Origem dos vários grupos cristãos

Em síntese: A revista PR recebeu um panfleto que pretende indicar a origem das diversas confissões religiosas monoteístas. Ao se referir ao Cristianismo, apresenta-o como eivado de elementos pagãos e judaicos dentro do Catolicismo, de modo que o protestantismo, apesar de suas muitas divisões e subdivisões, aparece como a forma autêntica da vivência do Evangelho. Em conseqüência, o autor do panfleto há de admitir que o Cristianismo só é plenamente vivido no mundo a partir de Lutero, Calvino e reformadores do século XVI; até esta época terá ficado latente ou reprimido em grupos que contestavam a Igreja Católica; entre esses grupos o autor do panfleto enumera a corrente dos cátaros ou albingenses medievais, que nem sequer eram cristãos, pois professavam o dualismo ou maniqueísmo (será que o autor do panfleto mediu o alcance do absurdo que ele propõe, considerando os cátaros como predecessores do protestantismo?).

Em suma, o autor quer justificar a ruptura do protestantismo frente à Tradição cristã e, para tanto, reconstitui a história do Cristianismo a seu modo, recorrendo a falsas interpretações e imprecisas ou distorcidas alegações de fatos. Tem-se aí um espécimen muito nítido do modo como procedem os protestantes proselitistas; parecem eruditos, enganado os incautos com seu linguajar inescrupuloso e por vezes irônico.

* * *

Um autor presbiteriano enviou a PR um panfleto (Pb. Mauro Peres Caldeira – Esquema Gráfico das Origens e Tendências dos vários Ramos ou Grupos Religiosos e Filosóficos) que pretende mostrar a origem de diversos grupos religiosos da humanidade, inclusive o islamismo, dando a entender que o protestantismo (nas suas mais antigas denominações) é o único ramo que autenticamente se radica em Jesus Cristo, se fundamenta no Antigo Testamento. Quem lê esse trabalho, pode ficar impressionado pela ênfase positiva com que o autor se refere à Reforma protestante e pela agressividade com que considera a Igreja Católica; esta estaria eivada de concepções judaicas e pagãs, de modo que só se encontraria o Cristianismo puro no protestantismo (por mais dividido que esteja).

O panfleto, acompanhado de gráfico, merecerá atenção nas páginas subseqüentes, pois tal é o pedido que nos fazem alguns leitores.

1. OBSERVAÇÕES GERAIS

O autor, Presbítero Mauro Peres Caldeira, analisa o Catolicismo, criticando-o acerbadamente para poder exaltar em seu lugar o protestantismo. Os pontos particulares que Mauro Caldeira aborda, já foram esclarecidos em números anteriores de PR. mais importante é considerar as premissas do pensamento de Peres Caldeira e de seus colegas protestantes. É o que faremos por etapas.

1.1 Cristianismo Deteriorado?

1. Peres Caldeira, como presbiteriano, pertence ao bloco protestante que se afastou da Tradição cristã no século XVI, tentando recomeçar o Cristianismo, sob a alegação de que este se achava deteriorado no fim da Idade Média.

Compreende-se então que os autores protestantes procurem justificar, pela apresentação mesma da história, a ruptura protestante, apresentando-a como a legítima expressão do pensamento de Cristo.

Lemos, pois, no panfleto de Peres Caldeiras, que já no século IV, sob Constantino Magno e outros Imperadores romanos, o Cristianismo se foi paganizando; os deuses da mitologia passaram a “reviver” sob forma dos Santos do Cristianismo. Pelo fato de haver imposição de Cinzas na quarta-feira após o Carnaval, julga o autor que o próprio Carnaval foi aceito pela Igreja… Em suma, alegações não fundamentadas, genéricas e distorcidas são assim aduzidas a fim de “demonstrar” os “desvios” do Cristianismo católico.

O processo deturpador terá continuado através dos séculos na “Grande Igreja”. Entrementes, porém, o autêntico Cristianismo se terá mantido em grupos contestatários ou dissidentes da “Grande Igreja”, entre os quais são nomeados os cátaros ou albingenses:

“O Movimento Cristão Continuador manteve viva a chama do Cristianismo, graças a grupos (famílias) de fiéis que seguiram os princípios cristãos ensinados pelo Senhor Jesus e reafirmados pelos Apóstolos, livres das influências pagãs, judaicas e da tradição católica.

