O cânon do Antigo Testamento

Por James Akin

DURANTE a Reforma, por razões enormemente doutrinárias, os protestantes removeram sete livros do Antigo Testamento (Macabeus 1 e 2, Eclesiástico, Sabedoria, Baruque, Tobias e Judite) e partes de dois outros (Daniel e Ester), ainda que esses livros tenham sido considerados como canônicos desde o início da história da Igreja.

Como escreve o historiador J. N. D. Kelly da Igreja Protestante, “deve ser observado que o Antigo Testamento, dessa maneira, admitido como oficial na Igreja era algo maior e mais abrangente (do que a Bíblia Protestante)… Sempre incluiu, embora com graus variáveis de reconhecimento, os assim chamados apócrifos ou livros deuterocanônicos” (Early Christian Doctrines, 53).

Abaixo, damos citações patrísticas de cada um dos livros deuterocanônicos. Note como os Padres citaram esses livros juntamente com os protocanônicos.

Estão também incluídas as listas canônicas oficiais anteriores. Por causa da brevidade, não foram dadas por completo. Quando as listas canônicas citadas aqui são dadas por completo, elas incluem todos os livros e somente os livros encontrados na Bíblia Católica moderna.

(Nota: alguns livros da Bíblia tiveram mais de um nome. Siraque também é conhecido como Eclesiástico, Crônicas 1 e 2 como Paralipômenos 1 e 2, Esdras e Neemias como Esdras 1 e 2, e Samuel 1 e 2 com Reis 1 e 2 como Reis 1, 2, 3 e 4, isto é, Samuel 1 e 2 são chamados Reis 1 e 2, e Reis 1 e 2 são chamados Reis 3 e 4. Esta nomenclatura confusa é explicada mais completamente nos comentários da Bíblia Católica.)

O Didaquê

“Não deves hesitar em relação às tuas decisões (Sir 1:28). Não sejas alguém que estendes as mãos para receber, mas as retiras quando vens a dar (Sir 4:31)” (Didaquê 4:5 [70 d.C.] )”

A Carta de Barnabás

“Porque, por aquela razão, [Cristo] estava prestes a se manifestar e sofrer na carne, Seu sofrimento foi prefigurado. Porque o profeta fala contra o mal, “Ai de sua alma, porque eles deram um mau conselho contra si” (Is 3:9), dizendo, “Vamos cercar o homem justo porque ele nos é desagradável” (Sb 2:12)” (Carta de Barnabás 6:7 [74 d.C.]).

Papa Clemente I

“Pela palavra de Seu poder [Deus] criou todas as coisas, e pela Sua palavra pode derrubá-las. “Quem Lhe dirá ‘O que fizeste tu?’ ou quem resistirá ao poder de Sua força?” (Sb 12:12) (Carta aos coríntios 27:5 [ca. 80 d.C.])

Policarpo de Esmirna

“Permanece firme, portanto, nestas coisas, e segue o exemplo do Senhor, sendo firmes e imutáveis na fé, amando os irmãos (1 Pd 2:17)… Quando puderes fazer o bem, não adies, porque ‘a esmola livra da morte’ (Tb 4:10, 12:9). Sede submissos um ao outro (1 Pd 5:5), tendo vossa conduta irrepreensível entre os gentios (1 Pd 2:12), e o Senhor não possa ser blasfemado através de vós. Mas ai daquele por quem o nome do Senhor é blasfemado! (Is 52:5)” (Carta aos filadélfios 10 [35 d.C.]).

Irineu de Lião

“Aqueles… que se creem ser presbíteros por muitos, mas servem suas próprias concupiscências e não colocam em seu coração o temor do Deus supremo, mas comportam-se com desprezo para com os outros e estão inchados com o orgulho de manter o assento de chefe (Mt 23:6) e fazer ações más em segredo, dizendo ‘Nenhum homem nos vê’ deve ser condenado pela Palavra, que não julga pela aparência, nem olha para o rosto, mas para o coração, e eles ouvirão as palavras encontradas em Daniel, o profeta: ‘Raça de Canaã, e não de Judá, a beleza da mulher fez-te perder o rumo, a paixão confundiu o teu coração’ (Dn 13:56). Homem envelhecido em anos e crimes, agora os teus pecados vão aparecer e tudo o que cometeste outrora, quando davas sentenças injustas, condenando os inocentes e deixando livres os culpados. O Senhor diz: ‘Cuidado para não condenares à morte o inocente e o justo’. (Dn 13:52, citando Ex 23:7) (Contra Heresias 4:26:3 [189 d.C.]; Dn 13 não está na Bíblia Protestante).

