Leitora tem dúvidas em relação a quem pode receber a comunhão

Parabéns pelo belíssimo trabalho de vocês. Tenho dúvidas na hora de comungar? Se qualquer pessoa pode receber a hostia sagrada? Ex: casais que não são casados na igraja católica, etc..


Caríssima Sra. Veruska, estimada em Cristo,

Obrigado por seus elogios, frutos mais de sua caridade do que de nossos merecimentos. Reze por nosso apostolado, para que continue servindo a Deus e Sua Igreja.

Vamos à resposta de sua questão, a qual reputamos muito necessária nos dias de hoje, em que tantas comunhões sacrílegas são feitas.

Primeiro, temos de precisar o que é o sacramento da Eucaristia. Sabemos que Cristo, Nosso Senhor, nos salvou por Seu sacrifício na Cruz. Essa Cruz torna-se presente na Santa Missa, não como um novo sacrifício, mas sendo o mesmo tornado presente.

A Santa Missa é o mesmo, único e suficiente sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo, oferecido de uma vez por todas, ao Pai, na Cruz do Calvário, pelo perdão de nossos pecados, tornado real e novamente presente, ainda que de outro modo, incruento, no altar da igreja pelas mãos do sacerdote validamente ordenado.

Mesmo, único e suficiente: a Missa não é um novo sacrifício para saldar nossa dívida para com Deus. Oferecido de uma vez por todas, ao Pai, na Cruz do Calvário: a Missa é o mesmo sacrifício da Cruz, não um outro. Pelo perdão de nossos pecados: como a Cruz foi a causa de nosso perdão, merecendo-nos a graça de Deus, assim também é a Missa. Tornado real e novamente presente: a mesma Cruz é tornada presente diante de nós, pois para Deus não há limite de espaço ou tempo. Ainda que de outro modo, incruento: na Cruz, Cristo derramou Seu Preciosíssimo Sangue; na Santa Missa, a Cruz é tornada novamente presente, mas de outro modo, sem derramamento de Sangue – não é, repetimos, uma nova morte de Cristo, mas a mesma e única, porém de modo incruento. No altar da igreja: todo sacrifício precisa de um altar; a Cruz foi o altar onde Cristo ofereceu o sacrifício de Seu Corpo Santíssimo; na Missa não há uma Cruz física onde Cristo deva morrer, mas um altar onde é celebrado o sacrifício e os dons são oferecidos. Pelas mãos do sacerdote: num sacrifício, além do altar, é preciso uma vítima e um sacerdote, i.e., um sacrificador; quando o altar foi a Cruz, Jesus Cristo foi a Vítima, mas também o Sacerdote, pois ninguém O matou, antes Ele mesmo Se entregou à morte por nós; na Santa Missa, se o altar é o da igreja, e a vítima é Cristo, eis que o sacrifício é o mesmo, também há identidade quanto ao sacerdote, o sacrificador. Validamente ordenado: Jesus mandou que os Apóstolos realizassem o sacrifício feito na Cruz e antecipado na última Ceia, e eles passaram o mandato a seus sucessores e aos colaboradores destes; os sucessores dos Apóstolos são os Bispos, e os colaboradores os padres, unidos a Cristo pelo sacramento da Ordem.

Não são dois sacrifícios, o da Cruz e o da Missa, mas um só, o da Cruz, tornado presente na Missa. Acompanhemos o que escreveu o Papa João Paulo II na Encíclica Ecclesia de Eucharistia:

“Este aspecto de caridade universal do sacramento eucarístico está fundado nas próprias palavras do Salvador. Ao instituí-lo, não Se limitou a dizer ‘isto é o meu corpo’, ‘isto é o meu sangue’, mas acrescenta: ‘entregue por vós (…) derramado por vós’ (Lc 22, 19-20). Não se limitou a afirmar que o que lhes dava a comer e a beber era o seu corpo e o seu sangue, mas exprimiu também o seu valor sacrifical, tornando sacramentalmente presente o seu sacrifício, que algumas horas depois realizaria na cruz pela salvação de todos. ‘A Missa é, ao mesmo tempo e inseparavelmente, o memorial sacrifical em que se perpetua o sacrifício da cruz e o banquete sagrado da comunhão do corpo e sangue do Senhor’.

