Reflexões de d. Eugênio Araújo Sales (Parte 3/3)

Ecumenismo -Dominus Iesus

 

22/09/2000

Dominus Jesus

A Declaração “Dominus Jesus” da Congregação para a Doutrina da Fé traz a data de 6 de agosto último. A 16 de junho, o Papa João Paulo II havia, “Em consciência certa e com sua autoridade”, ratificado e confirmado o Documento. Está destinado a exercer grande e benéfica influência na Igreja. Examinando a situação atual, constatamos algumas semelhanças com as condições existentes após 35 anos da realização do 1º Concílio Ecumênico em Nicéia, no ano 325. As diferenças entre a doutrina autêntica e interpretações distorcidas eram tão sutis naquela época, que sacerdotes e bispos ficavam perplexos diante da argúcia dos argumentadores em favor da heresia, mesmo um arianismo mitigado. Buscavam atenuar as exigências do Concílio de Nicéia. Este tratara do dogma fundamental da Fé cristã, a verdadeira identidade de Jesus Cristo, como Filho de Deus, “Deus verdadeiro de Deus verdadeiro”. Sob a pressão do Imperador Constâncio (337-361), muitos bispos foram forçados ou induzidos a aderir à heresia ariana, que havia motivado a convocação do Concílio de Nicéia. O Papa Libério resistia; o Bispo de Poitiers, Hilário, sofreu repetidos exílios. Sobre esse momento histórico, quando muitos se adaptavam a meias-verdades e tantos fiéis sofriam, por guardarem a Fé íntegra da grande Tradição, eis que São Jerônimo, o sábio Doutor da Igreja, escrevia uma frase que revela a situação alarmante, dramática: “Gemia o mundo inteiro e surpreendeu-se ao se ver “ariano”. “Ingemuit totus orbis et Arianum se esse miratus est” (Dialogo Adversus Luciferianos, nº 19).

Hoje, o poder do Imperador é substituído por interesses, pelo relativismo, subjetivismo, minando a reta Doutrina. Ao apresentar o Documento, o Cardeal Ratzinger resume a gravidade do momento atual: “Trata-se de convicções hoje já difundidas, não somente em ambientes teológicos, mas também em setores sempre mais vastos da opinião pública”. Na atualidade, os erros, de modo sutil ou agressivo, tentam infiltrar-se, atingindo diretamente a identidade da Pessoa de Cristo. Embora os moderados fautores dessa subversão da Fé reconheçam que Jesus é Deus e Homem, dizem que, por ser limitada a natureza humana de Jesus, “a revelação de Deus (em Jesus) não pode ser considerada completa e definitiva”. “Introduz-se, assim, a idéia errada de serem as religiões do mundo complementares à Revelação cristã”. (Declaração, nº 1). Tal pressuposto atinge “o centro e o núcleo da Fé cristã” (idem, 1.2) A partir dessa afirmativa, Jesus não passa de uma pessoa, talvez de extraordinárias qualidades pessoais – mas incapaz de representar Deus de modo universal e definitivo. Diz o Documento “Dominus Jesus”: “Semelhante posição está em total contradição com as (…) afirmações da Fé (…) Suas palavras e obras e o fato histórico de Jesus, se bem que limitados enquanto realidades humanas, têm, todavia, como sujeito a Pessoa divina do Verbo Encarnado (…) E assim, comporta o caráter definitivo e completo da Revelação dos caminhos salvíficos de Deus” (ibidem, 6.2). Quem fala nas palavras humanas de Jesus, é o própria Segunda Pessoa Divina, o Verbo. Graças a esta unidade pessoal em Jesus, do humano com o Divino, a verdade revelada por Ele é “única, plena e completa” (6.2;4.1)

A causa mais profunda e insidiosa dessa erosão da Fé está no “vazio metafísico da Encarnação histórica do Logos eterno reduzido a um simples aparecer de Deus na História” (idem 4.2). As outras grandes religiões são, muitas vezes, a projeção de uma sublime busca de Deus pela inteligência humana. O cristianismo, porém, não é primeiramente busca mas, supondo-a, é a resposta do Deus encarnado. (cfr Cap I. 5-8). Esta parte do Documento se refere mais às doutrinas e tendências oriundas do Oriente, que se infiltraram na Igreja, através de certo nivelamento na Fé. Cristo é a única norma para toda a obra da salvação, por isso, o trabalho missionário é insubstituível.

