Reflexão Patrística – “Deus cumpre as suas promessas por meio de seu Filho” (Santo Agostinho de Hipona, +430)

“Deus estabeleceu não só um tempo para as Suas promessas, como também um tempo para a realização do que prometera. O tempo das promessas vai dos Profetas a João Batista. A partir dele começa o tempo de cumprir-se o prometido.

Deus, que Se fez nosso devedor, é fiel, nada recebendo de nós mas nos prometendo tão grandes bens. Pareceu-Lhe pouco a simples promessa e, por isso, quis ainda comprometer-Se por escrito, como que firmando conosco um contrato. Desse modo, quando começasse a cumprir as coisas prometidas, veríamos em tal escritura a ordem com que seriam realizadas. O tempo das profecias era o do anúncio das promessas, como já dissemos várias vezes.

Prometeu-nos a salvação eterna, a vida bem-aventurada e sem fim em companhia dos Anjos, a herança imperecível, a glória eterna, a doçura da visão do Seu rosto, a Sua morada santa nos Céus e, pela ressurreição dos mortos, a exclusão total da morte. É esta, de certo modo, a Sua promessa final, o objeto de toda nossa aspiração. Quando a tivermos alcançado, nada mais buscaremos, nada poderemos exigir. Não deixou também de revelar o caminho que nos havia de conduzir a esses últimos fins, mas o prometeu e anunciou.

Deus prometeu aos homens a divindade, aos mortais a imortalidade, aos pecadores a justificação, aos humilhados a glória.

Contudo, meus irmãos, pareceria inacreditável aos homens que Deus prometesse tirá-los da sua condição mortal de corrupção, vergonha, fraqueza, pó e cinza, para torná-los semelhantes aos Anjos. Por isso, não só firmou com eles um contrato que os levasse a crer, mas constituiu ainda como mediador e garantia, não um príncipe qualquer ou algum Anjo ou Arcanjo, mas seu Filho único. Desse modo, mostrou-nos e ofereceu-nos, por meio de Seu próprio Filho, o caminho que nos levaria ao fim prometido.

Não bastou, porém, a Deus fazer seu Filho indicar o caminho; quis que Ele mesmo fosse o caminho, a fim de te deixares conduzir por Ele, caminhando sobre Ele mesmo.

Para isso, o Filho único de Deus deveria vir ao encontro dos homens e assumir a natureza humana. Tornando-Se homem, deveria morrer, ressuscitar, subir aos céus, sentar-se à direita do Pai e realizar entre os povos o que prometera. E, depois da realização das Suas promessas entre os povos, cumprirá também a de voltar para pedir contas dos seus dons, separando os que merecerão a Sua ira ou a Sua misericórdia, tratando os ímpios como ameaçara e os justos como prometera.

Tudo isso devia ser profetizado, anunciado e recomendado, para que, ao ocorrer, não provocasse medo com uma vinda inesperada, mas, ao contrário, sendo objeto da nossa Fé, o fosse também por uma ardente esperança” (Comentário ao Salmo 109,1-3; CCL 40,1601-1603).

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