Os Santos

Tive a honra de ser chamado aqui, nesta comunidade, para dar uma palestra sobre os Santos, sobre os Santos e suas imagens.

Muita gente, iludida por falsos pastores, faz uma enorme confusão acerca do que realmente é um Santo. Houve até um caso, que chega a ser engraçado, de um protestante que me escreveu dizendo que “uma nova imagem estava sendo adorada”, referindo-se à canonização de um Santo.

Podemos, porém, dizer que, de uma certa forma, os Santos são imagens. Não, eles não são imagens esculpidas, eles não são pinturas, medalhas nem bonequinhos. Eles são imagens de Deus. Como assim?

Quando Moisés encontrou-se com Deus, ele perguntou-Lhe: “Qual o Seu Nome?”. “Deus disse a Moisés: ‘Eu Sou O Que Sou.” (Ex 3,13-14). Deus é; acima de tudo, Deus é. O que quer dizer isso? Isso quer dizer que tudo o que nós somos – eu sou o Carlos, isto é uma mesa, uma cadeira, um microfone… – só é por causa de Deus.

Se não fosse Deus, eu não seria. Não é como dizer que eu morreria; não, eu nunca teria existido. Assim, a minha própria existência, o fato de eu ser eu, o fato de eu simplesmente ser, de eu existir, depende da existência de Deus. Se Deus parasse de prestar atenção por um segundo que fosse, se Deus não nos mantivesse existindo, nada seria. Tudo desapareceria, tudo jamais teria existido.

Meu filho de três anos de idade estava outro dia comigo na rua em que eu e minha esposa morávamos antes de nos casarmos. Mostrei a ele: eu morava aqui, e ela morava ali. Ele então perguntou: “e eu, morava onde?”. Disse-lhe que ele não morava em lugar nenhum; ele ainda não existia. Ele então, sem entender, perguntou-me se ele havia morrido. Disse-lhe eu então que ele não havia morrido; ele simplesmente ainda não existia, como não existia uma semana antes a flor que nascera na véspera no vaso que sua mãe plantou. Ele era apenas uma idéia, uma intenção de criar na mente divina. Quando eu e sua mãe nos casamos, fizemos a nossa parte: o corpo dele. Deus deu-lhe então uma alma fresquinha, recém-criada. Antes disso, ele não existia.

Do mesmo modo, se não fosse por Deus, que é o Único que existe por Si só, nenhum de nós existiria. Nossa existência é dependente da existência de Deus, como um reflexo em um espelho é dependente da coisa que é refletida.

Deus, além de ser AQUELE QUE É, além de ser o Único que tem existência por Si só, é também o Bem em Si. Todo Bem que existe é um reflexo do Bem em Si, que é Deus. O mal não existe. O mal não tem existência, o mal não é. Assim com não existe o frio, que é a ausência de calor, assim como não existe a escuridão, que é a ausência de luz, não existe o mal, que nada mais é que a ausência do Bem, que é Deus.

Todos nós temos um casal de antepassados comuns: Adão e Eva. Eles cometeram um pecado gravíssimo, que chamamos de Pecado Original. O que é o Pecado Original? Uma dica, desde já: não tem nada a ver com sexo, não tem nada a ver com maçãs…

O Pecado Original foi um pecado de desobediência. Deus proibiu a Adão e a Eva que comessem da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal, ou seja, proibiu que eles quisessem determinar por conta própria o que é Bom e o que é Mau. Devido a este pecado, a morte entrou no mundo. A ausência de bem enraizou-se em nós, criou fortes raízes no corpo de todos os descendentes de Adão – nós – atingindo-lhes também a alma. É por causa do Pecado Original que nós ficamos doentes, é por causa do Pecado Original que nós morremos, é por causa do Pecado Original que – o que é mais importante, pois afeta o nosso destino eterno – nós pecamos.