Mais tarde grupos maiores se formaram para protestar contra os desmandos da Igreja Romana, sobressaindo-se os cataristas ou albingenses, os valdenses, os Irmãos e outros. Foram implacavelmente perseguidos, mas alguns escaparam pelo poder de Deus para que a verdadeira fé cristã fosse preservada, assim como o é a Palavra de Deus (Mt 24,35; Lc 21,33). Glória ao Senhor por isso!”

Faça-se aqui um parêntesis para observar:

a) Que famílias ou grupos de fiéis são esses mantenedores da autêntica fé? Como se chamavam? Onde viviam? De que modo agiram?

b) O autor parece não saber o que diz: os cátaros ou albingenses nem eram cristãos, pois professavam o dualismo ou maniqueísmo; serão eles os genuínos antecessores do protestantismo?

No século XVI, prossegue Mauro Caldeira, terá vindo à plena luz esse filete oculto do Cristianismo, originando o protestantismo.

2. A propósito ponderemos:

Quem pensa como acima terá esquecido os dizeres bíblicos segundo os quais Jesus quis fundar uma Igreja em que ele manteria intata a sua mensagem, preservando-a de deterioração. Essa Igreja, Ele a confiou a Pedro e a seus sucessores, prometendo-lhes sua assistência infalível, como decorre dos seguintes textos:

Mt 16, 18s: “Eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus e o que ligares na terra será ligado nos céus e o que desligares na terra será desligado nos céus”.

Lc 22, 31s: “Simão, Simão, eis que Satanás pediu instantemente para vos peneirar como o trigo; eu, porém, orei por ti, a fim de que tua fé não desfaleça. Quando te converteres, confirma teus irmãos”.

Jo 21, 15-17: “Disse Jesus a Simão Pedro: ‘Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes?’ Ele lhe respondeu: ‘Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo’. Jesus lhe disse: ‘Apascenta os meus cordeiros’. Uma segunda vez lhe disse: ‘Simão, filho de João, tu me amas?’ – ‘Sim, Senhor’, disse ele, ‘tu sabes que te amo’. Disse-lhe Jesus: ‘Apascenta as minhas ovelhas’. Pela terceira vez disse-lhe: ‘Simão, filho de João, tu me amas?’ Entristeceu-se Pedro porque pela terceira vez lhe perguntara: ‘Tu me amas?’ e lhe disse: ‘Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que te amo’. Jesus lhe disse: ‘Apascenta as minhas ovelhas’.

Mt 28, 18-20: “Disse Jesus: ‘Toda autoridade sobre o céu e a terra me foi entregue. Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei. Eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos”. (É de notar que Jesus não disse: “Estarei com os mais santos ou mais zelosos…” – santidade e zelo são critérios subjetivos e oscilantes -, mas disse: “Estarei convosco – Apóstolos e sucessores – até a consumação dos séculos”. Por conseguinte, a assistência infalível de Jesus se prende a uma nota objetiva, não oscilante: a sucessão apostólica)

Segundo Peres Caldeira, as promessas de Cristo não se cumpriram, ou seja, Jesus se enganou. A mensagem do Evangelho terá sido levada pelo vento a não ser nos pequenos grupos anônimos que o autor postula, forçando a história. Somente no século XVI terá Deus suscitado Lutero e reformadores, que entenderam devidamente a mensagem cristã; somente a partir de então é que o mundo pode contemplar “a verdadeira face” do Cristianismo e pleitear acesso à mesma. Isto quer dizer que o Cristianismo começou tarde, só tem quatro séculos e meio de vivência; antes do século XVI o mundo só observou deturpações do Evangelho.

Quem reflete sobre estas conclusões, não pode deixar de reconhecer que acusam de omissão o próprio Deus. O Cristianismo, que custou o sangue redentor de Cristo, devia ficar latente até Lutero e Calvino? Deus terá abandonado a sua obra? Cristo terá morrido para que apenas os quatro últimos séculos se pudessem plenamente beneficiar do preço de seu sangue? Afinal não sabe Deus o que quer?

Isto tudo é implicitamente sustentado por Peres Caldeira, a fim de justificar o protestantismo… Como este é mal sustentado!

