Reflexão Patrística – “Cristo, sempre vivo, intercede por nós junto a Deus” (São Fulgêncio de Ruspe, +533)

“Antes do mais, chama-nos a atenção que, na conclusão das orações, dizemos: ‘por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho’, e nunca: ‘pelo Espírito Santo’. Não é sem motivo que a Igreja Católica o repete: por causa do mistério do Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem, sacerdote segundo a ordem de Melquisedec, que com Seu próprio sangue entrou uma vez por todas no Santuário, não feito por mãos de homens, figura do verdadeiro, mas no próprio Céu, onde está à direita de Deus e intercede por nós.

Contemplando esta função pontifical, diz o Apóstolo: ‘Por Ele ofereçamos sempre o sacrifício de louvor, o fruto dos lábios daqueles que confessam seu Nome. Por conseguinte, por Ele oferecemos o sacrifício de louvor e da prece, pois, mediante a Sua morte, fomos reconciliados, nós os inimigos. Por Ele, que Se dignou tornar-Se sacrifício em nosso favor, o nosso sacrifício pode ser bem aceito diante de Deus’. São Pedro adverte-nos, dizendo: ‘E vós, quais pedras vivas, entrais na edificação deste edifício espiritual, no sagrado sacerdócio, oferecendo vítimas espirituais agradáveis a Deus, por Jesus Cristo’. É esta a razão que nos faz dizer: ‘por Nosso Senhor Jesus Cristo’.

Quando se menciona o Sacerdote, o que vem à mente a não ser o mistério da encarnação do Senhor? Mistério do Filho de Deus que, embora de condição divina, aniquilou-Se a Si mesmo, assumindo a forma de escravo; em sua humilhação, fez-Se obediente até à morte, a saber: feito um pouco menor do que os anjos, possuindo, embora, a igualdade com Deus Pai. O Filho Se diminuiu, permanecendo igual ao Pai, porquanto Se dignou assemelhar-Se aos homens. Tornou-Se o menor, quando Se aniquilou a Si mesmo, tomando a forma de servo. A diminuição de Cristo é Seu aniquilamento, mas o aniquilamento consiste na aceitação da forma de servo.

Cristo, permanecendo na forma de Deus, o unigênito de Deus, a quem juntamente com o Pai oferecemos sacrifícios, tomou a forma de servo, tornando-Se Sacerdote. Assim, por Ele, podemos oferecer um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus. Nunca nos seria possível oferecer tal sacrifício se Cristo não Se houvesse tornado, Ele mesmo, sacrifício para nós. Nele, a própria natureza do gênero humano é o verdadeiro sacrifício de salvação.

Com efeito, quando nos apresentamos para oferecer, mediante nosso eterno Sacerdote e Senhor, nossas orações, afirmamos ter Ele a verdadeira carne de nossa raça. O Apóstolo já dissera: ‘Todo pontífice é escolhido dentre os homens e a favor dos homens é constituído para as coisas que dizem respeito a Deus, a oferecer dons e sacrifícios pelos pecados’.

Quando, porém, dizemos: ‘Vosso Filho’ e acrescentamos: ‘que convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo’, comemoramos aquela unidade naturalmente existente entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Daí se deduz ser o Cristo o que exerce a função sacerdotal para nós, o mesmo a quem pertence, por natureza, a unidade com o Pai e o Espírito Santo” (Carta 14,36-37; CCL 91,429-431).

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