Levar o Evangelho aos confins do mundo é imperativo da Mensagem de Jesus. Somente Ele revela toda a verdade de Deus Pai. “O perene anúncio missionário da Igreja é hoje posto em causa por teorias de índole relativista, que pretendem justificar o pluralismo religioso, não apenas “de fato”, mas também “de direito” (4.1). O Cardeal Ratzinger, em sua apresentação do Documento, afirmava: “Na base daquelas concepções (relativistas), o falar em verdade universal e vinculante, é considerado uma espécie de fundamentalismo, um atentado contra o espírito moderno” Em seguida, Ratzinger nos faz entender que substituir a missão e a conversão pelo diálogo, “já não é diálogo, mas ideologia do diálogo”, porque fixa, apenas, posições, todas relativas, e já não ajuda o outro a encontrar a verdade, completa só na Revelação de Deus em Jesus Cristo Um profundo erro é distinguir entre Jesus – em quem habitaria ocasionalmente o Verbo eterno – e o próprio Verbo divino, que, fora da Encarnação de Jesus, continuaria agindo onde quisesse. Assim, as missões seriam desnecessárias; o mesmo Verbo, encarnado em Jesus, estaria, também, presente em outras culturas, religiões.

Todos nós, católicos e também os demais cristãos, devemos dizer: “Semelhantes teses estão em profundo contraste com a Fé cristã. Deve, de fato, crer-se firmemente na Doutrina da Fé que proclama ser Jesus de Nazaré, filho de Maria, e só Ele, é o Filho e o Verbo do Pai” (10.1) A sutileza dos erros expostos na Declaração “Dominus Jesus” revela a importância do Documento e a oportunidade de sua publicação. Urge que sejam detectados tão graves desvios e preservados os caminhos que levam a Deus, revelados por Jesus, Salvador único e Universal

29/09/2000

Unicidade e Unidade da Igreja

Em duas oportunidades apresentei aqui – e com todo respeito aos que pensam diferentemente – a Doutrina da Igreja Católica. Trata-se de um direito e um dever do Pastor. Ensinamentos alheios têm penetrado no corpo doutrinário e a Declaração “Dominus Jesus” que tenho comentado, visa exatamente a indicar para os católicos o discernimento entre verdade e erro.

Após expor a unicidade e a universalidade do mistério salvífico de Jesus Cristo, vejamos o que diz o Documento da Congregação para a Doutrina da Fé, aprovado pelo Santo Padre, sobre a unicidade e unidade da Igreja. Esta é única. Por mais que se fale em igrejas locais, nas diversas cidades por onde ia se espalhando a Palavra de Deus nos primórdios da evangelização, subjaz, em todo o Novo Testamento, que Jesus fundou uma única Igreja, que está presente nas autênticas igrejas particulares ou locais. O Senhor Jesus, único Salvador, não formou uma simples comunidade de discípulos, mas constituiu a Igreja como mistério salvífico. “Ele mesmo está na Igreja e esta, nEle” (Jo 15,1ss; Gl 3.28;Ef 4,15-16). Por isso, a plenitude do mistério salvífico de Cristo está na Igreja, unida inseparavelmente ao Senhor Jesus, que opera a salvação na Igreja e opera nela, que é o Corpo Místico de Cristo” (cfr 1Cor 12,12ss). A continuidade entre Jesus Cristo e a Igreja não é apenas algo externo ou organizacional. Já o Concílio Vaticano II assim se expressa: “Esta é a única Igreja de Jesus Cristo (…) que o nosso Salvador, depois de sua Ressurreição, confiou a Pedro para apascentar” (Jo 21,17), encarregando-o, a ele e aos demais apóstolos, de a difundirem e a governarem (Mt 28,18ss), levantando-a sempre como coluna e esteio da Verdade (1Tm 3,15; “Lumen Gentium”,8). Continua o Concílio: “Esta Igreja (de Jesus) como sociedade constituída é organizada neste mundo, subsiste na Igreja Católica, governada pelo Sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele” (ibidem).