A Igreja vive continuamente do sacrifício redentor, e tem acesso a ele não só através duma lembrança cheia de fé, mas também com um contacto atual, porque este sacrifício volta a estar presente, perpetuando-se, sacramentalmente, em cada comunidade que o oferece pela mão do ministro consagrado. Deste modo, a Eucaristia aplica aos homens de hoje a reconciliação obtida de uma vez para sempre por Cristo para humanidade de todos os tempos. Com efeito, ‘o sacrifício de Cristo e o sacrifício da Eucaristia são um único sacrifício’. Já o afirmava em palavras expressivas S. João Crisóstomo: ‘Nós oferecemos sempre o mesmo Cordeiro, e não um hoje e amanhã outro, mas sempre o mesmo. Por este motivo, o sacrifício é sempre um só. […] Também agora estamos a oferecer a mesma vítima que então foi oferecida e que jamais se exaurirá’.

A Missa torna presente o sacrifício da cruz; não é mais um, nem o multiplica. O que se repete é a celebração memorial, a ‘exposição memorial’ (memorialis demonstratio), de modo que o único e definitivo sacrifício redentor de Cristo se atualiza incessantemente no tempo. Portanto, a natureza sacrifical do mistério eucarístico não pode ser entendida como algo isolado, independente da cruz ou com uma referência apenas indireta ao sacrifício do Calvário.” (Sua Santidade, o Papa João Paulo II. Encíclica Ecclesia de Eucharistia, 12)

Também Pio XII:

“O augusto sacrifício do altar não é, pois, uma pura e simples comemoração da paixão e morte de Jesus Cristo, mas é um verdadeiro e próprio sacrifício, no qual, imolando-se incruentamente, o sumo Sacerdote faz aquilo que fez uma vez sobre a cruz, oferecendo-se todo ao Pai, vítima agradabilíssima. ‘Uma… e idêntica é a vítima: aquele mesmo, que agora oferece pelo ministério dos sacerdotes, se ofereceu então sobre a cruz; é diferente apenas, o modo de fazer a oferta.'” (Sua Santidade, o Papa Pio XII. Encíclica Mediator Dei, 61)

O sacerdote que celebra o Santo Sacrifício da Missa deve participar como sacrificador. E nessa função ministerial, a mais sagrada e a mais excelsa que possa existir, o sacerdote deve ter consciência de que faz as vezes de Jesus Cristo, Nosso Senhor; melhor, o próprio Salvador age através do padre. Portanto, deve o celebrante estar revestido das disposições próprias do Coração de Cristo, e unir-se a Ele mediante uma sincera devoção e uma piedade verdadeira e desinteressada. Deve desejar, de toda a sua alma, emprestar seus gestos e sua fala a Jesus para que assim, agindo in Persona Christi, como adiante explicitaremos, melhor celebre tão santos mistérios. É nesse sentido que há uma oração no Ordinário na Missa em rito romano que o sacerdote reza durante o Ofertório, silenciosamente, e que resume bem essa intenção do celebrante de estar arrependido de seus pecados e de oferecer um sacrifício agradável a Deus: “De coração contrito e humilde, sejamos, Senhor, acolhidos por vós; e seja o nosso sacrifício de tal modo oferecido que vos agrade, Senhor, nosso Deus.” (Missal Romano; Ordinário da Missa; Preparação das Oferendas)

O fiel, por sua vez, participa da Santa Missa assistindo-a com toda a vontade de unir-se aos sentimentos de Cristo. Se não pode, como o padre, ser o próprio Jesus oferecendo-Se na Cruz, deve, então, assistir o maravilhoso espetáculo do sacrifício de um Deus-homem que morre por nossos pecados com a disposição de alma de quem aspira imitar aqueles santos que estiveram aos pés do Calvário. A Cruz torna-se presente na Missa, e porquanto naquela estavam presentes a Santíssima Virgem e o discípulo amado, São João, o Apóstolo e Evangelista, quando estamos assistindo o Santo Sacrifício devemos ter as mesmas atitudes de ambos. Certamente, não estavam Nossa Senhora nem São João batendo palmas: sua alegria pela salvação que se operava era interna, e se misturava com uma viva dor pelos pecados da humanidade, cometidos de tal forma que fizeram Deus sofrer e derramar Seu Sangue por nós. Imitando os sentimentos e atitudes de São João e da Virgem Maria aos pés da Cruz, estamos participando da Missa de um modo santo e salutar

Praticamente, isso consiste em ficar atento em cada detalhe, acompanhar as orações do sacerdote com o coração ao menos – pois que nem sempre, pela diferente cultura teológica de cada um do povo, podemos entender perfeitamente as precisões litúrgicas –, e cumprir os ritos prescritos pela sabedoria multissecular da Santa Igreja. Mais do que tudo deve o fiel oferecer durante a Missa todo o seu ser para que, unido a Cristo, seja também ofertado ao Pai na hora do sacrifício.

