O OUTRO JESUS SEGUNDO OS EVANGELHOS APÓCRIFOS – PIÑERO, A.

Editoras: Mercuryo (São Paulo-SP) / Paulus (São Paulo-SP)
Ano: 2002
Páginas: 206 pp.

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O autor tenta recontruir a imagem de Jesus desde a infância até a sua descida à mansão dos mortos, tal como é transmitida pelos evangelhos apócrifos. E conclui insinuando que a clássica noção do Jesus oficial pode ser alterada em favor da imagem de um Jesus mais humano, isto é, mais sensual ou mesmo dado a práticas eróticas.

Na verdade, o autor não leva em conta o fato de que o Jesus libertino é apresentado tão somente pelos apócrifos de origem gnóstica, preconceituosos. Aliás, o próprio autor reconhece que tais escritos são contraditórios entre si, pois alguns apresentam Jesus misógino e infenso ao casamento, enquanto outros o consideram permissivo e desregrado. Essa contradição encontrada nos apócrifos gnósticos tira-lhes a autoridade de fontes históricas fidedignas. Conseqüentemente, dever-se-á dizer que os apócrifos não apresentam um “outro Jesus”, mas sim um menino Jesus maravilhoso taumaturgo imaginado pela piedade simplória de antigos cristãos.

O livro de Antonio Piñero pode ter algum valor para o estudioso, pois lhe põe ante os olhos, num quadro só, quanto referem os apócrifos sobre Jesus. Todavia, é desonesto, dando a crer que há um Jesus autêntico desconhecido, que Piñero traz à luz. Na verdade, não existe outro Jesus histórico além do que os escritos do Novo Testamento apregoam. A lacuna existente entre Mateus e Lucas sobre o período que vai dos 12 aos 30 anos de Jesus não se deve a falta de notícias sobre Jesus (que teria viajado para a Índia ou o Tibet…), mas ao fato de que os evangelistas não quiseram escrever uma biografia de Jesus; tinham em vista apenas colocar por escrito os ecos da pregação oral dos Apóstolos. (…) São lacunas decorrentes do gênero literário, que nada de misterioso encobrem; foram, porém, suficientes para excitar a imaginação dos autores dos apócrifos da infância.

Visto que os apócrifos estão atualmente em voga, é oportuno que o público saiba discernir dos demais os de origem gnóstica não cristã.

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