Leitor protestante em luta interior para converter-se ao Catolicismo

Prezados irmãos,

 

Gostaria de lhes expor uma dúvida a respeito do chamado “batismo de desejo”.

 

Para tanto, permitam-me transcrever alguns extratos de textos encontrados na Internet:

 

“Não ficam, portanto, segundo a doutrina da Igreja, excluídos da salvação os gentios, os hereges e os cismáticos, que não abraçaram a verdadeira fé, a não ser os que não conheceram a verdade revelada porque não a quiseram conhecer, ou os que, tendo-a bastantemente conhecido, se recusaram a abraçá-la. Só, de fato, estão obrigados a entrar na Igreja Católica os que a reconhecem como o único meio necessário para alcançarem a sua salvação. É, portanto, sob todos os respeitos muito racional e lógica a fórmula: ‘Fora da Igreja não há salvação’: e, se a acusam por este lado, é porque ou estão de má fé ou estão iludidos; iludidos, por lhe não conhecerem o sentido adequado e preciso; de má fé, por se recusarem a reconhecê-lo.’”

(http://www.permanencia.org.br/revista/atualidades/fora.htm)

 

“Esta é a doutrina do batismo de desejo implícito, que se aplica também aos não cristãos: se o infiel ou herege de espírito piedoso e devoto tivesse conhecido a Igreja ou sua autêntica doutrina, teria aderido a elas. Extra Ecclesiam (visível) não existe, pois, nada além da possibilidade de uma salvação individual, que pode ocorrer por obra do Espírito Santo, apesar da pertinência material do herege, do cismático, do infiel, a sua seita, comunidade ou religião.”

(http://www.beneditinos.org/atualidades/documentos/erros_vaticano2.htm)

 

“Como explicar que seja possível a salvação dessas almas que viveram fora do grêmio visível da Igreja? A teologia católica explica que essas almas retas, que não conseguiram superar barreiras vivenciais e culturais para reconhecer a verdadeira Igreja, se são autenticamente retas — e, portanto, se sob o influxo da graça desejaram de fato conformar suas vidas com a vontade e a lei de Deus, recebem o batismo de desejo em razão da Fé, Esperança e Caridade que, in voto (implicitamente) acolheram. Isto é, Deus as acolhe no seio da Igreja, porque esta é a comunidade de todos os autênticos filhos de Deus.”

(http://www.lepanto.com.br/DCSalv.html)

 

“Com efeito, pela fé há de sustentar-se que fora da Igreja Apostólica Romana ninguém pode salvar-se; que esta é a única arca da salvação, que quem nela não tiver entrado, perecerá no dilúvio. Entretanto, também é preciso ter por certo que aqueles que sofrem de ignorância da verdadeira religião, se aquela [ignorância] é invencível, não são eles ante os olhos do Senhor réus por isso de culpa alguma. Ora pois, quem será tão arrogante que seja capaz de assinalar os limites desta ignorância, conforme a razão e a variedade de povos, regiões, caracteres e de tantas outras e tão numerosas circunstâncias?” (Pio IX, Alocução Singulari Quadam, 1854, Denzinger, 1647).

(http://www.montfort.org.br/index.php?secao=veritas&subsecao=igreja&artigo=batismodedesejo&lang=bra)

 

“Suponhamos um protestante que não tivesse meio algum de conhecer a religião Católica. Esse protestante teria que ser uma criança educada no protestantismo, sem instrução histórica e sem contato com católicos. Se ele for sincero e buscar a Deus, ele terá que ler a Bíblia e estudar a origem do protestantismo. Lendo a Sagrada Escritura, se for sincero, encontrará lá muitas coisas que condenam o protestantismo tal qual ele é ensinado. Por exemplo, ele terá que ter devoção a Nossa Senhora, porque em São Lucas lerá que ela foi bendita entre todas as mulheres, e em São João lerá que Jesus deixou-nos Maria por mãe, etc. Ele lerá em São Mateus que Cristo fundou a Igreja sobre Pedro, e não colegialmente. Lerá que não adianta ler a Bíblia apenas (Atos cap. VIII). Ele, sendo sincero, ficará católico de alma. E, se tiver a oportunidade de conhecer um católico, se converterá. Também pelo estudo da história da religião protestante – que ele tem obrigação de conhecer – ele chegará facilmente à conclusão que a Igreja Católica é a verdadeira.”

