Necessidade de uma apologética

Desde o ano de 1983, trabalhamos com um método para enfrentar o proselitismo das seitas fundamentalistas. Atualmente tal método está sendo empregado em mais de 15 países. Um fato é certo: onde o método está sendo aplicado, as seitas já não avançam e começa um lento regresso para a Igreja Católica.

 

Introdução

Sem dúvida, um dos maiores desafios enfrentados pela Igreja Católica no início do Terceiro Milênio é o avanço das seitas fundamentalistas com o seu proselitismo, que experimentaram um grande crescimento em muitos países do continente americano e em outros continentes.

Na verdade, o que se propõe não é uma “varinha mágica” ou coisa assim, mas trata-se de retomar algo que durante séculos a Igreja fez uso como parte essencial da sua missão evangelizadora.

A estratégia consiste em desencadear todo um processo que leva à incorporação da Apologética em todas as estruturas paroquiais e diocesanas. Deste modo, a nova Apologética se converte em um elemento integrante e dinamizador dentro dos Planos de Pastoral que atualmente já fazem parte dos programas das dioceses. Na medida em que isto é conseguido, em igual medida vai se diminuindo o ritmo de crescimento das seitas. Esta tem sido a experiência comprovada em várias dioceses.

O objetivo é fortalecer a identidade de milhares ou milhões de católicos. Para consegui-lo, o mais conveniente seria introduzir [o método] em nível diocesano desde o início; se isto não for possível, pode-se fazê-lo nos vigariatos ou decanatos, ou, inclusive, no âmbito paroquial.

Nesta estratégia se visualiza a Apologética como uma pastoral específica perante o proselitismo sectário, considerando totalmente indispensável e necessário que se trate de unir, ante este fenômeno do sectarismo, toda a ação pastoral global ou geral (catequética, litúrgica e social) .

Aqui nos concentramos na Apologética, deixando as outras áreas pastorais para os seus respectivos especialistas.

Para se alcançar o objetivo deste “programa”, é totalmente indispensável que sejam empregadas as quatro fases em que está dividida esta estratégia. Cortar alguma fase ou mudar sua ordem é reduzir em 50 a 70% o que se pretende atingir. Ao mesmo tempo, em cada fase, há elementos que devem ser observados com precisão.

Outro elemento indispensável é o conhecimento e a aprovação da estratégia por parte da hierarquia da Igreja. Somente assim se poderá chegar às estruturas paroquias e diocesanas.

O uso do material de Apologética já existente é muito importante para a realização e implementação das distintas fases.

O objetivo não é fazer um pouco de “ruído” e dar algumas “pinceladas” de defesa da fé, criando um grupinho especialista em seitas e esperar ver o que vai acontecer. NÃO! A finalidade é frear seriamente o ritmo de crescimento das seitas, fortalecendo a “identidade” dos milhares ou milhões de católicos de cada diocese, em um período de um ou dois anos, fazendo com que cada católico conheça a sua Igreja, a Bíblia e possa dar respostas para os ataques injustos provindos das seitas (v. Documento de Santo Domingo nº 145).

A primeira fase é uma conscientização em massa; a segunda é a etapa de capacitação dos agentes de pastoral e dos ministérios de promotores e defensores da fé. A obra permanente e fundamental da terceira etapa diminuirá cada vez mais a porcentagem de católicos que deixam a Igreja por causa das seitas. A quarta fase forma agentes de pastoral altamente qualificados nesta área pastoral.

O nosso objetivo é compartilhar esta experiência como uma proposta, para que possa ser repetida em todo o mundo onde o proselitismo sectário atue e seja enfrentado com seriedade e profundidade, tal como indica o documento originado do Sínodo da América, apresentado por Sua Santidade João Paulo II:

“Para que a resposta ao desafio das seitas seja eficaz, se requer uma coordenação adequada das iniciativas em nível supradiocesano, com o objetivo de realizar uma cooperação mútua através de projetos comuns que possam produzir maiores frutos” (Ecclesia in America nº 286).

 

A realidade do sectarismo fundamentalista

Diversas instâncias eclesiais e estudos estatíscos têm assinalado o crescente avanço das seitas no continente americano e em outros países. Entre eles, cabe destacar o mencionado nas conclusões do Sínodo da América, recentemente encerrado:

“Os avanços proselitistas das seitas e dos novos grupos religiosos na América não podem ser contemplados com indiferença. Exigem da Igreja deste continente um profundo estudo, que deve ser realizado em cada nação e, também, em nível internacional, para descobrir os motivos pelos quais não poucos católicos abandonam a Igreja” (Ecclesia in America nº 283).