São Leonardo de Porto Maurício, ardoroso apóstolo da Santa Missa, nos dá seu ensino, ainda bastante atual: “Eis o meio mais adequado para assistir com fruto a Santa Missa: consiste em irdes à igreja como se fôsseis ao Calvário, e de vos comportardes diante do altar como o faríeis diante do Trono de Deus, em companhia dos santos anjos. Vede, por conseguinte, que modéstia, que respeito, que recolhimento são necessários para receber o fruto e as graças que Deus costuma conceder àqueles que honram, com sua piedosa atitude, mistérios tão santos.” (São Leonardo de Porto Maurício. Tesouro Oculto)

O sacerdote, antes de celebrar a Santa Missa, deve dizer algumas orações, como as previstas pela liturgia da Igreja. Elas ajudam-no a melhor se preparar para oferecer tão augusto sacrifício a Deus, Nosso Senhor. Entre elas, contam-se aquela na qual o celebrante pede a graça de bem celebrar e dispõe-se a oferecer a Missa segundo o rito e a intenção da Santa Igreja. Outras, ajudam-no a dispor sua alma para penetrar no tremendo mistério da Santa Missa.

O fiel participante da Missa é convidado a também rezar algumas orações, antes de começar a celebração, preparando sua alma para receber os efeitos do sacrifício e do sacramento.

“Cân. 898 – Os fiéis tenham na máxima honra a santíssima Eucaristia, participando ativamento do augustíssimo Sacrifício, recebendo devotíssima e freqüentemente esse sacramento e prestando-lhe culto com suprema adoração (…).” (Código de Direito Canônico)

Na Santa Missa, como na Cruz, a Vítima é Jesus Cristo. De que modo?

“Trata-se realmente de uma única e mesma vítima, que o próprio Jesus oferece pelo ministério dos sacerdotes, Ele que um dia Se ofereceu a Si mesmo na cruz; somente o modo de oferecer-Se é que é diverso” (Concílio Ecumênico de Trento, Sess. XXII, Doutrina do Santíssimo Sacrifício da Missa, cap. 2: DS 1743)

O sacrifício de Cristo, oferecido na Cruz do Calvário, antecipado na Última Ceia, e renovado na Santa Missa, é a doação de Seu Corpo e de Sangue entregues ao Pai pela remissão de nossas faltas, e também a nós como alimento espiritual, sob as aparências de pão e de vinho: “‘Eu sou o pão da vida. Vossos pais no deserto, comeram o maná e morreram. Este é o pão que desceu do céu, para que não morra todo aquele que dele comer. Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão, que eu hei de dar, é a minha carne para a salvação do mundo.’ A essas palavras, os judeus começaram a discutir, dizendo: ‘Como pode este homem dar-nos de comer a sua carne?’ Então Jesus lhes disse: ‘Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós mesmos. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeiramente uma comida e o meu sangue, verdadeiramente uma bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele.'” (Jo 6,48-56)

O mesmo Corpo de Cristo que morre na Cruz – morte esta que se torna atual no Sacrifício da Missa –, é oferecido a nós na mesa da comunhão. O Sangue derramado é dado também a nós. Podemos dizer que o Corpo de Jesus morto e o Sangue de Jesus derramado por nós no sacrifício que é tornado presente na Santa Missa são dados no sacramento da Eucaristia, dessa vez não “por nós” mas “para nós”. Portanto, a Eucaristia deve ser vista sob o aspecto de sacrifício e sob o aspecto de sacramento. “É necessário confessar como de fé católica que Cristo inteiro está neste sacramento.” (Santo Tomás de Aquino. Suma Teológica, III, Q. 76, a. I)

O pão, durante a Missa, é mudado no Corpo de Cristo. O vinho, durante a Missa, é mudado no Sangue de Cristo. Não se trata de meros símbolos do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo. O Corpo e o Sangue são reais. As aparências continuam de pão e de vinho, com gosto de pão e de vinho, cheio de pão e de vinho. A realidade, todavia, é bem outra. Ainda que os sentidos acusem a presença de pão e de vinho, eles foram mudados em sua substância no Santíssimo Corpo e no Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Por causa dessa alteração de substância, de essência, chamamos tal conversão, tal mudança, de transubstanciação.

