Luterano questiona a autoridade da Igreja Católica

De: “Marcos Grillo”

Enviada em: 10/02/03 19:49

Prezado Alexandre,

Agradeço por sua atenciosa resposta. Não pretendo comentá-la ponto por ponto, mas gostaria, se me permite, de fazer alguns breves comentários.

É uma pena que você não a tenha comentado mais profundamente. Do que posso perceber desta tua resposta, aliás, você mudou completamente de assunto. Falávamos do livre exame, sendo que eu tentei te mostrar o quão desprovido de sentido é este dogma protestante; agora, passamos a falar da Sucessão Apostólica.

Por certo, há uma ligação entre estes dois temas. Mas o ideal é que, primeiramente, esgotássemos o assunto anterior e, apenas então, adentrássemos neste novo. Afinal, caso se demonstre o absoluto despropósito do livre exame, fica patente a necessidade de um Magistério infalível (e, de tabela, da sucessão apostólica), sob pena de se jogar o cristianismo numa confusão sem fim. Se o crente não pode interpretar a Bíblia sozinho, e se não há um Magistério infalível, o cristianismo jamais será entendido ou vivido por quem quer que seja.

No que concerne à imprescindibilidade da Tradição e do Magistério ? os quais não são terminantemente rejeitados pelos protestantes, e sim são entendidos como uma fonte secundária em relação às Sagradas Escrituras, isto é, em caso de discrepância, deve prevalecer o texto sagrado ? o problema central me parece ser o que se chama de “sucessão apostólica”, em outras palavras, uma prerrogativa exclusiva do catolicismo segundo a qual a Igreja católica é a única depositária de mensagem cristã.

Uêpa!!! Então você aceita a Tradição e o Magistério como “fontes secundárias”?! Bem, neste caso, você é um protestante bastante diferente dos demais por não crer no sola scriptura. Se existem “fontes secundárias”, então, existem somente as Escrituras.

Parabéns! Já é alguma coisa (muito embora o Magistério não seja fonte de fé, mas intérprete destas fontes). Mas, ao contrário do que você afirmou, os protestantes em geral não comungam desta tua fé. Para eles, existe a Bíblia e a Bíblia somente. Não fazem qualquer menção a “fontes secundárias”.

Resta apenas você me mostrar em que pontos das Escrituras ou (já que você os aceita) do Magistério ou da Tradição você se apoia para dividir as fontes de fé em principal e secundárias.

Será que você consegue?

Voltando ao que foi dito acima: se não há livre exame (é uma pena que não tenhamos seguido neste assunto…) é imperativo e imprescindível um Magistério que nos transmita a mensagem cristã.

E, neste campo, com todo o respeito, no protestantismo não há, sequer, sombra de Magistério infalível. Lá, tudo é uma imensa e impressionante Babel onde dois crentes não são capazes de se entenderem.

Pergunto, então: onde poderíamos encontrar este Magistério? Uma vez que já teríamos deixado de lado o protestantismo, somente o poderíamos encontrar em Roma ou nas Igrejas Ortodoxas. Ambas possuem autoridade por se vincularem, diretamente, aos apóstolos.

Mas apenas em Roma se guardou a integridade do depósito da fé, pois apenas em Roma se manteve a fidelidade a Pedro (exceto é claro pelas Igrejas Orientais Maronita e Melquita que nunca se separaram da Sé Romana).

Portanto, superada a balela do livre exame, restar-nos-ia a necessidade da sucessão apostólica se quisermos levar o cristianismo minimamente a sério.

Ora, se há um critério estritamente racional segundo o qual é possível legitimar a exclusividade católica no que diz respeito à conservação da palavra de Deus, esse critério é, ao que me parece, histórico. Ou seja, é pela continuidade visível ou histórica da Igreja católica, e à sua unidade interna, que podemos nos certificar do auxílio exclusivo e inequívoco do Espírito Santo Igreja.

Vamos com calma, Marcos. A fonte da autoridade católica não é a história nem a unidade da Igreja. A fonte da autoridade católica é o próprio Deus. Foi Jesus quem deu a autoridade de que a Igreja goza, e da qual sempre gozará. A continuidade histórica e a unidade apenas demonstram a origem divina do depósito da fé.

São efeitos, não são causas.