Por causa deste Pecado Original, a nossa vontade passou a não obedecer mais à nossa Razão. A cabeça não manda na vontade. Antes do Pecado Original, a vontade estava submissa à Razão; agora, ela desobedece. É por isso que temos tentações, é por isso que por vezes é dificílimo fazer a coisa certa. Se vem uma moça linda querendo fazer pouca-vergonha comigo, a minha razão diz que não devo nem posso aceitar, mas a minha vontade não lhe obedece. Eu preciso fazer um esforço consciente e grande para conseguir submeter a vontade à Razão, e não cair em tentação.

Aí entra a Graça de Deus. Deus nos dá Sua graça para que possamos resistir às tentações. A Graça é, fazendo uma comparação que deixa bastante a desejar, como a gasolina que impulsiona o motor, como a eletricidade que o faz girar e dar partida. Se não fosse a graça de Deus, eu nunca conseguiria, você nunca conseguiria, nenhum de nós jamais conseguiria resistir a tentação alguma. É só pela graça de Deus que podemos resistir às tentações; é só pela Graça de Deus que podemos fazer a coisa certa e não a coisa errada, que podemos fazer com que a razão vença a vontade.

É porém necessário que nós aceitemos esta Graça que Deus nos dá gratuitamente (“de graça”…). A Graça está sempre à disposição; Deus não manda a tentação sem nos mandar também a graça. Muitíssimas pessoas, porém – na verdade a maior parte das pessoas – não aceitam estas graças que Deus dá de agir corretamente, de fazer o ato correto – estas são as chamadas “graças atuais”, graças de agir corretamente -, e caem na tentação. Caindo na tentação, elas pecam, elas desobedecem a Deus. E então fica mais e mais fácil pecar. É muito mais fácil para um ladrão, que rouba todos os dias, matar alguém que para uma freirinha contemplativa, que passa os dias em oração sem jamais cometer pecado grave. O pecado nos torna surdos para a graça de Deus, o pecado faz com que a gente não se aperceba da graça de Deus que está à nossa disposição. É por isso que devemos nos confessar freqüentemente, é por isso que devemos sempre procurar usar o “cotonete espiritual” da oração, da penitência e da caridade para limpar nossos “ouvidos da alma” para ouvir e perceber a graça que Deus nos dá.

Pelo Batismo, nós nos tornamos filhos adotivos de Deus e recebemos d’Ele a chamada Graça Santificante, a graça que não apenas nos ajuda a fazer a coisa certa – como a graça atual – mas nos santifica realmente, nos torna pessoas melhores. Pelo pecado mortal – ou seja, pelo pecado que é cometido deliberadamente, que é cometido conscientemente, em matéria grave – que cometemos após o Batismo, nós perdemos esta Graça Santificante. Pelo Sacramento da Reconciliação – a Confissão – nós recebemos de volta esta graça. Pela recepção do Santíssimo Sacramento – a Comunhão – nós aumentamos esta Graça.

Se no momento de nossa morte nós tivermos a Graça Santificante, se nós tivermos quando batermos as botas esta Vida – que é a Graça – que Deus nos dá, nós estaremos salvos. Se, pelo contrário, morrermos em nossos pecados, morrermos sem que tenhamos recebido de volta esta Graça Santificante, e vamos cair sentados no tridente do Capeta e lá permanecer por toda a eternidade. Trata-se de uma escolha que Deus permite que façamos: aceitar Sua Graça e ir para o Céu, ou trocá-la pelo prazer do proibido, trocá-la pelo pecado, pelo sexo, pelo dinheiro, e irmos para o Inferno.

O que são, portanto, os Santos? Os Santos são aqueles que aceitaram esta Graça, e foram para o Céu. Esta graça santificante os fez cada vez mais conformes a Deus, fez com que moldassem suas vontades, com o auxílio da Graça de Deus, cada vez mais à vontade de Deus. É por isso que eu pude dizer que os Santos são como imagens de Deus. Não são, evidentemente, nem poderiam jamais ser, imagens completas de Deus. Eles são como reflexos de um aspecto do Bem Supremo que é Deus. São Francisco, com o amor de Deus pela pobreza; São Jerônimo, com o amor de Deus pela Verdade; São Tomás de Aquino, com o amor de Deus pelo estudo; Santa Filomena, com o amor de Deus pela castidade…