“Por ter Cristo, nosso Redentor, dito que aquilo que oferecia sob a espécie do pão era verdadeiramente seu Corpo, sempre se teve na Igreja esta convicção, que o santo Concílio declara novamente: pela consagração do pão e do vinho opera-se a conversão de toda a substância do pão na substância do corpo de Cristo nosso Senhor, e de toda a substância do vinho na substância do seu sangue; a esta mudança, a Igreja católica chama, de modo conveniente e apropriado, transubstanciação.” (Concílio Ecumênico de Trento. Sess. XIII, Decreto sobre a Santíssima Eucaristia, cap. 4: DS 1642)

É o mesmo ensino do Papa Gregório VII:

“Creio de coração e confesso de palavra que o pão e o vinho, colocados sobre o altar, se convertem substancialmente, pelo mistério da oração sagrada e das palavras do nosso Redentor, na verdadeira, própria e vivificante Carne e no Sangue de nosso Senhor Jesus Cristo; e que, depois de consagrados, são o verdadeiro Corpo de Cristo, que nascido da Virgem e oferecido pela salvação do mundo, esteve suspendido na Cruz e agora está assentado à direita do Pai; como também o verdadeiro Sangue de Cristo, que saiu do seu peito. Não está Cristo somente como figura e virtude do Sacramento, mas também na propriedade da natureza e na realidade da substância”. (Mansi, Sacr. Concil. nova et ampliss. collectio, XX, 524D)

Aquilo que aparenta ser pão e vinho é o Corpo e o Sangue de Jesus, o mesmo que foi oferecido na Cruz do Calvário. Na Missa, verdadeiro sacrifício que é, a Vítima, Cristo, precisa ser sacrificada. E esse sacrifício é consumado pela comunhão, i.e., pelo ato do sacerdote celebrante consumir o Corpo e o Sangue, comer o Corpo e beber o Sangue, de acordo com o ensino do próprio Senhor.

Ensina o Santo Padre, o Papa João Paulo II, em sua Encíclica Mysterium Fidei:

“São João Crisóstomo, que, como sabeis, tratou com tanta elevação de linguagem e tão iluminada piedade o Mistério Eucarístico, exprimiu-se nos seguintes termos precisos, ao ensinar aos seus féis esta verdade: ‘Inclinemo-nos sempre diante de Deus sem o contradizermos, embora o que Ele diz possa parecer contrário à nossa razão e à nossa inteligência; sobre a nossa razão e a nossa inteligência, prevaleça a sua palavra. Assim nos comportemos também diante do Mistério (Eucarístico), não considerando só o que nos pode vir dos nossos sentidos, mas conservando-nos fiéis às suas palavras. Uma palavra sua não pode enganar’.

Idênticas afirmações encontramos freqüentemente nos Doutores Escolásticos. Estar presente neste Sacramento o verdadeiro Corpo e o verdadeiro Sangue de Cristo, ‘não é coisa que se possa descobrir com os sentidos, diz Santo Tomás, mas só com a fé, baseada na autoridade de Deus. Por isso, comentando a passagem de São Lucas, 22,19: Isto é o meu corpo que será entregue por vós, diz São Cirilo: Não ponhas em dúvida se é ou não verdade, mas aceita com fé as palavras do Salvador; sendo Ele a Verdade, não mente’.

Repetindo a expressão do mesmo Doutor Angélico, assim canta o povo cristão: ‘Enganam-se em ti a vista, o tato e o gosto. Com segurança só no ouvido cremos: creio tudo o que disse o Filho de Deus. Nada é mais verdadeiro do que esta palavra de verdade’.