Inversamente, a evidente ausência de qualquer ligação histórica entre as igrejas protestantes e o cristianismo primitivo, bem como a mais completa ausência de unidade doutrinária entre os filhos de Lutero demonstram, de maneira cabal, a origem humana da revolta protestante.

Você embora se confesse cristãos, confessa um erro próprio do Modernismo, este que é o grande inimigo da civilização Cristã. O Modernismo analisa qualquer coisa apartir da premissa de que Deus não existe. Logo, se Deus não existe, não pode ter outorgado autoridade à Igreja. São eles (os modernistas) que afirmam que a autoridade da Igreja é histórica e não divina.

Mas tal idéia me parece, em última análise, um caso de petição de princípio ou tautologia. Explicando melhor: primeiramente supõe-se que a Igreja seja a única depositária da mensagem cristã, em função de sua continuidade histórica.

Você já deve estar percebendo que esta tua visão da Igreja se assenta em princípio equivocado. Não há tautologia alguma. A Igreja é a única depositária da mensagem cristã, não em virtude da sua continuidade histórica, mas em virtude de um decreto divino. Desfeito este teu pressuposto, todas as conseqüências que dele você retirava vão por água abaixo.

Suposta a exclusividade da Igreja, supõe-se, imediatamente, que tudo o que a Igreja vier a dizer em matéria de moral e fé é “a” verdade, única e inquestionável, uma vez que é, em função de sua continuidade histórica, a única depositária da mensagem cristã.

Novamente, a suposição de infalibilidade em matéria de fé e de moral não se assenta na visão de que a Igreja é a única depositária da fé. A infalibilidade, tal qual a exclusividade, se assenta na vontade divina, que prometeu assistência eterna do Espírito Santo aos apóstolos e aos seus sucessores.

A tua concatenação de causas e de efeitos é fruto de uma visão bastante distorcida da Igreja, uma visão engendrada de erros do Modernismo.

Não se considera a hipótese de que a Igreja possa, ao longo da contingente história humana, ter-se desviado da vontade de Deus, e essa hipótese é negada precisamente por que se supõe a inerrância da Igreja e a sua exclusividade, de modo que, inerrante e exclusivamente aprovada por Deus, jamais poderia ter-se desviado. Baseada num princípio assim, hermeticamente fechado, que se justifica a si próprio pressupondo aquilo que deveria provar, a Igreja está autorizada a fazer e a dizer qualquer coisa, sem que jamais possa ser questionada.

De fato, não consideramos que, em matéria de fé e moral, a Igreja tenha se desviado da vontade de Deus. Não poderia, posto que o próprio Deus garantiu que “as portas do Inferno não prevaleceriam contra ela.”

Portanto, Marcos, a certeza que nós, católicos, temos na infalibilidade do Magistério é uma conseqüência lógica de dois pressupostos que nos são comuns:

  1. Jesus Cristo é Deus;
  2. sendo Deus, não pode errar nem mentir.

Pela lógica, somente poderíamos contestar a infalibilidade do Magistério da Igreja se, previamente, contestarmos estes pressupostos. Contudo, como você é luterano, creio que você acata a ambos. Isto deveria te levar, logicamente à conclusão que, por enquanto, você está combatendo.

Assim, os eventuais erros da Igreja que, ao longo da história, motivaram tantos homens a questionarem a sua autoridade, questionamentos que terminaram por engendrar o amplo movimento da Reforma Protestante (a qual não foi encetada por um ou dois homens neuróticos e presunçosos, como se costuma dizer de maneira reducionista), justificam-se simples e automaticamente por algum pronunciamento da Igreja, a qual está exclusivamente autorizada a pronunciar-se na condição de Igreja de Cristo.

Serei sincero contigo. Não considero, e nem posso considerar, que houve uma “Reforma Protestante”. Houve uma revolta, pois “reforma” pressupõe uma continuidade. São Francisco de Assis foi reformador. O Concílio de Trento foi reformador. O Concílio do Vaticano II foi reformador.

Lutero e companhia foram, apenas, hereges revoltosos. Saíram do edifício antigo e construíram um novo (quem lhes teria dado autoridade para tal jamais saberemos…). Isto, em absoluto pode ser considerado como “reforma”.

Espero não estar te ofendendo com estes termos. Uso, apenas, de sinceridade.