Irineu de Lião

“Jeremias, o profeta, apontou que, tantos crentes quanto Deus preparou para esta finalidade, para multiplicar aqueles deixados na terra, devem ambos estar sob norma dos santos e ministrar para esta [nova] Jerusalém e que [Seu] reino será nela, dizendo: ‘Olha para o Nascente, Jerusalém, e vê a alegria que Deus te manda. Olha! Eis que regressam os filhos que viste partir: reunidos pela palavra do Deus santo, desde o Nascente até ao Poente, vêm festejando a glória de Deus… porque Deus, com a sua justiça e a sua misericórdia, conduzirá festivamente Israel à luz da sua glória.’ (Br 4:36-5:9)” (ibid. 5:31:1, Baruque foi frequentemente considerado como parte de Jeremias, como o é aqui).

Hipólito

“O que é narrado aqui (na história de Susana) aconteceu em um momento posterior, ainda que seja colocado na frente do livro (de Daniel), pois era um costume dos escritores narrar muitas coisas em ordem invertida em seus escritos… Devemos dar atenção, querida, com o cuidado de que ninguém seja surpreendido em qualquer transgressão e em risco de perda de sua alma, sabendo, como nós o sabemos, que Deus é o juiz de tudo e a Palavra é o próprio olho de que nada do que é feito no mundo pode escapar. Portanto, sempre atentos no coração e puros em vida, imitemos Susana” (Comentários sobre Daniel [204 d.C.]; a história de Susana (Dn 13) não está na Bíblia Protestante)

Cipriano de Cartago

“No Gênesis, diz ‘Deus pôs Abraão à prova, e disse-lhe: ‘Abraão, Abraão!’ Ele respondeu: ‘Estou aqui’. Deus disse: ‘Toma o teu filho, o teu único filho Isaac, a quem amas, vai à terra de Moriá e oferece-o lá em holocausto, sobre uma montanha que Eu te vou indicar’.” (Gn 22:1-2) … Da mesma coisa na Sabedoria de Salomão [diz] “As pessoas pensavam que os justos estavam a cumprir uma pena, mas esperavam a imortalidade…” (Sb 3:4). Da mesma coisa nos Macabeus [diz] “Abraão foi fiel na prova, e isso foi-lhe considerado como justiça” (1 Mc 2:52; ver Tg 2:21-23) (Tratados 7:3:15 [d.C. 248]).

Cipriano de Cartago

“Um dia o rei perguntou-lhe: ‘Porque é que não prestas culto a Bel?’ Daniel respondeu: ‘Porque não adoro imagens fabricadas pelo homem, mas só ao Deus vivo que criou o Céu e a Terra e é Senhor de todo o ser vivo’.” (Dn 14:5) (Cartas 55:5 [d.C. 253]; Dn 14 não está na Bíblia Protestante).

Concílio de Roma

“Agora devemos tratar das Escrituras divinas, o que a Igreja Católica universal aceita e o que Ela deve evitar. A ordem do Antigo Testamento inicia aqui: Gênesis, um livro; Êxodo, um livro; Levítico, um livro; Números, um livro; Deuteronômio, um livro; Josué (Filho de) Nave, um livro; Juízes, um livro; Rute, um livro; Reis, quatro livros (isto é, Samuel 1 e 2 e Reis 1 e 2); Paralipômenos (Crônicas), dois livros; Salmos, um livro; Salomão, três livros; Provérbios, um livro; Eclesiastes, um livro; Cântico dos Cânticos, um livro; igualmente Sabedoria, um livro; Eclesiástico, um livro… Igualmente a ordem dos (livros) históricos: Jó, um livro; Tobias, um livro; Esdras, dois livros (Esdras e Neemias); Ester, um livro; Judite, um livro; Macabeus, dois livros”. (Decreto do Papa Dámaso [382 d.C.])

Concílio de Hipona

“(Foi decidido) que além das Escrituras canônicas nada seja lido em igreja sob o nome de Escritura divina. Mas as Escrituras canônicas são como segue: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio, Josué filho de Num, Juízes, Rute, os Reis, quatro livros, as Crônicas, dois livros, Jó, o livro dos Salmos, os cinco livros de Salomão, os doze livros dos profetas, Isaías, Jeremias, Daniel, Ezequiel, Tobias, Judite, Ester, Esdras, dois livros, Macabeus, dois livros…” (Cânon 36 [393 d.C.])

Concílio de Cartago III

“(Foi decidido) que nada exceto as Escrituras canônicas devam ser lidas na Igreja sob o nome de Escrituras divinas. Mas as Escrituras canônicas são: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio, Josué, Juízes, Rute, quatro livros de Reis, Paralipômenos, dois livros, Jó, o livro dos Salmos de Davi, cinco livros de Salomão (Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Sabedoria, Siraque), doze livros dos Profetas, Isaías, Jeremias, Daniel, Ezequiel, Tobias, Judite, Ester, dois livros de Esdras, dois livros de Macabeus…” (Cânon 47 [397 d.C.]).