Mais ainda: é São Boaventura quem afirma: ‘Estar Cristo no Sacramento como num sinal, nenhuma dificuldade tem; estar no Sacramento verdadeiramente, como no céu, tem a maior das dificuldades: é pois sumamente meritório acreditá-lo.'” (Sua Santidade, o Papa João Paulo II. Encíclica Mysterium Fidei, 17-19)

Ensina, outrossim, o grande Santo Agostinho, sobre a presença real de Cristo na Hóstia consagrada, e também sobre nossas disposições ao comungarmos: “A mesma carne, com que andou (o Senhor) na terra, essa mesma nos deu a comer para nossa salvação; ninguém come aquela Carne sem primeiro a adorar…; não só não pecamos adorando-a, mas pecaríamos se a não adorássemos” (Santo Agostinho. In Ps., 98,9; PL 37,1264)

Quais os efeitos do sacramento da Eucaristia na alma do comungante?

Segundo o Catecismo da Igreja Católica, ei-los: a) a comunhão aumenta a nossa união com Cristo; b) a comunhão separa-nos do pecado; c) a comunhão apaga os pecados veniais; d) a comunhão nos preserva dos pecados mortais futuros; e) a comunhão une o Corpo Místico de Cristo, a Igreja; f) a comunhão compromete com os pobres (cf. Catecismo da Igreja Católica, 1391-1397). A liturgia da Missa resume esses efeitos: “Pela comunhão neste sublime sacramento, a todos nutris e santificais. Fazeis de todos um só coração, iluminais os povos com a luz da mesma fé e congregais os cristãos na mesma caridade. Aproximamo-nos da mesa de tão grande mistério, para encontrar por vossa graça a garantia da vida eterna.” (Missal Romano; Prefácio da Santíssima Eucaristia, II)

Os frutos todos partem daquele primeiro: a união com Nosso Senhor Jesus Cristo. “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele.” (Jo 6,56) Ora, cada sacramento tem seu efeito próprio. O efeito geral é produzir a graça santificante, presente em todos os sacramentos. Além disso, há uma graça específica ligada a cada sacramento em particular. Assim, a Ordem confere ao ordenando a participação no múnus ministerial de Cristo; o Batismo apaga o pecado e dá ao batizando a condição de filho de Deus; a Penitência perdoa os pecados pessoais cometidos pelo penitente, reconciliando-o com Deus; a Crisma confirma a fé do crismando, dando-lhe poder para testemunhar o Nome de Cristo com os dons do Espírito Santo que são infundidos na sua alma; o Matrimônio une os esposos em um contrato indissolúvel para a união plena e amorosa entre os dois e a procriação; a Unção dos Enfermos confere a saúde espiritual, moral e, em certos casos, física, dando ao ungido a graça de suportar a enfermidade e unir seu sacrifício ao supremo suplício de Jesus. Dessa maneira, o efeito próprio da recepção do sacramento da Eucaristia é a união da alma do comungante com a de Cristo! O comungante e Jesus tornam-se um só, e, dessa maneira, pela freqüente comunhão, o fiel vai sendo moldado em um novo “Cristo”, crescendo espiritualmente e sendo aceito por Deus, produzindo-se em sua alma a justificação. Diz Santo Alberto Magno, o mestre de Santo Tomás: “Toda vez que duas coisas se unem, é o mais forte que vence. É o mais potente que transforma em si o mais fraco. Por isso, como este alimento possui uma força mais potente do que aqueles que O recebem, transforma em si mesmo os que se nutrem Dele.” (Santo Alberto Magno, citado por GAMBARINI, Pe. Alberto. Em que cremos? Doutrina católica e Bíblia. 5ª edição, 1997, Loyola, São Paulo, pp. 64-65) Nesse sentido, progressivamente unindo-se mais e mais a Cristo, o comungante vai fugindo do pecado, tem seus pecados veniais apagados, separa-se de todo apego ao pecado, une-se à toda a Igreja Católica, Corpo Místico de Nosso Senhor e Comunhão dos Santos, e compromete-se com os irmãos necessitados.

Pela comunhão, o católico une-se a Cristo não só espiritualmente – o que poderia fazer pela oração e pela fé –, porém real, mística e substancialmente, eis que a Hóstia consagrada não representa o Corpo de Cristo, senão é o próprio, transubstanciada a anterior essência de pão na Carne Santíssima de Nosso Deus.

Quando Cristo vem espiritualmente à nossa alma pela oração, santificamo-nos. Quanto mais não seremos santificados se Cristo vem à nossa alma e ao nosso corpo, unindo nossa alma à d´Ele, e nosso corpo ao d´Ele – pois a Alma e o Corpo de Cristo estão unidos, uma vez que Se encontra Nosso Salvador vivo e Ressuscitado!