O Concílio Ecumênico e a Declaração pretendem “harmonizar duas afirmações doutrinárias: por um lado a de que a Igreja de Cristo, não obstante as divisões dos cristãos, continua a existir plenamente, só na Igreja Católica e, por outro, a de que há numerosos elementos de santificação e de Verdade fora (da estrutura visível da Igreja)” (16.3). O Documento não ultrapassa o Vaticano II, mas quer defender aquelas verdades contra as distorções e falsas interpretações surgidas nas décadas após o Concílio. E isto, unicamente por fidelidade a Jesus Cristo, a cuja palavra e obra a Igreja procurou ficar fiel, durante toda a História. O Documento não acusa as outras denominações cristãs, mas tem o dever de dizer que Cristo fundou uma Igreja, una e única. Não obstante os defeitos e pecados dos seus membros, apesar de tantas infidelidades de seus integrantes, a Igreja Católica conserva inalterado o depósito da Fé, a riqueza dos Sacramentos, na visível comunhão com os Pastores. Ela guardou, em sua plenitude, a Obra de Cristo e a Ele, constantemente, se converte. Em meio a sangrentas perseguições, a Igreja não foi infiel ao legado de Cristo. Os dogmas professados mais recentemente, sempre o foram como explicitações do que já integrava o depósito do passado.

O Documento proclama, com grande sabedoria, que há igrejas não-católicas, como as ortodoxas, que, embora não vivendo em perfeita comunhão com a católica” se mantêm unidas por vínculos estreitíssimos como o são a sucessão apostólica, uma válida Eucaristia… são verdadeiras Igrejas particulares” (17.1). O texto continua afirmando: “Também nessas Igrejas está presente e atua a Igreja de Cristo, embora lhes falte a plena comunhão com a Igreja Católica, enquanto não aceitam a Doutrina Católica do Primado, que por vontade de Deus, o Bispo de Roma objetivamente tem e exerce sobre toda a Igreja” (17,1).

Com imensa dor e sincera estima, a Igreja vê que muitas comunidades cristãs, diferentemente das Igrejas Ortodoxas, abandonaram parte da Doutrina e dos Sacramentos, e perderam a certeza da verdadeira sucessão apostólica. Por isso, não podem ser chamadas Igreja, num sentido integral e estrito. Todavia, elas, nascidas da Reforma Protestante, possuem imensos valores cristãos. “Os que foram batizados nestas Comunidades, estão, pelo Batismo, incorporados em Cristo e, portanto, vivem numa certa comunhão, se bem que imperfeita, com a Igreja” (17.2). A Igreja de Jesus Cristo não é a soma das Igrejas e comunidades cristãs. Tampouco é lícito dizer “que a Igreja de Cristo, hoje, já não existe em parte alguma, tornando-se, assim, o mero objeto de procura, por parte de todas as igrejas e comunidades” (17.3). Aquelas Igrejas e Comunidades, mesmo sem a comunhão total com a Igreja Católica, têm verdadeiro peso e valor no mistério da salvação, pois o Espírito Santo não se recusa a servir-se delas como instrumento de salvação, cujo valor deriva da plenitude da graça e da verdade confiada à Igreja Católica” (17.3). Em resumo, os elementos divinamente instituídos por Cristo, que constituem a Igreja, “existem reunidos na sua plenitude, na Igreja Católica e, sem essa plenitude, nas demais comunidades” (17.3).

Quanto à salvação dos outros homens que, sem culpa, não conhecem o Cristo, a Declaração insiste em afirmar que também eles se podem salvar. Vem do Cristo, através da Igreja, a salvação, embora não saibamos de que maneira Deus a opera. Ela é mistério de Deus.

Grave advertência aos católicos: “Há que lembrar a todos os filhos da Igreja que a grandeza de sua condição não é para atribuir aos próprios méritos, mas a uma graça especial de Cristo; se não corresponderem a essa graça, por pensamentos, palavras e obras, em vez de se salvarem, incorrerão num juízo mais severo (22.1; cfr “Lumen Gentium”, 14)

17/09/1999

Judeus e Cristãos

No início de uma longa peregrinação, feita por etapas, seguindo os passos do Apóstolo Paulo, a partir do lugar de sua conversão nas imediações de Damasco (At 22,6-11) encontrava-me em uma gruta no deserto da Síria. O então Núncio Apostólico naquele país, olhando o areal infindo, comentava: “Por essas paragens passou nosso pai na Fé, Abraão, vindo de Ur, na Caldéia, em busca da Terra Prometida”. Era a rota das caravanas. Há uma única raiz, da qual procedem os judeus e os cristãos. Essa verdade nos deve levar a um mútuo entendimento que paira acima da diversidade entre a religião judaica e o cristianismo.