Substancialmente falando, a “reforma” não se diferenciou de todos os demais movimentos heréticos que, desde o primeiro século, perseguiram a Igreja. Sempre houve os hereges que, não aceitando a autoridade apostólica, tentaram criar um cristianismo que coubesse em suas cabeças. Um cristianismo que se adaptasse às suas visões de mundo.

No primeiro século, foram os apóstolos que combateram estas heresias (cf. At 15). Nos séculos seguintes, tal combate era dado por seus sucessores (Leia a “História Eclesiástica”, de Euzébio de Cesaréia). E assim continuamos até os dias atuais.

A “reforma” nada mais foi de que um capítulo na eterna batalha da Ortodoxia contra os desvios. Depois de Lutero, as heresias continuaram surgindo e, hoje, assistimos ao previsível espetáculo de protestantes classificando outros protestantes de hereges. Como saber qual é o, digamos, “protestantismo ortodoxo” quando duas igrejas protestantes (com a Bíblia embaixo do braço, claro) se acusam mutuamente de hereges?

Sem Magistério, sem Tradição, sem qualquer autoridade, é impossível sabermos. A salvação, em última análise, dependeria de quem interpretou melhor a Bíblia. No fundo, de quem é mais inteligente.

Dou Graças a Deus por ter constituído um corpo apostólico e por ter dado um chefe à Sua Igreja. Isto é a única coisa que permitiu a sobrevivência da genuína mensagem cristã nestes dois mil anos de história.

Como saber, enfim, se a Igreja manteve-se fiel à mensagem de Cristo ao longo dos séculos? Por que a própria Igreja assim o diz?

Como eu já disse, a fidelidade da Igreja é uma conseqüência lógica de pressupostos que nos são comuns: Cristo é Deus e, como tal, não pode errar ou mentir.

Além disto, se quisermos ter uma prova humana desta continuidade, basta lermos os Escritos Patrísticos. A leitura destes escritos prova, com uma solenidade incomum, aquilo que os protestantes não podem aceitar: que a Igreja nunca mudou. Prova que a fé cristã sempre foi a mesma e que, se mudanças houve, ocorreram fora dos domínios da Igreja, onde pulalam heresias e enganos.

Basta ler, Marcos.

Você sabia que em nosso apostolado, o Veritatis Splendor, cerca de 40% dos membros são ex-protestantes que se converteram ao lerem os Escritos Patrísticos? E não são poucos aqueles que mais cedo e mais tarde encontram o Caminho da Igreja Católica, após estudarem tais obras, que são o grande testemunho de que a Igreja Católica nunca mudou.

Mas e se a própria Igreja tiver se desviado, quem poderá dizê-lo, isto é, quem poderá questionar a Igreja senão a própria Igreja, uma vez que nem mesmo as Sagradas Escrituras são critério suficiente para julgar a Igreja. Aliás, as Sagradas Escrituras, no catolicismo, parecem ter sido progressivamente relegadas a um plano inferior em relação à Tradição e ao Magistério, pois são essas duas últimas que prevalecem em caso de discrepância entre a teoria (o texto sagrado) e a prática.

Se a Igreja tivesse se desviado, a história o diria. Os escritos dos cristãos primitivos atestariam que as crenças católicas lhes eram desconhecidas e estranhas. No entanto, ocorre precisamente o oposto: tais escritos atestam que estes primeiros cristãos criam exatamente naquilo que eu (católico do século XXI) creio.

Dayenu: isto nos basta!

Vamos prosseguir. Você disse que te parece que “progressivamente” as Escrituras foram relegadas a um segundo Plano no Catolicismo. Pergunto: progressivamente desde quando? E quais são as bases históricas nas quais se baseiam esta tua, digamos, acusação?

A Patrística nos diz qual era o papel das Escrituras no cristianismo primitivo (que, ao que parece, você deseja reencontrar). Eram tidas como Palavra de Deus e isentas de erro; mas, igualmente, a correta interpretação das mesmas eram da responsabilidade dos sucessores dos apóstolos.

Exatamente como a Igreja prega até hoje.

Portanto, e por mais que te pareça absurdo, não foi a Igreja Católica que diminuiu o papel das Escrituras. Foram as igrejas protestantes que lhes deram um papel que, em absoluto, possuem.

Isto é, se percebemos algo que diverge do que encontramos nas Sagradas Escrituras, ou que não é suficientemente legitimado pelas mesmas, basta obedecer à Tradição e ao Magistério, e tudo está resolvido.