Se pela simples participação na Missa, ainda que não comungando, o fiel já recebe incontáveis graças por assistir ao Santo Sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo oferecido por todos nós na Cruz do Calvário e tornado real e novamente presente pelas mãos do sacerdote celebrante, o que não se dirá de quando recebemos esse mesmo Corpo do Salvador morto nesse mesmíssimo sacrifício e esse Sangue do Rei dos Reis derramado por nossa salvação?! Assistindo a Missa contemplamos o sacrifício que se torna atual e nos unimos espiritualmente a Cristo; comungando, recebemos pessoalmente o fruto do sacrifício pela união não apenas espiritual senão real com aquele Corpo que foi oferecido na Cruz. Assistir a Missa já é um grande bem para o fiel; comungar é a plenitude desse bem, pois é uma possibilidade infinitamente mais excelsa de nos unirmos ao Cristo que Se sacrifica na Santa Missa. Em resumo, se a Missa é o sacrifício da Cruz tornado real e novamente presente diante de nós, a recepção da Comunhão Eucarística é atualização dos efeitos desse mesmo sacrifício em nossa alma. A Santa Missa é a atualização do sacrifício; a comunhão é a atualização em nós dos efeitos desse mesmo sacrifício.

“Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeiramente uma comida e o meu sangue, verdadeiramente uma bebida.” (Jo 6,54-55)

Por isso, o sacerdote, antes de comungar, recita uma oração prescrita pelo Missal Romano e que a seguir transcrevemos:

“Senhor Jesus Cristo, Filho do Deus vivo, que, cumprindo a vontade do Pai e agindo com o Espírito Santo, pela vossa morte destes vida ao mundo, livrai-me dos meus pecados e de todo mal; pelo vosso Corpo e pelo vosso Sangue, dai-me cumprir sempre a vossa vontade e jamais separar-me de vós.” (Missal Romano; Ordinário da Missa; Oração antes da Apresentação do Corpo do Senhor, I)

Ou, em sua versão resumida:

“Senhor Jesus Cristo, o vosso Corpo e o vosso Sangue, que vou receber, não se tornem causa de juízo e condenação; mas, por vossa bondade, sejam sustento e remédio para minha vida.” (Missal Romano; Ordinário da Missa; Oração antes da Apresentação do Corpo do Senhor, II)

É muito útil meditar nessas duas preces, a fim de termos bem presente o fruto que queremos ter quando comungarmos.

Ao comungar, o fiel deve agradecer profundamente o dom que recebeu da presença de Jesus em sua alma e seu corpo, e esforçar-se, por orações, observância dos mandamentos, e atitude de gratidão, por tornar perene essa união verdadeira que se produziu pela recepção do sacramento.

A Eucaristia é, pois, o alimento espiritual de nossa alma, como atestam, unânimes, a Sagrada Escritura, a Tradição Apostólica, o Magistério da Igreja, as lições dos santos, e mesmo os textos da liturgia: “Sua carne, imolada por nós, é o alimento que nos fortalece. Seu sangue, por nós derramado, é a bebida que nos purifica.” (Missal Romano; Prefácio da Santíssima Eucaristia, I) “Pela comunhão neste sublime sacramento, a todos nutris e santificais.” (Missal Romano; Prefácio da Santíssima Eucaristia, II)

Por outro lado, comungar é antecipar as alegrias do Reino dos Céus que nos virá quando ressuscitarmos no último dia, por ocasião do Juízo Final. Dessa maneira, quem participa do banquete eucarístico antecipa misticamente sua participação no banquete escatológico do final dos tempos, quando Jesus vier em glória para reinar sobre todos. “Na Eucaristia, testamento de seu amor, ele se fez comida e bebida espirituais, que nos sustentam na caminhada para a Páscoa eterna. Com esta garantia de ressurreição final, esperamos participar do banquete de vosso Reino.” (Missal Romano; Prefácio da Santíssima Eucaristia, III)

Sabendo, agora, o que é realmente a Eucaristia, podemos responder, com mais propriedade, à sua indagação central.

Quem pode comungar?

“Cân. 912 – Qualquer batizado, não proibido pelo direito, pode e deve ser admitido à sagrada comunhão.” (Código de Direito Canônico)

Temos de considerar a recepção do sacramento da Eucaristia sob os aspectos da validade e da licitude, e, após analisar as disposições de alma requeridas para o comungante.

