Reflexão Patrística – “A fraqueza de Deus é mais forte que os homens” (São João Crisóstomo, +403)

“Por meio de homens ignorantes a Cruz persuadiu, e mais: persuadiu a terra inteira. Não falava de coisas sem importância, mas de Deus, da verdadeira Religião, do modo de viver o Evangelho e do futuro juízo. De incultos e ignorantes, fez amigos da sabedoria. Vê como a loucura de Deus é mais sábia que os homens e a fraqueza, mais forte.

De que modo mais forte? Cobriu toda a terra, cativou a todos por seu poder. Sucedeu exatamente o contrário do que pretendiam aqueles que tentavam apagar o nome do Crucificado. Este Nome floresceu e cresceu enormemente, mas seus inimigos pereceram em ruína total. Sendo vivos, lutando contra o Morto, nada conseguiram. Por isso, quando o grego me chama de ‘morto’, mostra-se totalmente insensato, pois eu, que aos seus olhos passo por ignorante, me revelo mais sábio que os sábios. Ele, tratando-me de fraco, dá provas de ser o mais fraco. Tudo o que, pela graça de Deus, souberam realizar aqueles publicanos e pescadores, os filósofos, os reis, numa palavra, todo o mundo perscrutando inúmeras coisas, nem mesmo puderam imaginar.

Pensando nisto, Paulo dizia: ‘O que é fraqueza de Deus é mais forte que todos os homens’ [1Coríntios 1,25].

Com isso se prova a pregação divina. Quando é que se pensou: doze homens, sem instrução, morando em lagos, rios e desertos, que se lançam a tão grande empresa? Quando se pensou que pessoas que talvez nunca houvessem pisado em uma cidade e, em sua praça pública, atacassem o mundo inteiro? Quem sobre eles escreveu, mostrou claramente que eles eram medrosos e pusilânimes, sem querer negar ou esconder os defeitos deles. Ora, este é o maior argumento em favor de sua veracidade.

O que diz então a respeito deles? Que, preso o Cristo depois de tantos milagres feitos, uns fugiram e o principal deles o negou.

Donde lhes veio que, durante a vida de Cristo, não resistiram à fúria dos judeus, mas, uma vez ele morto e sepultado – visto que, como dizeis, Cristo não ressuscitou, nem lhes falou, nem os encorajou – entraram em luta contra o mundo inteiro? Não teriam dito, ao contrário: ‘O que é isto? Não pôde salvar-Se e vai proteger-nos agora? Ainda vivo, não socorreu a si mesmo; e morto, nos estenderá a mão? Vivo, não sujeitou povo algum, e nós iremos convencer o mundo inteiro, só com dizer seu Nome? Como não será insensato não só fazer, mas até pensar tal coisa?’

Por este motivo é evidente que, se não O tivessem visto ressuscitado e recebido assim a grande prova do Seu poder, jamais se teriam lançado em tamanha aventura” Homilias sobre 1Coríntios 4,3.4; PG 61,34-36).

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