Primeiramente, nada do que prega a Igreja está em contradição com as Sagradas Escrituras. Não há dogma ou ponto de fé que as contrariem, visto que tanto a Bíblia como a Tradição fazem parte de uma única revelação divina, isto é, são veículo distintos do mesmo Depósito da Fé.

Entendido?

Além disto, é, sim, possível (e até inevitável) que haja dogmas ou pontos de fé que não estejam suficientemente descritos no texto bíblico, pois o mesmo não tem esta função. Por exemplo, a Bíblia não traz nada que justifique, plenamente, nossa crença comum na Trindade Santa. Esta crença não contraria a Bíblia; dificilmente, contudo, alguém, simplesmente lendo a Bíblia, desvinculado de toda a Tradição e de todo o Magistério da Igreja, chegaria à conclusão de que existe apenas um Deus em três pessoas.

Entenda uma coisa, Marcos: todo o cristianismo é uma obediência a alguma espécie de magistério. A Bíblia, como um livro que é, não ensina rigorosamente nada a quem quer que seja. Homens ensinam e outros homens aprendem. O protestantismo nada mais fez do que substituir o Magistério Universal da Igreja por uma infinidade de magistérios particulares.

 

Alexandre, sem esse princípio de autoridade inquestionável, que a Igreja mantém a ferro e a fogo, o catolicismo desmorona-se como um castelo de areia. E se o catolicismo se mantém uno há dois mil anos, ou melhor, se se manteve uno após a Reforma, deve tal unidade à autoridade de que se arroga e que mantém com mão forte.

Marcos, sem o princípio da autoridade, qualquer sociedade desmorona ou se esfacela. Este é um dos grandes males do protestantismo. É por isto que o esfacelamento do mesmo é inevitável, inexorável e contínuo. Vocês já formam mais de 40.000 igrejas e não há nada indicando que este número vai estacionar.

É claro que a Igreja não abre mão de sua autoridade, pois tal autoridade faz parte da revelação divina. E a Igreja, Marcos, não se desvia um centímetro sequer desta Revelação. Tudo o que ela recebeu de Seu Mestre e Senhor é guardado de forma intransigente (ou “com mão de ferro”, como diz você).

Não se transige com a verdade, nem se devem aceitar erros, por menores e inofensivos que pareçam.

Não sendo a própria voz de Deus, ou Nosso Senhor Jesus Cristo em pessoa quem exerce tal autoridade, só podemos compreendê-la como uma autoridade meramente humana (a menos que o clero seja composto por sobre-humanos) que se atribui a si mesma a autoridade que diz ter.

O fato de que a autoridade apostólica é exercida por homens não nos leva à conclusão de ser a mesma meramente humana. Pilatos (um mero humano) exerceu uma autoridade sobre Jesus que, nas Palavras do próprio Mestre, lhe vinha de Deus. Os pais têm autoridade divina sobre os filhos. Foi Deus quem lhes deu; são eles quem a exercem. Ainda que a exerçam mal, a fonte da mesma é divina.

Não confunda fonte de autoridade com a pessoa que a exerce ou com a forma pela qual é exercida.

Portanto, Marcos, não se escuse no fato de que não é o próprio Jesus quem exerce, pessoalmente, a autoridade sobre a multidão de fiéis. Esta autoridade, humana em seu exercício, é divina em sua origem e natureza, e conta com Sua Assistência que foi prometida por Cristo (cf. Mt 16,18-19 e Mt 28,20).

Assim, realmente as coisas tornam-se bem mais fáceis. Basta obedecer docilmente, e a responsabilidade é toda da Igreja. Agora, ler as palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo, sobre as quais, afinal, se ergueu o cristianismo, e procurar seguí-las responsavelmente, numa experiência individual e vertical que repercute horizontalmente, isso não parece possível ou desejável para o católico. Importa, antes, seguir e obedecer docilmente a Igreja. Afinal, quem poderá questioná-la, e quando estará errada?

Você erra ao fazer uma dicotomia entre obedecer a Igreja e obedecer a Cristo. Sendo protestante, esquece-se das palavras de Cristo: “quem vos ouve, ouve a Mim.”