Cada um deles reflete um aspecto do Bem infinito que é Deus. É este o significado da figura da rosácea que vemos em muitas igrejas antigas: o centro, de onde saem raios para todos os lados, é Deus; os raios são Sua Graça; os extremos, onde os raios tocam, são Seus Santos. Temos um Santo Rei e guerreiro como São Luís em uma ponta da rosácea, e na ponta oposta temos uma alma pequenina e bela como aquela que os americanos chamam de “little flower”, “florzinha”: Santa Terezinha do Menino Jesus. Ambos refletem, de uma certa maneira, o Bem Supremo que é Deus. Ambos são, cada qual a seu modo, uma imagem de Deus.

Eles nos mostram – a nós que ainda estamos aqui na Terra brigando para fazer com que nossas vontades erradas, nossa tendência para o pecado, sejam vencidas pela Graça – qual é o caminho. Eles nos mostram que é possível para nós também sermos, como nos pede o Senhor, “Santos como o Pai é Santo”.

Além disso, além deles serem para nós exemplos a seguir – pois eles, tal como nós, são seres humanos que sofreram tentações; eles, tal como nós, dependeram e dependem ainda de Deus e da Graça de Deus para existir; eles, tal como nós esperamos conseguir, pela graça de Deus conseguiram vencer as tentações e chegar ao Céu… Além disso tudo, eles são também algo muitíssimo importante: eles são nossa família.

Se algum de vocês entrar em uma enrascada formidável, em uma roubada mãe, daquelas de contar chorando trinta anos depois, a quem vai recorrer? Aos amigos? Talvez. À família? Certamente. É com nossa família, nossa mãe, nossos irmãos, que devemos sempre contar. Somos todos irmãos em Cristo. Nós, os Santos, as Almas no Purgatório, somos todos nós irmãos em Cristo. Como irmãos, temos todos também a mesmíssima Mãe: Aquela que na Cruz o Senhor nos deu por Mãe: Sua Mãe Puríssima, a Santíssima Virgem Maria, de quem diz a Escritura “Todas as gerações chamarão de Bendita”.

Imaginem a cena: Nosso Senhor Jesus Cristo, pendurado na Cruz, com pregos dolorosos passando através de Suas Mãos e Seus Pés, com feridas crudelíssimas causadas pelas chicotadas e pontapés que recebeu, com uma coroa de espinhos a furar-Lhe o couro cabeludo, com chagas horríveis causadas pelo atrito da pesada Cruz que carregou pelas ruas estreitas de Jerusalém, subindo, sempre subindo, até o Monte Calvário… Ele, então, reúne Seu fôlego que já Lhe faltava e, dirigindo-Se à Sua Mãe, disse-lhe: “Eis aí o teu filho”; depois, dirigindo-Se ao discípulo que Ele amava – São João -, disse-lhe: “Eis aí a tua Mãe’. E, desta hora por diante, a levou o discípulo para sua casa”. (Jo 19,26-27)

Será que por um segundo que fosse daria para acreditar que Ele usou este momento para resolver questões de economia doméstica: “olha, João, toma conta da velhinha, tá?”? Será que alguém com a cabeça firmemente presa nos ombros teria a idéia de jerico de acreditar, por um milionésimo de segundo que fosse, que estas duas frases: “Eis aí o teu filho”; “Eis aí a tua Mãe” não fossem importantíssimas, cruciais para todos nós? Seria alguém imbecil a ponto de acreditar que Nosso Senhor, pendurado agonizante na Cruz, diria palavras que não fossem importantes para toda a humanidade, para todos os que viriam a seguir e O seguiriam? Não creio. Seria estupidez demais.

Ela, portanto, a Virgem Santíssima, é nossa Mãe. Os outros Santos são nossos irmãos. Eles, todos juntos, são nossa família. E, como família nossa que são, eles nos amam e nos ajudam. Assim como José acolheu (Gn 45) seus irmãos que queriam matá-lo e acabaram por vendê-lo como escravo (Gn 37), nossa família, os Santos, nos acolhe sempre e nos procura conduzir de volta para a Casa do Pai.