(http://www.montfort.org.br/index.php?secao=cartas&subsecao=apologetica&artigo=20040817204256&lang=bra)

 

Caríssimo sr. José Grillo, estimado em Cristo,

 

Obrigado por demonstrar tanta confiança em nosso site e amizade por nós. É uma dádiva debater com o senhor, um irmão verdadeiramente cristão, mesmo separado da plena comunhão com a Igreja Católica. O senhor não imagina quanta alegria deu ao nosso coração e ao Coração de Cristo por sua sinceridade e disposição em aprender, em experimentar o esplendor da verdade (que dá nome ao nosso modesto apostolado).

 

Minha pergunta é a seguinte: qual o homem que, após reconhecer plenamente a Igreja católica como “único meio necessário para alcançarem a sua salvação”, negar-se-á a se tornar católico? Com efeito, se tal homem ainda não se tornou católico, é por que não chegou ao referido reconhecimento da Igreja católica como única e verdadeira Igreja de Cristo.

 

Precisamos entender o que significa reconhecer a Igreja como único meio necessário para alcançar a salvação. Para o Magistério, isso significa ter as oportunidades de conhecer tal verdade, ou uma possibilidade concreta de reconhecimento. Não é um oportunidade de fato para esse reconhecimento, mas de direito. Um cristão não-católico que teve a chance de saber que a Igreja Católica Apostólica é a Igreja de Cristo deve, pois, empregar todos os esforços para crer nessa doutrina. Estará condenado se não empregar tais esforços, se não for diligente.

 

Evidentemente, aquele que reconhece plenamente que a Igreja Católica é o único meio de salvação dificilmente não se tornará católico. É, todavia, possível, embora improvável, que se negue à conversão, dado que esta pode gerar conseqüências nem sempre agradáveis do ponto de vista humano: perda de relações de amizades, dificuldades nos primeiros passos como católicos, sentimento de perda da herança passada, dureza na aceitação de que esteve errado durante anos etc.

 

A doutrina católica, entretanto, não diz que só aqueles que reconheceram plenamente a Igreja como único meio de salvação e insistem em não aderir a ela é que estão excluídos da salvação. Se alguém teve condições de fazer esse reconhecimento, e não o fez, é culpado. O reconhecimento que se pede não é o pleno, e sim o provável. Alguém que não emprega os esforços suficientes, não chega a esse reconhecimento pleno por culpa própria. Tendo uma mínima idéia – e não um reconhecimento pleno – de que a Igreja Católica é o único meio de salvação, é obrigado a converter-se, ou, ao menos, a empregar sua diligência em adquirir tal fé. Se ele rezar, estudar, e ainda assim não se convencer, poderá estar salvo por sua sinceridade (aí entra o Batismo implícito de desejo). Restando, entretanto, esse reconhecimento – que não é pleno, uma vez que, se assim o fosse, quase que certamente o forçaria à conversão) –, mas sem um esforço por renunciar ao erro (ainda que não renuncie, desde que seu esforço seja sincero e eficaz, conforme a individualidade de cada um), está condenado. Ele não chegou ao reconhecimento pleno por culpa própria, por preguiça, medo etc, de estudar, de conhecer a verdade.

 

Se alguém não se tornou católico é, justamente, por não ter reconhecido plenamente que a Igreja Católica é o único meio de salvação. Porém, apesar de não ter pleno reconhecimento dessa verdade, pode ter um reconhecimento suficiente que o obrigue ou à conversão ou ao emprego sério dos esforços necessários para efetuar essa conversão. De posse do reconhecimento pleno, se converterá, no mais das vezes – embora possa, ainda nesse caso, não se converter. De posse de um reconhecimento não-pleno, pode se converter, esforçar-se mais na busca da verdade, ou permanecer “na mesma”. É essa última condição que o condena. Não as demais.

