Leitora pergunda sobre planejamento familiar

Pergunta

A paz de Jesus e o amor de Maria estejam em vossos corações.

Meu nome é A., sou Católica e participo da RCC há onze anos.

Tenho muita admiração pela sua pessoa, e no intuito de buscar esclarecimentos em algumas dúvidas tomei a liberdade em contactar-lhes.

Se puder me responder ou me indicar um caminho, antecipadamente agradeço-lhes.
Vou me casar no dia 27 de novembro deste ano (Dia de Nossa Senhora das Graças!). Adquiri o livro sobre o Método Billings e também conheço a direção que a Igreja nos dá sobre o controle de natalidade.

Quando o Catecismo da Igreja ensina sobre o controle da natalidade, diz:

´A continência periódica, os métodos de regulação da natalidade baseados na auto-observação e recurso aos períodos infecundos (HV, 16) estão de acordo com os critérios objetivos da moralidade. Estes métodos respeitam o corpo dos esposos, animam a ternura entre eles e favorecem a educação de uma liberdade autêntica. Em compensação, é intrinsecamente má ‘toda ação que, ou em previsão do ato conjugal, ou durante a sua realização, ou também durante o desenvolvimento de suas conseqüências naturais, se proponha, como fim ou como meio, tornar impossível a procriação’ (HV,14)´, (CIC, 2370).

Confesso que ao ler o livro desanimei pois várias dúvidas me tomaram no coração. Por exemplo: como pode a mulher no seu período fértil está mais disposta a ter relações sexuais? E no período considerado infértil acontece ao contrário.
 
Resolvi escrever também porque neste semana fui me confessar e conversei com o meu confessor a respeito dos métodos aceitos pela Igreja. Disse a ele que o meu coração não estava convencido e eu tinha muitas dúvidas. Não quero fazer nada que a Igreja não concorde.

Ele me disse que a Igreja é prudente, e quando diz com relação aos métodos anticoncepcionais ela não poderia liberar mesmo. Serve como se fosse um freio. Disse que o Método Billings acaba agredindo a mulher e citou exatamente sobre a minha dúvida acima exposta.

Disse que eu poderia tranqüilizar meu coração, pois eu utilizaria um método anticoncepcional para um controle maior procurando desta forma um médico que me orientasse a respeito disso. Não estava querendo utilizar um método anticoncepcional, seja pílula, injeção…..para nunca ter filhos, mas para controlar e planejar melhor.

Comentou que se usasse um método natural e viesse a engravidar, eu estaria preparada para assumir plenamente essa criança, eu e meu marido? Teríamos que ter a responsabilidade se optássemos por um método que não tenho total segurança.

Perguntei a ele que se essa era a posição da Igreja e ele disse que eu poderia ficar tranquila.

Não calou em meu coração essa direção.

É claro que era tudo o que “eu” gostaria de ouvir, pois não tenho firmeza no método natural (sei que é errado) mas estou abrindo meu coração.
A decisão quero tomar com a Igreja, por isso tenho orado e pedido ao Espírito Santo que me ilumine.

Gostaria que me respondesse sobre a posição da Igreja e se há essa maleabilidade como o meu confessor citou.

Antecipadamente agradeço.

A.

Interior de SP.

Lins.

Resposta

Prezada irmã em Cristo A.

Tenho muita admiração pela sua pessoa, e no intuito de buscar esclarecimentos em algumas  dúvidas tomei a liberdade em contactar-lhes.”

Bem, não sei se a pessoa referia aqui sou eu, mas de qualquer forma nós do Veritatis Splendor nos sentimos muito lisonjeados. Saiba também que nossos leitores têm sempre a liberdade de contactar-nos, pois temos o objetivo final de informar segundo o ensino oficial da Santa Igreja Católica.

Gostaria de aproveitar a oportunidade e em nome de toda equipe Veritatis Splendor lhe desejar toda felicidade em seu casamento.