Esta belíssima Verdade tem um nome, e todo domingo afirmamos a nossa crença nela: ela se chama a Comunhão dos Santos. Esta Comunhão dos Santos é algo em que ingressamos pelo Batismo, é a união em Deus de todos os que estão em Sua graça. Voltando à rosácea: do Centro, que é Deus, saem raios, que são a Graça de Deus, para as extremidades, os Santos. Notem que de um Santo para outro, o que une é Deus. É de Deus que vem a Graça que os une, e é em Deus que eles estão unidos. Assim, eu sou irmão de cada um de vocês, sou irmão de todos os Santos no Céu e de todas as Almas no Purgatório, mas não sou irmão diretamente. Sou irmão em Deus, sou irmão em Cristo. É por Nosso Senhor Jesus Cristo que temos este laço de irmandade a nos unir.

Quando eu morrer – queira Deus que em Sua Graça! – não sairei da Comunhão dos Santos. Pelo contrário; sem ter mais que me preocupar com tentações, com vontades desordenadas, com, em suma, esta luta que aqui combatemos contra o mal, que é a ausência de Bem, eu estarei completamente tranqüilo em Deus. Isto não significa, porém, nem pode significar, que eu estarei separado do resto de minha família em Cristo. O que une esta família é Deus. Estando face-a-face com Deus, estamos ainda mais próximos de toda a nossa família divina, estamos ainda mais próximos de todos aqueles com quem em Deus estamos unidos.

Na Sagrada Escritura, vemos como os Santos no Céu se ocupam: eles rezam. É bastante evidente, afinal. Eles estão diante de Deus, não têm mais nenhum problema material… O que haveria de melhor a fazer que não rezar, estando nestas condições tão ideais para isso?! Vemos no livro do Apocalipse 6,10 uma multidão de Santos mártires clamando a Deus para que faça justiça na Terra. Vemos em Apocalipse 8,3-4 que as orações dos Santos sobem a Deus como fumaça de incenso. Vemos em Apocalipse 7,15 que os Santos servem a Deus noite e dia no Seu templo, diante do Trono do Cordeiro…

São Paulo também, em sua Epístola aos Hebreus, nos mostra a preocupação com que estes Santos acompanham a nossa vida aqui na Terra. Em todo o capítulo 11, ele faz uma lista de Santos do Antigo Testamento (afinal de contas, estes eram os Santos conhecidos pelos Hebreus a quem ele estava escrevendo; não adiantaria nada escrever acerca de, por exemplo, São Dimas, o Bom Ladrão, que morrera ao lado de Nosso Senhor e a quem Nosso Senhor prometeu que estaria no Céu naquele mesmo dia, ou de Santo Estêvão, apedrejado pelos judeus enquanto São Paulo, que ainda não se havia convertido, segurava as roupas dos apedrejadores… os hebreus não sabiam deles, não sabiam que eles estavam no Céu!). Em todo o capítulo 11 da Epístola aos Hebreus, portanto, nós vemos São Paulo enunciar Santo após Santo do Antigo Testamento.

Logo em seguida, no primeiro versículo do capítulo 12 (não podemos esquecer que a divisão da Bíblia em capítulos é muitíssimo recente; São Paulo escreveu direto, sem separar capítulo 11 de capítulo 12), em Hb 12,1, São Paulo diz, acerca de todos aqueles que ele citara no atual capítulo 11, que estamos “rodeados por uma nuvem de testemunhas”. Isto quer dizer que os nossos irmãos, os Santos, estão nos rodeando “como uma nuvem”, ou seja, por todos os lados, vendo tudo o que estamos fazendo e… pedindo a Deus por nós, com suas orações “subindo como incenso” para Ele, diante de Cujo trono eles estão, servindo-o sem cessar.