Obedecer docilmente a Igreja nada mais é do que obedecer, docilmente, ao próprio Cristo, visto que Ele é, dela, a cabeça, enquanto que ela é, dEle, o próprio corpo. A união entre Cristo e Sua esposa é íntima e carnal: formam uma só carne, segundo as palavras de São Paulo: “Por isso deixará o homem o pai e a mãe e se unirá à sua mulher, e serão os dois uma só carne . Grande é este mistério. Quero referir-me a Cristo e sua Igreja.

Se não obedecermos a Igreja, como obedeceremos a Cristo? Como saberemos qual é a vontade de Deus para as nossas vidas?

Talvez, como todo protestante, você diga em resposta: “leia a Bíblia“. Ocorre que os protestantes, lendo a Bíblia, até hoje não descobriram, afinal, o que é seguir Jesus. Uns permitem o divórcio, outros não; uns permitem o aborto (santo Deus!) outros não; uns permitem roupas, digamos, mais leves, outros não; uns permitem o uso de anticoncepcionais, outros não; uns permitem que se assinta televisão, outros não; uns aprovam a poligamia, outros não.

E por aí se afunda cada vez mais o abismo doutrinal entre os protestantes.

Você pode me indicar qual é a vontade de Cristo, caro Marcos, para que eu, pobre católico (obediente, segundo você, apenas à Igreja) a possa seguí-la?

A Igreja católica apossou-se de uma promessa maravilhosa de Nosso Senhor Jesus Cristo, a de estar com seus seguidores (os cristãos) até a consumação dos séculos (ou Nosso Senhor prometeu estar apenas com seus discípulos?), usurpando-a para si própria e fazendo dela a base sobre a qual erige e sustenta sua autoridade inquestionável. Enquanto mantiver essa posição, os cristãos jamais se (re)unirão.

Jesus fez esta promessa à Sua Igreja. Nem apenas aos discípulos, nem apenas aos outros. Mas ao Corpo como um todo. Mas, aos apóstolos deu algumas funções, aos leigos, outras. O bispo é a cabeça do leigo, assim como Cristo é a da Igreja. O leigo que não se submete ao seu bispo está como que saindo do Corpo e privando-se, sim, da assistência ordinária do Espírito Santo. Não nego que, extraordinariamente, o Espírito sopre aqui e acolá, mas, ordinariamente, sopra apenas na Igreja.

Chamo, apenas, e finalmente, atenção para a enorme inversão de culpas que você realizou neste último parágrafo de tua mensagem. Em essência, você coloca a autoridade da Igreja (e, indiretamente, os dogmas confirmados pela mesma) como sendo a razão maior pela separação entre os cristãos.

Ora, Marcos, quem se separaram foram os protestantes. Vocês saíram. Antes da (vá lá) Reforma, toda a cristandade gozava de invejável unidade pastoral e doutrinária. Foram os dogmas (absolutamente contrários tanto à Tradição quanto às Escrituras) do sola fide, sola scriptura, sola gratia e livre exame que jogaram o cristianismo numa divisão que somente se rivaliza com o hinduísmo.

Antes de Lutero não havia esta Babel que hoje se vê.

Mas, para você, a condição sine qua non da (re) união dos cristãos é que a Igreja abra mão da sua autoridade divina e reveja os seus dogmas. No fundo, você gostaria que a Igreja Católica descesse ao nível das igrejas protestantes. Você quer um cristianismo nivelado por baixo.

Não, Marcos. A história nos mostra que é a semente de Lutero que tem causado a divisão. Enquanto a mesma perdurar, não haverá unidade possível. Não que não seja desejo da Igreja (a mesma anseia pela reunião dos cristãos), mas porque dos princípios da Reforma emanam divisões.

A Unidade exige obediência e humildade. Existe isto no protestantismo? Se um pastor não concorda com seu dirigente, sai da igreja em que está e funda outra pregrando o que lhe convém. Que princípio de unidade é este, Marcos?

São Paulo nos ensinou que a Verdadeira Unidade está no professar a mesma fé, pregar a mesma doutrina, suportar os problemas internos e agirmos com obediência e humildade. Enfim, todas estas virtudes do Amor. Isto sim, meu irmão é Unidade.

Sobre o conceito paulino de unidade sugiro da leitura de nosso artigo A Unidade da Igreja no Pensamento Paulino.

Que o Senhor te abençoe,

Alexandre.

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