No entanto, atribuladas, por vezes, têm sido a convivência entre cristãos e israelitas. Convém lembrar que o fenômeno do anti-semitismo antecede o surgimento da Igreja ou com ela não se relaciona. Sem comparação, essa atitude por parte dos cristãos foi mais acentuada, por estarem envolvidos fatores teológicos, levando a errôneas conclusões. A mais grave é atribuir ao povo judeu a responsabilidade pela morte de Jesus e, como este é Deus, do homicídio passa a deicídio. Essa acusação é absurda e não fundamentada. Por todo o mundo então conhecido, espalhavam-se os descendentes dos Patriarcas, sem terem qualquer notícia dos fatos que ocorreram em Jerusalém, na Sexta-feira Santa. O pecado é pessoal e não coletivo. Outra afirmação destituída de veracidade é ser um povo errante, disperso pelo orbe terrestre, como portador de um castigo divino. Ora, a maior parte da população israelita no tempo de Cristo já não residia na Palestina. A diáspora judaica antecede de séculos a origem do cristianismo.

Para nós, católicos, o grande argumento contra o anti-semitismo é a Declaração “Nostra Aetate”, do Concílio Ecumênico Vaticano II. Ela “recorda o vínculo pelo qual o povo do Novo Testamento está espiritualmente ligado à estirpe de Abraão” (nº 4)e de maneira incisiva indica aos fiéis as diretrizes que devem reger nosso comportamento neste assunto. Portanto, qualquer posição que fira essa orientação é colocar-se à margem da doutrina católica. Na sessão de 28 de outubro de 1965 recebeu essa Declaração 2.221 votos favoráveis, 81 contrários e 3 nulos. Foi solenemente promulgado pelo Papa Paulo VI.

O novo “Catecismo da Igreja Católica” (nº 839) orienta toda a Catequese na Igreja universal, da seguinte maneira: “A Igreja, Povo de Deus na Nova Aliança, descobre, ao perscrutar o seu próprio mistério, seus vínculos com o povo hebreu, “a quem Deus falou por primeiro”. Ao contrário das outras religiões não-cristãs, a Fé hebraica já é resposta à Revelação de Deus na Antiga Aliança. É a este povo que “pertencem a adoção filial, a glória, as alianças, a legislação, o culto, as promessas e os patriarcas. Ele, de quem nasceu Cristo, segundo a carne (Rm 9,4-5), pois “os dons e o chamado de Deus são sem arrependimento.” (Rm 11,29)

Declara ainda que os judeus não são coletivamente responsáveis pela morte de Jesus, nem devem ser apresentados como amaldiçoados por Deus, como se isso decorresse das Sagradas Escrituras (nº 597). A relação entre a liturgia judaica e a cristã pode nos ajudar a compreender melhor certos aspectos do nosso culto (nº 1.096). A Eucaristia, centro de nossa vida religiosa, lembra as bênçãos judaicas, a ceia do Senhor com os discípulos celebrando a Páscoa dos israelitas, a fração do pão, rito próprio da refeição do Povo eleito (nº 1.328). O pão e o vinho, na Antiga Aliança, oferecidos em sacrifício, são sinal de reconhecimento ao Criador (Nº 1.334).

Um caso, entre tantos outros, deve ser recordado ao tratar deste assunto. Refiro-me à visita do Santo Padre à Sinagoga de Roma, precisamente às 17 horas do domingo, 13 de abril de 1986 e acolhido calorosamente. Sua alocução pode ser resumida: um novo espírito de fraternidade e um mais profundo entendimento entre a Igreja e o Judaísmo. Ele afirma: “A visita de hoje quer trazer um decisivo contributo para consolidação das boas relações entre as nossas duas comunidades, no seguimento dos exemplos (…) de uma e outra parte para que sejam superados os antigos preconceitos e se dê espaço ao reconhecimento cada vez mais pleno (…) daquele “comum patrimônio espiritual” que existe entre judeus e cristãos” (nº 4).

O esforço por restabelecer a verdade dos fatos e suprimir as raízes de incompreensões que perduram por tantos séculos, gerações e gerações, exige continuidade e nobreza de sentimentos e um amplo sentido de perdão mútuo. Fundamental se torna a procura de bom relacionamento, antes de buscar descobrir falhas e proclamar acusações. Sem dúvida, em quase dois milênios de mágoas, há culpa de lado a lado, como conseqüência das limitações humanas de judeus e cristãos.