1.2 Igreja e Bíblia

Como se compreende, o autor tem que relativizar o conceito de Igreja, embora, fundando-a sobre Pedro, Jesus a tenha chamado “minha Igreja”.

Os reformadores deram início à destruição do grande patrimônio de fé e cultura dos séculos anteriores, que associavam entre si Deus, Jesus Cristo e a Igreja:

– a reforma no século XVI disse Sim a Deus e a Cristo, Não à Igreja;

– os iluministas racionalistas do século XVIII disseram Sim a Deus, Não a Cristo e à Igreja;

– os ateus do século XIX disseram Não também a Deus;

– finalmente os estruturalistas do século XX disseram Não também ao homem, pois a morte de Deus vem a ser também a morte do homem.

Negando a Igreja de Cristo, os reformadores aceitaram a fundação de numerosas igrejas e igrejinhas de líderes humanos, todas derivadas do subjetivismo dos seus fundadores. Os próprios presbiterianos se repartem hoje em vários grupos independentes uns dos outros: presbiterianos independentes, presbiterianos unidos, presbiterianos do Brasil…

A fonte que inspira os fundadores de igrejas protestantes é Bíblia… a Bíblia, porém, entendida segundo “o livre exame”; cada crente é livre para interpretar a Bíblia segundo o seu parecer, “guiado pelo Espírito Santo”. Assim procedendo, os protestantes esquecem que a Igreja é anterior à Bíblia (Novo Testamento); o Cristianismo já existia quando foi escrito o Novo Testamento; este é berçado e redigido pela Igreja. É portanto a Igreja que credencia a Bíblia, e não vice-versa; é a Igreja que autentica, recomenda e interpreta a Bíblia, e não vice-versa. Por conseguinte, ler a Bíblia fora da Tradição oral, que lhe é anterior, levando em conta apenas o “eu acho…” do leitor, é violentar a Escritura, visto que esta mesma remete o crente às fontes orais da Palavra:

Jo 20, 30s: “Jesus fez, diante dos seus discípulos, muitos outros sinais ainda, que não se acham escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para crerdes que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome”.

Jo 21, 25: “Há muitas outras coisas que Jesus fez e que, se fossem escritas uma por uma, creio que o mundo não poderia conter os livros que se escreveriam”.

2Tm 2, 2: “O que ouviste de mim em presença de muitas testemunhas, confia-o a homens fiéis, que sejam capazes de ensinar ainda a outros” (Desta forma a Escritura atesta a existência de genuínas tradições doutrinárias de Cristo a serem transmitidas por via meramente oral, de geração a geração, sem que os cristãos tenham o direito de as menosprezar ou retocar. Este depósito oral chegou à geração e é expresso pela voz oficial da Igreja).

É o modo subjetivo de ler a Bíblia que possibilita o esfacelamento do Cristianismo, tal como ocorre dentro do bloco protestante: batismo de crianças ou de adultos? Sábado ou domingo? Bispos ou não? Imersão batismal ou apenas infusão da água? As mais recentes denominações já não aceitam Jesus como Deus e Homem (assim as Testemunhas de Jeová, a Ciência Cristã) nem a SS. Trindade; chegam a ter um livro sobreposto à Bíblia (como, por exemplo, o livro de Mórmon).

1.3 Somente a Bíblia

Os reformadores estabeleceram o princípio de que a única fonte de fé é a Bíblia, rejeitando assim toda a tradição oral derivada de Cristo e dos Apóstolos.

Ao estipularem isso, incorrem numa visível contradição, pois não têm resposta para a pergunta: “Donde sabemos que a Bíblia, com seus 66 ou 73 livros, é inspirada? Onde está explicitado na Bíblia o cânon sagrado?”. Na verdade, somente a Tradição oral (na única Igreja de Cristo) entrega ao crente a Bíblia e define o catálogo da mesma. A própria Bíblia não se define. Vê-se, pois, que o protestante, por mais que queira rejeitar a Tradição oral, não se pode furtar a recorrer a ela; além do mais, cada denominação segue a tradição oral iniciada por seu fundador (Lutero, Calvino, Wesley, J. Smith, H.G. White…), em vez de seguir a Tradição oral que vem de Jesus Cristo e dos Apóstolos. Que empobrecimento isto implica! Na verdade, se a Bíblia é a mesma em todos os ramos do protestantismo, por que não são todos concordes entre si no tocante ao dia de repouso, à praxe do Batismo, à organização de sua denominação…? – É porque, além da Bíblia, seguem a tradição oral do respectivo fundador, e não a de Jesus Cristo e dos Apóstolos.