 

Digo-o pelo menos por mim: há anos tenho nutrido admiração pelas riquezas espirituais do catolicismo. Não obstante, ainda não tenho plena certeza de que a Igreja católica apostólica romana é a única e verdadeira Igreja de Cristo. Aliás, só não me converti ao catolicismo precisamente por ainda não ter essa certeza! Sendo assim, estaria eu incluído no chamado “batismo de desejo”? Devo observar que nem estou me referindo ao que diz o Concílio Vaticano II (que tem sido muito questionado nos textos da Montfort), conforme o extrato abaixo: “Diante disso, o que pensar a respeito da salvação dos cismáticos e protestantes? Se o Batismo Sacramental deles foi realmente válido (como é o caso de muitos inseridos em igrejas cismáticas e denominações protestantes tradicionais), não há dúvida de que são membros da Santa Igreja. Diz o Concílio Vaticano II que ‘por diversas razões a Igreja reconhece-se unida aos batizados que se honram com o nome de cristãos, mas não professam integralmente a fé, ou não mantém a unidade da comunhão sob o sucessor de Pedro.’ (LG 15) Também estes poderão se salvar se não houverem chegado ao conhecimento pleno da Santa Igreja ou tiverem certo tipo de resistência psicológica inconsciente que não lhe permite este conhecimento. É importante observar, porém, que se salvarão por fazerem parte da Santa Igreja e não por fazerem parte de uma determina igreja cismática ou denominação protestante – mas se salvarão apesar disso!”

(http://reinodavirgem.vilabol.uol.com.br/salvacao.html)

 

 

Só Deus sabe o que vai no coração de cada homem. O Batismo de desejo pode ser explícito ou implícito. O catecúmeno ou aquele que já manifestou a intenção de batizar-se, ao morrer sem recebê-lo de modo ordinário, é salvo pelo Batismo de desejo explícito.

 

Implícito, por sua vez, é o Batismo de desejo daqueles que nem cogitaram batizar-se, mas são católicos sem o saberem, membros invisíveis da Igreja visível, pertencendo à alma da Igreja, ainda que não ao seu Corpo.

 

Não é o seu caso, pois, sendo protestante, seu Batismo é válido. Seu Batismo protestante é, na verdade, um Batismo católico, apenas rompendo a comunhão com a Igreja Católica no seu primeiro ato de fé protestante – ao atingir o uso da razão, optando por permanecer protestante. Não há porque desejar ser batizado, se o senhor já o foi. Se o senhor está sem culpa fora das estruturas visíveis da Igreja Católica, é membro dela – invisível, claro –, sem o saber, é um católico, ainda que, por vezes, nem o queira. Agora, se já culpa no senhor por estar visivelmente fora da Igreja, nem invisivelmente o senhor está. Quem sabe disso é só Deus. Não cabe ao homem aferir a sinceridade ou a salvação do seu próximo.

 

Estendendo um pouco mais a questão, apesar de sustentar o dogma “extra Ecclesiam nulla salus”, o catolicismo parece-me ser a mais inclusivista das religiões, uma vez que reconhece a possibilidade de salvação de todos aqueles que, desde que observando a Lei moral inscrita por Deus nos corações dos homens, não fazem parte da Igreja católica por sofrerem de “ignorância invencível”. E o que significaria a expressão “ignorância invencível”? Quais os seus limites? Seria esse o meu caso, uma vez que nasci e me criei na igreja protestante (e que talvez por isso tenha uma idiossincrasia atavicamente protestante que me dificulte a adesão à fé católica)?

 

Evidentemente, é possível a alguém que não esteja visivelmente no grêmio da Igreja alcançar a salvação. Mas tal se dá porque, apesar de não saber, esse não-católico é, sim, um membro da Igreja, por vários títulos. Na sua ignorância, se invencível – e isso só Deus pode julgar -, os pequenos e frágeis laços que o unem à Igreja Católica (batismo, traços de doutrina católica, sacramentos, Bíblia, cumprimento da lei natural etc) podem ser suficientes para torná-lo um membro invisível da Igreja visível, ou, como diriam o Cardeal Journet e o Cardeal Billot, participante da “alma da Igreja”, ainda que não do corpo.

De qualquer modo, todos os que se salvam, se salvam por serem católicos. Mesmo que não saibam.


Ordinariamente, todavia, a submissão a Cristo implica na submissão ao seu Vigário, o Papa. A Unam Sanctam é clara nesse sentido, e a Dominus Iesus (como a Ut Unum Sint) desenvolvem essa doutrina mais explicitamente.