Infelizmente, o anti-semitismo registra aparições periódicas na História. Passado meio século do Holocausto, já surge, aqui e ali, um indesejável retorno do que deveria estar definitivamente sepultado. De outro lado, depois da exaltação da memória de Pio XII, após a sua morte, a obra “Der Stellvertreter” (“O Representante”) vinda a lume em 1963, consegue lugar na mídia, para acusar injustamente a quem tanto fez pelos filhos de Abraão, em tempos tão difíceis, da Grande Guerra.

Graças a Deus, temos sólidos e eficazes instrumentos para nosso relacionamento, como, entre outros, a Pontifícia Comissão para o Diálogo Religioso com o Judaísmo. E, em escala bem menor, a Fraternidade Cristã-Judaica, que também se faz presente nesta Arquidiocese. Se é longo o caminho a ser ainda percorrido, consola verificar que é confortador o trabalho já realizado e, com a graça de Deus, promissor de muitos frutos.

VOZ DO PASTOR D. Eugênio de Araújo Sales 05/11/1999 SÍNODO DA EUROPA A II Assembléia Especial do Sínodo dos Bispos para a Europa encerrou seus trabalhos no dia 23 último. O objetivo era preparar para o Grande Jubileu a Igreja dos países do continente europeu, como o fizeram as outras nações. O primeiro Sínodo foi realizado em 1991 e este no dia 1º de outubro passado. O tema escolhido para estudo foi: “Jesus Cristo vivo na sua Igreja, fonte de esperança para a Europa”.

*** Em 1997 as Conclusões para o continente americano estão sintetizadas no documento pós-conciliar “A Igreja na América”.***

Participaram 165 padres sinodais, sob a presidência do Santo Padre, exercida, por turno como das vezes anteriores, por três presidentes delegados.

Logo na sexta-feira, 1º de outubro, teve início. Foi feita a leitura de um documento pelo relator geral, Mons Rouco Varela. O Cardeal de Madri apresenta valioso estudo sobre o tema dos trabalhos, fornecendo ampla, profunda e minuciosa visão dos problemas atinentes ao Velho Continente. A importante exposição interessa, e vivamente, a outras regiões do mundo, de modo particular, à América. A crise e os valores não se limitam aos países representados no Sínodo. Convivemos, no Brasil, com eles e é importante tomar conhecimento da perspectiva exposta para debate pelos Padres Sinodais. Respiguei alguns ítens para nossa reflexão e eventualmente nos dispormos a aplicar os remédios que virão com o documento conclusivo.

O assunto “Jesus Cristo vivo na sua Igreja, fonte de esperança para a Europa” introduziu os debates. Quanto a nós, vê-lo-emos dentro da perspectiva de nossa realidade brasileira.

Foi inicialmente recordada a observação do I Sínodo da Europa sobre as transformações culturais, políticas, econômicas e religiosas, fruto dos acontecimentos ocorridos em 1989, nos países da Europa Central e Oriental, resumidos pela expressão “queda do Muro de Berlim”. De um lado, começaram a se concretizar os ideais de Liberdade e Justiça no respeito à dignidade da pessoa humana. E de outro, a advertência para excessivas esperanças. Nesse sentido, o documento de estudo para o I Sínodo Europeu alertava, com fatos, que “não se pode separar a causa de Deus da causa do homem” (“Instrumentum Laboris” nº 11). Esses dez anos que se seguiram à derrocada do comunismo, recuperada a liberdade dos povos e a unidade do Continente com feições democráticas, os sinais nem sempre indicam uma evolução favorável à causa do ser humano; antes, são às vezes até altamente alarmantes. Este último decênio, tem presenciado novas e positivas possibilidades econômicas, sociais, culturais e políticas, com outras perspectivas à ação evangelizadora da Igreja. Todavia, não poucas esperanças ficaram frustradas e levaram ao desânimo certas áreas da população. O crescimento econômico, por exemplo, em alguns países, não alcançou o nível do bem-estar de nações mais desenvolvidas. No ex-bloco do Leste surgiu o grave risco dos nacionalismos.

Neste contexto, fica aberto o caminho “para o livre desenvolvimento do nihilismo no campo filosófico, do relativismo, no campo gnosiológico e moral, do pragmatismo e também do hedonismo cínico na configuração da vida cotidiana”. (“Relatio” 1.2). Também entre nós, no hemisfério sul, se constatou a tremenda situação que atravessa a Família, instituição fundamental da sociedade.