Mas, antes de entrarmos diretamente nas questões que nos foram levantadas, acho necessário pontuar bem a Doutrina da Santa Igreja quanto à regulação dos nascimentos, pois seu email não me deu a segurança de que a irmã foi corretamente orientada nesta questão.

A doutrina da Igreja sobre o Matrimônio

A doutrina da Igreja é clara: o matrimônio dos batizados sempre deve corroborar com o plano de Deus na geração de novas vidas.

Além do Catecismo que a irmã citou temos ainda as referências abaixo:

O gravíssimo dever de transmitir a vida humana, pelo qual os esposos são colaboradores livre e responsáveis de Deus Criador, foi sempre para eles fonte de grandes alegrias, se bem que, algumas vezes, acompanhadas de não poucas dificuldades e angústias.” (Encíclica Humane Vitae)

Mediante a doação pessoal recíproca, que lhes é própria e exclusiva, os esposos tendem para a comunhão dos seus seres, em vista de um aperfeiçoamento mútuo pessoal, para colaborarem com Deus na geração e educação de novas vidas.”  (Encíclica Humane Vitae)

O matrimônio e o amor conjugal estão por si mesmos ordenados para a procriação e educação dos filhos. Sem dúvida, os filhos são o dom mais excelente do matrimônio e contribuem grandemente para o bem dos pais” (Constituição Pastoral Gaudium et Spes)

A Paternidade Responsável

No entanto a Igreja reconhece que “as condições de trabalho e de habitação, do mesmo modo que as novas exigências, tanto no campo econômico como no da educação, não raro tornam hoje difícil manter convenientemente um número elevado de filhos.”  (Encíclica Humane Vitae)

A Igreja também entende que os Pais devem corroborar com Deus na geração da prole através de uma paternidade responsável:

o amor conjugal requer nos esposos uma consciência da sua missão de ‘paternidade responsável’, sobre a qual hoje tante se insiste, e justificadamente, e que deve também ela ser compreendida com exatidão. De fato, ela deve ser considerada sob diversos aspectos legítimos e ligados entre si.

Em relação com os processos biológicos, paternidade responsável significa conhecimento e respeito pelas suas funções: a inteligência descobre, no poder de dar a vida, leis biológicas que fazem parte da pessoa humana.

Em relação às tendências do instinto e das paixões, a paternidade responsável significa o necessário domínio que a razão e a vontade devem exercer sobre elas.

Em relação às condições físicas, econômicas, psicológicas e sociais, a paternidade responsável exerce-se tanto com a deliberação ponderada e generosa de fazer crescer uma família numerosa, como com a decisão, tomada por motivos graves e com respeito pela lei moral, de evitar temporariamente, ou mesmo por tempo indeterminado, um novo nascimento.

Paternidade responsável comporta ainda, e principalmente, uma relação mais profunda com a ordem moral objetiva, estabelecida por Deus, de que a consciência reta é intérprete fiel. O exercício responsável da paternidade implica, portanto, que os cônjuges reconheçam plenamente os próprios deveres, para com Deus, para consigo próprios, para com a família e para com a sociedade numa justa hierarquia de valores.”   (Encíclica Humane Vitae)

Isto significa, que os esposos não podem evitar filhos quando quiserem, mas quando isso for estritamente necessário pelas razões apresentadas acima e deve ser feita da forma acima ensinada pela Igreja, pois:

Na missão de transmitir a vida, eles não são, portanto, livres para procederem a seu próprio bel-prazer, como se pudessem determinar, de maneira absolutamente autônoma, as vias honestas a seguir, mas devem, sim, conformar o seu agir com a intenção criadora de Deus, expressa na própria natureza do matrimônio e dos seus atos e manifestada pelo ensino constante da Igreja”  (Encíclica Humane Vitae)

Contradição?

