho, no século IV afirmava: “Comungar em pecado é atirar a Hóstia num montouro; é entregar o Cordeiro imaculado nas mãos dos demônios, que o insultam da mais horrenda maneira; é fazer papel pior que Judas” (TREVISAN, Pe. Celestino André, A Eucaristia, Raboni Ltda., Campinas-SP, 1995, p. 45) [destaque nosso]

Portanto, fica claro que desde cedo a Igreja utiliza a hóstia, que é o pão ázimo, na Celebração Eucarística, quanto ao pão utilizado nas “Ceias” protestantes, são apenas uma representação da Ceia do Senhor, não tendo nenhum valor sacramental.

Já na Celebração da Eucaristia: “Os presbíteros,… exercem o seu ministério sagrado principalmente na celebração da Eucaristia; nela, agindo na pessoa de Cristo e proclamando o seu mistério, juntam as orações dos fiéis ao sacrifício de Cristo, sua Cabeça; renovam e aplicam no sacrifício da Missa, até à vinda do Senhor (cf. 1 Cor 11,26), o único sacrifício do Novo Testamento, no qual Cristo, uma vez por todas, Se oferece ao Pai como hóstia imaculada (cf. Heb 9,11-28)”. (cf. XI ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA. A EUCARISTIA: FONTE E ÁPICE DA VIDA E DA MISSÃO DA IGREJA. INSTRUMENTUM LABORIS) [destaque nosso]

Sobre a sua segunda dúvida: “Jesus foi o único que subiu ao céu de corpo e alma?”. Posso assegurar-lhe baseado na sã doutrina da Igreja, que “a imaculada Mãe de Deus, a sempre virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial” (cf. Munificentissimus Deus – Dogma da Assunção de Nossa Senhora, nº 44) [destaque nosso]

É importante observar, que Cristo sobe aos céus com seu próprio poder, por isso se diz: “Ascensão de Jesus”. Já Maria, foi levada ao céu (pelo poder de Deus) de corpo e alma, por isso se diz: “assunção” de Maria.

Uma objeção que pode ser levantada pelos protestantes, a citação do Evangelho Segundo João 3,13, é logo esclarecida por Santo Agostinho:

“O Senhor Jesus Cristo não deixou o céu quando de lá desceu até nós; também não se afastou de nós quando subiu novamente ao céu. Ele mesmo afirma que se encontrava no céu quando vivia na terra, ao dizer: Ninguém subiu ao céu, a não ser aquele que desceu do céu, o Filho do Homem, que está no céu (cf. Jo 3,13). Isto foi dito para significar a unidade que existe entre Ele, nossa cabeça, e nós, Seu corpo. E ninguém senão Ele podia realizar esta unidade que nos identifica com Ele mesmo, pois tornou-se Filho do Homem por nossa causa, e nós por meio Dele nos tornamos filhos de Deus. Neste sentido diz o apóstolo: Como o corpo é um só, embora tenha muitos membros, e como todos os membros do corpo, embora sejam muitos, formam um só corpo, assim também acontece com Cristo (1Cor 12,12). Ele não diz: “assim é Cristo”, mas: assim também acontece com Cristo.Portanto, Cristo é um só, formado por muitos membros. Desceu do céu por sua misericórdia e ninguém mais subiu senão Ele; mas Nele, pela graça, também nós subimos. Portanto, ninguém mais desceu senão Cristo e ninguém subiu além de Cristo. Isto não quer dizer que a dignidade da cabeça se confunde com a do corpo, mas que a unidade do corpo não se separa da cabeça.” (Sermo de Ascensione Domini, Mai 98,1-2:PLS 2,494-495).

Para maiores esclarecimentos recomendo a leitura do seguinte documento da Igreja:

– MUNIFICENTISSIMUS DEUS – DOGMA DA ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA

In caritate Christi,
Leandro.

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NOTA:

(1) “Para se unir ao sacrifício, cada fiel deve fazer uma oferta; dá-se o pão e o vinho que hão de ser consagrados; dão-se também esmolas para os pobres, para as viúvas e para os que são assistidos pela comunidade. Os diáconos separam as esmolas do resto das oferendas e colocam o pão e vinho sobre o altar (…) depois de tudo preparado, o celebrante recita uma oração coletiva em nome de toda a assistência: “Oremos, meus irmãos, para que este sacrifício, meu e vosso, seja favoravelmente acolhido por Deus”. (cf. ROPS, Daniel. A Igreja dos Apóstolos e dos Mártires, Vol I, Quadrante, 1988,p. 216) [grifo nosso]

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