Merece atenção especial, no documento sobre a Europa hoje, a problemática dos próprios cristãos que “se deixaram contagiar pelo espírito do humanismo imanentista e subtraíram vigor à Fé (…) Não parece ter sido ainda superado o modo de interpretar de maneira secularista a Fé cristã” (idem, 2.1). Não haverá reflorescimento das vocações sacerdotais na Europa, enquanto a imagem do padre for apresentada como a de um “agente social” ou de um “psicoterapeuta”. No tocante ao surgimento de vocações à vida consagrada, nada se pode esperar “se os religiosos e as religiosas parecem mais “fiéis no mundo do que testemunhas e servidores do “único necessário” (idem, 2.1). Ao referir-se à secularização interna da vida cristã, o documento alude a uma profunda crise de consciência e da prática da moral cristã, que põem em perigo a unidade eclesial e tornam impossível a obra evangelizadora. Sobre a influência do relativismo histórico e de um conceito redutivo da razão humana, não são poucos os que, pelo menos na prática, negam ao Magistério da Igreja uma verdadeira competência normativa nas questões morais e se limitam a reconhecer-lhe uma função exortativa. Essa e tantas outras chagas que corroem a Igreja na Europa infelizmente, estão vivas entre nós.

Em meio à tormenta do secularismo que atingiu a sociedade e a Igreja, o relator faz justiça aos que “souberam permanecer fiéis à sua vocação de ministros do Evangelho (…) Mais de uma vez tiveram de suportar o desprezo, a ironia e até os ataques pessoais (…) para não falar da incompreensão, por parte dos próprios irmãos na Fé” (idem, II – 1).

O Documento, em sua III Parte, tem por subtítulo “Para anunciar, celebrar e servir o “Evangelho da Esperança”.

Exorta os participantes à conversão, à fidelidade, à confiança em Jesus Cristo, para assim superar “o hedonismo e o cinismo ético que adquiriram o direito de cidadania” (idem, III, 1).

A mensagem final deste II Sínodo Especial traz o título “Testemunhamos com alegria o “Evangelho da Esperança” na Europa. E termina com uma prece, referindo-se à Igreja do Continente: “Não temas! Espera em teu Senhor e não serás confundido eternamente!”.

05/11/1999

SÍNODO DA EUROPA A II Assembléia Especial do Sínodo dos Bispos para a Europa encerrou seus trabalhos no dia 23 último. O objetivo era preparar para o Grande Jubileu a Igreja dos países do continente europeu, como o fizeram as outras nações. O primeiro Sínodo foi realizado em 1991 e este no dia 1º de outubro passado. O tema escolhido para estudo foi: “Jesus Cristo vivo na sua Igreja, fonte de esperança para a Europa”.

*** Em 1997 as Conclusões para o continente americano estão sintetizadas no documento pós-conciliar “A Igreja na América”.***

Participaram 165 padres sinodais, sob a presidência do Santo Padre, exercida, por turno como das vezes anteriores, por três presidentes delegados.

Logo na sexta-feira, 1º de outubro, teve início. Foi feita a leitura de um documento pelo relator geral, Mons Rouco Varela. O Cardeal de Madri apresenta valioso estudo sobre o tema dos trabalhos, fornecendo ampla, profunda e minuciosa visão dos problemas atinentes ao Velho Continente. A importante exposição interessa, e vivamente, a outras regiões do mundo, de modo particular, à América. A crise e os valores não se limitam aos países representados no Sínodo. Convivemos, no Brasil, com eles e é importante tomar conhecimento da perspectiva exposta para debate pelos Padres Sinodais. Respiguei alguns ítens para nossa reflexão e eventualmente nos dispormos a aplicar os remédios que virão com o documento conclusivo.

O assunto “Jesus Cristo vivo na sua Igreja, fonte de esperança para a Europa” introduziu os debates. Quanto a nós, vê-lo-emos dentro da perspectiva de nossa realidade brasileira.

Foi inicialmente recordada a observação do I Sínodo da Europa sobre as transformações culturais, políticas, econômicas e religiosas, fruto dos acontecimentos ocorridos em 1989, nos países da Europa Central e Oriental, resumidos pela expressão “queda do Muro de Berlim”. De um lado, começaram a se concretizar os ideais de Liberdade e Justiça no respeito à dignidade da pessoa humana. E de outro, a advertência para excessivas esperanças. Nesse sentido, o documento de estudo para o I Sínodo Europeu alertava, com fatos, que “não se pode separar a causa de Deus da causa do homem” (“Instrumentum Laboris” nº 11). Esses dez anos que se seguiram à derrocada do comunismo, recuperada a liberdade dos povos e a unidade do Continente com feições democráticas, os sinais nem sempre indicam uma evolução favorável à causa do ser humano; antes, são às vezes até altamente alarmantes. Este último decênio, tem presenciado novas e positivas possibilidades econômicas, sociais, culturais e políticas, com outras perspectivas à ação evangelizadora da Igreja. Todavia, não poucas esperanças ficaram frustradas e levaram ao desânimo certas áreas da população. O crescimento econômico, por exemplo, em alguns países, não alcançou o nível do bem-estar de nações mais desenvolvidas. No ex-bloco do Leste surgiu o grave risco dos nacionalismos.