É isso que a família faz. É isso que um bom irmão faz, é isso que uma boa Mãe faz: procura ajudar, na medida do possível, seus irmãos, seus filhos. Ajudar “na medida do possível”. E “a medida do possível” para eles é enorme, pois como escreveu São Paulo, “Palavra fiel: Se morrermos com Ele (com nosso Senhor Jesus Cristo), com Ele viveremos; se sofrermos, reinaremos também com Ele” (2Tim 2,11-12). Os Santos, que morreram com Ele, que sofreram com Ele, estão agora justamente reinando com Ele!

Algumas pessoas um pouco confusas vão então dizer que isso é contrário à Bíblia, pois há um só Mediador que é Nosso Senhor Jesus Cristo, sem perceber porém que estão falando abobrinhas. Por que digo isso? Porque se nós tivermos a paciência de ler o trecho inteiro onde está esta afirmação da mediação única de Nosso Senhor, ou seja, 1 Tim 2,1-7, vemos que a mediação única de Nosso Senhor não tem absolutamente nada a ver com as orações dos Santos (exceto, claro, o fato deles serem Santos e estarem junto de Deus por causa precisamente desta mediação; eles são Santos pela Graça de Deus, pela Mediação de Nosso Senhor Jesus Cristo)!

São Paulo começa o capítulo com as seguintes palavras: “Recomendo-te, pois, antes de tudo, que se façam súplicas, orações, petições, ações de graças por todos os homens; pelos reis e por todos os que estão constituídos em dignidade, para que levemos uma vida sossegada e tranqüila, em toda a piedade e honestidade. Porque isto é agradável diante de Deus nosso Salvador, o Qual quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da Verdade.” Ou seja, São Paulo manda rezar pelos irmãos, interceder por outros.

E é isto que fazem os Santos no Céu. Os Santos no Céu não têm poder próprio algum. Eles não têm como fazer um milagre por conta própria, apenas pedi-lo a Deus – ao lado de Quem estão – em oração. Esta é uma mediação de oração, que, diz São Paulo, “é agradável diante de Deus nosso Salvador, o Qual quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da Verdade”.

E que Verdade é esta? Continua então São Paulo: “Porque há um só Deus, e há um só Mediador entre Deus e os homens, que é Jesus Cristo homem, o Qual Se deu a Si mesmo para redenção de todos”. Fica claro, então, que a mediação única de Nosso Senhor não significa que não é possível orar pelos irmãos; a mediação única d’Ele significa que foi o Sacrifício d’Ele, o Sacrifício de Cristo na Cruz, que torna possível a nossa redenção. Não adiantaria nada matar na Cruz outra pessoa; seria apenas um homem.

Nosso Senhor, porém, é Verdadeiro Deus e Verdadeiro Homem, e Seu Sacrifício é único e suficiente para a Salvação. Esta é a mediação única d’Ele: a Mediação do Sacrifício Redentor. A mediação de oração, ou seja, pedir a Deus pelos irmãos em Cristo, como o fazem os Santos, não é uma afronta à mediação única de Cristo, pelo contrário, é, como nos diz São Paulo, recomendada e “agradável diante de Deus”.

Afinal, os Santos estão no Céu pelos méritos nfintos de Nosso Senhor Jesus Cristo na Cruz; eles foram salvos, omo esperamos nós também sê-lo, pela mediação única de Nosso Senhor Jesus Cristo. Pedir a oração de um Santo é reconhecer a obra de salvação feita por Deus pela mediação única de Cristo, é reconhecer que sem Nosso Senhor Jesus Cristo, sem Seu sacrifício, não haveria Santos, não haveria salvação possível. É mais que evidente que os Santos não são “concorrentes” de Deus. Pelo contrário! Eles são aqueles que estão, como vimos em Apocalipse 7,15, dia e noite a servi-l’O diante de Seu trono. Eles são membros de nossa família em Cristo, que pela graça de Cristo estão junto a Cristo e a Cristo pedem por seus irmãos em Cristo.