Agostinho

“O cânon inteiro das Escrituras, no entanto, em que dizemos que o exame deve ser aplicado, está contido nestes livros: os cinco de Moisés… e um livro de Josué (Filho de) Nave, um dos Juízes; um pequeno livro que é chamado Rute… então os quatro de Reinados, e os dois de Paralipômenos… Há outros também, de uma ordem diferente… tal como Jó e Tobias e Ester e Judite e os dois livros de Macabeus, e os dois de Esdras… Então há os Profetas, em que há um livro dos Salmos de Davi, e três de Salomão… Mas quanto àqueles dois livros, um dos quais é intitulado Sabedoria e o outro que é intitulado Eclesiástico e que são chamados ‘de Salomão’ por causa de uma certa similaridade com esses livros, toma-se quase por certo que eles foram escritos por Jesus Siraque. Ele devem, no entanto, ser considerados entre os livros proféticos, por causa da autoridade que é merecidamente creditada a eles.” (Instrução Cristã 2:8:13 [397 d.C.])

Agostinho

“Deus converteu (o Rei Assuero) e tornou a indignação do segundo em mansidão (Es 15:11) (A Graça de Cristo e o Pecado Original 1:24:25 [418 d.C.]; esta passagem não está na Bíblia Protestante).

Agostinho

“Nós lemos nos livros dos Macabeus (2 Mc 12:43) que o sacrifício foi oferecido aos mortos. Mas mesmo que não fosse encontrado em nenhum lugar do escritos do Antigo Testamento, a autoridade da Igreja Católica que é clara neste ponto não tem peso pequeno, onde, nas orações do sacerdote derramadas ao Senhor Deus em Seu altar, o louvor dos mortos tem seu lugar.” (O Cuidado a se Ter pelos Mortos 1:3 [421 d.C.]).

As Constituições Apostólicas

Ora, as mulheres também profetizaram. Já envelhecida, Míriam, a irmã de Moisés e Aarão (Ex 15:20), e depois dela, Débora (Jz 4:4), e depois destas Hulda (2 Re 22:14) e Judite (Judite 8), aquele sob Josias e este sob Dário” (Constituições Apostólicas 8:2 [400 d.C.])

Jerônimo

“Que pecado cometi se sigo o julgamento das igrejas?” Mas ele que traz acusações contra mim por relatar (no meu prefácio ao livro de Daniel) as objeções que os hebreus estão acostumados a levantar contra a história de Susana (Dn 13), a Canção dos Três Jovens (Dn 3:24-90) e a história de Bel e o Dragão (Dn 14), que não são encontradas no volume hebraico, prova que ele é apenas um tolo sicofanta. Eu não estava relatando minhas próprias visões pessoais, mas os comentários que eles estão acostumados a fazer contra nós. Se eu não respondesse às suas visões em meu prefácio, com interesse de brevidade, com o receio de parecer que eu estava compondo não um prefácio, mas um livro, creio que acrescentei prontamente o comentário, porque eu disse “Este não é o momento para discutir tais assuntos”. (Contra Rufino 11:33 [401 d.C.])

Papa Inocêncio I

“Um breve acréscimo mostra quais livros são realmente recebidos no cânon. Estas são as coisas das quais desejaste ser informado verbalmente: de Moisés, cinco livros, isto é, de Gênesis, de Êxodo, de Levítico, de Números, de Deuteronômio, e Josué, de Juízes, um livro, de Reis, quatro livros, e também Rute, dos Profetas, dezesseis livros, de Salomão, cinco livros, os Salmos. Igualmente das histórias, Jó, um livro, de Tobias, um livro, Ester, um, Judite, um, dos Macabeus, dois, de Esdras, dois, Paralipômenos, dois livros…” (Cartas 7 [408 d.C.]).

O Código Africano

“(Foi decidido) que além das Escrituras canônicas nada seja lido na igreja sob o nome de Escritura divina. Mas as Escrituras canônicas são como segue: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio, Josué o Filho de Num, Juízes, Rute, os Reis, quatro livros, as Crônicas, dois livros, Jó, o Salmista, os cinco livros de Salomão, os doze livros dos Profetas, Isaías, Jeremias, Daniel, Ezequiel, Tobias, Judite, Ester, Esdras, dois livros, Macabeus, dois livros… Que isso seja enviado a nosso bispo irmão e companheiro, (Papa) Bonifácio, e aos outros bispos daquelas partes, que eles possam confirmar este cânon, estas são as coisas que temos recebido de nossos padres a serem lidas na igreja”. (cânon 24 [419 d.C.]).

Fonte: http://www.cin.org/users/james/files/deutero2.htm.

Tradução por Marcos Zamith.

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