Qualquer batizado é sujeito capaz para receber validamente a comunhão, pois o Batismo o insere na Igreja, dando-lhe a dignidade de filho de Deus, irmão de Jesus Cristo, e templo do Espírito Santo. Não sendo válida a comunhão, ainda que o seja o sacramento – pois Cristo não “se retira” da hóstia consagrada –, não produz na alma os efeitos próprios, i.e., a graça santificante e a graça específica.

Pois que não estamos em uma nação pagã, mas evangelizada e cristianizada, o Batismo é algo comum, tanto conferido por ministro católico quanto por pregadores de grupos protestantes. Dessa maneira, a questão que mais nos interesse é quanto à licitude do ato de comungar.

Receber o Corpo de Cristo é deixar com que Ele, Nosso Deus e Salvador, entre em nós de verdade. Para fazer isso, requer-se, antes de tudo, que saibamos discernir o pão comum do pão eucarístico, e que estejamos livres das manchas mais graves que nos separam d´Ele, pois o “Cristo, convida para o banquete eucarístico, é sempre o mesmo Cristo que exorta à penitência.” (Sua Santidade, o Papa João Paulo II. Encíclica Redemptor Hominis, 20). Além disso, é preciso que a comunhão com Deus seja também comunhão com a Sua Igreja, una, santa, católica e apostólica, sob o primado do Romano Pontífice.

Nisso, é sujeito capaz de receber a comunhão licitamente a pessoa que tenha uso da razão, possua um conhecimento suficiente do mistério celebrado, não existindo perigo de profanação (vômitos, tosse contínua etc), nem seja ela ré de cisma ou heresia.

Quanto às disposições de alma necessárias e obrigatórias para a participação na Eucaristia, é preciso que o comungante esteja em estado de graça, possua reta intenção e se aproxime do sacramento com a devoção própria.

Sendo assim, é apto para a mesa da Comunhão Eucarística o cristão batizado que, em estado de graça, i.e., sem nenhum pecado mortal, esteja em plena união com a Igreja de Cristo, entenda o que é o sacramento da Eucaristia, bem como as verdades básicas da Fé Católica, e tenha a intenção de fazer, na recepção do sacramento, aquilo que a Igreja crê ser necessário, ou seja, unir-se à Cristo real e substancialmente presente na Eucaristia, em Corpo, Sangue, Alma e Divindade. Estão, pois, excluídos, os não-batizados (os catecúmenos, aqueles que se preparam para o Batismo, receberão a Eucaristia por ocasião de sua recepção na Igreja; os pagãos não comungam, entretanto, porque não há sentido algum nesse ato), os hereges e cismáticos (só podem receber a Eucaristia em casos extremamente graves e autorizados pelo Direito Canônico, e depois de confessarem sua fé na presença real de Cristo no sacramento, crendo como crê a Igreja Católica), os que não chegaram à razão suficiente para compreender tal mistério ou ainda não o entendem como o entende a Igreja (devem, nesse caso, esperar a idade em que poderão discernir o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor realmente presentes, ou, se o tempo adequado já se apresenta, receber adequada instrução), e os que se encontram em pecado mortal (para resolver essa situação, precisam procurar um sacerdote católico com poder de jurisdição para perdoar seus pecados, e confessá-los sinceramente arrependidos).

Pessoas casadas em segundas núpcias – na constância de outro casamento válido perante a Igreja – não podem comungar, pois sua situação irregular atenta contra a indissolubilidade do Matrimônio – pecado mortal por estar em vida conjugal com aquele que não é seu marido perante Deus e a Igreja; discordância com o ensino da Igreja em matéria moral, o que caracteriza falta de unidade, de comunhão, tornando a Comunhão Eucarística algo sem significado para quem assim se encontra. O mesmo vale para os casados só no civil (e para os católicos que casaram em alguma igreja protestante sem a autorização para dispensa de forma canônica dada pelo Bispo), dado que, não recebendo o sacramento do Matrimônio, vivem em adultério com seu cônjuge.