Bem, a Igreja ensina que o Matrimônio está SEMPRE orientado à geração de filhos, mas permite em casos especiais que os batizados evitem a prole… parece contradição, não? Não, não é contradição não. Quando se torna necessário evitar a prole, os batizados não fazem uso do seu matrimônio, veja:

Se, portanto, existem motivos sérios para distanciar os nascimentos, que derivem ou das condições físicas ou psicológicas dos cônjuges, ou de circunstâncias exteriores, a Igreja ensina que então é lícito ter em conta os ritmos naturais imanentes às funções geradoras, para usar do matrimônio só nos períodos infecundos e, deste modo, regular a natalidade, sem ofender os princípios morais que acabamos de recordar.” (Encíclica Humane Vitae)

Assim, não é porque existem métodos naturais para evitar a prole é que os batizados podem sempre usar deles. Sempre que o casal tiver condições de ter filhos, deve tê-los:

De fato, como o atesta a experiência, não se segue sempre uma nova vida a cada um dos atos conjugais. Deus dispôs com sabedoria leis e ritmos naturais de fecundidade, que já por si mesmos distanciam o suceder-se dos nascimentos. Mas, chamando a atenção dos homens para a observância das normas da lei natural, interpretada pela sua doutrinação constante, a Igreja ensina que qualquer ato matrimonial (quilibet matrimonü usus) deve permanecer aberto à transmissão da vida” (Encíclica Humane Vitae)

Em resumo, a chamada “Paternidade Responsável” é utilizar o Matrimônio com sabedoria, tanto para gerar a prole, quanto para evitá-la, corroborando com os desígnios divinos.

Métodos Naturais de Planejamento Familiar

A irmã citou que comprou um livro sobre o método Billings. Este método é aceito pela Santa Igreja porque ele leva “em conta os ritmos naturais imanentes às funções geradoras” e faz com que os esposos utilizem o “matrimônio só nos períodos infecundos“.

O livro comprado suscitou várias dúvidas e até deixou seu coração inquieto.

Por exemplo: como pode a mulher no seuperíodo fértil está mais disposta a ter relações sexuais? E no período considerado infértil acontece ao contrário.”

O período fértil, como se sabe, é o período ideal para a concepção de uma nova vida. Como sabemos, é desígnio do Criador que o Matrimônio esteja sempre aberto à geração da prole, então Ele já dispôs a natureza para estar mais disposta a ter relações sexuais exatamente nestes períodos. Esta sabedoria da natureza, é o que a Igreja chama de Lei Natural, que é um reflexo da Lei Divina. São Paulo faz alusão à Lei Natural, veja:

Os pagãos, que não têm a lei, fazendo naturalmente as coisas que são da lei, embora não tenham a lei, a si mesmos servem de lei; eles mostram que o objeto da lei está gravado nos seus corações, dando-lhes testemunho a sua consciência, bem como os seus raciocínios, com os quais se acusam ou se escusam mutuamente.” (Rm 2,14-15)

Você age muito bem em querer agir segundo o Ensinamento da Santa Igreja. Baseado em quê seu confessor alega que o método Billings agride a mulher?

Disse que eu poderia tranquilizar meu coração, pois eu utilizaria um método anticoncepcional para um controle maior procurando desta forma um médico que me orientasse a respeito disso. Não estava querendo utilizar um método anticoncepcional, seja pílula, injeção…..para nunca ter filhos, mas para controlar e planejar melhor.”

Devo que o “planejar melhor” deve estar de acordo com as disposições acima transcritas.

Infelizmente constato que este Prestítero não está pastoreando bem as suas ovelhas…

Ele age totalmente em desencontro com o Ensino da Santa Igreja. Ele até te desencorajou a usar qualquer tipo de método natural.

não tenho firmeza no método natural (sei que é errado) mas estou abrindo meu coração.”

Sim, seja sempre sincera, ainda mais com as coisas de Deus. Não há razão para temor e inseguraça. Lembre-se sempre que “A Igreja é a Coluna e o Fundamento da Verdade” (1Tm 3,15) e sendo Ela o Cristo na Terra, jamais iria colocar sobre seus filhos um fardo que não seja possível carregar (cf. Mt 11,28-30).