Se, por um lado, temos de cuidar para não cairmos no irenismo (Cristo salva independentemente da Igreja, todos são iguais, o que importa é ser bom e cristão), evitemos também o feeneyismo (confundir o “fora da Igreja não há salvação” como se fosse um “fora das estruturas visíveis da Igreja não há salvação”).

 

Explico melhor.

 

Sendo a Igreja “projeto visível do amor de Deus pela humanidade” (Sua Santidade, o Papa Paulo VI. Discurso de 22 de junho de 1973), “coluna e sustentáculo da verdade?” (1 Tm 3,15), fundada por Jesus Cristo para, como instrumento do Espírito Santo, salvar e santificar os homens (cf. Concílio Ecumênico Vaticano II. Constituição Dogmática Lumen Gentium, de 21 de novembro de 1964, nº 8), fora da qual não há remissão dos pecados (cf. Sua Santidade, o Papa Bonifácio VIII. Bula Unam Sanctam, de 18 de novembro de 1302; Concílio Ecumênico Vaticano II. Constituição Dogmática Lumen Gentium, de 21 de novembro de 1964, nº 14; Catecismo da Igreja Católica, 846), há de se crer na absoluta necessidade de a ela pertencerem todos os seres humanos. Certo é, igualmente, que, em situações excepcionais, havendo ignorância invencível, pode o homem salvar-se fora da estrutura visível da Igreja, o que não significa possibilidade de salvação fora da Igreja mesma nem negação da visibilidade desta.

 

Dois erros devem aqui ser evitados.


Um, o de certa teologia irenista, presente, em maior ou menor grau, em alguns ambientes católicos, e que afirma indiscriminadamente que fora da Igreja há salvação, que o que interessa é ser cristão somente e não católico e, às vezes, nem cristão, bastando ter “caridade”, – como se a caridade não fosse ordinariamente fruto da fé –, que Cristo não teria fundado uma única Igreja, que o extra Ecclesia nulla salus teria sido revogado – como se fosse possível à doutrina católica mudar-se, evoluir –, que a unidade da Igreja teria sido perdida – se a unidade é essencial à Igreja, não pode tal nota ser perdida sob pena de deixar de subsistir a própria Igreja, o que, por sua vez, é igualmente impossível em face da promessa do Redentor –, que todos os caminhos levam a Deus etc. Certa falsa concepção do que seja ecumenismo, tal como entendido pelo Papa, adota esse irenismo, em si pernicioso, condenado pelo Vaticano II, por Paulo VI e por João Paulo II, e, antes, pela Encíclica Mortalium Ânimos, de Pio XI.

 

O outro erro é o do que interpreta restritivamente a expressão “fora da Igreja não há salvação”, entendendo-a como “fora das estruturas visíveis da Igreja não há salvação”. Essa falsificação do correto entendimento do brocardo foi igualmente rejeitada pela Igreja, sob o nome de feeneyismo, na Carta ao Arcebispo de Boston, de 8 de agosto de 1949. De fato, a Igreja rechaça tanto o irenismo – que crê na salvação fora da Igreja Católica – quanto o feeneyismo – que confunde a Igreja Católica, única e essencialmente visível (mas com possibilidade de membros invisíveis), fora da qual não há salvação, com sua estrutura de visibilidade. “Aqueles que crêem em Cristo e foram devidamente batizados estão constituídos em certa comunhão, embora não perfeita, com a Igreja Católica.” (Concílio Ecumênico Vaticano II. Decreto Unitatis Redintegratio, de 21 de novembro de 1964, nº 3)

 