O subjetivismo dos protestantes na sua interpretação da Bíblia é evidente, pois levam em conta os textos que condizem com suas premissas e omitem os demais. Assim:

– no tocante à Eucaristia. É evidente que o Senhor Jesus quis afirmar a sua real presença no Sacramento do Pão e do Vinho: “Isto é meu corpo… Isto é meu sangue…” (Mt 26, 26s); “O pão que eu darei, é minha carne para a vida do mundo” (Jo 6, 51); “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue, tem a vida eterna,… permanece em mim e eu nele” (Jo 6, 54.56);

– no tocante ao Sacramento da Reconciliação: Jo 20, 22s;

– no tocante ao primado de Pedro: Mt 16, 16-19; Lc 22, 31s; Jo 21, 15-17 (textos atrás citados);

– esquecem por completo as palavras de São Paulo em 1Cor 7, 25-35, que apresentam a vida una ou indivisa (celibatária ou virginal) como excelente caminho…

O subjetivismo protestante na interpretação da Bíblia é tal que algumas denominações mais recentes (adventistas, Testemunhas de Jeová…) enfatizam mais e mais o Antigo Testamento. Peres Caldeira parece envergonhar-se deste fato, de modo que classifica tais grupos entre “os que não têm origem histórica definida”; assim, as Testemunhas de Jeová, os Mórmons, a Ciência Cristã… Ora tais grupos são evidentemente derivados do protestantismo em datas e locais bem conhecidos:

– os Mórmons foram fundados por Joseph Smith em 1830 no Estado de Nova Iorque (EUA). Joseph Smith fora metodista;

– as testemunhas de Jeová, fundados por Charles Taze-Russell em 1893, também nos Estados Unidos; o fundador foi presbiteriano, insatisfeito com a sua denominação;

– a Ciência Cristã foi fundada por Mary Baker Eddy em 1875, tendo sido a fundadora membro do Congregacionalismo protestante.

1.4 O Cristianismo Depauperado

Quem lê os trechos do panfleto em que Peres Caldeira faz o rol das teses centrais do protestantismo, verifica que o Cristianismo se torna aí vago e genérico, para poder enquadrar as arbitrariedades do “livre exame”.

Eis o que numa folha anexa do panfleto se lê como características do protestantismo: Um só Deus (Trindade Divina), Um só Mediador entre Deus e os homens (Jesus Cristo), Uma só Doutrina Cristã e Fé Apostólica.

Estes princípios ignoram, por completo, o que se chamaria o aspecto sacramental do Cristianismo, ou seja, o fato de que o mistério da Encarnação se prolonga no Corpo de Cristo que é a Igreja e, através desta, nos sete sacramentos, dos quais a Eucaristia é o ponto alto. Jesus mesmo nos deu a entender que Ele não seria apenas um Mestre que deixaria um livro para os seus discípulos estudarem; ao contrário, Ele se apresentou como o tronco da videira do qual somos ramos (Jo 15 1-5); quem dá fruto, dá-o porque participa da seiva do tronco ou da vida de Jesus, enxertado em Cristo pelo Batismo. – A mesma concepção é exposta mediante a imagem do Corpo cuja Cabeça é Cristo e cujos membros somos nós; cf. 1Cor 12, 12-27. O Cristianismo não se reduz a uma escola de bons costumes, nem a grupo que desperte sentimentos subjetivos e eufóricos, mas é uma realidade objetiva, divino-humana – indefectível, porque Cristo continua vivo na sua Igreja, vivo não apenas porque os homens o amam e apregoam, mas porque, independentemente da vivência fiel ou infiel dos homens da Igreja, Ele age e atua através dos homens e das coisas sagradas (sacramentos) em favor dos homens.