Igualmente, a IV Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano nos fala do crescimento das seitas fundamentalistas como algo grave:

“O problema das seitas tem alcançado proporções dramáticas e chegado a ser verdadeiramente preocupante, sobretudo pelo crescente proselitismo” (Documento de Santo Domingo nº 139).

(…).

Tudo isto tem sido possível por diferentes motivos. Por isso, é importante subtrair alguns fatores principais que têm contribuído para esta realidade:

1. O voraz proselitismo das seitas através dos mais diversos métodos, incluindo métodos ilícitos do ponto de vista cristão (engano, interesses econômicos, pressão psicológica, ajuda material…);

2. Os “planos de conquista” evangélicos, que traçam estratégias para diminuir a presença da Igreja Católica e obter o aumento do número de fiéis das seitas fundamentalistas;

3. Outro fator importante é, sem dúvida, a chamada “Teoria da Conspiração”, em que se considera o protestantismo como a vanguarda. Após o Concílio Vaticano II, novos ares sopraram na Igreja Católica; na América Latina, o CELAM em Medellín e, posteriormente, em Puebla, impulsionou a Igreja em sua opção preferencial pelos pobres e passou a atuar de uma forma bem visível e comprometida.

4. No aspecto social, muitos dos elementos que os sociólogos classificam como incentivadores para o sectarismo ocorrem, majoritariamente, nos países deste continente, em diversos graus: extrema pobreza; concentração urbana com seqüela de massificação; narcotráfico e violência; rápidas e profundas mudanças sociais que produzem crises existenciais e buscas de segurança e identidade.

 

Reações perante o proselitismo sectário

Há vários anos, muitos países têm estudado e realizado encontros para analisar o fenômeno do sectarismo e apontar linhas ou propostas de ação; porém, a triste realidade é que, após todas essas análises, o resultado é que as seitas continuam crescendo igual ou até mais que antes. Por que não se tem conseguido frear o ritmo de crescimento das seitas?

Vejamos algumas das ações e atitudes que se têm tomado diante do avanço das seitas e que têm provocado as conseqüências acima mencionadas:

1. Paralisia

– Derrotismo: pensou-se que não era possível fazer nada porque as seitas contavam com todo um financiamento econômico e um impressionante aparato de mercatologia. Recebeu o respaldo da chamada “Teoria da Conspiração”.

– Triunfalista: alguns, ao contrário, acreditaram que não era necessário fazer alguma coisa porque as seitas iriam desaparecer por si mesmas. Como a Igreja Católica foi fundada por Cristo, não haveria a necessidade de se perder tempo com essas coisas.

– Indiferentismo: outros simplesmente ignoraram o problema ou acharam que o problema nem mesmo existia. Alguns, inclusive, pensaram que, se o número de seitas ultrapassava 3 mil, isto não era importante, já que o que realmente importava é que umas 400 estavam bem comprometidas; ademais, os outros grupos também falavam de Deus…

2. Ecumenismo ingênuo

A falta de uma verdadeira formação ecumênica unida à impossibilidade de se praticar o ecumenismo com as seitas fundamentalistas (notavelmente anti-ecumênicas), fez com que muitos lugares adotasse um ecumenismo ingênuo:

– Não se diferenciava o protestantismo histórico e as seitas fundamentalistas;

– O problema da “rotulagem” aumentou o problema, pois muitas igrejas que, teoricamente, são ecumênicas em diferentes lugares, em outros adotaram a mentalidade anticatólica e anti-ecumênica das seitas, o que muitos não perceberam;

– No contexto sócio-religioso atual, as Igrejas protestantes estão diminuindo e as seitas fundamentalistas estão aumentado; perante isso, alguns não souberam o que fazer, já que a sua formação apontava para o ecumenismo, que não é aceito pelas seitas fundamentalistas;

– A discussão sobre a terminologia a ser adotada também atrapalhou (seitas, cultos, novos grupos religiosos, igrejas etc.);

– Alguns praticaram o “ecumenismo de café”: conversavam e conviviam com qualquer pastor, “tomando cafezinho” e deixando de lado as diretrizes dadas pelo Magistério da Igreja; com isto, favoreceu-se o crescimento das seitas fundamentalistas;

– Em alguns lugares, após um ecumenismo verdadeiro, passou-se para um indiferentismo religioso de graves conseqüências.