A Ceafam (Centro de Atendimento Familiar do Norte do Espírito Santo) garante a eficácia de EFICÁCIA DE 99,1% do método Billings (http://www.ceafam.com.br/aa_oferece_pg.htm).

Este método também conhecido pelo nome de seus descobridores, o casal de médicos australianos, John e Evelyn Billings tem uma eficácia comprovada, pela Organização Mundial de Saúde, de 98%, superior à pílula anticoncepcional cuja eficácia se situa entre 96% e 97%.

A natureza é sábia. Assim como um grão de milho ou de feijão, só dá origem a um nova planta quando a terra está molhada, também a mulher só dá uma nova vida quando está presente o muco cervical (está molhada).

O método da ovulação se baseia nas transformações naturais do corpo da mulher. Consiste, basicamente, na observação, pela mulher, do muco cervical. O muco é produzido no colo uterino e constitui uma espécie de barreira natural. Quando ele se torna líquido e flexível desce pela vagina e é sentido pela mulher. Inicialmente é úmido e pegajoso depois se torna elástico (3-5cm), muito elástico (5-10cm), regride e some. O muco é semelhante a clara de ovo. O espermatozóide é então alimentado e se movimenta, graças ao muco. Quando a mulher está com sensação de secura no decorrer do ciclo, antes e depois do muco, não é fértil.

Há um outro método natural que é baseado na observação da temperatura corporal da mulher. É o chamado ?método da temperatura basal?. O método da temperatura basal indica o período fértil quando a temperatura da mulher é alterada para maior. A temperatura basal é a temperatura mais baixa e estável do corpo, obtida após um período de total repouso. Geralmente pela manhã, antes de se levantar, o corpo humano tem a temperatura mais baixa durante o dia.

Diferentemente do homem, a mulher tem uma temperatura bifásica (uma fase alta e uma fase baixa). A ovulação (período fértil) se dá quando a temperatura se eleva.

Gostaria que me respondesse sobre a posição da Igreja e se há essa maleabilidade como o meu confessor citou.”

Infelizmente como já disse seu confessor não cumpriu seu papel de ensinar o que a Nossa Mãe e Mestra nos ensina. Ele te encorajou a suar métodos artificiais por sugerir que você tenha motivos justos. Veja o que a Igreja pensa disto:

“Não se podem invocar, como razões válidas, para a justificação dos atos conjugais tornados intencionalmente infecundos, o mal menor, ou o fato de que tais atos constituiriam um todo com os atos fecundos, que foram realizados ou que depois se sucederam, e que, portanto, compartilhariam da única e idêntica bondade moral dos mesmos. Na verdade, se é lícito, algumas vezes, tolerar o mal menor para evitar um mal maior, ou para promover um bem superior, nunca é lícito, nem sequer por razões gravíssimas, fazer o mal, para que daí provenha o bem]; isto é, ter como objeto de um ato positivo da vontade aquilo que é intrinsecamente desordenado e, portanto, indigno da pessoa humana, mesmo se for praticado com intenção de salvaguardar ou promover bens individuais, familiares, ou sociais.

É um erro, por conseguinte, pensar que um ato conjugal, tornado voluntariamente infecundo, e por isso intrinsecamente desonesto, possa ser coonestado pelo conjunto de uma vida conjugal fecunda” (Encíclica Humane Vitae)

Todo método não-natural, agride a saúde da mulher. A Igreja só aceita o uso de tais métodos em casos terapêuticos:

15. A Igreja, por outro lado, não considera ilícito o recurso aos meios terapêuticos, verdadeiramente necessários para curar doenças do organismo, ainda que daí venha a resultar um impedimento, mesmo previsto, à procriação, desde que tal impedimento não seja, por motivo nenhum, querido diretamente.”  (Encíclica Humane Vitae)

Confie em Cristo e na Sua Esposa a Igreja.

Espero ter ajudado.

Seu irmão em Cristo,

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