A questão, então , para os hereges que negam a mediação de oração dos Santos, é outra: será que a morte vence o Cristão? Será que a morte separa o cristão daqueles que são seus irmãos em Cristo e precisam de suas orações? A resposta é clara: Não, a morte não vence o Cristão. São Paulo escreve (2 Tim 1,10) que Nosso Salvador Jesus Cristo destruiu a morte, e pôs a claro a Vida e a imortalidade”. A morte não vence o Cristão, pelo contrário. A morte para o cristão é lucro, já escreveu São Paulo. “Para mim o viver é (para) Cristo, e o morrer é um lucro. (…) tenho desejo de ser desatado (da carne) e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor” (Fil 1,21-23). Sem dúvida, a condição daqueles que reinam com Cristo, estão com Cristo, que venceu a morte, e pedem a Deus por nós é mesmo “incomparavelmente melhor”…

No Antigo Testamento, Deus deu aos judeus seus Dez Mandamentos. O primeiro deles dizia: “Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de Mim. Não farás para ti imagem de escultura, nem figura alguma do que há em cima no céu, e do que há embaixo na terra, nem do que há nas águas debaixo da terra. Não adorarás tais coisas, nem lhes prestarás culto” (Ex 20,2-5). Este é o Primeiro Mandamento, que pode ser resumido em “Amar a Deus sobre todas as coisas”.

Qual o objetivo deste mandamento? Impedir que os judeus achassem que existem vários deuses. O Deus único, naquele tempo, não tinha ainda corpo. Nosso Senhor ainda não Se havia encarnado no seio da Virgem Maria. Era, portanto, impossível representá-l’O, sob qualquer forma que fosse. Ele não tinha forma.

Os pagãos adoravam milhares de deuses diferentes: homens com cabeça de gato, leões com asas de águia e outros seres delirantes. Estes ídolos, estes demônios, eram por eles representados em estátuas.

Deus, porém, não tinha um corpo que pudesse ser representado. Ele estava educando o Povo Eleito para que eles não colocassem o culto a Deus em pé de igualdade com cultos a ídolos. Ele estava mostrando que Deus é único, Criador dos Céus e da Terra, não uma “entidade” a competir com os exus e orixás das idolatrias da época.

O problema, portanto, não era a confecção de imagens, mas a adoração de falsos deuses, o colocar falsos deuses como se fossem deuses de verdade. O próprio Senhor Deus mandou que fossem feitas várias imagens: Em Ex 25,18-20, Deus manda fazer imagens de querubins para enfeitar a Arca da Aliança; em Nm 21,8-9, Ele manda Moisés fazer uma imagem de serpente de bronze, que curava os que haviam sido picados por cobras.

Quando, porém, os israelitas começaram a confundir as coisas e achar que a serpente de bronze era um deusinho a ser adorado, o rei Ezequias mandou derrubá-la para acabar com aquela pouca-vergonha (2 Rs 18,4). Do mesmo modo, Deus também mandou fazer imagens variadíssimas para enfeitar o Templo, como vemos em 1Rs 6,23-35 e 1Rs 7,15-29: querubins, touros, palmeiras, juníperos, flores de lis… Deus até mesmo colocou no caminho de Salmão um artesão de imagens “cheio de sabedoria, de inteligência e de ciência para fazer todo o gênero de obras de bronze” (1 Rs 7,14)!

Entramos então na questão: já que o que a Lei dada aos judeus por Deus os proibia de fazer imagens de falsos deuses para adoração, mas Deus não proibia – muito pelo contrário, mandou várias vezes que fossem feitas – imagens de criaturas de Deus para melhor servi-l’O, haveria por acaso algum problema em fazer imagens das obras-primas de Deus, que são a Santíssima Virgem Maria e os outros Santos?

Claro que não. Isto ocorre por vários motivos:

1- Não passa pela cabeça de católico algum que um Santo seja um “deusinho” para competir com Deus verdadeiro; pelo contrário, sabemos todos que os Santos são Santos pela Graça de Deus. Ao fazermos uma magem de um Santo, sabemos que não estamos fazendo um “deusinho”, mas homenageando, como se homenageia com uma estátua em via pública, um irmão nosso que, nas palavras de São Paulo, “chegou ao fim da corrida”. Uma imagem não é santa por ser uma imagem; ela deve ser abençoada, isto é, dedicada por um sacerdote ao serviço de Deus. Por ter sido abençoada, por ter se tornado um Sacramental, um objeto separado pela Igreja para o culto a Deus, devemos ter com ela o cuidado devido a algo que é propriedade exclusiva de Deus, além de representar alguém que é uma obra-prima de Deus: um Santo.