3. Análises parciais

Porém, algo que tem influenciado bastante neste aspecto do crescimento das seitas é o resultado dos estudos e análises realizados em diferentes países e níveis eclesiais.

As conclusões e propostas foram adotadas e, após 5, 10 ou 15 anos, as seitas continuaram a crescer. Se analisarmos os diferentes resultados dos estudos e propostas adotadas, notaremos que suas conclusões são muito semelhantes quanto ao motivo pelo qual os católicos mudam para as seitas e também são muito semelhantes as propostas para que não mais as procurem. No entanto, todas as análises são parciais, pois não se integra o elemento apologético como identidade do católico nas propostas a serem implementadas. A tripla dimensão pastoral – profética, litúrgica e social – é uma tarefa prioritária e essencial da Igreja.

 

Renovação de uma nova apologética

Impulsionar uma nova Apologética no início do Terceiro Milênio é uma das prioridades que estamos propondo e, graças a Deus, temos obtido excelentes resultados.

Nos locais ou países em que apresentamos o programa de quatro etapas fundamentais, que compõem uma estratégia básica, em pouco tempo foram produzidos excelentes frutos e tem conseguido frear o ritmo de crescimento das seitas.

 

Nova Apologética ou defesa da fé: que é?

– Surge da vivência do sacramento da confirmação, pelo qual somos enriquecidos com o Espírito Santo para sermos testemunhas de Cristo e difundir e defender a fé com obras e palavras (Catecismo da Igreja, § 1285).

– É um elemento integrante da evangelização (Catechesi Tradendae nº 18).

– Não é monólogo, mas justamente o contrário, pois estabelece as bases para um diálogo sadio (cfr. “A Igreja e as seitas: pesadelo ou desafio?”, pe. Flaviano Amatulli, pág. 269).

– Fortalece a identidade do católico e, ao mesmo tempo, deixa-o aberto aos valores e elementos de santidade existentes fora do âmbito eclesial visível (Unitatis Redintegratio nº 3).

– Não é contrária às seitas e nem lhes é favorável. Busca instruir, com serenidade, sobre as características e diferenças das diversas seitas e oferece respostas às injustas acusações que fazem contra a Igreja (cfr. Documento de Santo Domingo, CELAM, nº 146).

– Surge como disciplina, mas dentro do conjunto teológico (Pastores Dabo Vobis nº 51).

– Apologética renovada, que não busca contender ou condenar, mas fortalecer a fé do católico, capacitando-o a dar as razões da sua esperança (cfr. “O compromisso pastoral da Igreja frente às seitas”, Comissão Doutrinária da Conferência Episcopal Mexicana, nº 55; 1Pedro 3,15).

– Não é contrária ao ecumenismo, mas é complementada com o mesmo (cfr. “Apologética e Ecumenismo: duas caras da mesma moeda”, pe. Flaviano Amatulli).

– Não vê apenas o erro no outro, mas ao mesmo tempo se autocritica e descobre no outro os sinais dos tempos (Ut Unum Sint nº 34).

– Une o valor do testemunho com a necessidade do anúncio explícito do Evangelho (Evangelii Nuntiandi nº 22).

– Defende e promove, por sua vez, a riqueza espiritual que o Senhor nos deixou, já que apenas na Igreja católica se encontra a plenitude dos meios de salvação estabelecidos por Jesus Cristo (cfr. Sínodo de América nº. 282).

– Não é triunfalista, mas anúncio profético de uma verdade proposta e penetra na alma pela própria força da verdade, com suavidade e firmeza (Ut Unum sint nº 3).

– Desenvolve, principalmente, toda uma obra de pastoral preventiva (cfr. “O compromisso pastoral da Igreja frente às seitas”, Comissão Doutrinária da Conferência Episcopal Mexicana, nnº 61 e 70).

– É complementada com o ecumenismo, já que entre ambas as linhas pastorais não há oposição mas complementariedade. O Ecumenismo visa restabelecer a unidade com os que se afastaram (=Unitatis Redintegratio) e a Apologética visa preservar a unidade dos que estão na Igreja (=Unitatis Praeservatio).

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