Paulo não condenava o celibato sacerdotal?

– O sacerdócio católico é desaprovado por 1Timóteo 4,3, onde Paulo adverte Timóteo que, nos últimos dias, apóstatas na Igreja iriam proibir o casamento. Os sacerdotes católicos, contrariamente à Bíblia, são proibidos de casar. À vista deste versículo e por vivermos nos últimos dias, como vocês podem defender o seu sacerdócio? (Anônimo)

Em primeiro lugar: Como você sabe que vivemos nos últimos dias? Não é um bom argumento a sua afirmação que diz que em razão dos sacerdotes católicos não se casarem então vivemos os últimos dias. Talvez você não saiba que nos últimos 850 anos (desde o II Concílio do Latrão, em 1139) todos os candidatos à ordenação sacerdotal no Rito Romano devem proferir o voto de celibato. Logo, seguindo o seu raciocínio, estamos vivendo os últimos dias há muitíssimo tempo…

Existe um outro problema na sua asserção. Nenhum católico está proibido de casar. E os homens que se tornam sacerdotes o fazem voluntariamente, sabendo que no Rito Romano o casamento não é opcional para os sacerdotes.

Não é que sejam proibidos de casar, mas os sacerdotes católicos [de Rito Romano] livremente sacrificam a opção de se casar em favor de servir a Deus como discípulos celibatários, castos, com uma mente mais simples. (Os Ritos Orientais da Igreja Católica permitem que homens casados sejam ordenados).

Embora o casamento seja lícito para todos os cristãos, não é obrigatório. Está em harmania com o Evangelho o abster-se do casamento pelo propósito de servir a Cristo. Jesus nos diz que alguns “por causa do Reino dos Céus se fizeram incapazes do casamento. Quem puder entender isto [=uma vida celibatária], entenda” (Mateus 19,12).

Paulo, ele mesmo um sacerdote celibatário, explica em 1Coríntios 6,12-13 que: “A mim tudo é permitido, mas nem tudo me convém. A mim tudo é permitido, mas não me deixarei dominar por coisa alguma”. Aqui Paulo admoesta contra a imoralidade sexual e exorta os cristãos a “glorificar Deus em seus corpos” (1Coríntios 6,20).

E no capítulo seguinte ele encoraja o celibato explicando sua regra consistente numa vida de castidade:

“Passo agora a tratar dos assuntos sobre os quais me escrevestes: É bom para o homem abster-se de mulher. Entretanto, para não cair em imoralidade sexual, tenha cada qual a sua mulher, e cada mulher, o seu marido. […]

Aliás, gostaria que todos fossem como eu. Mas cada um recebe de Deus um dom particular: um este, outro aquele. Digo, pois, aos não-casados e às viúvas, que é bom para eles ficarem assim, como eu. Se, porém, não conseguem dominar-se, casem-se, pois é melhor casar do que arder em desejo” (1Coríntios 7,1-2.7-10).

Com efeito, 1Timóteo 4,3, longe de impugnar a disciplina católica do celibato sacerdotal, condena aquelas heresias (como as dos maniqueus e albigenses) que afirmavam que o casamento era mal porque o corpo era mal. Assim, Paulo não está advertindo Timóteo contra a disciplina católica, até porque ele mesmo a seguia!

 

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