2 – Devemos ter carinho pelos Santos, que são nossa família, nossos irmãos em Cristo. Quem tem carinho por alguém gosta de ter imagens (fotos, desenhos…) deste alguém consigo. Além do carinho natural, devemos ter também a veneração que é devida a um familiar mais importante, a veneraçào que é devida a alguém que conseguiu – como somos todos chamados a conseguir – tornar-se uma imagem parcial de Deus. Não se veneram os defeitos dos Santos; venera-se no Santo aquilo que ele tem que vem de Deus, venera-se aquilo que é efeito da Graça de Deus.

3 – A imagem, esculpida, fotografada ou pintada, é uma representação do Santo, é uma representação de uma magnífica e belíssima obra de Deus. Quando nos ajoelhamos diante de uma imagem, não estamos achando que o gesso está vivo, ou sequer que o Santo que aquela imagem representa tenha algum poder próprio: estamos prestando homenagem a Deus em uma de suas obras-primas, representada por aquela imagem.

4 – Além disso, a proibição (relativa) do uso de imagens no culto dos judeus não faz mais sentido: Deus Filho fez-se homem, e deixou para nós a imagem perfeita de Sua aparência humana no Santo Sudário; Deus Espírito Santo fez-se ver “em forma corpórea como uma pomba” (Lc 3,22). A pedagogia divina funcionou, e foi eficaz: sabemos todos que há um só Deus, e que somos chamamos a aceitar mais e mais a Sua Graça até que nós também possamos um dia, após termos deixado nosso corpo marcado pelo Pecado Original, com Ele vivermos e reinarmos, sem nunca, jamais, abandonar os nossos irmãos em Cristo.

A acusação de adoração aos Santos, feitas por muitos hereges, é uma triste consequência de um fato trágico: eles não adoram a Deus. Nós, sabemo-lo todos, veneramos os Santos. O que é venerar? É fazer aquilo que todo filho faz em relação a seu pai e sua mãe: ele pede, ele louva, ele agradece. Nós, porém, adoramos a Deus. O que é adorar? É fazer o que nós fazemos em relação a Deus e os macumbeiros fazem em relação a seus ídolos: oferecer sacrifício. Na Santa Missa o Sacrifício de Cristo é tornado novamente presente diante de todos nós. O macumbeiro mata uma galinha preta para o seu ídolo. O sacrifício de Cristo, oferecido a Deus de forma incruenta na Santa Missa, é evidentemente muito superior ao sacrifício de uma galinha preta a demônios. Ambos, porém, são sacrifícios, e oferecer sacrifícios é adorar. Por isso podemos dizer que os macumbeiros adoram seus ídolos.

Já os hereges que nos acusam de adorar os Santos, ‘tadinhos, fazem esta confusão por uma razão triste: eles não adoram a Deus. Eles apenas veneram a Deus: pedem, louvam, agradecem. Nada mais que meus filhos fazem comigo ou eu faço com minha avó. Ao ver, assim, um católico prestando a devida veneração a um Santo, eles, que veneram Deus e adoram apenas seus próprios umbigos, dizem: “Olha lá! Ele ‘tá adorando o santo! É idólatra!”…

Esta triste confusão, obra do demônio e do amor ào dinheiro, infelizmente arrasta muita gente para o Inferno.

Temos, como católicos, o dever de caridade de procurar ajudar a todos estes pobrs coitados caídos em heresia, para que eles abandonem suas falsas crenças, reconciliem-se com a Igreja que Nosso Senhor Jesus Cristo fundou e confiou a São Pedro, fora da qual não há Salvação, e assim escapem do Inferno.

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

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