Precisamente o que diferencia do protestantismo o Catolicismo, é a convicção de que a humanidade de Jesus é o Primeiro Sacramento, que se prolonga no Corpo de Cristo que é a Igreja e que atinge a cada cristão através dos sete filetes sacramentais (recobrindo toda a vida do cristão desde o nascer até o morrer). Aí está a verdadeira riqueza do cristão, que pode dizer com S. Paulo não numa atitude sentimental e subjetiva, mas com base ontológica, objetiva: “Vivo eu, não eu; é Cristo que vive em mim” (Gl 2, 20); a vida do cristão é assumida por Cristo e elevada a um plano superior.

2. O PECADO NA IGREJA

Os reformadores do século XVI reagiram contra o Catolicismo dos séculos XV/XVI, que se encontrava debilitado pela exuberante piedade popular e a frouxidão dos costumes dos clérigos. Compreende-se que a Igreja, sendo divina e humana, esteja sujeita às limitações dos seus membros mortais. Donde periodicamente se requer um movimento renovador. Foi o que o Senhor Deus suscitou, por exemplo, mediante o diácono Hildebrando (futuro Papa Gregório VII) em 1073, mediante os Santos Francisco e Domingos do século XIII, mediante Sta. Teresa e São João da Cruz, S. Inácio de Loyola e outros muitos no século XVI… A Igreja, como tal, não pode ser reformada ou reestruturada, não pode ser recomeçada, pois é de origem divina e o Senhor Deus garante a sua fidelidade à fé e à Moral de Cristo (Mt 28, 18-20); mas os diversos setores da Igreja, na medida em que são gerenciados por homens, podem ser reformados (Liturgia, Catequese, Clero, Laicato…). A Igreja, como Esposa de Cristo, sem mancha nem ruga (cf. Ef 5, 27), não peca; mas os filhos da Igreja pecam, à revelia de sua Mãe. Esta carrega os pecados de seus filhos, pecados que ela repudia e para os quais ela tem o devido remédio nas fontes sacramentais. Desta maneira é que se há de entender o pecado na Igreja; ele existe na Igreja, mas não é da Igreja.

Em particular, a respeito da Inquisição, veja-se o Curso de História da Igreja da Escola “Mater Ecclesiae”, Módulo 32 e 33. De resto, notemos que “quem tem telhado de vidro, não deve atirar pedras no telhado do vizinho”. Com efeito; o reformador João Calvino (1509-1564) instituiu em genebra um regime de Inquisição, que não deixa a desejar se confrontado com a Inquisição medieval: o Consistório em genebra era um tribunal destinado a supervisionar severamente a vida religiosa e moral dos crentes em todas as suas manifestações. Com o objetivo de controle, faziam-se, várias vezes por ano, visitas a domicílio; foram instituídos o procedimento da denúncia e da espionagem pagas. Os transgressores eram excomungados e condenados a fazer penitência pública. Os grandes pecadores eram entregues ao Conselho da Cidade para serem castigados. Foram pronunciadas muitas condenações à morte (58 até 1546) e mais ainda ao exílio. A tortura foi utilizada de maneira rigorosa. A cidade teve que se submeter, embora a contragosto, à disciplina férrea de Calvino. Todas as festas religiosas desapareceram, excetuados os domingos. A sociedade tornou-se taciturna: vestes de luxo, bailes, jogos de cartas, teatro e divertimentos semelhantes eram severamente condenados. O médico Jerônimo Bolsec, que ousou sublevar-se contra a doutrina calvinista da predestinação, foi exilado em 1551; o humanista e médico espanhol Miguel Cervet foi queimado vivo em 1553 por ter negado o dogma da SS. Trindade… Donde se vê que a Inquisição não foi um fenômeno do Catolicismo apenas, mas existiu no protestantismo, que se dizia arauto do livre exame da Bíblia.

Sobre a Noite de São Bartolomeu, veja o artigo mais adiante neste mês.

Às questões particulares levantadas por Peres Caldeira responderemos no artigo seguinte deste fascículo.

Reconhecemos que na explanação das páginas anteriores houve recurso a um tom inflamado e veemente que não é usual nos fascículos de PR. Todavia a agressividade protestante parece exigir uma réplica à altura, que evidencie claramente ou desmascare os sofismas dos escritores protestantes.

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