Neste contexto, fica aberto o caminho “para o livre desenvolvimento do nihilismo no campo filosófico, do relativismo, no campo gnosiológico e moral, do pragmatismo e também do hedonismo cínico na configuração da vida cotidiana”. (“Relatio” 1.2). Também entre nós, no hemisfério sul, se constatou a tremenda situação que atravessa a Família, instituição fundamental da sociedade.

Merece atenção especial, no documento sobre a Europa hoje, a problemática dos próprios cristãos que “se deixaram contagiar pelo espírito do humanismo imanentista e subtraíram vigor à Fé (…) Não parece ter sido ainda superado o modo de interpretar de maneira secularista a Fé cristã” (idem, 2.1). Não haverá reflorescimento das vocações sacerdotais na Europa, enquanto a imagem do padre for apresentada como a de um “agente social” ou de um “psicoterapeuta”. No tocante ao surgimento de vocações à vida consagrada, nada se pode esperar “se os religiosos e as religiosas parecem mais “fiéis no mundo do que testemunhas e servidores do “único necessário” (idem, 2.1). Ao referir-se à secularização interna da vida cristã, o documento alude a uma profunda crise de consciência e da prática da moral cristã, que põem em perigo a unidade eclesial e tornam impossível a obra evangelizadora. Sobre a influência do relativismo histórico e de um conceito redutivo da razão humana, não são poucos os que, pelo menos na prática, negam ao Magistério da Igreja uma verdadeira competência normativa nas questões morais e se limitam a reconhecer-lhe uma função exortativa. Essa e tantas outras chagas que corroem a Igreja na Europa infelizmente, estão vivas entre nós.

Em meio à tormenta do secularismo que atingiu a sociedade e a Igreja, o relator faz justiça aos que “souberam permanecer fiéis à sua vocação de ministros do Evangelho (…) Mais de uma vez tiveram de suportar o desprezo, a ironia e até os ataques pessoais (…) para não falar da incompreensão, por parte dos próprios irmãos na Fé” (idem, II – 1).

O Documento, em sua III Parte, tem por subtítulo “Para anunciar, celebrar e servir o “Evangelho da Esperança”.

Exorta os participantes à conversão, à fidelidade, à confiança em Jesus Cristo, para assim superar “o hedonismo e o cinismo ético que adquiriram o direito de cidadania” (idem, III, 1).

A mensagem final deste II Sínodo Especial traz o título “Testemunhamos com alegria o “Evangelho da Esperança” na Europa. E termina com uma prece, referindo-se à Igreja do Continente: “Não temas! Espera em teu Senhor e não serás confundido eternamente!”.05/11/1999

SÍNODO DA EUROPA A II Assembléia Especial do Sínodo dos Bispos para a Europa encerrou seus trabalhos no dia 23 último. O objetivo era preparar para o Grande Jubileu a Igreja dos países do continente europeu, como o fizeram as outras nações. O primeiro Sínodo foi realizado em 1991 e este no dia 1º de outubro passado. O tema escolhido para estudo foi: “Jesus Cristo vivo na sua Igreja, fonte de esperança para a Europa”.

*** Em 1997 as Conclusões para o continente americano estão sintetizadas no documento pós-conciliar “A Igreja na América”.***

Participaram 165 padres sinodais, sob a presidência do Santo Padre, exercida, por turno como das vezes anteriores, por três presidentes delegados.

Logo na sexta-feira, 1º de outubro, teve início. Foi feita a leitura de um documento pelo relator geral, Mons Rouco Varela. O Cardeal de Madri apresenta valioso estudo sobre o tema dos trabalhos, fornecendo ampla, profunda e minuciosa visão dos problemas atinentes ao Velho Continente. A importante exposição interessa, e vivamente, a outras regiões do mundo, de modo particular, à América. A crise e os valores não se limitam aos países representados no Sínodo. Convivemos, no Brasil, com eles e é importante tomar conhecimento da perspectiva exposta para debate pelos Padres Sinodais. Respiguei alguns ítens para nossa reflexão e eventualmente nos dispormos a aplicar os remédios que virão com o documento conclusivo.