“Os fiéis são obrigados a professar que existe uma continuidade histórica – radicada na sucessão apostólica – entre a Igreja fundada por Cristo e a Igreja Católica: ‘Esta é a única Igreja de Cristo (…) que o nosso Salvador, depois da sua ressurreição, confiou a Pedro para apascentar (cf. Jo 21,17), encarregando-o a Ele e aos demais Apóstolos de a difundirem e de a governarem (cf. Mt 28,18ss.); levantando-a para sempre como coluna e esteio da verdade (cf. 1 Tim 3,15). Esta Igreja, como sociedade constituída e organizada neste mundo, subsiste [subsistit in] na Igreja Católica, governada pelo Sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele.’ Com a expressão subsistit in, o Concílio Vaticano II quis harmonizar duas afirmações doutrinais: por um lado, a de que a Igreja de Cristo, não obstante as divisões dos cristãos, continua a existir plenamente só na Igreja Católica e, por outro, a de que ‘existem numerosos elementos de santificação e de verdade fora da sua composição’, isto é, nas Igrejas e Comunidades eclesiais que ainda não vivem em plena comunhão com a Igreja Católica. Acerca destas, porém, deve afirmar-se que ‘o seu valor deriva da mesma plenitude da graça e da verdade que foi confiada à Igreja Católica.’ Existe portanto uma única Igreja de Cristo, que subsiste na Igreja Católica, governada pelo Sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele. As Igrejas que, embora não estando em perfeita comunhão com a Igreja Católica, se mantêm unidas a esta por vínculos estreitíssimos, como são a sucessão apostólica e uma válida Eucaristia, são verdadeiras Igrejas particulares. Por isso, também nestas Igrejas está presente e atua a Igreja de Cristo, embora lhes falte a plena comunhão com a Igreja católica, enquanto não aceitam a doutrina católica do Primado que, por vontade de Deus, o Bispo de Roma objetivamente tem e exerce sobre toda a Igreja. As Comunidades eclesiais, invés, que não conservaram um válido episcopado e a genuína e íntegra substância do mistério eucarístico, não são Igrejas em sentido próprio. Os que, porém, foram batizados nestas Comunidades estão pelo Batismo incorporados em Cristo e, portanto, vivem numa certa comunhão, se bem que imperfeita, com a Igreja. O Batismo, efetivamente, tende por si ao completo desenvolvimento da vida em Cristo, através da íntegra profissão de fé, da Eucaristia e da plena comunhão na Igreja.” (Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé. Declaração Dominus Iesus, de 6 de agosto de 2000, nsº 16-17) “Os fiéis não podem, por conseguinte, imaginar a Igreja de Cristo como se fosse a soma – diferenciada e, de certo modo, também unitária – das Igrejas e Comunidades eclesiais; nem lhes é permitido pensar que a Igreja de Cristo hoje já não exista em parte alguma, tornando-se, assim, um mero objecto de procura por parte de todas as Igrejas e Comunidades.” (Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé. Declaração Mysterium Ecclesiae, in AAS 65, em 1973, nº 1) Sobre o verdadeiro sentido do ecumenismo, ver o Decreto Unitatis Redintegratio, do Vaticano II, a Encíclica Ut Unum Sint, do Papa João Paulo II, e a Carta Communionis Notio, da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé.

 

Visto esse embasamento teórico, vamos à prática:

 

Ignorância invencível, no caso em tela, é a incapacidade de reconhecer plenamente a Igreja Católica como única fundada por Cristo e, portanto, único meio de salvação, canal pelo qual passa a graça que age mesmo fora de suas estruturas visíveis. Não é fácil traçar seus limites. Só Deus sabe se alguém labora ou não em ignorância invencível, sendo temerário proferir qualquer julgamento sobre as intenções de cada um, como bem nos lembrou o Salvador.

 

O fato de o senhor ter nascido e se criado em uma comunidade protestante realmente pode dificultar seu reconhecimento pleno da Igreja Católica como única fundada por Cristo e conseqüente abandono dos erros doutrinários que são opostos ao que ela ensina. Pode favorecer à criação de barreiras intransponíveis, o que caracterizaria ignorância invencível. Sem embargo, tudo isso são conjecturas. Lembro: só Deus sabe se a ignorância é vencível ou invencível e é perigoso, ademais, presumir-se nesta última. O dever de alguém que tem uma vaga idéia da salvação operada exclusivamente através da Igreja Católica é converter-se ou, ao menos, empreender os necessários esforços para tal. Parece ser o seu caso, caríssimo sr. José. Vejo que o senhor, realmente, está em busca da verdade. Está fazendo, pois, sua parte. Que bom!

