Reflexão Patrística – “A pregação apostólica” (Tertuliano de Cartago, +220)

“Cristo Jesus, Nosso Senhor, durante a sua vida terena, ensinou quem era Ele, quem tinha sido desde sempre, qual era a vontade do Pai que vinha cumprir e qual devia ser o comportamento do homem. Ensinava estas coisas ora em público, diante de todo o povo, ora em particular, aos seus discípulos. Dentre estes escolheu Doze para estarem a seu lado, e que destinou para serem os principais mestres das nações.

Quando, depois da Sua ressurreição, estava prestes a voltar para o Pai, ordenou aos Onze – pois um deles se havia perdido – que fossem ensinar a todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.

Imediatamente os Apóstolos – palavra que significa ‘Enviados’ – chamaram por sorteio a Matias como duodécimo para ocupar o lugar de Judas, segundo a profecia contida num Salmo de Davi. Depois de receberem a força do Espírito Santo com o dom de falar e de realizar milagres, começaram a dar testemunho da fé em Jesus Cristo na Judeia, onde fundaram igrejas; partiram em seguida por todo o mundo, proclamando a mesma doutrina e a mesma Fé entre os povos. Em cada cidade por onde passaram fundaram igrejas, nas quais outras igrejas que se fundaram e continuam a ser fundadas foram buscar mudas de fé e sementes de doutrina. Por esta razão, são também consideradas apostólicas, porque descendem das igrejas dos Apóstolos.

Toda família deve ser necessariamente considerada segundo a sua origem. Por isso, apesar de serem tão numerosas e tão importantes, estas igrejas não formam senão uma só Igreja: a primeira, que foi fundada pelos Apóstolos e que é a origem de todas as outras. Assim, todas elas são primeiras e apostólicas, porque todas formam uma só. A comunhão na paz, a mesma linguagem da fraternidade e os laços de hospitalidade manifestam a sua unidade. Estes direitos só têm uma razão de ser: a unidade da mesma Tradição sacramental.

Se quisermos saber o conteúdo da pregação dos Apóstolos, e, portanto, aquilo que Jesus Cristo lhes revelou, é preciso recorrer a estas mesmas igrejas fundadas pelos próprios Apóstolos e às quais pregaram, quer de viva voz, quer por seus escritos.

O Senhor realmente havia dito em certa ocasião: ‘Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capazes de as compreender agora’; e acrescentou: ‘Quando, porém, vier o Espírito da Verdade, Ele vos conduzirá à verdade plena’ [João 16,12-13]. Com estas palavras revelou aos Apóstolos que nada ficariam ignorando, porque prometeu-lhes o Espírito da Verdade que os levaria ao conhecimento da verdade plena. E, sem dúvida alguma, esta promessa foi cumprida, como provam os Atos dos Apóstolos ao narrarem a descida do Espírito Santo” (Da Prescrição dos Hereges 20,1-9; 21,3; 22,8-10; CCL 1,201-204).

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