O assunto “Jesus Cristo vivo na sua Igreja, fonte de esperança para a Europa” introduziu os debates. Quanto a nós, vê-lo-emos dentro da perspectiva de nossa realidade brasileira.

Foi inicialmente recordada a observação do I Sínodo da Europa sobre as transformações culturais, políticas, econômicas e religiosas, fruto dos acontecimentos ocorridos em 1989, nos países da Europa Central e Oriental, resumidos pela expressão “queda do Muro de Berlim”. De um lado, começaram a se concretizar os ideais de Liberdade e Justiça no respeito à dignidade da pessoa humana. E de outro, a advertência para excessivas esperanças. Nesse sentido, o documento de estudo para o I Sínodo Europeu alertava, com fatos, que “não se pode separar a causa de Deus da causa do homem” (“Instrumentum Laboris” nº 11). Esses dez anos que se seguiram à derrocada do comunismo, recuperada a liberdade dos povos e a unidade do Continente com feições democráticas, os sinais nem sempre indicam uma evolução favorável à causa do ser humano; antes, são às vezes até altamente alarmantes. Este último decênio, tem presenciado novas e positivas possibilidades econômicas, sociais, culturais e políticas, com outras perspectivas à ação evangelizadora da Igreja. Todavia, não poucas esperanças ficaram frustradas e levaram ao desânimo certas áreas da população. O crescimento econômico, por exemplo, em alguns países, não alcançou o nível do bem-estar de nações mais desenvolvidas. No ex-bloco do Leste surgiu o grave risco dos nacionalismos.

Neste contexto, fica aberto o caminho “para o livre desenvolvimento do nihilismo no campo filosófico, do relativismo, no campo gnosiológico e moral, do pragmatismo e também do hedonismo cínico na configuração da vida cotidiana”. (“Relatio” 1.2). Também entre nós, no hemisfério sul, se constatou a tremenda situação que atravessa a Família, instituição fundamental da sociedade.

Merece atenção especial, no documento sobre a Europa hoje, a problemática dos próprios cristãos que “se deixaram contagiar pelo espírito do humanismo imanentista e subtraíram vigor à Fé (…) Não parece ter sido ainda superado o modo de interpretar de maneira secularista a Fé cristã” (idem, 2.1). Não haverá reflorescimento das vocações sacerdotais na Europa, enquanto a imagem do padre for apresentada como a de um “agente social” ou de um “psicoterapeuta”. No tocante ao surgimento de vocações à vida consagrada, nada se pode esperar “se os religiosos e as religiosas parecem mais “fiéis no mundo do que testemunhas e servidores do “único necessário” (idem, 2.1). Ao referir-se à secularização interna da vida cristã, o documento alude a uma profunda crise de consciência e da prática da moral cristã, que põem em perigo a unidade eclesial e tornam impossível a obra evangelizadora. Sobre a influência do relativismo histórico e de um conceito redutivo da razão humana, não são poucos os que, pelo menos na prática, negam ao Magistério da Igreja uma verdadeira competência normativa nas questões morais e se limitam a reconhecer-lhe uma função exortativa. Essa e tantas outras chagas que corroem a Igreja na Europa infelizmente, estão vivas entre nós.

Em meio à tormenta do secularismo que atingiu a sociedade e a Igreja, o relator faz justiça aos que “souberam permanecer fiéis à sua vocação de ministros do Evangelho (…) Mais de uma vez tiveram de suportar o desprezo, a ironia e até os ataques pessoais (…) para não falar da incompreensão, por parte dos próprios irmãos na Fé” (idem, II – 1).

O Documento, em sua III Parte, tem por subtítulo “Para anunciar, celebrar e servir o “Evangelho da Esperança”.

Exorta os participantes à conversão, à fidelidade, à confiança em Jesus Cristo, para assim superar “o hedonismo e o cinismo ético que adquiriram o direito de cidadania” (idem, III, 1).

A mensagem final deste II Sínodo Especial traz o título “Testemunhamos com alegria o “Evangelho da Esperança” na Europa. E termina com uma prece, referindo-se à Igreja do Continente: “Não temas! Espera em teu Senhor e não serás confundido eternamente!”.

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