“Cân. 915 – Não sejam admitidos à sagrada comunhão os excomungados e os interditados, depois da imposição ou declaração da pena, e outros que obstinadamente persistem no pecado grave manifesto.” (Código de Direito Canônico)

Deve-se observar, outrossim, o jejum eucarístico de uma hora antes do momento de comungar, abstendo-se o pretendente à Comunhão Eucarística de todo alimento e bebida que não seja água. Por motivo de doença, velhice, ou in articulo mortis, o jejum eucarístico pode ser dispensado. Também está dispensado do jejum todo aquele que cuida de pessoas enfermas e idosas. Sobre a norma do jejum eucarístico, cf. cân. 919 do Código de Direito Canônico.

Lembramos que os comungantes estejam com roupas decentes e tenham um conveniente asseio.

Toda pessoa que possa, válida e licitamente, receber a Eucaristia, devem fazê-lo obrigatoriamente ao menos uma vez por ano, por ocasião da Páscoa – preceito que pode ser cumprido durante todo o Tempo Pascal. “Cân. 920 – § 1. Todo fiel, depois que recebeu a santíssima Eucaristia pela primeira vez, tem a obrigação de receber a sagrada comunhão ao menos uma vez por ano.” (Código de Direito Canônico) A Igreja, todavia, exorta que os fiéis comunguem não somente por essa ordem, mas todos os Domingos e, se estiverem de posse de uma reta e pia intenção, mesmo todos os dias.

Palavras colocadas na boca de Cristo pelo autor de um famoso opúsculo espiritual: “Tu precisas de mim: e eu não preciso de ti. Não és tu que vens santificar-me a mim: sou eu que venho a ti para fazer-te melhor e santificar-te. Tu vens para que eu te santifique, para te unires a mim, para receberes uma graça nova e te abrasares dum ardente desejo de adiantar na virtude. Não desprezes, pois, esta graça; mas prepara com toda a diligência teu coração e recebe em teu peito o teu Amado.” (Imitação de Cristo, Livro IV, Cap. XII. Tradução do texto latino. Editora Ave-Maria)

Antes de comungar, é conveniente que o fiel, mesmo durante a Missa, se prepare adequadamente. Para isso, propomos a seguinte oração, de Santo Tomás de Aquino:

“Oração para Antes da Comunhão

Ó Deus eterno e todo-poderoso, eis que me aproximo do sacramento do vosso Filho Único, Nosso Senhor Jesus Cristo. Impuro, venho à fonte da misericórdia; cego, à luz da eterna claridade; pobre e indigente, ao Senhor do Céu e da Terra.

Imploro, pois, a abundância de vossa imensa liberalidade para que vos digneis curar minha fraqueza, lavar minhas manchas, iluminar minha cegueira, enriquecer minha pobreza, e vestir minha nudez.

Que eu receba o Pão dos Anjos, o Rei dos reis e o Senhor dos senhores, com o respeito e a humildade, com a contrição e a devoção, a pureza e a fé, o propósito e a intenção que convém à salvação de minha alma. Dai-me receber não só o sacramento do Corpo e do Sangue do Senhor, mas também seu efeito e sua força.

Ó Deus de mansidão, dai-me acolher com tais disposições o Corpo que vosso Filho Único, Nosso Senhor Jesus Cristo, recebeu da Virgem Maria, e que eu seja incorporado a seu Corpo Místico e contado entre seus membros.

Ó Pai cheio de amor, fazei que recebendo agora o vosso Filho sob o véu do sacramento, possa na eternidade contemplá-lo face a face. Ele que convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo. Amém.”

Os fiéis podem receber a Eucaristia mais de uma vez no mesmo dia, segundo as normas do direito. “Cân. 917 – Quem já recebeu a santíssima Eucaristia pode recebê-la novamente no mesmo dia, somente dentro da celebração eucarística em que participa, salva a prescrição do cân. 921, § 2.” (Código de Direito Canônico) Que prescrição é essa? Ei-la, ipsis litteris: “Cân. 921 – (…) § 2. Mesmo que já tenham comungado nesse dia, recomenda-se vivamente que comunguem de novo aqueles que vierem a ficar em perigo de morte.”  Por outro lado, os fiéis só podem fazer uso da prerrogativa do cân. 917, que autoriza a recepção da Eucaristia novamente no mesmo dia, uma única vez, restando que a Santa Comunhão Eucarística só pode ser recebida, então, em uma segunda vez, conforme o teor da resposta da Pontifícia Comissão para a Interpretação do Código de Direito Canônico, de 26 de junho de 1984, cf. Communicationes, 15, 1983, p. 195.

Esperamos ter respondido sua pergunta.

Em Cristo,

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