Por que os católicos não aceitam a “irmanação” de todas as Religiões?

– “Por que os católicos não aceitam a irmanação de todas as Religiões?” (Geraldo – São Paulo-SP).

O católico não denega boa vontade ou amor a nenhum dos seus semelhantes, pois sabe que todos valem o preço do sangue de Cristo. Não recusará, portanto, aliviar as indigências espirituais e corporais de um protestante, de um espírita ou de um budista.

A Legião da Boa Vontade, porém, sob o pretexto de fomentar a caridade e a união das forças benéficas, propõe “irmanação das religiões”, querendo colocar praticamente no mesmo piano todas as crenças. Ora, isto é totalmente desarrazoado.

Com efeito. Reflitamos um pouco: admita-se que três engenheiros desejem colaborar entre si na construção de uma ponte. O primeiro, porém, afirma que “dois e dois são quatro”; o segundo, na sua matemática, diz que “dois e dois são três”, e o terceiro que “dois e dois são cinco”. Ora está claro que, divergindo assim sobre os princípios do cálculo, não se poderão conjugar para fazer um projeto de ponte, por maior que seja a sua caridade mútua ou a sua vontade de auxiliar aos concidadãos.

Aquele que pensa “dois e dois são quatro”, tendo a evidência de estar com a verdade, preferirá dispensar a colaboração dos dois colegas, pois sabe que esta só poderá ser nociva, acarretando falhas e vícios na obra. Aliás, é o próprio bem comum que pede que o engenheiro possuidor da verdade não queira fazer como se estivesse no erro. Quanto àquele que julga que “dois e dois são cinco”, pelo fato de se achar no erro, não estará seguro na sua posição (o erro nunca é evidente por si mesmo); por conseguinte, não terá dificuldade em proceder como se “dois e dois fossem três”; a fusão com as opiniões de outros pode ser vantajosa para quem está no erro. É isto que não se dá com quem está na verdade; sabe que para empreender uma ação comum fecunda, deve haver entre os colaboradores concórdia baseada sobre a Verdade.

Tal caso explica bem a situação dos católicos perante a chamada Legião da Boa Vontade. Esta, por estar no erro (é de fundo espírita ou meramente liberal), pode propor aos católicos: “esqueçam na prática as verdades que diferenciam o seu credo dos outros credos e procedam como se não pensassem de outro modo”… A Igreja responde que um tal nivelamento é ilusório; comprometeria o sucesso da ação, pois o Bem está fundado na Verdade. Só aquele que afirma “dois e dois são quatro” é capaz de conceber e executar uma ponte sólida; se ele se comportar como se “dois e dois fossem cinco” para satisfazer ao seu companheiro, ele deixará de ser amigo desse companheiro e o Bem Comum protestará, porque será violado.

Assim se entende porque os católicos, embora amem (e justamente porque amam) profundamente a qualquer protestante ou espírita, não podem aceitar a “irmanação das religiões”; têm que afirmar a verdade inteira, sem dissimular o que ela possa apresentar de alheio às crenças de outrem, porque, do contrário, estariam pondo o candeeiro debaixo da mesa e prejudicando a todos. Somente em pontos que não impliquem desdita aos grandes princípios doutrinários da Verdade (como o combate ao materialismo e ao bolchevismo), pode haver ação comum entre católicos e não-católicos.

Ainda se deve notar quão confusa é a expressão “religiões irmanadas”. Dá a entender que cada religião é produto do bom senso de um povo ou de um grupo de homens e que cada indivíduo escolhe a sua religião segundo a sua boa vontade. Longe disto, porém, está a verdade.

“Religião” significa “ligação, intercâmbio entre Deus e os homens”. Neste intercâmbio é Deus quem tem a primazia, pois, por definição, Ele é o Senhor do homem. Por conseguinte, é Deus quem dita o modo como a criatura O deve procurar e atingir; é Deus quem revela a religião; não toca aos homens a tarefa de conceber a religião ideal. Ora, já que a religião é ditada por Deus, e Deus é um só para todos os homens, só pode haver uma Religião; os outros cultos ou credos são sistemas humanos que não merecem ser chamados “Religião”, muito menos irmanados com esta.

E a única Religião é a que Deus mesmo ensinou (e continua a ensinar), tendo-se feito homem após longa preparação e prolongando o seu ensinamento até hoje na Sua Igreja sempre vital e fecunda.

  • Fonte: Revista Pergunte e Responderemos nº 5:1957 – set/1957
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