 

Deus sabe que sou sincero, e que se não me converti ao catolicismo até hoje, foi tão-somente porque não estou certo de que devo fazê-lo (e devo dizer que não creio que “pelo estudo da história da religião protestante”, pode-se chegar “facilmente à conclusão que a Igreja Católica é a verdadeira”, conforme afirma o prof. Orlando Fedeli, pois há muitos e competentes protestantes que conhecem a fundo a história do protestantismo, e nem por isso se converteram ao catolicismo). Mas não seria também esse o caso de todos os não-católicos, ou de boa parte dos não-católicos, os quais só não se converteram ao catolicismo porque não entenderam a “necessidade” dessa conversão? E isso não incluiria talvez até mesmo os mais obstinados (e não obstante sinceros) protestantes, que só mantêm essa obstinação justamente por não conhecerem aquilo que, de acordo com a ortodoxia católica, seria a verdadeira natureza do catolicismo? Em suma: considerando que somente aqueles que não conhecem suficientemente o catolicismo e/ou não o reconhecem como o verdadeiro e único meio de salvação deixam de aderir à fé católica, que culpa têm esses indivíduos? Com efeito, se conhecessem suficientemente o catolicismo e/ou se o reconhecessem como verdadeiro e único meio de salvação, não é certo que se converteriam, do mesmo modo que se converteram, em tese, todos os que alcançaram tal conhecimento?

 

Já expliquei qual o reconhecimento da Igreja é pedido por ela para laborar a pessoa com culpa ao não se converter.

 

Apenas aproveito para lhe parabenizar por sua sinceridade e sua árdua dedicação à verdade, esteja onde ela estiver. É de espíritos assim que Cristo precisa, com a coragem para ir em busca do que é certo e decisão suficiente para, de posse dela, largar tudo e segui-Lo. Se o senhor realmente se convencer de que a Igreja Católica é a Igreja de Cristo, se converterá – é o que se depreende de suas afirmações. Ótimo, é um grande passo. Sua sinceridade e retidão não serão ignoradas por Deus.

 

Concordo com o senhor que a afirmação do Prof. Fedeli é um tanto simplista, mas a análise da história protestante ajuda, sim, na conversão ao catolicismo. Basta ver a multidão de igrejas que surgem, todas invocando a correta interpretação das Escrituras e o auxílio do Espírito Santo, para que o princípio do livre-exame caia por terra.

 

E para concluir de forma mais específica a minha questão: qual seria a situação dos protestantes que, assim como eu, não se convertem ao catolicismo única e exclusivamente por não o reconhecerem como verdadeira e única religião capaz de salvar o homem (seja por não o conhecerem suficientemente para tanto ou por alguma outra razão que os inclua no caso de “ignorância invencível”)?

 

Se houver algum reconhecimento, alguma idéia de que a Igreja Católica é a verdadeira religião, devem agir diligentemente para alcançar a plenitude desse entendimento e converter-se. Não se esforçando ou, após o reconhecimento pleno, não se convertendo, estão condenados. Esforçando-se e não chegando à plenitude de tal reconhecimento, podem ser condenados ou salvos, dependendo do grau de sua ignorância: vencível ou invencível.

 

No seu caso, se o senhor não se converte por ainda não ter a certeza plena da verdade católica, pode ser salvo se essa impossibilidade advier de ignorância invencível ou, vindo de ignorância vencível, usar da diligência necessária e somente não se converter por outros fatores, alheios à sua vontade. Note: usei o verbo “poder”, não “ser”. O senhor pode ser salvo, mas não sabemos se, efetivamente, será. Até porque ninguém sabe se estará salvo, no fim das contas. Nem mesmo a pertença visível à Igreja Católica – no caso dos membros do Veritatis Splendor, por exemplo – é garantia de salvação. Só Deus sabe os que perseverarão até o final.

 

O conselho que lhe dou é que siga sincero e firme em sua busca pela verdade. Não desista simplesmente por se presumir em ignorância invencível. Lute, estude, reze muito, peça para que o Espírito Santo lhe mostre qual é, de fato, a Igreja de Cristo. Nós estaremos orando pelo senhor.

 

Se o que falta é reconhecer plenamente a verdade da Igreja Católica, empreenda os atos necessários para chegar a essa convicção.

 

Desde já, agradeço pela atenção.

 

Em Cristo,

 

José Grillo

 

Nós é que agradecemos essa excelente ocasião de conversar com o senhor, esclarecer suas dúvidas e registrar nossa mais viva afeição por alma tão sincera e desejosa de seguir a Cristo de modo fiel.

 

Deus o abençoe em sua empreitada.

 

Em Cristo,

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